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sábado, agosto 21, 2021

50 Anos de Rádio: Obrigdo a Todos Que Me Ajudaram a Chegar Até Aqui

Lamberto de Carvalho, Jota Parente e Ivan Araújo
   1º de agosto é uma data muito    importante e marcante na     minha vida, pessoal e   profissional, pois foi o dia em   que fiz minha estreia como   radialista, na Rádio Rural de   Santarém, assim meio que por   acaso, pois o menino que saiu   da colônia Cipoal para morar na cidade, louco por futebol, que ouvia as narrações locais e as dos campeonatos paraense e carioca, nunca tinha pensado em tal possibilidade. O ano foi 1971, há exatamente cinquenta anos.

Meu amigo desde a adolescência, Santino Soares, daqueles que a gente escolhe como irmão para o resto da vida, já fazia sucesso. Eu admirava o seu talento, mas, jamais havia aventado tentar uma vaga na elite do Rádio santareno, que pertencia à Rádio Rural. Era preciso ter talento notável para conseguir fazer parte daquele time para lá de selecionado. Muitos tentavam, mas, poucos conseguiam.

A influência que a Rádio Rural exercia sobre a sociedade de um modo geral, tanto de Santarém quanto de outros municípios da mesorregião do Baixo Amazonas, tanto por meio dos apresentadores de programas, quanto pelo trabalho do Movimento de Educação de Base (MEB), era muito grande.

No decorrer da vida, muitas vezes, a gente precisa de um incentivo, ou de uma mão para avançar. E no meu caso, a mão foi do amigo Santino, que morava exatamente em frente minha casa, na Rua Presidente Roosevelt, hoje, Marechal Rondon, que atravessou a rua para me informar que a Rádio Rural tinha aberto inscrições para fazer teste para repórter esportivo. “A gente já é muito amigo, de repente, podemos virar colegas de trabalho. Não conheço ninguém que seja tão bem informado sobre futebol como você. Sabe a escalação das equipes e conhece muita coisa sobre a história do futebol”, disse ele naquela ocasião.

Como gosta de dizer minha mulher Marilene Parente, o não eu já tenha, então, porque não tentar o sim? E lá fui eu fazer meu primeiro e único teste. Mal sabia eu, que daquele dia em diante, eu me desligaria desse veículo de comunicação fascinante.

Havia apenas uma vaga, mas, o mestre Osmar Simões classificou dois, eu, Jota Parente e o Jota Nogueira, que concorreriam à vaga única durante um mês, ficando a decisão dele para o final de agosto.

Nogueira era dono de uma voz grave, empostada, enquanto eu, ah, eu tinha uma voz muito aguda, fina mesmo. Nogueira, além de poder fazer parte da equipe esportiva, tinha condições de ser treinado para ser apresentador de programas de estúdio, o que viria a ocorrer pouco tempo depois. Resultado, sobrei eu.

Triste, acabrunhado, sentindo-me derrotado, fui embora pra casa para pensar em outra coisa para fazer para ganhar a vida. Não deu tempo, porque no comecinho de setembro daquele ano, chegou à minha casa o botafoguense José Veiga dos Santos, irmão do historiador João Veiga dos Santos, pai do vereador Peninha. “Garoto, vem comigo para trabalhar na equipe de esportes da Rádio Clube de Santarém, a conhecida ZYR 9. Fui, mas, poucos dias depois abandonei o posto, porque errei a escalação da Portuguesa de Desportos, que era um timaço. Jota Veiga, como era conhecido, era comentarista, função que eu exerceria alguns anos mais tardes.

Fui embora para casa porque eu não admitia errar uma escalação que eu sabia de cor e salteado. E lá foi de novo o José Veiga até minha casa para me levar de volta. Disse a ele que não voltaria, quando ele me disse: “garoto, você só está começando. Você acha que é assim, que ninguém erra no Rádio? Até os grandes lá do Rio e de São Paulo erram”. Voltei, dessa vez para nunca mais quebrar meu vínculo com o Rádio.

