Quase centenário, a hoje abandonada praça de
esportes foi inaugurada no dia 12 de dezembro de 1926 sob a denominação de
Parque São Francisco, nome dado, não por causa do São Francisco Futebol Clube,
que só viria a ser fundado dez meses depois, em 1927, mas, ao colégio São
Francisco, dos padres franciscanos. Era o mais moderno de toda a região na
época.
Mais tarde foi denominado Aderbal Caetano
Correa, nome de um político da época, que foi prefeito da cidade, que perdurou
até o final da década de 1960, quando em 15 de fevereiro de 1969, o então
prefeito Elinaldo Barbosa foi assassinado em seu gabinete, pelo servidor
público Severino Frazão. Era um sábado, dia em que prefeito nenhum costuma
passar na prefeitura, mas, Elinaldo estava lá. Horas depois Frazão foi morto
pelo sargento PM Raimundo Hércules, próximo do local do crime.
Elinaldo Barbosa, torcedor do São Raimundo, era
um grande desportista, tendo sido presidente da Liga Esportiva de Santarém,
onde desenvolveu um bom trabalho. Depois de sua morte, a Câmara Municipal
decidiu homenageá-lo colocando seu nome no estádio.
Pois é, o velho estádio está caindo pelas
tabelas e hoje é apenas saudade para quem tinha no futebol nas tardes de
domingo o seu único entretenimento, até que chegasse outros, como a TV. Por lá
desfilaram craques que eu vi jogar, tanto apenas como torcedor do Pantera, na
minha infância e na adolescência, e por muitos e muitos anos, como cronista
esportivo, tanto pela Rádio Rural, quanto pela Rádio Tropical.
Tive o privilégio de ver nascer para o futebol
o jogador santareno que chegou mais longe, Manuel Maria, no meu São Raimundo,
que depois de ser visto jogando pela Tuna, foi convocado para a Seleção
Olímpica do Brasil, da qual diversos jogadores vingaram, foi contratado pelo
Santos, onde na Vila Belmiro teve o privilégio de jogar ao lado de Pelé, do
qual é amigo até hoje.
Vi Amiraldo, Abdala, Atauhalpa, Cristóvão Sena,
Manoel Moraes, Licurgo, Bosco, Petróleo, Pão Doce, Acari, Zuza, Afonso, Arinos,
Ricardo, Inacinho, Bigurrilho, Pedro Olaia, Mazinho, Pedro Nazaré, Jeremias,
Cabecinha, Navarrinho, Becão, Figueroa, Renato, Belterra, Zé Lima, Edvar,
Surdão, Xabregas, Alaércio, Odilson, Darinta, Birimba, Aleixo, Zizinho, Zerino,
Surdão, Dão e tanta gente boa de bola mostrar sua classe naquele quadrilátero
no qual o capim rasteiro crescia no inverno, porque não havia grama, e no verão
algumas touceiras resistiam, misturando-se com pedras miúdas naquele terreno
arenoso.
Bem no começo dos anos 1970, Clementino Santana
Lima, o Quelé, então presidente da Liga Esportiva, teve a coragem de fazer um
trabalho muito difícil para a época, que foi gramar o estádio, colocando no
terreno, centenas de carradas de terra preta. Melhorou muito para os atletas.
Vi o Flamengo de Zico e Renato Gaúcho, vi o Botafogo de Marinho Chagas. Vi, até Mané Garrincha, com
mais de quarenta anos fazer uma apresentação, levantando a torcida quando quase
jogou o lateral esquerdo Ferreira, do São Raimundo, no alambrado, com o seu
tradicional e manjado drible no qual ele fazia que ia para um lado e ia para o
outro. Todos sabiam o que ele iria fazer, mas, nem os melhores laterais
esquerdos do mundo conseguiram fugir do drible humilhante, que levava torcidas do
mundo inteiro ao delírio.
Pois é, essa relíquia viva da história do
futebol da região é hoje um matagal em pleno centro da cidade de Santarém,
entre as avenidas São Sebastião e Rui Barbosa. Foi comprado pelo Grupo Yamada
com o objetivo de virar um shopping, mas, o grupo teve sérios problemas
financeiros, fechando diversas lojas, inclusive a de Santarém, e não se sabe
que destino vai ser dado ao imóvel, que quando houve oportunidade, poderia ter
sido desapropriado pelo poder público municipal, pois até hoje, se tivesse
passado por uma boa reforma, poderia continuar sendo o memorável templo do
futebol santareno, por muitos e muitos anos, mesmo com a existência do
Barbalhão, por ter o seu custo operacional muito menor para a Liga e para os
clubes. Ficaram apenas as boas lembranças para os mais velhos como eu.
*Artigo da edição 235 do Jornal do Comércio, circulando
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