As pessoas não devem ser avaliadas
pela fé que professam, ou pela falta de fé. Infelizmente, não é assim que o
presidente Jair Bolsonaro pensa. E parece que ele tem dificuldade para entender
que, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.
Quando Bolsonaro afirma, na condição
de presidente da República, que “está na
hora de haver um ministro evangélico no STF”, ele coloca essa ramificação
do cristianismo acima das demais, assim como de outras religiões, ou de quem
não tem religião.
“O Estado é laico, mas, eu sou
evangélico”. Mais outra declaração sem pé nem cabeça dele, que tem o dever de
governar para todos, independente do credo de cada um.
Cada cidadão tem o direito reconhecido
pela Constituição Federal de praticar a religião que preferir, ou de não
professar nenhuma. Ademais, o Brasil é um país onde vive gente de tudo quanto é
parte do mundo. Aqui tem cristãos, que são a grande maioria, tem muçulmanos,
budistas, religiões de matrizes africanas, e até muito pouco tempo vivíamos todos
muito bem, sem brigas.
O surgimento de algumas religiões neopentecostais
fez com que essa paz fosse quebrada a partir de ataques feitos com virulência contra
pais e mães de santo. O negócio ficou tão sério que foi parar na justiça.
Ser evangélico é uma escolha pessoal
do presidente e ninguém tem nada a ver com isso. Ninguém é bom ou mau por ser
ou não ser evangélico. Todavia, ele não tem o direito de sair por aí querendo
que todo mundo siga seus passos, ou tentando provar que só tem gente que presta
no meio evangélico. Ele presta um grande desserviço à convivência harmoniosa de
séculos e à tolerância religiosa.
Em nome de Deus já se cometeu
barbaridade demais no mundo. As cruzadas, a Inquisição, a perseguição aos
judeus que remontam ao tempo de Lutero, guerras e mais guerras em nome de Deus.
Os “iluminados”, tenham sido eles católicos, protestantes ou muçulmanos, sempre
tiveram sua “inspiração” no Todo Poderoso, em nome do qual se podia matar o
inimigo tratado como herege ou infiel. Depois, o Céu estava garantido.
Temos coexistido como um povo
miscigenado pela mistura de tantas etnias, sempre no espírito da paz. Fernando
Henrique Cardoso é um homem que não tem religião, considerado ateu. Nem por
isso saiu por aí tentando convencer a todos que Deus não existe. É assim que
tem que ser. Quem crê, que pratique sua fé, sem esquecer o respeito ao outro.
Quem não crê, que viva sua ausência de fé com tolerância a quem acredita.
O ministro Marco Aurélio
Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), lembrou nesta sexta-feira que
o Estado é laico - e a Corte, como parte do Estado, não poderia ser formada
segundo critérios religiosos. Para o ministro, os integrantes do tribunal devem
ser escolhidos pela a formação jurídica e a defesa da Constituição Federal. A
declaração foi em resposta ao presidente Jair Bolsonaro que questionou em discurso se não era o momento de se nomear um ministro evangélico para
o tribunal.
Por volta do ano
550 antes de Cristo, Ciro, também conhecido como o Grande, praticou uma
política de ecumenismo no Império Persa. Vejam quanto tempo atrás isso
aconteceu, tempos em que era muito raro isso ocorrer.
Ele
entendia que as pessoas em suas comunidades tinham o direito de professar a fé
que tinham abraçado.
Num momento em que a esquerda se
encontra em frangalhos pelo mundo afora, com alguns regimes que ainda se
sustentam, caindo pelas tabelas, e a direita cresce, principalmente na Europa,
em alguns casos, cambando para a extrema-direita, fica parecendo que estamos caminhando
para a escuridão.
No nosso caso particular, não é apenas
uma “inocente” declaração do presidente sobre o que ele considera importante,
que é ter um ministro evangélico no STF, mas, o conjunto da obra. É o conjunto
de suas declarações, hora inconsequentes, hora fora do contexto, que preocupa.
O governo é um carro com as quatro rodas atoladas na areia, sem conseguir se
mover, enquanto o seu comandante mostra-se pouco hábil para conduzir a nação
para o porto seguro prometido.
Jornalista Jota Parente
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