quinta-feira, julho 11, 2019

Rádio Rural de Santarém, 55 anos

No dia 5 de julho a Rádio Rural de Santarém completará 50 anos. Nascida apenas dois meses após o golpe de 1964, a estação veio com proposta bem diferente, de dar voz às populações interioranas da Amazônia, por meio das escolas radiofônicas do Movimento de Educação de Base. Este movimento foi impiedosamente perseguido e até extinto no Nordeste, pelos militares. Na Amazônia, ele perdurou até que os recursos foram minguando e a sua missão encerrada.

Montagem da imagem de Osmar Simões
diante do prédio atual da Rádio

Essa trajetória foi contada numa revista preparada para as festas comemorativas, com a coordenação das jornalistas Rosa Luciana Rodrigues, mestra em comunicação, e Joelma Viana, especialista em jornalismo científico.

A revista trouxe a história da emissora, análises, seu pioneirismo e também momentos pitorescos, como esse que segue, dos tempos heroicos, das dificuldades tecnológicas e da presença marcante de pessoas como Osmar Simões (foto), um dos radialistas que fizeram história no Rádio paraense, desde a PRC5, de Belém.

Depois que o município de Santarém foi declarado área de segurança nacional, pelo regime militar, em 1969, o prefeito passou a ser nomeado. O primeiro interventor militar foi o Capitão Elmano de Moura Melo, então residente em Belém. Ao chegar à cidade, ele foi logo declarando: eu vim trazer a revolução, que até agora não chegou no interior da Amazônia.

No dia da posse do interventor, a Rádio Rural movimentou-se para a transmissão da solenidade ao ar livre, diante da prefeitura, cujo prédio hoje abriga o Museu João Fona. Uma enorme e pesada parafernália tecnológica foi levada num jipe, e a transmissão se faria conectando aquilo tudo a um telefone cuja linha seria o link entre a solenidade e o estúdio da emissora.

Quem comandou a transmissão da posse do interventor militar foi Osmar Simões, e eu era seu auxiliar. Um detalhe: apesar de todo esforço, não foi possível conectar ao estúdio os equipamentos instalados na prefeitura e a cerimônia de posse não foi ao ar. Ocorre que Osmar Simões também falava para a multidão reunida na frente da prefeitura, pelos alto-falantes. Então ele anunciou mais ou menos assim: “Senhoras e senhores, neste momento o som desta transmissão da posse do excelentíssimo capitão Elmano Melo somente pode ser ouvido pelos ouvintes que possuem receptor de rádio de ondas curtas porque, por desventura, nossas ondas médias saíram do ar há cinco minutos".

Ocorre que, naquele ano, a Rádio Rural não tinha onda curta, só tinha onda média, não havia sequer onda tropical. Mas o velho Osmar tirou a bronca dessa maneira, como era bem do seu jeito. Dessa forma, a censura, involuntária, foi inversa: a mídia santarena, em 1969, censurou o Capitão Elmano que, aliás, nunca criou problemas com a emissora. Quem viria a criar sérios problemas seriam os comandantes do Oitavo Batalhão de Engenharia de Construção, ainda hoje plantado no alto da Serra do Piquiatuba, e a Polícia Federal, esta mais virulenta do que os militares.

Fonte: Jornalista Manuel Dutra, do blog do mesmo

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