É antiga a preocupação do presidente Jair Bolsonaro com o preço dos combustíveis. Isso é verdade. O que é bem mais recente é a preocupação dele em tentar, de todo modo, baixar o preço da gasolina, do óleo diesel e do gás de cozinha à custa dos erários públicos estaduais, como é bem do seu feitio.
A culpa dos problemas nacionais é sempre dos outros, jamais sua. Arranja culpado para qualquer desacerto que haja.
Como qualquer brasileiro, eu também gostaria de estar pagando bem menos, tanto pela gasolina, quanto pelo gás de cozinha que uso, todavia sei que, nem o presidente Bolsonaro, nem qualquer outro que estivesse em seu lugar resolveria isso de forma satisfatória e duradoura, tanto para o consumidor, como para as finanças públicas.
O ex-presidente Lula declarou que Bolsonaro não resolve porque não quer, pois bastaria dar uma canetada. Mas, não é bem assim. É, também, afirmação eleitoreira.
Dar uma canetada significa autorizar o tesouro nacional subsidiar os combustíveis, o que equivale ao comportamento do avestruz, que enterra a cabeça na terra quando vê o perigo.
Subsidiar qualquer coisa é o mesmo que empurrar o problema com a barriga, pois, enquanto os preços estiverem baixos em relação ao mercado internacional, a população terá a ideia de que está tudo bem por aqui, até o dia que as finanças do País entrarem em colapso, e o governo que estiver de plantão correr da sala pra cozinha para a corda não arrebentar.
Um dia a corda vai ter que ser afrouxada, querendo ou não, e aí vamos assistir ao filme que vimos em governos passados, com aumentos absurdos para tentar compensar o tempo do subsídio, que não tem chance de durar para sempre.
O que Lula propõe é o controle artificial de preços, em vez do controle do mercado, como acontece em quase todos os países. Nesse caso, falar é fácil.
Uma coisa interessante que Bolsonaro disse, com o objetivo de cutucar Lula, é que essa situação que o Brasil está passando, tem a ver com o fato de o PT, quando esteve no poder, ter iniciado a construção de três refinarias, sem concluir nenhuma. O presidente prometeu dar prioridade a isso no próximo mandato, se houve.
Apesar de interessante, foi apenas mais uma fala eleitoreira. Ora, se o presidente está completando três anos e meio de mandato, e não mandou colocar um parafuso em nenhuma dessas três refinarias, como é que a gente vai poder acreditar que ele fará isso num possível próximo governo? É conversa pra inglês ver! E que ninguém venha com desculpa de pandemia.
E agora que a eleição está chegando, Bolsonaro quer enfiar goela abaixo dos governadores o ICMS zero. Esse imposto, que por sinal tem um percentual muito elevado, foi criado em 1996. É uma das grandes fontes de receita dos estados.
O governo federal, que está com as finanças em frangalhos, cortando da saúde e da educação, propõe fazer compensações aos estados que aderirem ao seu projeto, que tem por objetivo o ICMS zero, mas, que ficaria satisfeito apenas com uma redução do percentual, que convenhamos, na maioria dos estados é muito elevado.
Antes, o presidente se contentava em demitir o presidente que estivesse de plantão na Petrobras. Com a proximidade da eleição era preciso fazer mais para tentar melhorar os seus índices de rejeição e subir nas pesquisas. Aliás, por falar em pesquisas, esse é um problema antigo no Brasil. Disparidades nos resultados de um instituto para outro deixa o cidadão perplexo. Está faltando credibilidade.
Nem Jair Bolsonaro, nem Luiz Inácio Lula da Silva tem como resolver esse problema do alto preços dos combustíveis, porque isso não depende da vontade pessoal de um ou de outro.
Baixar o ICMS seria uma boa medida que melhoria a imagem do presidente em curto prazo. Porém, essa não será uma solução definitiva. É uma medida eleitoreira que deixará os consumidores satisfeitos por um breve tempo, até os próximos aumentos nas bombas.
Até a Venezuela, destroçada pelo catastrófico governo de Nícolas Maduro, que concluiu a obra de destruir o país, iniciada pelo Coronel Hugo Chaves, tem gasolina cara, quando tem, porque os racionamentos tem sido frequentes por lá.
Os combustíveis eram super subsidiados no país vizinho, custando em 2008, por exemplo, nove centavos de real. Era mais barato que comprar uma garrafa de água mineral de 100 ml. Hoje, quem tem algum dinheiro comprar, tem que pagar mais de U$ 1 (um dólar por litro).
Se aparecer um candidato a presidente por aí, para resolver essa equação, com uma fórmula mágica que faça a gente voltar a encher o tanque do carro, e que consiga baixar o preço do gás, quem sabe ele me convença e vote nele, embora eu continue ressabiado, muito desconfiado, depois da fatídica experiência com Fernando Collor de Mello e Zélia Cardoso de Melo.
Collor tinha somente uma bala para matar o tigre da inflação. Errou o tigre e acertou na gente.
Chega de milagreiros. Precisamos de um comandante com os pés nos chãos.
Jota Parente