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sábado, fevereiro 13, 2021

MP determina que Polícia e CRM-PA apurem denúncia contra Dr. Marcos da Amazônia

O Ministério Público do Estado do Pará (MPPA), por meio da Promotora de Justiça Evelin Staevie dos Santos, instaurou procedimento ao receber denúncia contra o médico Marcos Nunes Andrade, por possível crime contra a saúde pública.

Dr.“Marcos da Amazônia”, como o profissional se autointitula, ficou famoso nacionalmente por conta das gravações em vídeos massivamente compartilhados no Facebook e grupos de Whatsapp, nos quais fala sobre medicamentos como cloroquina e ivermectina para o tratamento da covid-19. Em um dos vídeos recentes, afirma que seu protocolo tratou mil pacientes, destes, apenas 2 tiveram complicações e morreram.

A 8ª Promotoria de Justiça de Santarém solicitou à Superintência de Polícia Civi que abra inquérito para apurar o possível crime imputado ao médico. O fiscal da lei também determinou que o Conselho Regional de Medicina do Pará (CRM-PA) inicie procedimento com o objetivo de apura o caso.

A denúncia ao MPPA foi realizada por Rui Harayama, que é antropólogo sanitarista, professor do magistério superior, servidor público vinculado ao Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Oeste do Pará. Ele também é membro colaborador do Comitê Nacional do Uso Racional de Medicamentos.

“É mister apontar o cunho pseudocientífico de suas [Dr. Marcos] publicações que incorrem no uso de medicamentos não comprovados científicamente – como a Azitromicina, Ivermectina e Cloroquina – assim como induz o espectador para a automedicação, gerando e agravando risco para saúde pública”, afirma o denunciante.

Para o servidor público federal, Dr. Marcos Nunes deveria responder por crime contra a saúde pública. E tal denúncia visa garantir o direito difuso, uma vez que tal situação não teria resultado em qualquer sanção por parte das autoridades.

“A denúncia, encaminhada para instância de garantia de direito difuso, justifica-se pelo fato dessa comunicação não ser punida pelo Conselho Regional de Medicina, assim como sua tramitação não prever a urgência com que tal discussão precisa ser monitorada nas redes sociais. Informamos que mesmo sendo evidente que o médico atua na divulgação de ‘fakenews’ o seu registro permanece ativo, tendo publicado novo vídeo no dia 02 de Fevereiro (sobre o uso de ivermectina) e no dia 26 de janeiro (sobre a vacinação)”, conclui o denunciante.

A CONTROVÉRSIA

A ivermectina, apontada por Dr. Marcos, é um medicamento barato para uso veterinário e humano, usado contra parasitas, como sarna, oncocercose e piolhos.No entanto, embora um estudo australiano publicado em abril de 2020 tenha observado uma eficácia in vitro (laboratório) da ivermectina contra o vírus SARS-CoV-2, isso não foi demonstrado em humanos. Até o momento, os ensaios foram limitados e com muitos preconceitos.

No início do mês, a farmacêutica Merck, responsável pela fabricação da ivermectina, informou em comunicado que não há dados disponíveis que sustentem a eficácia do medicamento contra a Covid-19.

“Os cientistas da empresa continuam a examinar cuidadosamente as descobertas de todos os estudos disponíveis e emergentes de ivermectina para o tratamento de Covid-19 para evidências de eficácia e segurança. É importante observar que, até o momento, nossa análise identificou:

– Nenhuma base científica para um efeito terapêutico potencial contra Covid-19 de estudos pré-clínicos;

– Nenhuma evidência significativa para atividade clínica ou eficácia clínica em pacientes com doença Covid-19, e;

– A preocupante falta de dados de segurança na maioria dos estudos.

Não acreditamos que os dados disponíveis suportem a segurança e eficácia da ivermectina além das doses e populações indicadas nas informações de prescrição aprovadas pela agência reguladora”, comunicou a empresa.

ANVISA SE MANIFESTA

    A ivermectina tem sido divulgada por algumas fontes como sendo uma provável terapia para Covid-19, sendo inclusive distribuída em “kits de tratamento”. Diante desta busca pela medicação, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) se posicionou contra uso rotineiro desta para prevenção e tratamento da doença pelo novo coronavírus, reforçando que o medicamento antiparasitário tem apenas indicação para uso conforme o que consta na bula, como no tratamento de escabiose e piolho.

Na nota, a agência ressaltou que não existem estudos publicados conclusivos que comprovem o uso desse medicamento para o tratamento da Covid-19, mas que também não existem estudos que refutem esse uso. Além disso, destacou que o uso do medicamento para indicações diferentes das apoiadas em bula é de escolha e responsabilidade do médico prescritor.

PÍLULA DA VEZ

De acordo com a médica Dayanna de Oliveira Quintanilha “a grande dificuldade está em repetir os resultados in vitro em estudos in vivo. Para isso, esbarramos no fato de os dados farmacocinéticos disponíveis para a ivermectina indicarem que as concentrações inibitórias de SARS-CoV-2 praticamente não serem alcançáveis ​​com os regimes de dosagem até agora conhecidos em seres humanos. Sendo assim, para combater o vírus in vivo, precisaríamos de uma overdose de ivermectina, com uma dose 17 vezes maior do que a dose máxima permitida para humanos. Esta overdose poderia gerar consequências, como depressão do sistema nervoso central”, expõe, acrescentando:

“A questão é que, na internet, as informações viralizam. Segundo reportagem de The Guardian, o preprint duvidoso da ivermectina foi rapidamente baixado mais de 15 mil vezes, e os governos do Peru e da Bolívia anunciaram que iriam distribuir ivermectina como tratamento para Covid-19, em maio. Assim, este foi o caminho percorrido pela ivermectina, que antes era um remédio de piolho, demonstrou atividade in vitro contra o Sars-Cov-2, necessitava de overdose para alcançar resultados clinicamente satisfatórios, mas acabou viralizando como a nova ‘pílula mágica’ do Covid-19”.

Dayanna ressalta “Ivermectina demonstrou eficácia in vitro contra o Sars-Cov-2, porém com uma concentração inibitória praticamente não alcançável ​​com os regimes de dosagem até agora conhecidos em seres humanos”.

Por Edmundo Baía Jr.

RG 15 / O Impacto