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quarta-feira, julho 06, 2022

Covid longa: novo estudo sugere que ‘névoa mental’ é causada por danos nos vasos sanguíneos do cérebro

Pesquisadores descobriram que os próprios anticorpos atacam células que revestem a região, provocando danos e inflamações ligados aos sintomas neurológicos

Uma das queixas mais comuns na persistência dos sintomas após a Covid-19, chamada de Covid longa, é em relação aos sintomas neurológicos, como dificuldades na concentração e a "névoa mental". 

Agora, um novo estudo conduzido por cientistas dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH) descobriram que a própria resposta imune desencadeada pela contaminação com o Sars-CoV-2, vírus causador da doença, pode provocar danos e inflamações nos vasos sanguíneos do cérebro e estar por trás do problemas de longa duração na região.

O estudo, publicado na revista científica Brain, analisou autópsias cerebrais de nove pessoas que morreram após contrair o vírus. Em vez de detectar evidências do patógeno no órgão, a equipe descobriu que eram os próprios anticorpos das pessoas que atacavam as células que revestem os vasos sanguíneos do cérebro.

Essa descoberta pode ser a explicação sobre por que algumas pessoas sofrem efeitos prolongados da infecção - como dor de cabeça, fadiga, perda de paladar e olfato, dificuldades para dormir e a "névoa mental". Além disso, pode ajudar no desenvolvimento de novos tratamentos para Covid longa, defendem os cientistas.

"Já havíamos mostrado danos nos vasos sanguíneos e inflamação nos cérebros dos pacientes na autópsia, mas não entendíamos a causa do dano. Acredito que neste artigo ganhamos perspectivas importantes sobre essa cascata de eventos", explica o autor sênior do artigo, Avindra Nath.

Os nove indivíduos avaliados, com idades entre 24 e 73 anos, foram selecionados num estudo anterior da equipe que já havia mostrado evidências de prejuízos nos vasos sanguíneos cerebrais por meio dos exames. Seus cérebros foram, então, comparados aos de 10 participantes saudáveis de um grupo de controle. A equipe examinou a neuroinflamação e as respostas imunes usando uma técnica chamada de imuno-histoquímica.

Os cientistas perceberam que os anticorpos produzidos contra a Covid-19 pela infecção miravam erroneamente as células que formam a barreira hematoencefálica, uma estrutura destinada a manter invasores nocivos fora do cérebro, ao mesmo tempo em que permite a passagem de substâncias necessárias.

Danos a essas células podem causar vazamentos de proteínas, sangramentos e coágulos, o que eleva também o risco de acidente vascular cerebral (AVC) – outra relação já comprovada por estudos com a Covid-19. Além disso, esses vazamentos na barreira acionam células imunes chamadas de macrófagos para o local a fim de reparar as perdas, o que causa mais inflamação.

A equipe descobriu que os processos celulares normais nas áreas atacadas pelos anticorpos foram severamente interrompidos, o que teve implicações em mecanismos como a capacidade de desintoxicar e regular o metabolismo.

As descobertas ajudam a elucidar a atuação da doença em pacientes com sintomas neurológicos de longo prazo, e podem ajudar no desenvolvimento de novos tratamentos como, por exemplo, um remédio que atue no acúmulo de anticorpos na barreira hematoencefálica.

"É bem possível que essa mesma resposta imune persista em pacientes com Covid longa, resultando em lesão neuronal", afirma Nath. Ou seja, um medicamento que reduza essa resposta imune poderia ajudar esses pacientes. "Então essas descobertas têm implicações terapêuticas muito importantes", enfatiza o especialista.

Fonte: O Globo