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quarta-feira, novembro 24, 2021

Estados e municípios brasileiros reagem a mudanças no Código da Mineração que os prejudicam

Prefeitos de Minas Gerais, Pará, Bahia e Mato Grosso se reuniram com a deputada federal Greyce Elias, relatora do grupo de trabalho (GT) criado na Câmara Federal para rever o Código de Mineração

Representantes dos municípios mineradores brasileiros se posicionam rigorosamente contrários a diversos pontos do texto proposto para o novo Código de Mineração. As propostas geram extrema preocupação e podem ser consideradas um retrocesso em termos de políticas públicas no país. 

Os prefeitos alegam que a proposição de um grupo, formado por 16 deputados federais, fere o pacto federativo ao propor dispensa de anuência de estados e municípios em todos os processos que têm relação com a exploração de recursos minerais no Brasil. A proposta retira a oportunidade de participação e autonomia das cidades e estados, concedidas pela Constituição Federal, nos trâmites ligados aos empreendimentos minerais. 

Os apontamentos foram feitos à deputada federal Greyce Elias (Avante-MG), relatora do Grupo de Trabalho (GT) criado pela Câmara Federal para alterar o Código de Mineração (Decreto-Lei 227/67). Durante uma reunião on-line, realizada na segunda-feira (22), proposta pela Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais e do Brasil (AMIG), prefeitos de Minas Gerais, Pará, Bahia e Mato Grosso, além dos diretores e consultores da associação, apresentaram as ponderações e sugestões à parlamentar. 

As cidades mineradoras e impactadas pela mineração expuseram suas preocupações e insatisfações frente a algumas mudanças propostas pelo GT, com a alegação de desburocratizar a instalação de mineradoras, mas que representam a derrocada da atuação de estados e municípios no setor mineral. Nesse contexto, a AMIG reforçou o apoio à mineração, mas ressaltou que a atividade e o território formam uma sociedade por lei e precisam caminhar como iguais. "Não somos contra a mineração. Pelo contrário, somos a favor de uma atividade mineradora que respeite municípios, estados, União e, principalmente, a sociedade como um todo”, destacou o presidente da AMIG, José Fernando Aparecido de Oliveira, prefeito de Conceição do Mato Dentro (MG).

Apesar do pouco tempo para analisar ponto a ponto o documento, que foi encaminhado à associação na quinta-feira (18), a equipe de consultores das áreas jurídica, tributária e ambiental da AMIG conseguiram identificar várias inconsistências e propostas consideradas inconstitucionais na minuta. Logo no parágrafo 1º do Código, os atos de anuência de estados e municípios para a exploração dos recursos minerais são dispensados, o que representa, na visão da AMIG, um desprezo ao próprio princípio federativo do Estado Democrático de Direito, estabelecido no art. 1º da Constituição Federal. 

Além disso, a AMIG entende que, na proposta, há um enfrentamento ao disposto no artigo 23, inciso XI, da Constituição, que concede a União, estados e municípios competência comum para registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios. 

Outra inconstitucionalidade identificada pelo jurídico da AMIG nas proposições do Código foi o veto à criação de unidades de conservação, áreas de proteção ambiental, tombamentos e outras demarcações que restrinjam a atividade minerária. Esse item se choca com o Artigo 30 da Constituição, que prevê, entre outras prerrogativas, como competência dos municípios, legislar sobre assuntos de interesse local e promover adequado ordenamento territorial. 

"Nós já somos, infelizmente, muito impactados pela atividade e pouco temos condição de opinar por ela. A cidade recebe uma transformação enorme quando se inicia a atividade, o que perdura enquanto a atividade existir. A gestão urbana compete aos municípios. A previsão do texto apresentado é de retirar a necessidade de anuência dos estados e dos municípios para a implantação da atividade. É como se estivesse tirando completamente a capacidade do município de gerir o seu próprio território", pontuou Waldir Salvador, consultor de relações institucionais e econômicas da AMIG. 

O prefeito de Ouro Preto, Ângelo Oswaldo, por sua vez, contextualizou sobre os impactos socioambientais e urbanos, provocados pelo setor. "Realmente, o município não pode, de maneira alguma, ser alijado do seu próprio chão, da sua presença”. Atualmente, as cidades podem negociar com as empresas mineradoras, pois, além de pagar a CFEM, elas precisam compensar pela presença invasiva e massacrante da atividade mineradora", argumentou. 

