Em março deste ano, Edvaldo Vieira, 53, se tornou um dos poucos executivos negros a liderar uma grande empresa no país, a Amil, parte do grupo UnitedHealth Group Brasil.
Como a maior parte dos pretos e pardos brasileiros, o executivo conta ter enfrentado episódios de racismo desde sempre:
“Sou o mais velho de quatro irmãos e tinha 15 anos quando meu pai faleceu. No seu enterro, lembro de alguém perguntar para a minha mãe: ‘o que será desses meninos? Quatro bandidos?’”.
Para ajudar a sustentar a família, começou a trabalhar como office boy em um banco. Depois, se inscreveu no programa de treinamento da mesma instituição e foi aprovado, dando início a uma carreira bem sucedida no mundo corporativo.
Edvaldo Vieira, 53
Presidente-executivo da Amil, empresa do UnitedHelth Group Brasil. Bacharel em Administração pela Escola Superior de Admministração e Negócios pelo Ibemec/Insper, com especialização emLiderança de Alta Performance pelo INSEAD e Fundação Getulio Vargas (FGV-CEO). O executivo teve passagens pela Metlife, HSBCe Citibank Brasil
As conquistas profissionais não encerraram o preconceito no trabalho e na vida pessoal: “Recentemente, estive sob a mira da arma de um policial, que me perguntou se o carro que dirigia era realmente meu”, disse à Folha.
Na Amil, Edvaldo quer que o corpo de funcionários reflita “o que encontramos na sociedade brasileira”. Para acelerar o processo, a empresa estabeleceu, neste ano, metas ligadas à diversidade, que terão impacto sobre a remuneração variável dos gestores. “Intencionalmente, movemos a agulha da inclusão”.
Além do trabalho dentro da empresa, Vieira afirma que perdeu o receio de se tornar uma referência para jovens negros:
“Durante muito tempo, pensei que servir de modelo poderia soar como falta de humildade. Até, recentemente, assimilar que jovens negros precisam de modelos que tenham seu fenótipo para se inspirar. E que eu poderia ajudar nesse sentido, compartilhando minha história”.
O sr. é um dos poucos líderes negros à frente de uma das grandes empresas no Brasil, como analisa as desigualdades no mercado de trabalho?
Ainda é preciso avançar, e muito. Primeiramente, reconhecendo que o problema existe e investindo em diagnóstico. Em seguida, investindo em ações afirmativas, com metas objetivas, que visem ampliar as oportunidades para lideranças negras nas empresas.
As empresas são as pessoas que atuam nelas. Muitas trazem um viés inconsciente para dentro do ambiente de trabalho que resulta na resistência aos profissionais negros.
Então, o trabalho de mudança se inicia a partir da cultura, com a conscientização dos colaboradores. Eles precisam estar preparados para receber as pessoas. E é fundamental uma revisão dos processos de seleção e de retenção de talentos, desde a lista de requisitos para uma vaga até a relação de faculdades habilitadas para prover candidatos.
Não adianta falar que inclusão e diversidade são importantes e desejar formação apenas em faculdade de primeira linha.