O maior jogador de futebol, de ontem, de hoje e de sempre, Pelé, está completando 80 anos, nesta sexta-feira, 23 de outubro. E se o cidadão Edson Arantes do Nascimento, mineiro de Três Corações, tem contas a ajustar com a história, a história de Pelé é diferente. Pelé é inquestionável. Seu talento é incomparável. Sua história é memorável.
Ninguém conseguiu balançar as redes adversárias tantas vezes quanto ele. Nenhum outro jogador de futebol conseguiu ganhar três copas do mundo. Seus números são assombrosos. Até mesmo na Argentina tem ex-jogador famoso da seleção alviceleste que afirma que Pelé foi melhor que Maradona, o melhor entre todos.
Faço a seguir, a homenagem de um torcedor que ficou cada vez mais apaixonado por futebol, acompanhando a carreira do Rei, eu.
São histórias verdadeiras, que dificilmente outro jogador vai conseguir repetir.
Com quem você faria uma selfie, com Cristiano Ronaldo, ou com Messi, perguntou um repórter da TV Liverpool ao treinador alemão Jurgen Klopp. Eis a resposta:
"Não costumo fazer selfies com ninguém, porém, recentemente eu participei de uma cerimônia onde me encontrei com os dois. Fiz foto apenas com Lionel Messi.
Messi é o melhor jogador dessa geração, mas, apenas isso, porque o melhor jogador de todos os tempos foi Pelé.
Meu pai foi jogador de futebol, contemporâneo de Pelé. Um dia estávamos conversando sobre futebol, e chegamos nessa discussão sobre quem foi o melhor jogador de futebol, quando meu pai disse: meu filho, digam o que disserem no futuro, Pelé foi, e será sempre, o maior jogador de futebol de todos os tempos. Nenhum jogador pode, jamais, ser comparado a ele, que foi completo".
'El Loco' Hugo Gatti põe Pelé acima de Maradona e 'diminui' Messi: 'Até Ronaldinho Gaúcho foi melhor'
O ex-goleiro Hugo "El Loco" Gatti, que durante a carreira teve passagens destacadas por River Plate, Boca Juniors e seleção argentina, criou enorme polêmica em seu país ao falar de alguns dos maiores nomes da história do futebol.
Em participação no famoso programa esportivo espanhol "El Chiringuito de Jugones", do canal La Sexta, Gatti foi questionado sobre quem teria sido melhor entre Maradona e Messi, por conta da partida desta terça-feira entre Napoli e Barcelona, pela Champions League.
"El Loco", então, desatou a falar e "diminuiu" muito Messi, afirmando que ele sequer se compara a Maradona.
No entanto, o argentino polemizou ainda mais ao disparar algo que é praticamente "proibido" de se dizer em seu país natal: que o brasileiro Pelé foi o maior de todos os tempos.
"(Messi) Está muito longe (de Maradona). Pelo que eu vi (de Maradona), Messi sequer existe", bradou.
"Eu joguei no Boca e na seleção argentina com Maradona. Diego foi melhor, sem discussão. Messi não o superou. Além disso, Diego aparecia nos momentos importantes, em partidas importantes. Messi, não", acrescentou.
"Volto a repetir, porque não me canso, mas o melhor que vi na vida foi Pelé, depois Alfredo Di Stéfano. O resto vem atrás", prosseguiu.
"E até Ronaldinho, em seu melhor momento, foi melhor que Messi, e ainda, que na Copa de 1966, Messi seria reserva", completou, em sua série de "bombas".
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Tornei-me botafoguense quando vi uma foto de Garrincha na capa da antiga Revista do Esporte, que circulou até os anos 1970. Eu tinha mais ou menos uns 12 anos.
Naquele tempo, o maior clássico do futebol brasileiro era Santos x Botafogo. Eram, praticamente duas seleções brasileiras em campo, proporcionando um grande espetáculo de futebol.
De um lado, vestindo o imortal uniforme branco do Santos, o então futuro rei do futebol, Pelé, do outro lado Garrincha, o maior ponta-direita da história do futebol, que imortalizou a camisa 7.
Nos confrontos, o Santos venceu mais que o Botafogo, mas, houve célebres vitórias do Glorioso.
