Bem diferente do movimento
pelo plebiscito, a coleta de assinaturas para o Projeto de Lei de Iniciativa
Popular - PLIP, em Itaituba, para ser
encaminhado ao Congresso com o objetivo de criar o estado do Tapajós, vem
caminhando muito devagar, quase parando. Quem confirmou essa informação para a
reportagem do Jornal do Comércio foi o presidente do Instituto Cidadão,
entidade com personalidade jurídica, com sede em Santarém, que continua na
liderança desse movimento. Semana passada ele conversou com o jornalista Jota
Parente a respeito do assunto.
JC - Qual é a realidade presente do PLIP pró estado do
Tapajós?
Edivaldo - A
realidade do trabalho pelo PLIP é de continuidade ao que a gente vem fazendo
desde o final do ano passado. Já visitamos os 23 municípios da região, reunimos
com praticamente todos os prefeitos e presidentes e câmaras, mas,
principalmente, temos conversado com os agentes comunitários de saúde, na
tentativa de fazer com que eles se engajem nesse trabalho de coleta de
assinaturas. Essa é uma forma mais rápida e menos dispendiosa da gente coletar
essas assinaturas.
Embora a gente tenha tido alguma dificuldade para reunir
todo mundo, as coisas tem acontecido, e nós temos conseguido cobrir quase toda
a região, apesar de ainda não termos chegado ao número de eleitores que
almejamos. Somos mais de 700 mil eleitores na região do Tapajós, e nossa
intenção é coletar no mínimo 600 mil assinaturas desse universo. Ainda não
chegamos a esses desejados 600 mil, mas, estamos ultrapassando a marca de 500
mil assinaturas, somando todas as que foram conseguidas até agora.
Nós não estamos parados. A segunda fase a partir do
momento em que a gente concluir o trabalho em toda a região será partir para os
estados para alcançar a marca de um milhão de assinaturas, trabalhando em cinco
estados, conforme a lei prevê. Eu acredito que até a metade do ano que vem nós
tenhamos alcançado a quantidade necessária para protocolar o PLIP no Congresso.
JC - Como está o trabalho em Itaituba?
Edivaldo -
Em Itaituba nós fizemos um trabalho (com os agentes comunitários de saúde)
igual ao dos outros municípios. É o município que tem o segundo maior colégio
eleitoral, depois de Santarém, mas, a quantidade de assinaturas que nós
conseguimos foi insignificante. Digo até, que foi extremamente insignificante.
Foram apenas 1.100 assinaturas, de 40 mil que nós projetamos. Mas, nós vamos
refazer o trabalho. Para tanto, estamos convocando novas pessoas, novos grupos
para ver se nós conseguimos pelos menos dois terços do eleitorado do município.
Itaituba foi sempre um irmão de Santarém nessa luta pelo
estado do Tapajós. Aqui houve sempre muito empenho, muito interesse e muita
parceria nesse trabalho. Nossas ideais sempre combinaram. Por isso, eu acredito
que a gente ainda vai alcançar o nosso objetivo. Itaituba e Santarém são os
dois municípios que puxam o desenvolvimento nesta região. No plebiscito,
Itaituba foi o município que mais se destacou ao lado de Santarém. Por isso é
muito importante sua participação nesse projeto.
JC - Por causa desse baixo número de assinaturas vai
haver uma mudança de estratégia?
Edivaldo - A
mudança que nós vamos fazer é trabalhar na montagem de um comitê com esse
objetivo, chamando pessoas que trabalharam no plebiscito, as quais não estão
envolvidas ainda nesse novo momento da luta, considerando que nós não temos a
menor chance de fazer qualquer ligação, seja ela política ou cultural com
Carajás. Nós vamos sair sozinhos, mesmo, e a nossa possibilidade até em nível
de Brasil é sairmos sós. Isso já está definido até com o governo, isso é
consenso até junto às lideranças em nível federal. O Tapajós é um projeto
centenário, que tem forte apelo.
JC - Existe entendimento de que a possibilidade de
saírem Tapajós e Carajás juntos é nula?
