sexta-feira, maio 31, 2019

O Estado é Laico. Respeitar Isso Faz Bem


          As pessoas não devem ser avaliadas pela fé que professam, ou pela falta de fé. Infelizmente, não é assim que o presidente Jair Bolsonaro pensa. E parece que ele tem dificuldade para entender que, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.
          Quando Bolsonaro afirma, na condição de presidente da República, que “está na hora de haver um ministro evangélico no STF”, ele coloca essa ramificação do cristianismo acima das demais, assim como de outras religiões, ou de quem não tem religião.
          “O Estado é laico, mas, eu sou evangélico”. Mais outra declaração sem pé nem cabeça dele, que tem o dever de governar para todos, independente do credo de cada um.
          Cada cidadão tem o direito reconhecido pela Constituição Federal de praticar a religião que preferir, ou de não professar nenhuma. Ademais, o Brasil é um país onde vive gente de tudo quanto é parte do mundo. Aqui tem cristãos, que são a grande maioria, tem muçulmanos, budistas, religiões de matrizes africanas, e até muito pouco tempo vivíamos todos muito bem, sem brigas.
          O surgimento de algumas religiões neopentecostais fez com que essa paz fosse quebrada a partir de ataques feitos com virulência contra pais e mães de santo. O negócio ficou tão sério que foi parar na justiça.
          Ser evangélico é uma escolha pessoal do presidente e ninguém tem nada a ver com isso. Ninguém é bom ou mau por ser ou não ser evangélico. Todavia, ele não tem o direito de sair por aí querendo que todo mundo siga seus passos, ou tentando provar que só tem gente que presta no meio evangélico. Ele presta um grande desserviço à convivência harmoniosa de séculos e à tolerância religiosa.
          Em nome de Deus já se cometeu barbaridade demais no mundo. As cruzadas, a Inquisição, a perseguição aos judeus que remontam ao tempo de Lutero, guerras e mais guerras em nome de Deus. Os “iluminados”, tenham sido eles católicos, protestantes ou muçulmanos, sempre tiveram sua “inspiração” no Todo Poderoso, em nome do qual se podia matar o inimigo tratado como herege ou infiel. Depois, o Céu estava garantido.
          Temos coexistido como um povo miscigenado pela mistura de tantas etnias, sempre no espírito da paz. Fernando Henrique Cardoso é um homem que não tem religião, considerado ateu. Nem por isso saiu por aí tentando convencer a todos que Deus não existe. É assim que tem que ser. Quem crê, que pratique sua fé, sem esquecer o respeito ao outro. Quem não crê, que viva sua ausência de fé com tolerância a quem acredita.
               O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), lembrou nesta sexta-feira que o Estado é laico - e a Corte, como parte do Estado, não poderia ser formada segundo critérios religiosos. Para o ministro, os integrantes do tribunal devem ser escolhidos pela a formação jurídica e a defesa da Constituição Federal. A declaração foi em resposta ao presidente Jair Bolsonaro que questionou em discurso se não era o momento de se nomear um ministro evangélico para o tribunal.Parte superior do formulário
          Por volta do ano 550 antes de Cristo, Ciro, também conhecido como o Grande, praticou uma política de ecumenismo no Império Persa. Vejam quanto tempo atrás isso aconteceu, tempos em que era muito raro isso ocorrer.

Ele entendia que as pessoas em suas comunidades tinham o direito de professar a fé que tinham abraçado.
          Num momento em que a esquerda se encontra em frangalhos pelo mundo afora, com alguns regimes que ainda se sustentam, caindo pelas tabelas, e a direita cresce, principalmente na Europa, em alguns casos, cambando para a extrema-direita, fica parecendo que estamos caminhando para a escuridão.
          No nosso caso particular, não é apenas uma “inocente” declaração do presidente sobre o que ele considera importante, que é ter um ministro evangélico no STF, mas, o conjunto da obra. É o conjunto de suas declarações, hora inconsequentes, hora fora do contexto, que preocupa. O governo é um carro com as quatro rodas atoladas na areia, sem conseguir se mover, enquanto o seu comandante mostra-se pouco hábil para conduzir a nação para o porto seguro prometido.


             Jornalista Jota Parente

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