Na Rádio Clube convivi com gente que já era fera, como Sinval Ferreira, Natalino Sousa, Tonyn Reis, Delmo Pantoja, Rute Santos, Leal di Souza e outros. Dentre as lembranças, a mais forte foi a mudança que fizemos da Travessa dos Mártires para o Edifício Augusto Coimbra, cujo dono alugou um apartamento no terceiro andar, sob o compromisso da direção da rádio de não levar o transmissor para lá. Mas, o transmissor não tinha outro lugar para ficar, por isso a mudança foi feita depois de meia-noite. Saímos carregando aquele monstro, por que ele era grandão, Travessa dos Mártires abaixo, gastando cerca de duas horas para percorrer um trecho de menos de 500 metros.

A cidade era relativamente pequena, e ninguém viu a gente descendo a Travessa dos Mártires levando o pesado transmissor, que deu muito trabalho para ser levado pela escada até o último andar. Quando o dono foi saber da história, a rádio já estava no ar há muitos dias. Aí, não havia nada que pudesse ser feito. A emissora, que hoje atende pelo nome de Rádio Ponta Negra era considerada a escolinha do rádio santareno. E foi lá que eu aprendi muito em pouco tempo.

Na Rádio Clube eu aprontei uma pra cima da Rádio Rural, quando da passagem do Fast Clube do Amazonas, que retornava de Belém, onde havia batido nos dois grandes, Remo e Paysandu. Era um timaço. Era o Fast de Marialvo, Jota Alves, dos irmãos Antônio Piola e Edson Piola e de Afonso de Almeida Lins, que havia brilhado com a camisa do São Francisco de Santarém. Era um time tão bom, que quase a metade foi contratada pelo Paysandu, que só não contratou o Afonso, o qual mais tarde foi jogar no Estoril de Portugal. O Fast tinha um amistoso marcado para Santarém.

Pois bem, naquele tempo era quase impossível transmitir um jogo de Santarém, fosse para Belém, ou para Manaus. E ali entrei eu, que fui até o Hotel Mocorongo para conversar com os narradores Raimundo Nonato Nascimento, da Rádio Riomar e Carlos de Carvalho, da Rádio Difusora. Cheguei dizendo a eles que eu era um aprendiz de rádio, que trabalhava na rádio que era a prima pobre, enquanto a Rural era a prima rica. Perguntei se eles topariam narrar o jogo para nós. Um olhou para o um e o Nonato comentou com o Carlos: “esse moleque é atrevido, Carlos, tu topas”? O Carlos disse que sim, e eu exultei.

O Departamento comercial correu para vender umas cotas para juntar um trocado para dar vale para a rapaziada, contratamos um carro de som para percorrer a cidade avisando sobre a transmissão de logo mais à noite. Isso mesmo, a rádio pagou um carro de propaganda volante para ajudar a massificar a mensagem, porque audiência a gente tinha, mas, era muito, mas, muito menor do que da grande Rádio Rural.

A estratégia deu 100% certo, porque o estádio estava lotado, e o sinal do tempo de jogo da ZYR 9 foi o mais ouvido, ecoando de ponta a ponta do Elinaldo Barbosa, causando grande incômodo aos colegas da equipe de esportes da concorrente poderosa. Dessa forma eu deixei minha marca pessoal na emissora.

Perto do final do mês de outubro daquele mesmo ano, num sábado por volta do meio-dia, eu estava subindo pela travessa dos Mártires em minha bicicleta, voltando da Rádio Clube, rumo a minha casa. Quando ia passando em frente à Rádio Rural, o saudoso gerente Haroldo Sena me chamou para perguntar se eu gostaria de retornar para a Rádio Rural.

A pergunta feita naquele ano de 1971 correspondia a querer saber se um atleta do Olaria aceitaria transferir-se para um dos grandes do Rio. Aceitei na hora. Só deu tempo de voltar e comunicar o fato para Leal di Souza, meu diretor. E Já na segunda-feira cedinho eu reestreava na Rural.

Fazer parte do quadro efetivo da Rádio Rural era um sonho que poucos conseguiam, porque vivia-se a época de ouro do Rádio em Santarém. Foi um período que começou bem no início dos anos 1970, prolongando-se até meados dos anos 1980, quando a equipe começou a ser muito modificada. Expoentes como Santino Soares e Edinaldo Mota deixaram a emissora. Eu fiquei até 1985, quando saí para assumir a direção da Rádio Tropical.