Mesmo sofrendo com as derrotas, não havia como deixar de admirar o majestoso jogo de Pelé, cuja inteligência e a habilidade eram ímpares, faziam toda a diferença.
Quando completou 50 anos, só havia uma marca no mundo todo, mais conhecida do que Pelé, que era a Coca Cola.
Quando eu estava fazendo a volta de motocicleta, percorrendo todos os países da América do Sul, em companhia do amigo Jadir, ficamos parados por mais de uma hora em um ponto da estrada para Cusco, Peru, que estava em manutenção.
Engatamos uma conversa com um dos chefes do serviço, que gostava muito de futebol, e foi logo perguntando se Maradona tinha sido melhor que Pelé. Tranquilamente respondi a ele, que dependia. Se Maradona tivesse conquistado três copas do mundo, e marcado 1.282 gols, daria para começarmos a conversar.
O peruano disse que eu estava apelando, ao que respondi que eram números oficiais que não admitiam contestações. A conversa sobre futebol parou ali.
Louco por futebol desde criança, eu ouvia todos os jogos do Botafogo e do Santos. Ouvia no rádio, porque ainda faltava um bocado de anos para chegar a televisão em Santarém.
Algumas vezes, durante excursões do Santos por países sul-americanos, só restava a opção de ouvir rádios transmitindo em Espanhol. A maior parte da narração a gente não compreendia, mas, dava para saber quando era gol de Pelé. E era só o que o grupo de torcedores queria saber.
Numa dessas narrações, num jogo contra a Seleção Olímpica da Colômbia, o árbitro, queria ser notado, e até conseguiu entrar para a história do futebol. Não da maneira como ele gostaria.
Depois que Guillermo "Chato" Vasquez expulsou Pelé, no momento em que ele já ia se dirigindo para o vestiário, muitos torcedores invadiram o campo, e com ajuda dos dirigentes da seleção, expulsaram o juiz, que precisou ser protegido para sair inteiro de campo. Ele morreu em junho de 2017.
A lenda da guerra que Pelé parou
Uma das histórias mais conhecidas dos feitos de Pelé é sobre ele ter conseguido parar uma guerra. Dizem que ele afirmou, que só entraria em campo se parasse a guerra que a Nigéria travava contra uma de suas regiões que queria se separar, a Biafra.
A narrativa faz parte de livros, e até hoje, alguns dos jogadores veteranos do Santos sustentam a versão original.
A Nigéria estava com a situação, quase sob controle, e decretou um cessar fogo para que o Santos pudesse chegar até Benin City, local do jogo contra um time local. Assim foi feito.
Isso aconteceu no dia 4 de fevereiro de 1969. Os jogadores só souberam que estavam indo jogar no meio de uma guerra, quando chegaram lá.
A história que os santistas relatam é que o governo nigeriano decretou um cessar-fogo para que eles pudessem se deslocar do hotel para o estádio Ogbe em segurança e depois retornar ao local onde estavam hospedados.
Havia apenas um jornalista brasileiro acompanhando a delegação do Santos durante aquela excursão para a África. Era Gilberto Castor Marques, que escreveu para "A Tribuna". Nas páginas do jornal, ele registrou que foi decretado feriado local por causa do Santos.
O Santos de Pelé venceu a equipe local por 2 a 1. Gols de Toninho Guerreiro e Edu. No dia seguinte, foi embora do país. A guerra prosseguiu tão terrível quanto antes e só cessaria com a total dominação da região separatista.
Mas, apareceu um antropólogo, José Paulo Florenzano, 53, professor da PUC-SP, que estuda o tema há dez anos, o qual parece ter melado a história.
"O que eu afirmo tem como base toda uma pesquisa desenvolvida ao longo do projeto de pós-doutorado para a USP. A minha tese é que o Santos não interrompeu uma guerra civil na Nigéria. Ele não só não interrompeu a guerra, como na verdade foi utilizado como peça de propaganda pelo governo militar da Nigéria contra a república separatista de Biafra".
O depoimento é inédito e está fundamentando em evidências que o antropólogo afirma ter encontrado durante viagens que fez para o continente africano, testemunhas da tragédia de Biafra e estudo do material produzido pelos correspondentes daquela guerra.