No posicionamento da AMIG, o consultor jurídico da entidade, Rogério Moreira, sugeriu a explicitação de termos que podem causar interpretações dúbias, entre eles os conceitos de beneficiamento e transformação. “Hoje, existe uma tensão que está até colocada no Judiciário, que é como os empreendimentos minerários utilizam o conceito de transformação para não recolher CFEM adequadamente”, informou Moreira. 

O consultor também apontou que o Código deveria prever como condição de caducidade o não pagamento correto da CFEM. Na prática, essa possibilidade harmonizaria o regramento com a própria Constituição, já que os entes federados são uma espécie de sócios dos empreendedores minerários, que utilizam dos recursos minerais da sociedade brasileira como insumo de seu negócio e, por isso, devem pagar CFEM a título de participação nesse negócio. Dessa forma, se um sócio não cumpre suas obrigações, perde o direito de exercer suas atividades normalmente. 

O jurídico da AMIG alertou ainda sobre o risco da proposta do GT quanto a aprovação de concessão de lavra, caso Agência Nacional de Mineração (ANM) não se manifeste sobre o pedido em até 180 dias. Isso porque o órgão está sucateado, não recebe o devido repasse para arcar com seus custos e está com o corpo de funcionários reduzido. 

Greyce Elias se comprometeu a dialogar com os prefeitos das cidades impactadas pela mineração. "A AMIG vai nos apresentar as considerações e, em cima disso, vamos rediscutir para que possamos resolver o problema que os empreendedores nos relataram. Entendemos que é um momento de aperfeiçoamento, em que não podemos retirar a segurança jurídica de forma alguma", avaliou a deputada. 

Assim que tomou conhecimento da instalação do GT, que ocorreu em 16 de junho, a AMIG entrou em contato com a deputada por meio de ofícios, propondo auxiliar no que fosse necessário na revisão do código, já que a entidade possui 32 anos de experiência nas questões do setor mineral. O presidente da Associação, José Fernando, também entrou em contato com a relatora, que acertou uma audiência em Minas Gerais, mas que nunca aconteceu. 

A reunião para discussão e votação do parecer preliminar com a minuta da proposta da deputada Greyce Elias, inicialmente marcada para 24 de novembro, não permitiu o tempo hábil para a ampla discussão do tema e foi remarcada para 1º de dezembro.

Fonte: 

Lorraine Souza lorraine@interfacecomunicacao.com.br

terça-feira, setembro 14, 2021

Vereador Wescley Tomaz: Itaituba precisa se unir em torno do problema do garimpo, porque depois, não vai adiantar chorar o leite derramado

Durante a fala do vereador Felipe Marques, o vereador Wescley Tomaz pediu aparte ao colega, para reforçar o discurso do mesmo. Conhecedor como poucos, da realidade do garimpo, Wescley chamou atenção para o tamanho do problema que só faz crescer.

"De 2017 pra cá, o governo do prefeito Valmir Clímaco tem feito um trabalho incansável da conscientização do garimpo legal. O resultado veio. De 2017 a 2021 a gente chegou ao ápice da arrecadação de CFEM, que é o imposto do ouro. A produção existia, mas, o município não usufruia da arrecadação.

Ano passado foram arrrecados R$ 50 milhões e este ano a previsão é de que aumente, pois já entraram nos cofres do município R$ 45 milhões até setembro. Porém, a insegurança jurídica dos que trabalham nessa atividade em Itaituba, vem causando desânimo entre eles e até encerramento das atividades.

Temos caso de empresa que só este ano já arrecadou mais de R$ 9 milhões de CFEM, que fechou suas portas. Temos mineradoras que estão sendo alvo de investigação.

É complicado, porque se o garimpeiro (mesmo trabalhando em área branca) não estiver legalizado, não tem como ele legalizar o ouro. Aí entra a força do MPF, que desrespeita a vocação econômica da região, que e a produção de ouro, mas, a gente não vê nenhuma frente do próprio MPF para buscar entender o processo. Não querem entender o processo.

Infelizmente, a taca vem comendo pra essa atividade.

Quero fazer um alerta para a população: a mineração é muito forte, mas, é desunida, é desorganizada e não é representada. Eu sou o vereador que luto por essa frente, e faço o meu melhor, com as condições que eu tenho. É muito pouco para uma classe que move a economia de toda uma região, e a gente fica preocupado.

Essa situação vai piorar. Itaituba como um todo precisa se fortalecer, precisa se organizar para enfrentar esse momento complicado, porque depois, não adianta chorar o leite derramado", disse Wescley.

Jota Parente