Edinaldo Mota foi sempre a principal estrela da companhia. Nunca foi, nem de longe, o dono da voz mais bonita, porém, seu grande talento e sua enorme capacidade de improvisar o fez destacar-se mais que qualquer um. Mas, ele fazia parte de uma equipe que tinha nomes como Edmar Rosas, Santino Soares, Natalino Sousa, Hélio Nogueira, Leal di Souza, entre tantos. Sem esquecer da extraordinária equipe esportiva pela qual passaram Cláudio Serique, Dário Tavares, Osvaldo de Andrade, Bena Santana, Lamberto de Carvalho, Habib Bechara, Campos Filho, Euládio Belizário e Oti Santos.

Tive oportunidade de conviver com esse time notável, que concorria internamente, porque a concorrência externa não era páreo. Havia uma acirrada disputa interna, sem animosidades. Cada um tentava fazer melhor que o outro, com poucos recursos ou quase nada, se for comparado com o que existe hoje. Tínhamos bons equipamentos para a época, excelentes, até, havia uma grande discoteca, mas, os apresentadores tinham que se virar com as revistas da época, que costumavam chegar atrasadas. Alguns deles, mais exigentes, compravam um bom rádio para ouvir emissoras de fora a fim de pegar subsídios para seus programas.

Na Rádio Rural eu fiz de tudo um pouco. Comecei como repórter esportivo, fui discotecário nas férias da MDR, chefe de jornalismo nas férias de Eriberto Santos, chefe da equipe de esportes e coordenador de programação após a saída de Santino Soares, que se mudou para Belém, onde por mais de vinte anos foi dono de horário nobre na Rádio Liberal.

E se o curto tempo que passei na Rádio Clube pode ser considerado como o meu ensino médio no Rádio, a Rádio Rural foi a minha universidade, onde conheci um mundo de coisas que se podia fazer para melhorar a qualidade do trabalho que prestávamos para nossa comunidade. E posso dizer que fiz bom uso da oportunidade.

Em abril de 1985 eu me desliguei da Rádio Rural para assumir como o primeiro diretor da Rádio Tropical de Santarém. Em maio de 2005, quando me transferi para lá, a rádio só tocava música. Então, comecei a montar a programação da mais nova emissora da cidade, a partir do ponto zero. Felizmente, tive a ventura de ter carta branca do Dr. Ubaldo Correa, dono, para montar um time forte, passando a concorrer com a Rural, que continuava muito forte.

Uma das coisas que me marcaram nessa emissora foi a não contratação de um garoto que esteve na minha antessala para falar comigo, pleiteando uma vaga de narrador esportivo. Foi o grande Ivaldo Fonseca. Como eu estava atendendo alguém, demorou a conversa e ele foi embora para o meu lamento futuro. Somente mais tarde fiquei sabendo que ele estivera lá. Hoje ele está no rol dos maiores narradores esportivos da região.

O fato mais emblemático que me liga à Rádio Tropical foi a minha resistência em falar com o dono, Dr. Ubaldo. Eu não queria encontrar com ele, porque quando eu era criança, minha família sempre foi do PSD, e ele era da UDN. Eu cresci com uma imagem muito negativa dele, por conta da política, por isso, o ex-deputado Benedito Guimarães, que era um amigo próximo dos dois, foi três vezes na minha casa, pedindo-me para ir conversar com meu futuro patrão. Eu neguei até o último minuto, afirmando que não queria conversa com aquele homem.

Na terceira vez que Bené foi em casa perguntou: “tu não és meu amigo? Respondi que sim, quando ele me pediu para apenas ir conversar com o Dr. Ubaldo. Fui, saí de lá três anos e meio depois para vir para Itaituba, tendo ganhado um grande amigo, aliás, dois, porque também ganhei a amizade de seu filho, o ex-prefeito de Santarém, Ruy Correa. Essas são as verdadeiras voltas que a vida dá.

Se nunca passou pela minha cabeça deixar a Rádio Rural para ser diretor de outra rádio, imagine comandar uma emissora na cidade de Itaituba, um lugar que eu conhecia muito pouco. E conhecia mais pela fama de violenta.

Estava eu trabalhando na minha sala, quando o telefone tocou. Era Habib Bechara, com quem eu tinha trabalhado na Rádio Rural há alguns anos, perguntando se eu não toparia vir a Itaituba para conversar com o Seu Mané, que estava querendo contratar um diretor para a Rádio Itaituba. E no mesmo dia em embarquei num barco super lotado, amanhecendo aqui no dia 24 de outubro de 1988.

