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quinta-feira, agosto 12, 2021

Quase paraense, Tarcísio Meira mantinha amizades no estado e queria fazer filme em Alter do Chão

Em entrevista exclusiva a O Liberal, em 2015, o ator contou como se apaixonou pelo Pará, e comentou até sobre a história da famosa casa na Av. Júlio César

As artes cênicas brasileiras perderam nesta quinta-feira, 12, um de seus gigantes. Tarcísio Meira faleceu aos 85 anos em decorrência de complicações da covid-19. Além das artes, o Pará também lamenta a partida de um de seus amantes, considerado um quase paraense. Tarcísio Meira era dono da Fazenda São Marcos, localizada na área rural do município de Aurora do Pará, e foi por lá que fortaleceu ainda mais sua relação com os paraenses.

Em 2015, o ator concedeu uma entrevista exclusiva ao jornal O Liberal, publicada no caderno Magazine (atual Cultura), no dia 2 de fevereiro daquele ano. O repórter Evandro Corrêa chegou a viajar até a fazenda de Tarcísio para a entrevista, onde foi recebido com um verdadeiro banquete, como relata na matéria. No conversa, Tarcísio falou sobre como acabou comprando uma fazenda no Pará, suas amizades no estado, e também relembrou histórias de afeto com o povo paraense.
Leia a entrevista na íntegra:

O Liberal - Como surgiu a ideia de comprar uma fazenda no interior do Pará?

Tarcísio Meira - Eu sempre fui apaixonado por fazenda. Certa vez, na década de 70, eu fiz uma viagem a trabalho para Manaus, quando um amigo me falou de uma área que estava à venda no interior do Pará. Não demorou muito e eu fechei o negócio. De lá para cá virei quase um paraense. Sempre que arranjo um tempo, corro para ver como estão meus bois no Pará.

OL - Você possui outras propriedades rurais?

TM - Tenho uma outra fazenda e um sitio em São Paulo. Quando consigo uma folga no trabalho, divido meu tempo entre as minhas propriedades.

OL - Como é sua relação com o povo paraense?

TM - Quando cheguei ao Pará, na década de 70, conheci algumas pessoas com as quais mantenho uma grande amizade até hoje. O povo paraense é muito receptivo e hospitaleiro. Me lembro que certa vez, quando eu e Glória [Menezes], viemos a Belém, para o lançamento de um filme, uma multidão nos saudou euforicamente em frente ao cinema. Foi uma coisa muito bacana que guardo na memória com muito carinho.

OL - Você pode falar sobre os seus amigos do Pará?

TM - Falar de amigos sempre é muito bom. Dentre as amizades marcantes no Pará posso citar o Romulo e a Déa [Maiorana]. A gente se hospedava na casa deles quando vinha a Belém. A Glória tem um grande carinho pela Déa. São amigos valiosos que nos receberam de braços abertos desde a primeira vez que viemos ao Pará.

OL - Em Belém existe uma lenda sobre uma casa situada na avenida Júlio César, que muita gente diz que é de sua propriedade. A casa é mesmo sua?

TM - Me divirto bastante quando falo sobre este assunto. A casa nunca foi minha. Na verdade, as pessoas fazem um pouco de confusão. Acredito que esses boatos surgiram porque logo nas primeiras viagens que fiz ao Pará costumava ficar hospedado em um hotel que fica em frente a esta casa. Eu acho que vez ou outra eu devo ter atravessado a rua, ou para caminhar ou para pegar um táxi, e as pessoas me viram em frente à casa e deduziram que eu morasse ali. São histórias que passam de boca em boca e acabam se confundindo com a realidade. Na vida do ator isso é muito comum.

OL - Falando um pouco de trabalho, você é um dos mais consagrados atores da televisão brasileira. Como você avalia o trabalho na televisão nos dias atuais, em relação ao passado?

TM - No tempo em que comecei a fazer televisão a coisa era um pouco difícil. O sujeito tinha que gravar várias cenas e, quando um equipamento enguiçava, tínhamos que esperar uma eternidade para retomar o trabalho. Hoje, com o avanço da tecnologia, tudo é muito fácil. Não se faz tanto esforço. Me recordo que certa vez, quando uma câmera deu problema, comecei a ler um livro interessante. Nele, o sujeito criava uma máquina que imitaria o ser humano. Quando a obra ficou pronta o autor da façanha faz a pergunta fatal para a máquina: Deus existe? E ela responde: agora existe. Gostei muito desse livro.

OL - Você tem se dedicado muito às suas fazendas. Quais os seus projetos para o futuro? Você vai retornar às novelas?

TM - Minha última participação em novela foi em Saramandaia. Eu vou participar da próxima novela das nove da Globo, que deve ir ao ar em fevereiro. Recentemente participei de um filme. Tenho muita vontade de fazer um filme aqui no Pará. Seria naquela região de Santarém, perto da praia de Alter do Chão. Estou tentando emplacar este projeto.

OL - Você vem com frequência à sua fazenda?

TM - Como já disse, venho sempre que pinta uma folga. Gostaria de vir mais do que o de costume. Teve uma época que já passei quase um ano sem aparecer por aqui. Agora tenho vindo com mais frequência. Felizmente eu tenho uma equipe muito boa que cuida de tudo na minha ausência. Quando estou longe, mantenho contato quase que diariamente com meus funcionários. Ligo para saber como estão as coisas e resolver pendências.

OL - Você é uma pessoa muito conhecida e querida aqui na região. Você tem muito contato com a comunidade local?

TM - O pessoal daqui é muito hospitaleiro e gosta de uma boa prosa. Eu gosto de conversar com as pessoas. Sempre recebo muitas visitas de moradores de Aurora aqui na fazenda. Procuro sempre receber todos com atenção e carinho. É o meu jeito de agradecer a acolhida no Pará.

OL - Você também é conhecido por ajudar as pessoas da comunidade. Isto é uma marca do ser humano Tarcísio Meira?

TM - Já passei por muitas experiências ao longo da vida. Algumas desagradáveis. Sempre procurei ajudar, na medida do possível, as pessoas que me procuram aqui na fazenda. Não se trata de caridade. Acho que nosso mundo seria bem melhor se cada um ajudasse uma pessoa necessitada.

OL - Você mantém uma escola dentro da fazenda para atender crianças. O que lhe motivou a implementar este projeto?

TM - Me preocupo muito com essa questão da educação. Resolvi montar a escola para atender as crianças da redondeza que não tem acesso à escola. Estou um pouco preocupado porque a meninada de hoje não quer saber muito de estudar. Muitos querem ter acesso a computador não para aprender, mas para jogar na internet (risos). Estou bolando uma ideia para premiar os alunos da escola que tirarem as melhores notas.

Fonte: O Liberal