domingo, maio 12, 2019

Uma semana sem Face


Fiquei uma semana sem usar o Facebook e o Instagram. Parece pouco, eu sei. Conheço pessoas que passaram toda a quaresma em jejum de rede social. Meu motivo poderia ter sido religioso, mas não foi. Quis testar o quanto somos dependentes desse tipo de convivência virtual e o quanto as notícias replicadas nos influenciam.
No segundo dia, percebi que, se não tivesse o hábito de assistir o jornal ou ler sites de notícias, não teria a menor ideia do que estava acontecendo no mundo. Li, uma vez, acho que foi em 2014, uma pesquisa realizada pelo próprio Facebook sobre a manipulação de emoções de seus usuários, utilizando uma seleção de publicações positivas ou negativas, para aparecer no seu feed e assim te deixar triste ou alegre.
O resultado foi o de que, qualquer dos sentimentos induziam aquele grupo de pessoas a compartilhar ou publicar mensagens, memes, textos, etc., conforme o que absorviam emocionalmente.
É impressionante como a opinião ou manifestação alheia nos afeta, ainda que dissonante do que cremos ou somos. Espero não ser banida pelo Mark Zuckerberg por dizer o óbvio! Somos usados, analisados e transformados em algoritmos e, pior, aceitamos passivamente essa doce ilusão, quase uma dependência química de estarmos aqui, sermos vistos, amados ou odiados, sabe-se lá quem nos observa e o que os motiva.
Às vezes, penso que é um tipo de epidemia que se alastra a uma velocidade absurda e não tem vacina ou remédio, a não ser o velho e quase esquecido bom senso. Esse limite entre o virtual e o real nos afeta e é importante manter a sanidade e compreender que nem tudo é o que parece, em qualquer das dimensões, mas principalmente nessa. Então, seja responsável com o que você publica, comenta ou curte, porque talvez o que não tem importância para você, pode vir a causar um estrago emocional em outra pessoa. 
De todo modo, tente não julgar ao primeiro olhar, experimente duvidar dos outros e de si mesmo quando isso acontecer. Você pode e é quase certo que esteja sendo manipulado ou que apenas sua percepção esteja errada. Não pense que toda indireta é para você ou para aquela sua amiga sem noção. Coloque-se no lugar do próximo, mesmo que o “próximo” esteja apenas na tela do seu celular, em outro estado, país ou continente.
Eu sei que 90% dos “usuários” não lê textão, porque mal temos paciência para um vídeo de 3 minutos, cortado por uma propaganda chata. Se você leu até aqui, preste mais atenção ao que acontece lá fora. As pessoas são reais, elas não são essa mistura de filtros que amenizam as rugas e eventuais tristezas e, definitivamente, a vida não é tudo o que se publica.
Que Deus nos ajude a mantermos nossa essência, a sermos mais justos, julgarmos menos e termos responsabilidade com nossos atos e palavras.
Amém?
Nayá Fonseca, advogada e procuradora do município

Artigo publicado na edição 247 do Jornal do Comércio, circulando

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