Acostumado a trabalhador sob a chefia de gerentes equilibrados, eu acreditei que poderia ficar por um bom tempo na direção da recém-inaugurada Rádio Itaituba. Eu não tinha ainda esquentado a cadeira quando me deparei com o primeiro problema sério, que por muito pouco não me fez retornar para Santarém.

Terminada a apuração dos votos da eleição municipal de 1988, que a Rádio Itaituba cobriu de forma brilhante sob o meu comando, criando uma grande expectativa nos ouvintes, eu peguei a relação oficial dos eleitos, liberada pela Justiça Eleitoral, o qual deveria ser divulgado imediatamente. Como eu sou perfeccionista, o que às vezes pode ser uma virtude, mas, em outras pode ser transformar em problema, decidi sair do estúdio para fazer a última checagem. E foi bem ali que a porca torceu o rabo.

Enquanto eu estava na discoteca da rádio, junto com a discotecária Conceição Teles, tocou o telefone. Era o Seu Mané, de São Paulo, mandando suspender a divulgação da relação dos eleitos, porque tinham ligado pra ele de Itaituba, pedindo pra ele fazer isso. Eu fiquei muito, mas, muito zangado, chegando a arrumar minha mala para ir embora, mas, resolvi ficar.

Moral da história: por causa do meu perfeccionismo, a relação daqueles que de fato conseguiram votos e estavam eleitos para a próxima legislatura da Câmara Municipal de Itaituba, mudou consideravelmente em curtíssimo espaço de tempo. Cerca de quatro eleitos foram retirados da lista, enquanto candidatos que passaram longe, entraram pela janela, numa das mais vergonhosas garfadas da política itaitubense em todos os tempos.

A coisa foi tão feia, que um candidato que tinha sido eleito com sobras, o madeireiro Celso Stedile, indignado com a retirada do seu nome da relação dos vereadores eleitos, foi para a frente do prédio do Fórum de Itaituba, e durante muitos minutos esbravejou afirmando que tinha sido roubado. A juíza eleitoral da época, Helena Farag, fez de contas que não era com ela, e não mandou a polícia agir.

Cumpri meu período na Rádio Itaituba com louvor, tendo conseguido montar a mais fantástica equipe rádio que já trabalhou no rádio dessa região Sudoeste do Pará. Além de uma equipe de locutores e locutora de primeira linha, conseguimos montar uma equipe de esportes que deixou muitas saudades.

Aquele time tinha: Benna Lago, estrela da companhia, Jair de Sousa, Nélio Miranda, Haroldo Araújo, Delson Santos, em memória, o saudoso Galeguinho, Jota Camargo, etc... No esporte, João Carlos Callegari, um baita narrador, Lamberto de Carvalho, Ivan Araújo, Caetano Alves, Rozza Paranatinga, Jota Parente e Carlos Silva.

Passei nove anos na Rádio Alternativa FM, após convite do grande amigo Antônio Santana. O meu desligamento da emissora ocorreu concomitantemente com a saída dele da direção, em virtude de mudanças feitas na programação. Fizemos alguns trabalhos que marcaram, como a cobertura da Copa Ouro de futsal, entrevistas com candidatos a prefeito em duas eleições, e outros. Sou grato por isso.

Por cinquenta anos, fazer Rádio tem sido o meio ofício. Desse trabalho tenho tirado o meu sustento, mantendo minha família com dignidade, sem jamais ter sido chamado a uma delegacia de polícia ou à presença de nenhum juiz ou promotor, porque sempre agi com retidão, como me ensinaram o Seu Teotônio Leite Sousa, o Seu Tote, e Dona Guiomar Parente de Sousa. É isso que me dá muito orgulho do que faço.

Estive na presença de um comandante da Polícia Militar do Pará, em Santarém, junto com Osvaldo de Andrade e o gerente Manuel Dutra, da Rádio Rural, mas, foi por arbitrariedade do coronel Ailton Guimarães, nos tempos duros da censura, uma das excrecências da ditadura militar.

Faltava cerca de meia hora para começar um clássico entre São Raimundo e São Francisco, quando um agente da Polícia Federal começou uma encrenca bem na frente da nossa cabine, com um sargento da PM.  O agente puxou uma pistola e o sargento sacou um revólver 38.

