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Ubiratan Filadelpho |
Quando
passou por Moraes Almeida na recente viagem de moto que fez, o jornalista Jota
Parente conversou com Ubiratan Filadelpho, presidente do Comitê Pela
Emancipação daquele distrito. Era o dia 31 de outubro. Vivia-se a expectativa
da sanção do Projeto de Lei da Emancipação que se encontrava sobre a mesa da
presidente Dilma Rousseff. Nem mais os mais pessimistas imaginavam que pude
haver veto parcial, que dirá, veto total da matéria. Mas, aconteceu, e frustrou
a todos que aguardaram um resultado diferente, adiando o sonho de transformar
Moraes em um novo município, sensação que se estendeu por dezenas de outros
distritos. A matéria teve que ser refeita, porque foi produzida em cima do
otimismo que havia.
JC – Como você e a comunidade de
Moraes Almeida receberam a notícia do veto ao Projeto de Lei 416/20018 aprovado
pelo Congresso sobre a criação de novos municípios?
Ubiratan - Decepcionado em toda a acepção da
palavra! Profundamente decepcionado, uma vez que a comunidade de Moraes Almeida
não tem interesse nenhum em projetar pessoas ou favorecer grupos, mas visa tão
somente o bem estar de milhares de cidadãos que há anos se encontram totalmente
abandonados sem nenhuma participação nos avanços progressistas do seu país. O
veto da Dilma foi praticamente um ‘tiro de misericórdia’.
Esperávamos que a Presidente da República sancionasse o
Projeto de Lei 416/2008, pois o texto base foi aprovado na Câmara dos Deputados
Federais no dia 04/06/2013 por uma maioria esmagadora, tendo 319 votos
favoráveis, 32 contra e duas abstenções; tivemos a participação importantíssima
da bancada paraense: do deputado Lira Maia (DEM), deputado Dudimar Paxiúba
(PROS), do Zé Geraldo (PT) entre outros, mostrando aí a força que nós
municipalistas temos. No Senado, precisamente no dia 16/10/2013, tivemos mais
uma vitória, onde 53 senadores votaram a favor, 03 contra e 02 se abstiveram;
mais uma vez a participação dos nossos senadores paraenses foi notável com a
participação de Flexa Ribeiro e Mário Couto (PSDB), Jader Barbalho (PMDB) entre
outros.
De maneira democrática foi definida a proposta que define as
novas regras para a incorporação, fusão e desmembramento de municípios. Por
esse motivo, Jota Parente, ficou difícil entender, pois na votação, tanto na
Câmara como no Senado, somente o PSOL se colocou contrário à criação de novos
municípios; a votação expressiva que tivemos a favor deixa claro que até a
Bancada Governista votou favorável à aprovação do PL 416/2008. Até agora ainda
estamos com dificuldade de digerir a decisão da Presidente Dilma Rousseff, pois
tenho certeza que este veto surpreendeu até os governistas.
***JC – Que providências o comitê local
está tomando depois do veto e que informações você tem a respeito do movimento
em nível nacional para tentar mudar esta situação?
Ubirtan - Embora decepcionados, estamos conscientes que não é
hora de desistir, aliás, pensamos que nunca se deve desistir de uma luta em
prol de uma boa causa. E a nossa luta é por uma boa causa. Ela envolve o bem
estar de milhares de pessoas. Não estamos a par do que os demais comitês estão
arquitetando para reverter esta situação, mas o nosso primeiro passo agora é
contatar lideranças em nível federal e sensibilizá-las, mais uma vez, em favor
da nossa missão. Há de se ter um vislumbre que deve ser focado para que a presidenta
desista, o quanto antes, da sua obstinada miopia política em ser o entrave para
o progresso de imensas regiões do Brasil. Este vislumbre, juntamente com as
lideranças políticas, queremos achar e focar nele toda a nossa energia para que
a urgente criação de novos municípios se torne realidade.
Entendemos que este projeto é de fundamental importância para
que a desigualdade possa ser corrigida, principalmente para as pessoas que
moram em distritos longínquos, como é o caso de distrito de Moraes Almeida;
para estes, a única perspectiva é a emancipação. O nosso Conselho Gestor, e
acreditamos que também a Câmara e o Senado, foram pegos de surpresa, pois
havíamos negociado com o Governo, com os Ministérios, tirando alguns itens,
acrescentando outros... A frase que se ouve agora nos corredores da Câmara e do
Senado é “a guerra está declarada.