"No momento em que o Santos joga na cidade de Benin, o território de Biafra encontra-se reduzido a um quarto do que era originalmente quando declarou a secessão.
A interpretação de Florenzano para o que ocorreu durante a visita do Santos a Benin City é ainda mais surpreendente.
"Levar o Santos para se exibir na Cidade de Benin era a melhor propaganda possível para o governo federal mostrar para a sociedade nigeriana que aquela região chave para o país estava sob pleno controle das autoridades", disse.
Então, não só não parou a guerra, como ela prosseguiu após a partida de Pelé e companhia. No total, morreram mais de dois milhões de pessoas.
Pelo amor de Deus, não fala isso
O Santos jogava contra o Vasco, em São Januário, pelo Torneio Rio-São Paulo.
A dupla de zaga cruzmaltina era formada por Brito e Fontana, uma das melhores do Brasil.
O Vasco fez 2x0, e o jogo se encaminhava para o final, quando por volta de 40 minutos Fontana virou-se para Brito e perguntou: "Brito, você não ouviu falar que um certo rei viria jogar aqui, hoje"?
Aos 44 minutos Pelé marcou seu segundo gol, pegou a bola no fundo do gol, e ao passar por Fontana disse pra ele: "O rei chegou".
Não demorou muito, Fontana teve seu passe adquirido pelo Cruzeiro de Belo Horizonte, onde formou dupla com outro grande zagueiro, Procópio.
Jogo contra o Santos, em BH. O Cruzeiro vencia por 1x0. Procópio estava perto de Pelé e resolveu tirar uma casquinha.
"Fontana, tu não ouviste falar que estava certo para um certo rei jogar aqui, hoje"?
"Pelo amor de Deus, não fala uma desgraça dessa. Eu fiz isso uma vez, me dei muito mal, e não quero repetir a dose", disse o zagueiro ex-Vasco.
Outra vez o Santos veio ao Pará, jogar em Belém contra o Clube Remo. A dupla de zaga do time paraense era formada por Edilson e Socó.
O Remo era um time forte e respeitado, mas, o adversário era o Santos.
O Edilson caiu na besteira de fazer uma piada a respeito de Pelé não ter feito ainda nenhum gol. O rei não gostou e sentenciou: "garoto, vou fazer um gol tabelando contigo".
Não deu outra. Pelé recebeu uma bola, emparelhou com Edilson, chutou a bola uma vez na perna do zagueiro, e uma segunda vez, para depois colocar a bola no fundo da rede.
Não falei que faria um gol tabelando contigo?
Edilson ficou calado o resto do jogo.
Por que ele foi o melhor?
Só vi Pelé jogar, na tela do cinema, no Canal 100. Era maravilhoso vê-lo bailar nos campos do mundo. Não tinha como não admirá-lo. Mas, porque será que ele foi o melhor, o maior de todos? Veja porque.
Didi, com sua "Folha Seca", era considerado o melhor cobrados de faltas do futebol brasileiro. Pelé cobrava faltas tão bem quanto ele.
Ninguém discorda sobre Garrincha ter sido o maior driblador do futebol mundial em todos os tempos. Pelé não tinha a mesma plasticidade, mas, sabia driblar com maestria.
Baltazar foi chamado de "Cabecinha de Ouro", porque era um perigo no jogo pelo alto, tendo marcado muitos gols de cabeça. Pelé foi um exímio cabeceador, tendo marcado cerca de 200 gols de cabeça.
Ninguém pode ser comparado a Gerson, o canhotinha, como lançador de bolas de longa distância. Pelé faziam grandes lançamentos de qualquer distância.
Até a Natureza foi generosa com Pelé, que mede 1,75 m, tamanho ideal para juntar tantas qualidades em um só jogador. De quebra, era ambidestro.
Garrincha, Didi, Baltazar e Gerson, quatro monstros sagrados do nosso futebol reunidos em um ser humano iluminado, só podia ter como resultado, o melhor de todos, o Rei do futebol, ontem, hoje e sempre.
Parabéns, e vida longa ao Rei.
Pesquisa e edição de texto
Jornalista Jota Parente