Atira, dizia um, o outro replicava, atira tu. Esse fole demorou um tempão, narrado por mim e pelo Osvaldo, pedindo calma ao dois, porque os torcedores levavam muitos rádios para o estádio, até que um cabo da PM, com muito jeito, conseguiu acalmar os dois encrenqueiros, indo cada um para o seu lado. Isso foi lá pelos idos de 1979, quando a barra ainda estava bem pesada.

Nem bem chegamos na manhã seguinte à emissora, já havia aviso para ir até a gerência. Chegando lá, fomos informados que estávamos intimados pelo comandante da PM para comparecer no comando, às nove horas da manhã. Manuel Dutra recomendou a mim e ao Osvaldo, que a gente mantivesse a calma, e só falássemos quando o comandante fizesse alguma pergunta, sob pena de corrermos o risco de ficar presos lá mesmo.

Esperamos cerca de vinte minutos, até o bruto chegar. Sim, o bruto, porque o coronel em questão era um verdadeiro armário, alto e forte. Levantamos quando ele entrou, como tinha que ser feito, e depois que ele sentou, mandou a gente sentar.

Vocês podem me dizer o que foi que aconteceu, porque eu recebi uma denúncia a respeito de um fato no estádio. Eu contei a minha versão e o Osvaldo contou a dele. Claro que as versões foram iguais, até porque estávamos na mesma sala. O Dutra estava somente de observador.

Vocês não acham que vocês se excederam, perguntou o brabo? Coronel, desculpe, disse eu, falando baixo para não irritar ainda mais o cara, a mim parece que os dois agentes de segurança é que se excederam, colocando aquela multidão em risco. Está bom, mas, da próxima vez tenham mais cuidado no que falarem, sentenciou ele.

Até 1985, quando depois de vinte e um anos assumiu o primeiro presidente civil, eu e meus contemporâneos que não puxavam o saco da ditadura, passamos por maus bocados. Até as músicas para rodar na rádio tinham que ter a permissão da censura da Polícia Federal.

E a gente só queria fazer o nosso trabalho com muita seriedade e respeito. Vivíamos nos equilibrando em um arame fino, porque as ameaças eram constantes, principalmente, por os militares tinham muita raiva de D. Tiago Ryan, que era norte-americano, motivo pelo qual não tinham coragem de mexer com ele, que era um calo no sapato da ditadura. Seus sermões nas noites de sábado na frente da catedral de Nossa Senhora da Conceição, denunciando as violações dos direitos humanos, ficaram famosos e fazem parte da história e das minhas memórias.

Por tudo isso é que, no momento em que celebro os meus 50 anos de atividade radiofônica, não posso deixar de contar uma pequena parte dos fatos dos anos de chumbo, para que eles não se repitam nunca mais. Tenho sim, muitas saudades de coisas boas que aconteceram durante esse meio século de Rádio. Elas foram muitas. Felizmente, sobrevivi para contar essa história.

Haroldo Sena, meu primeiro gerente, deixou-nos muito cedo, Manuel Dutra, meu mestre, com quem aprendi muito, Eduardo Augusto, um gerente que pegou a Rádio Rural em processo de transição, fazendo bem o seu trabalho, Dr. Ubaldo e seu filho Ruy Correa, pessoas maravilhosas, Seu Mané, o ser humano com maior capacidade de criar e fazer funcionar novos empreendimentos, porém, não dava sequência, E Rody de Souza Leal, o grande amigo Leal di Souza, em memória, que me ensinou muita coisa, tanto no Rádio quanto no jornalismo. Enfim, tanta gente boa.

Graças à generosidade do amigo Wilmar Freire, pude comemorar esse cinquentenário de rádio na Ita FM. Não fosse isso, teria que montar um programa e publicar na internet para não deixar em branco. Foi no sábado 21 de agosto, na minha estreia nesse novo prefixo.

Por último, a minha homenagem póstuma a quem já se foi, mas fez parte dessa caminhada. Cláudio Serique, o mais completo radialista que eu conheci em todo esse tempo, Leal di Souza, Haroldo Sena, Sidney Cardoso, Jr. Carvalho, Jota Camargo, Rozza Paranatinga, Delson Santos, Seu Mané, Esdras Baltar Duarte e Cláudio Moura.

Por ter chegado até aqui, só tenho a agradecer a todos.

Jota Parente