Edivaldo - É 100% nula. Há uma comoção social e
política do Pará, de modo especial em relação a Belém, contra o Carajás. Por
isso, não existe a mais remota chance de saírem os dois estados juntos. O que
aconteceu no plebiscito, iria acontecer de novo e de uma forma até pior,
se houvesse ameaça do Carajás sair. Pode
até ser que no futuro, em outras condições isso seja possível. O Tapajós nunca
foi objeto de discussão nas mesas de bares e restaurantes, em Belém, na hora do
almoço ou do jantar. Foi sempre o Carajás. Há um consenso de legitimidade
quanto ao desejo do Tapajós de se emancipar. Mas, isso não ocorre quanto ao
Carajás. Isto não sou eu quem diz, mas, é isso que está posto no meio da elite
política e econômica da capital.
JC - Existem algumas pessoas da região que resolveram
fazer um trabalho em conjunto. Quem fez essa opção está perdendo seu tempo? E
da parte das lideranças do movimento de Carajás, há um certo oportunismo ao
aceitar isso?
Edivaldo - Já
ouve isso no plebiscito, porque eles sabiam que a grande chance deles seria
sair junto com o Tapajós. Isso foi muito bem posto e foram feitos acordos de
bastidores para que os dois saíssem juntos, uma vez que nós iríamos sair
sozinhos, mas, por solidariedade, porque as ideias eram semelhantes, fomos
juntos. Quanto às pessoas que estão fazendo esse trabalho junto com Carajás, só
acho que não estão perdendo seu tempo, porque acredito que estejam sendo
bancadas por alguém. Democraticamente, cada um pode escolher o caminho que
deseja seguir. Mas, dentro de um raciocínio prático isso não vai a lugar algum.
JC - Como tem sido a participação da prefeitura de
Santarém e de outros municípios?
Edivaldo -
Santarém saiu na frente porque o prefeito Alexandre Von criou uma coordenadoria
de desenvolvimento regional, com foco no apoio ao estado do Tapajós. Há toda
uma estrutura montada que permite que se faça um trabalho de integração voltado
para a luta pelo estado do Tapajós.
O plebiscito nos levou a ter todo esse entendimento a
respeito dessa causa, demonstrando que praticamente todos os prefeitos não
tinham e os atuais não tem nenhuma resistência quanto à criação do estado do
Tapajós, nem as câmaras municipais. O que está faltando é uma participação mais
efetiva, um envolvimento mais objetivo na causa, porque ainda há receio de
alguns quanto a possíveis retaliações do governo do estado. Falta a alguns
mostrar a cara, dar a cara para bater.
JC - O Consórcio Tapajós pode ter um papel importante
nessa luta?
Edivaldo -
Sim, pode e a gente acredita que vá ter. O Consórcio Tapajós, como disse
recentemente o presidente Raulien Queiroz, não vai se limitar a discutir apenas
as questões relativas às hidrelétricas, mas, a tudo que diz respeito à região
do Tapajós. E o que pode dizer mais respeito a nós, do que nossa vontade de
criar o nosso estado? Por isso, eu acredito sinceramente, que pela força que o
Consórcio Tapajós tem, ele deverá ser um grande aliado nessa luta.
JC - Como vai o projeto de coleta de assinaturas em
outros estados?
Edivaldo -
Primeiro, vamos concluir o trabalho em nossa região, esperando que consigamos
acima de 500 mil assinaturas entre os mais de 700 mil eleitores, para depois
buscarmos o restante fora desta região. Vamos buscá-las não só no Pará, mas,
também no Amazonas, em Roraima, no Maranhão e Tocantins. Mas, eu gostaria de
finalizar informando que estão em andamento no Congresso Nacional, algumas
mudanças que poderão nos beneficiar muito. Com isso, deverá haver uma
diminuição muito grande no número de assinaturas exigidas para apresentar um PLIP.
Contudo, nosso trabalho para conseguirmos um milhão de assinaturas via
continuar.
JC - Sempre se espera muito de Manaus, por causa da
enorme colônia de paraenses oriundos do oeste do Pará. O trabalho está indo bem
por lá?
Edivaldo
- Está indo bem no sentido de que está
bem articulado, havendo uma conscientização da necessidade de se fazer esse
trabalho. O que ainda não existe é o trabalho de coleta de assinaturas. Mas,
existe vontade e nós estamos trabalhando para dar esse largada, porque Manaus
sempre foi grande incentivador do movimento pela criação do estado do Tapajós.
Quando em certos momentos a gente estava querendo esmorecer na região, o
pessoal de Manaus puxava a gente para cima, dizendo que a gente não podia
deixar a peteca cair. Por isso, tenho certeza que podemos contar, sim, com a
contribuição dos paraenses que vivem na capital do Amazonas.