Quem não viveu na época do golpe de
estado de 1964, quando os militares depuseram o presidente João Goulart,
assumindo o poder por longos vinte e um anos, ou não estuda a sério a História
do Brasil, não tem condições de criticar ou fazer argumentações a respeito
desse fato histórico que durou um quinto de século. Eu estava lá.
Para aqueles que preferem ser
marionetes, batendo continência, seja mantendo o seu emprego, ou qualquer outra
atividade, pode ter sido uma maravilha. Esse negócio de liberdade de expressão,
direito de ir e vir é coisa de quem está sempre insatisfeito com tudo, dizem
eles.
Eu prefiro a liberdade com
responsabilidade. Não comungo dessas ideias de cerceamento dos direitos
fundamentais dos seres humanos. Nem por isso, jamais tive que comparecer a uma
delegacia de polícia, ou de um juiz de direito para dar explicações sobre
qualquer malfeito, porque respeito as leis do meu país.
De agosto de 1971, quando comecei no
Rádio, até 1985, eu e meus colegas de trabalho sofremos muito com a censura.
Houve um período em que a Delegacia da Polícia Federal ficava a uns 30 metros
da Rádio Rural. Tempos muito complicados, em que a pressão era enorme e o medo
de fazer alguma coisa que os caras não gostasse era grande.
Hoje, dia 31 de março de 2021,
completam-se 57 anos que a ditadura foi implantada no Brasil. A proposta
inicial era para não demorar muito, pois o que se soube na época foi que dentro
de um ano, ou um pouco mais, os militares promoveriam eleições diretas gerais,
devolvendo o poder aos civis, o que só viria acontecer muito mais tarde.
O Brasil era, naquele momento, um
verdadeiro barril de pólvora, pronto para explodir diante da menor faísca. O
populista Jânio Quadros, de direita, do qual pouco se fala, foi a razão dessa
confusão toda, pois, calculou mal as consequências de sua renúncia. Ele
esperava voltar nos braços do povo, mas, o que aconteceu foi que seu vice João
Goulart, um populista de esquerda, assumiu a presidência e ficou.
Naquele tempo, votava-se no candidato
a presidente e no candidato a vice-presidente, assim como para governador e
vice, e prefeito e vice. Por isso, Jango, que era vice de Juscelino, decidiu
concorrer mais uma vez, sendo reeleito, apesar da disparidade política que
havia entre ele e o presidente eleito.
Jango assumiu e arregaçou as mangas
para tentar colocar em prática seus ideais políticos, o que não foi possível
com Juscelino. Reforma agrária era uma das metas do conterrâneo de Getúlio
Vargas, tema que dava calafrios em todo mundo da direita, sobretudo nos
latifundiários.
O alinhamento de João Goulart com Cuba
e União Soviética afetou os interesses de Washington na América Latina. O
Brasil defendia a manutenção de Cuba no bloco de países interamericanos, o que
ia de encontro ao que queriam os Estados Unidos. Não se deve esquecer que se
vivia sob o clima da Guerra Fria.
Com Jango o Brasil foi cambando, cada
vez mais para a esquerda, até chegar ao ponto de ruptura quando, com apoio de
fortes lideranças de direita, com o governador de Minas Gerais, Magalhães
Pinto, e das vozes das ruas, e com as bençãos dos americanos, na noite de 31 de
março para 1º de abril de 1964 aconteceu o golpe.
Durante os vinte e um anos em que as
forças armadas ficaram no poder, houve muitos investimentos em infraestrutura
por todo o país, ao custo de um imenso endividamento externo. Direitos
fundamentais foram restringidos e muitos brasileiros desapareceram para sempre,
principalmente quem se envolvia em guerrilhas.
É natural que chorem os seus mortos
para sempre. Para a esquerda, foram mártires que lutaram para restabelecer a
liberdade no país, porém, a liberdade ao modo como concebiam suas lideranças, seria
liberdade para elas. Para o povo sobraria uma ditadura de esquerda, passando
por cima de tudo e de todos.
Talvez o golpe tenha sido um mal
necessário que durou mais do que deveria, pois o país caminhava para uma anarquia
política, cujas consequências seriam imprevisíveis. Provavelmente, seria
implantada uma ditadura de esquerda, porque caminhava para isso, e aí seria
trocar seis por meia dúzia, com agravante de que só um golpe defenestraria a
esquerda do poder.
Nada há para comemorar nesse 31 de março, mesmo
porque temos um presidente que, só não deu um novo golpe até hoje, porque não
encontrou apoio de quem mais esperava, os militares do alto escalão, pois, sem
nenhuma competência para fazer o gerenciamento político inerente ao cargo de comandante
em chefe da nação brasileira, Jair Bolsonaro atolou o país numa crise política
e crise de gestão poucas vezes vivenciadas na história do Brasil.
Aos jovens, sugiro que leiam, leiam bastante
sobre esse marcante fato da história do país, que foi a ditadura militar.
Evitem ficar repetindo o que dizem pessoas mais velhas, que por algum motivo
tenham saudades dos anos de chumbo. Certamente, foi porque se beneficiaram com
o regime, ou porque nunca prezaram esse bem inalienável, que é a liberdade
plena.
Meu respeito pelos militares das três forças,
Exército, Marinha e Aeronáutica, que com suas cabeças arejadas pelos ares do
Século XXI, tem uma visão correta de que sua missão é servir o Estado, em vez
de ser subserviente ao governo, qualquer governo. Ao não aceitarem embarcar nas
aventuras tresloucadas de Bolsonaro, prestam um grande serviço ao Brasil.
Ditadura, nunca mais!
Jota Parente