Mansur: Da falta de competitividade de Honda e Kalou às constantes mudanças de rota, alvinegro é um time sem rumo na reta final do Brasileiro
Vale a pena reexaminar a forma como o Botafogo, ainda que pressionado por cinco jogadores do Flamengo, concedeu ao rubro-negro o gol que decidiu o clássico de sábado. Todos os holofotes ficaram em cima do lateral Marcinho, cujo passe não encontra o zagueiro Marceloe é interceptado por Gérson. Mas, mesmo num espaço pequeno de tempo, muita coisa importante aconteceu.
Antes do passe errado, Marcinho já recebera a bola e conseguira encontrar Honda, e ali se produziu um momento crucial da jogada. O japonês tinha espaço para girar e eliminar a pressão inicial do Flamengo. Bastava ter controlado a bola orientando o corpo para avançar no campo. E teria opções de passe à frente. Mas, de costas e lento na jogada, perdeu espaço e retornou para Marcinho em condições muito mais difíceis para o lateral.
E aí vem o segundo momento. Embora Marcinho ainda tivesse em Marcelo Benevenuto uma opção de passe simples, o zagueiro não se moveu para facilitar ainda mais a entrega da bola. É curioso como um só lance informa tantas coisas sobre a via crucis do Botafogo neste 2020.
A começar por Honda. Diante do material humano disponível num Botafogo tão fragilizado economicamente, sua qualidade técnica ainda é superior à média. Mas o japonês tem limitações: de mobilidade, rapidez, intensidade. É caso similar ao de Kalou, autor do bom lance que colocou Lucas Campos em ótima condição no fim do jogo. Mas lhe falta velocidade, intensidade para combater após a perda da bola, competitividade.
Significa que trazê-los foi um equívoco? Não. Mas que a busca de um jogador no mercado não pode estar desconectada do contexto, das necessidades do elenco. E o Botafogo, em busca de visibilidade em meio à tentativa de atrair investidores para seu projeto de S/A, trouxe dois jogadores distantes de seus melhores momentos na carreira e não montou, ao redor deles, um elenco que compensasse suas carências. Vieram dois reforços internacionais com limitações competitivas para um time que já tinha a falta de velocidade, agilidade e intensidade como características mais alarmantes. A falta de planejamento esportivo é uma marca essencial do Botafogo de 2020. E num clube com tão poucos recursos, é preciso ter alto índice de acerto no mercado.
O clássico com o Flamengo reforça alguma tais sensações. A opção por defender muito atrás em boa parte do jogo — após cinco a 10 minutos de pressão — pode inflar o número mas, entre cada ação defensiva que tentava executar, o Botafogo permitia ao Flamengo trocar o dobro dos passes que o rubro-negro lhe permitia. O Botafogo é o terceiro time do campeonato que menos executa tentativas de roubada de bola por minuto de posse de bola de seus rivais.
Mas o lance do gol do Flamengo permite outra reflexão fundamental sobre o Botafogo: a sequência de desacertos de Honda, Marcinho ou Marcelo, é retrato de um time sem mecanismos treinados, automatizados em sua saída de bola. Porque a equipe vai para o quinto treinador no ano, após passar por quatro ideias distintas, quatro formas diferentes de sair jogando, quatro orientações aos defensores sobre as primeiras etapas de construção das jogadas. Com Eduardo Barroca, a saída pelo chão tende a ser um pilar do jogo. Mas terá que ser exercitada em meio a imensa urgência por pontos.
Tão grave quanto a 19ª posição, quanto a necessidade de ganhar algo como oito dos 15 jogos que restam, é perceber que o Botafogo chega à reta final do Brasileiro sem rumo, sem norte. Como um time que parece viver um eterno recomeço. E justamente num ano em que joga mais do que a permanência na elite: joga também o futuro do clube.
Fonte: O Globo
Meu Comentário: Perfeita a análise do Mansur