O
dia 25 de abril é uma data especial para mim, pois foi nesse dia que nasceu
no ano de 1995, Vicente Freire Parente, na localidade de Aprazível, atualmente,
distrito do município de Sobral, no estado do Ceará, onde vivem ainda alguns
parentes. Era meu avô materno e meu padrinho.Jota Parente
Seu Vicente virou seu Praxedes. Na verdade, quase ninguém sabia do nome de batismo dele, a não ser a família e os amigos mais chegados. Mesmo assim, todos o chamavam de Seu Praxedes, mesmo que a gente nunca tenha sabido o porquê.
Aquele cearense destemido foi tropeiro nos primeiros anos de sua juventude. Pouca gente sabe o que foi essa atividade. Tratava-se de quem ganhava a vida comprando e vendendo animais equinos (cavalos, jumentos e burros), o que para se fazer tinha que percorrer centenas de quilômetros.
Quando completou vinte anos, ouviu falar que estavam recrutando pessoas para trabalhar nos seringais dos nos confins da Amazônia, no totalmente inexplorado estado do Acre.
Isso foi em 1915, ano de uma das grandes secas no estado do Ceará, que forçou muita a gente a procurar outro lugar para viver. Seu Praxedes foi um deles.
Quando ele chegou ao Acre, fazia doze anos que o Brasil tinha acertado a compra do território que pertencia à Bolívia, que por muitos anos fez parte dos territórios federais brasileiros.
Cresci ouvindo meu avô materno falar sobre suas aventuras nas matas da região onde hoje está o município de Feijó, naquele tempo, uma pequena vila, que era onde os seringueiros iam se aviar.
De bobo ele não tinha nada, pois aos trinta e um anos casou-se com o jovem Olendina, de apenas treze anos de idade, filha do patrão, meu bisavô, Joaquim Holanda Cavalcante. Lá no Acre nasceu minha mãe, Guiomar, que feijoense.
No começo dos anos 1940, toda a família, incluindo meu bisavô, decidiu que era hora de descer o rio na direção do Leste, aportando em Santarém, de onde nunca mais saiu.
Ele contava, que saía às duas horas da manhã para fazer o seu roteiro no corte das seringueiras. Andava sempre armado com uma espingarda, pois havia muitas onças.
Havia algumas tribos indígenas, que embora não tivessem sido aculturadas, eram bastante amistosas e receptivas quando contactadas.
Os
Kaxinauá viviam perto de onde ele morava sozinho, até se casar.
Contava seu Praxedes, que os índios só tinham uma exigência, que se não fosse cumprida, seria uma ofensa: o visitante tinha que comer alguma coisa do cardápio deles, que às vezes tinham algumas opções exóticas, como insetos comuns no local.
Com tanta experiência de vida acumulada por aquele ser humano extraordinário, que não tinha maldade no seu coração, eu cresci ao lado dele, absorvendo os seus conselhos e procurando seguir o seu exemplo de vida, que foi sempre motivo de admiração por parte de quem o conheceu.
Para ele eu era o Zeca, assim como a maioria da família. E eu não tenho dúvida, que tenho em mim muita coisa do Seu Praxedes, da sua facilidade de fazer amigos, da verve fácil que transmitia carisma por onde passava e do seu caráter.
Por tudo isso eu posso dizer neste 25 de abril: obrigado, Seu Praxedes, obrigado meu eternamente amado avô.
Jota Parente