Mostrando postagens com marcador Expedição. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Expedição. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, maio 13, 2022

17 de outubro de 2008: perdidos em Caracas

     17 de outubro de 2008. Caracas, capital da Venezuela era o nosso próximo destino. Para não fugir à regra, a rodovia de Puerto la Cruz até Caracas estava em ótimas condições, como em quase todas as estradas pelas quais pilotamos no país de Hugo Chaves, com direito a centenas de quilômetros por uma autopista excelente.

          O sol se punha sobre os morros da capital venezuelana quando avistamos os primeiros bairros assentados nos diversos morros que cercam aquela metrópole, que fica a 1.000 metros acima do nível do mar, em média. Embora tenha muitos morros ao seu redor, grande parte do relevo de Caracas é constituída de terreno plano. É uma cidade muito grande, com um trânsito para lá de louco.

          Quando a gente leu, e quando algumas pessoas nos disseram que ali estava um dos piores trânsitos do mundo, imaginamos que enfrentaríamos dificuldades, mas, não fazíamos ideia do que nos esperava. Só conduzindo algum tipo de veículo naquela cidade para se sentir na pele o que é o caos no trânsito. Para piorar, quando chegamos lá, estava acontecendo uma manifestação contra o presidente Hugo Chaves.

          Nossa programação da manhã seguinte, 17 de outubro, constaria de uma visita à Colônia Tovar, uma bucólica comunidade alemã, distante 63 quilômetros de Caracas, que fica a mais de dois mil metros de altitude sobre o nível do mar, lugar muito visitado por turistas. Mas, nossos planos foram por água abaixo porque nos perdemos um do outro, de novo e dessa vez por cinco horas, de oito da manhã até uma da tarde do dia 17 de outubro.

          Depois de rodar um pouco sem conseguir encontrar o Jadir, resolvi perguntar qual era o caminho para a Colônia Tovar. Comecei a subir, subir, até que cheguei à frente de uma universidade, onde fiquei parado na esperança de que meu amigo aparecesse. Antes disso, perguntei a um guarda de trânsito se ele não tinha visto alguém, com as características do Jadir passar. Ele disse que não.

          Perdi as esperanças depois das onze horas da manhã, momento em que decidi que era hora de descer a serra com destino ao centro de Caracas, onde tentaria encontrar o hotel onde havíamos pernoitado, sem ter comigo o endereço do mesmo. A única coisa que sabia era que o mesmo ficava perto da Plaza Bolívar, e o nome do mesmo eu lembrava. Após chegar à praça me informei e encontrei o hotel sem muita demora. Ali estavam todas as minhas esperanças de nos reencontrarmos.

          Enquanto isso, o Jadir rodou de um lado para outro tentando me localizar. Chegou a correr riscos, pois ficou parado em um local complicado. Quando ele estava lá, parou um carro da polícia querendo saber o que estava acontecendo. O Jadir falou para um policial que tentava localizar seu companheiro de viagem. Incontinente, o guarda pediu para que ele o acompanhasse, pois aquele era um lugar extremamente perigoso, onde ocorriam assaltos e mortes com frequência. Disse que o Jadir correu sério risco de ter, no mínimo, sua motocicleta roubada, e sairia no lucro se fosse só isso.

          Não foram todos os policiais com os quais Jadir conversou que foram atenciosos, mas alguns se esforçaram para ajudá-lo. Houve um que mandou uma viatura até o Hotel Persa para ver se eu estava lá. Infelizmente o policial incumbido da missão foi para outro hotel.

          Sem muito que fazer diante daquela situação, Jadir resolveu que estava na hora de ir até o Hotel Persa, última esperança, também para ele, da gente se reencontrar. E para nossa enorme felicidade, perto de meio-dia e meia ele chegou. Trocamos um longo e apertado abraço, pois havia de fato o que comemorar, conquanto ainda estávamos muito longe de nosso destino final, Itaituba.

          Tanto eu quanto o Jadir, quando estávamos perdidos, chegamos a pensar em procurar a embaixada do Brasil para ver o que podia ser feito. Minha situação era a mais complicada, porque o Jadir estava com todos os meus documentos, pois a gente resolveu guardar tudo num lugar só, para que ficassem bem protegidos por causa da chuva. Menos mal que a gente tenha se reencontrado. Quase uma da tarde nos mandamos de Caracas, não sem antes enfrentar o caótico trânsito daquela cidade.

          Como disse meu amigo Jadir, em Caracas nós descobrimos para que serve buzina de carro. É para venezuelano buzinar até mais tarde. O que se buzina na capital da Venezuela, não é brincadeira. Porém, com todas as suas loucuras, os motoristas caraquenhos respeitam motociclistas ao ponto de facilitarem a movimentação dos mesmos no meio daquele mar de carros. Nós experimentamos essa consideração deles. Em nenhum momento nos sentimos ameaçados por veículos maiores.

          Precisávamos trocar o óleo das motos e apertar as correntes, mas decidimos que isso seria feito na cidade de Maracay, tendo feito o percurso de 98 quilômetros que separa aquela cidade de Caracas em pouco mais de uma hora, porque o tráfego era intenso na autopista. Parecia que estávamos pilotando dentro de uma grande cidade, tal a intensidade do tráfego. Partimos de Maracay, e às seis da tarde chegamos a Morón, cidade balneária da costa do Caribe, onde decidimos passar a noite. No dia seguinte eu completaria 58 anos.

Jota Parente