O que posso dizer neste momento é que consultamos vários
deputados federais nestes últimos dias e tive, também, uma conversa com o nosso
deputado federal, Dudimar Paxiúba e vi que ele está engajado e totalmente
mobilizado no sentido de reverter esta situação; como nós, também ele é sabedor
do caos em que Moraes Almeida se encontra. É desumano pensar que uma pessoa tome
uma atitude contrária a outras centenas de deputados e dezenas de senadores!
JC – Levando-se em consideração que o
veto da Presidenta deu-se baseado em critérios técnicos do Ministério da
Fazenda e sabendo que o Governo tem folgada maioria do Congresso, levando-se em
consideração, ainda, que 2014 será ano de eleição, havendo pouca disposição dos
parlamentares de situação para peitar o governo, o movimento tem esperanças de
reverter isso até que o próximo Congresso tome posse?
Ubiratan - Primeiramente, os critérios utilizados pelo
Ministério da Fazenda não condizem com a nossa realidade. Acreditamos que um
governo não pode interromper o desenvolvimento de um distrito; vivemos em um
sistema presidencialista e esta não foi a primeira vez e nem será a última vez
que haveremos de nos unir para derrubar um veto presidencial. Está escrito no
Direito Constitucional e no Processo Brasileiro que o veto representa uma
discordância do Presidente da República em relação a um projeto, neste caso
específico, o Projeto 416/2008.
Você já pensou, Jota Parente, o quanto seria suspeito e
contraditório, a Bancada Governista da Câmara que em junho de 2013 e a do
Senado que em novembro do mesmo ano votou a favor da PL 416/2008 (criação de
novos municípios), agora votasse contra??!! Pois para barrar o veto é
necessário que 257 deputados federais e 42 senadores votem a favor. Este veto
será apreciado em sessão conjunta dentro de 30 dias a contar do seu
recebimento.
JC- Supondo-se o pior quadro, que
seria impossibilidade de reverter essa situação em curto prazo ou médio prazo,
o que o comitê pela emancipação pretende fazer para não deixar o ânimo esfriar?
Ubiratan - Pensamos que a médio e longo prazo
está fora de cogitação para a solução dos nossos problemas, levando-se em conta
que até agora somente tivemos promessas que não foram cumpridas. Estamos
simplesmente no limite de aturar tanto descaso! Caso a emancipação seja
totalmente impossibilitada, seremos – quem sabe – obrigados a criar uma
organização paralela, talvez uma Associação dos Moradores de Moraes Almeida e,
através dela, conseguir fundos para a aquisição de uma moto-niveladora,
caminhão para recolhimento do lixo, pá mecânica. caminhão pipa e outros, tudo
extremamente necessários para, pelo menos, dar um pouco de dignidade aos
moradores de Moraes Almeida. Isso pode ser constrangedor para as nossas
lideranças políticas locais e do município em geral, mas, quem sabe, eles
chegarão a ver isso como desafio e saiam do seu casulo de inoperância e falta
de vontade política.
A Editoria do JC: A verdade é que pelo conhecimento que se tem da realidade do
município de Itaituba, por mais dinâmico que seja o prefeito, ou no caso
presente, a prefeita, não há condições de atender às demandas de comunidades
que cresceram e se desenvolveram à revelia de interferências da sede, seja pela
falta de recursos, que é um fato real, seja por causa da distância, pois 300 km
afastam aquele distrito da cidade de Itaituba.
Inegavelmente,
houve esforço da administração do ex-prefeito Valmir Climaco em dar uma melhor
assistência a Moraes Almeida. Da mesma forma, a gestão da prefeita Eliene Nunes
tem se esforçado para que a administração municipal seja mais presente.
Contudo, por maior que seja esse esforço, ele ainda é muito pequeno em
comparação com as necessidades daquele distrito.
Ubiratan Filadelpho
disse para a reportagem do Jornal do Comércio, que a economia de Moraes está
cada vez mais forte. Está difícil conseguir alguém para ocupar vagas que surgem
nas empresas locais, informou ele, pois só não trabalha por lá quem não tem
disposição. Mas, apesar desse dado muito positivo, o distrito se ressente de
serviços públicos que só existem na sede do município, o que causa inúmeros problemas
no dia a dia da comunidade. O vereador Dirceu Biolchi (Solidariedade), eleito
por Moraes, é outro que ficou muito desapontado com a decisão da presidente da
Republica.
*** Na Edição 170 do Jornal do Comércio, que está circulando.