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segunda-feira, abril 18, 2022

Mudança na Petrobras é um conto do vigário que Bolsonaro aplica em si mesmo

No seu discurso de posse, o novo presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, classificou como "necessária" a estratégia de vincular o reajuste dos combustíveis no Brasil às oscilações do valor do barril do petróleo no exterior e à cotação do dólar.

Soou taxativo: "A prática de preços de mercado é condição necessária para criação de um ambiente de negócios competitivo, para a atração de investimentos, para ampliação da infraestrutura do país e para a garantia do abastecimento." Traduzindo para o português do asfalto: o preço da gasolina, do diesel e do gás de cozinha não vai cair como num passe de mágica. 

Nada acontece na Petrobras, exceto o esforço de Bolsonaro para passar a impressão de que muito está acontecendo. A pretexto de conter a alta dos combustíveis, o presidente fritou com espalhafato dois presidentes da estatal. 

No ano passado, decorou sua sala de troféus com a cabeça do economista Roberto Castello Branco, um apadrinhado de Paulo Guedes. Agora, pendurou na parede o cocuruto do general Joaquim Silva e Luna, um amigo que ele próprio apresentara como solução para a "insensibilidade" da Petrobras.

Castello Branco e Silva e Luna adotaram a mesma política de preços que Mauro Coelho tachou de "necessária". Logo, logo Bolsonaro estará criticando o novo presidente que indicou para a Petrobras. 

Repetirá que não tem poderes sobre a estatal. Em seguida, com um alívio cenográfico, colocará a culpa em alguém. Bolsonaro é sempre vítima de alguém. 

A campanha à reeleição potencializou o apreço de Bolsonaro pelo narcisismo do fracasso. Ele enobrece a própria alma terceirizando culpas. Tudo é uma porcaria, menos o crítico. Ninguém vale nada, exceto ele, o denunciador dos problemas.

Fonte: Josias de Souza (UOL)

segunda-feira, abril 04, 2022

Pires, mais um indicado por Bolsonaro, desiste de ser presidente da Petrobras

Governo tem menos de dez dias para conseguir um substituto para presidir a Petrobras

O Ministério de Minas e Energia confirmou na noite nesta segunda-feira (4) que o empresário Adriano Pires desistiu de assumir a presidência da Petrobras.

O ministro Bento Albuquerque (Minas e Energia) recebeu uma carta de Pires em que ele informa a desistência. A informação foi antecipada pelo jornal O Globo e confirmada pela Folha.

"Ficou claro para mim que não poderia conciliar meu trabalho de consultor com o exercício da presidência da Petrobras. Iniciei imediatamente os procedimentos para me desligar do Centro Brasileiro de Infraestrutura, consultoria que fundei há mais de 20 anos e que hoje dirijo em sociedade com meu filho. Ao longo do processo, porém, percebi que infelizmente não tenho condições de fazê-lo em tão pouco tempo", afirmou Pires em carta divulgada pelo ministério no início da noite.

Mais cedo, interlocutores da pasta afirmavam que o ministro ainda buscava um plano B para a possível negativa de Pires.

A decisão do economista cria um impasse para o governo, que tem menos de dez dias para conseguir um substituto para presidir a Petrobras.

Na prática, apesar de a troca ter sido anunciada, ela só ocorreria no próximo dia 13, na assembleia geral de acionistas da empresa, quando o governo apresenta sua lista de representantes ao conselho.

A turbulência fez as ações preferenciais da Petrobras, as mais negociadas na Bolsa, recuarem 0,88% nesta segunda, puxando o mercado para baixo.

Esta será a terceira troca no comando da empresa durante a gestão Bolsonaro, e ocorre em um momento especialmente sensível.Após o mega-aumento no preço dos combustíveis, o general Joaquim Silva e Luna entrou na mira do presidente Jair Bolsonaro (PL), preocupado com a alta de preços e seu efeito inflacionário.

O tema dos combustíveis é considerado um dos mais importantes para Bolsonaro desde o ano passado, e se agravou com a guerra na Ucrânia. Em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, ele busca sua reeleição em outubro.

A palacianos, o economista alegou potencial conflito de interesses para justificar sua desistência.

Um dos principais entraves para a nomeação é o fato de Pires ser dono do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), fundado pelo economista, que hoje preside a companhia, tendo o seu filho como sócio e diretor da empresa.

O problema é que, pela Lei das Estatais, Pires não poderia simplesmente deixar a empresa e vender as cotas para o filho porque o parente continuaria sendo acionista.

Ou seja, para assumir a presidência da Petrobras, não só Pires, mas também seu filho deveria abrir mão da empresa -o que ele não quer.

Por outro lado, segundo aliados do Planalto, Pires também estaria preocupado com eventuais intervenções na estatal, a depender do momento político.

Como o jornal Folha de S.Paulo mostrou, o indicado para substituir o general Joaquim Silva e Luna tem forte ligação com Carlos Suarez, dono da Termogás, que controla distribuidoras de gás encanado em regiões ainda não atendidas por gasodutos, como o Distrito Federal. Também ficou mais conhecido com o S da OAS, que ajudou a fundar e da qual depois se desligou.

Folhapress