Um dia, não faz tanto tempo, cerca de três décadas, foi assim |
O rio Tapajós é um guerreiro que tem
resistido bravamente às agressões ambientais por mais de trinta anos. Até
quando ele resistirá? Até quando a ganância, em nome da economia da região, do
Pará e do Brasil vai agredir esse que é um dos expoentes do meio ambiente
amazônico?
Desde o final dos anos 1980, de forma
mais acelerada a partir do início dos anos 1990, que cientista brasileiros e de
outras partes do mundo estudam os impactos do outrora magnífico rio azul
turquesa, no qual se entrava e caminhava vendo a areia alva, com água acima do
peito.
O ser humano é um bicho complicado.
Primeiro destrói obras da Natureza para depois tentar reparar a falta de bom
senso. Por exemplo: em Seul, capital da Coreia do Sul, em 1940, o riacho Cheonggyecheon
começou a receber muito lixo, o que fez com fosse assoreado.
Hoje, depois de tantas agressões, está assim |
Com o passar dos anos virou um esgoto a céu
aberto com um mau cheiro insuportável. Várias tentativas de melhorar foram
feitas, sem êxito, até que em 2003, um projeto que precisou do esforço de muita
gente resolveu o problema. Hoje, as margens do riacho são um moderno espaço
público de recreação e o maior parque horizontal urbano do planeta. Custou a
bagatela de 281 milhões de dólares para urbanizar uma extensão de apenas 10,92
km.
A população da cidade de São Paulo entupiu o
rio Tietê de lixo até não caber mais. Resultado: qualquer chuva mais forte faz
o rio transbordar e instala-se o caos na cidade. Casas alagadas e trânsito
caótico fazem parte da rotina dos paulistanos e dos milhões de migrantes que lá
vivem. Até hoje, nenhum projeto sério de restauração foi feito.
O que isso tem a ver com o nosso rio Tapajós?
Tudo. A diferença está na dimensão do problema. Em Seul, trata-se de um riacho,
em São Paulo temos um rio de 1.136 km de extensão, com uma bacia de 150.000 km2
e aqui, há um rio com 1.784 km de extensão e uma bacia de 764.183 km. Portanto,
mais extenso e muito mais caudaloso.
A primeira grande agressão que pude registrar
em fotos, na primeira vez que voei para a região de garimpos foi a dizimação de
um número muito grande de veias do rio Tapajós, os igarapés, de distintos
tamanhos. Na etapa seguinte a lama resultante da exploração de ouro através do
bico-jato, em cujo processo foram lançadas centenas de milhares de toneladas no
rio, e por último, as famosas dragas que transformaram em lamaçal correntes
como o rio Crepuri. O próprio leito do Rio Tapajós foi vítima de enormes
dragas.
Depois disso, as águas do Tapajós já não
encantavam mais nativos, nem visitantes, porque perderam a beleza do azul
turquesa, passando para uma cor ocre, sem contar o assoreamento de alguns
trechos que tornou mais difícil a navegação de embarcações maiores. Nunca mais
recuperou sua cor.
Diz o ditado, que nada é tão ruim que não possa
piorar. Pois é, terça-feira, 30 de abril, a Câmara Municipal recebeu um ofício
assinado por moradores do final da Rua Hugo de Mendonça, da beira do rio,
pedindo ajuda dos vereadores para resolver um grande problema que eles estão
enfrentando. Trata-se de um mau cheiro insuportável, que segundo eles, é
produzido pelo despejo de dejetos oriundos de um hotel próximo, direto no Rio Tapajós.
O mais correto seria encaminhar esse ofício para a Secretaria Municipal de Meio
Ambiente, que é o órgão que cuida desse assunto.
Faz alguns anos que o nosso rio vem sendo
agredido com derramamento de óleo diesel na sua margem esquerda, onde existem
bases de descarregamento e distribuição de combustíveis. Já houve denúncias,
mas, nenhuma providência foi tomada. Sem providências para coibir, a impunidade
incentiva a repetição do crime ambiental.
De grão em grão a galinha enche o
papo; de crime ambiental em crime ambiental o Tapajós vai sendo desfigurado. Em
nome do progresso vão sendo exploradas as suas riquezas ao custo de sua morte
lenta. Obras de grande impacto ambiental estão previstas sem que se saiba quais
serão suas consequências. E de onde só se tira e não se repõe, um dia, por mais
longe que seja, a Natureza cobrará seu preço. E aí, talvez já seja tarde para
começar a cuidar do nosso rio. Vamos acordar enquanto ainda há tempo.
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