domingo, julho 06, 2014

A crise na mineração e os reflexos para Itaituba e região

            Entrevista com o geólogo Sérgio Aquino

       
    Sérgio Aquino é uma das maiores autoridades em toda a Província Aurífera do Tapajós, quando o assunto é mineração, setor que passa por uma séria crise, com reflexos claros na economia de Itaituba. O que levou o setor mineral a essa situação? O que é possível fazer para melhorar? O que se espera do governo e do Congresso? Essas e outras perguntas, o geólogo e empresário Sérgio Aquino responde em uma entrevista que ele concedeu ao Jornal do Comércio, em seu escritório.
JC – Geólogo Sérgio Aquino, em sua análise, qual é a relação da atual crise da economia de Itaituba e de outros municípios que ainda dependem do setor mineral, sobretudo do ouro, com a insegurança jurídica do setor?
Sérgio – Olha, o garimpo é uma atividade que não está muito ligada a todos esses problemas de insegurança jurídica e de dificuldades que as empresas tem. Nós tivemos um ano excepcional no que tange a chuvas, e cheia, dificultando como todo inverno, mas, este de forma muito intensa. Ao lado disso, nós temos outra situação que é a exaustão das reservas que eram de mais fácil acesso, o ouro aluvionar e até mesmo o chamado ouro de montanha (ouro coluvionar) que ficava mais na superfície.
Hoje os garimpos estão em uma fase de transição, enfrentando uma dificuldade muito maior para extrair o ouro. Então, nós temos um custo mais alto e uma quantidade de ouro menor. A solução que o garimpo encontrou para resolver isso foi a mecanização através do uso de escavadeiras hidráulicas as PCs. Mas o uso de PC exige toda uma infraestrutura, uma manutenção que torna caro esse procedimento, o que aproxima esse tipo de atividade garimpeira da mineração. Antes o garimpeiro não precisava disso. Ademais, há alguns anos havia muito mais ouro fácil de extrair, o que tornava o trabalho menos oneroso.
Uma economia baseada, mais de 70%, na produção de ouro, como é o caso de Itaituba, produto que por todos esses fatores que eu já mencionei está em decréscimo, porque tem menos ouro no mercado e está mais difícil de produzir, sem que a gente tenha a opção de outras atividades, como a industrial, pois o que produziria empregos seria a implantação de indústrias, nós sofremos mais que os outros locais.
JC – Além de tudo que foi dito, o teor de pureza do ouro produzido atualmente é mais baixo?
Sérgio – O ouro aluvionar tem uma um teor de pureza mais alto do que o que é produzido na rocha ou no veio, porque ele, através dos processos naturais já sofreu alterações químicas em que os outros elementos químicos mais voláteis foram levados. Por ser um elemento químico inerte que é atacado muito lentamente por processos naturais, ele se torna mais puro quando está no aluvião do que quando ele está na rocha.

JC - Feito o devido o devido esclarecimento a respeito do teor de pureza do metal em questão, é bom que se diga que o senhor estava falando outro tipo de teor...
Sérgio – É verdade. O teor ao que eu me referi inicialmente é a quantidade de ouro por tonelada de material ou por tonelada de rocha. Antes, como lembram os garimpeiros, eles pegavam barrancos de quilo. Os que davam menos do que isso eram deixados para trás. Depois veio uma segunda fase quando eles começaram a voltar para explorar os barrancos que davam menos de um quilo de ouro. Hoje, barrancos de 200 gramas ou até de 100 gramas passaram a ser interessantes, desde que se consiga lavar muito material.
Temos que lembrar que todo recurso natural se exaure. O ouro está lá, e na medida em que você tira, fica cada vez menos aquilo que foi tirado. O que sobra é cada vez menos. E após o início do uso de máquinas, acelerou-se muito o processo de exploração. Então, garimpos que já existiam há 30, 40 ou até 50 anos como o Cuiú-cuiú, a tendência é que estejam exauridos em um tempo muito menor e a gente precisa ter isso em mente. Não é que o ouro vai acabar, vai se tornar muito mais difícil e talvez antieconômico, porque sua extração vai ficar cada mais dispendiosa. Um exemplo disso é a Serabi. A empresa começou a atuar em um momento em que os garimpeiros já estavam com muita dificuldade para equilibrar o custo da produção do ouro.
JC – Entre 2005 e 2010, a região conviveu com a chegada de empresas conhecidas com júnior, que vieram fazer pesquisas na região do Tapajós, gerando muitos empregos. Esse processo arrefeceu muito. Como está hoje?
Sérgio ­– Atualmente, das quase trinta empresas que vieram para cá, acredito que a gente não tenha mais do que duas ou três em todo o Pará. Em Itaituba não tem mais do que uma, ou duas, trabalhando muito pouco, mantendo só o coração batendo, como se diz, só para não ir embora de vez. Então, atividade caiu praticamente a zero. Temos uma empresa que já está há bastante tempo na região, que é a Serabi, a qual reativou os seus trabalhos na mina do Palito.
JC – Como está o processo de implantação da planta da Unagem, no Tocantinzinho, que gerou tanta expectativa?
Sérgio – A Unagem está parada, esperando que se resolvam os problemas referentes às licenças ambientais, que não acontecem e que são um grande impeditivo para o desenvolvimento da indústria mineral. Por causa disso está mantendo o coração batendo. Não existe atividade de preparação para produção como estava havendo, o que poderia trazer grandes investimentos para a região.
JC – Pelo quadro apresentado, nós estamos vivendo uma situação muito difícil no que se refere à atividade minerária na região aurífera do Tapajós...
Sérgio – A situação é muito delicada, e além de ser delicada é muito triste para esta região, porque nós temos um potencial enorme, uma vez que vivemos em uma das maiores províncias auríferas da América do Sul, a região do Tapajós, e nós temos uma série de impeditivos legais que afastaram investimentos daqui e do Brasil. Esses impeditivos são motivo de tristeza pra gente, que mora em uma região e milita no setor mineral, que poderia produzir muito porque nós vemos aí o potencial, mas você não pode desenvolver atividades produtivas por questão de erros jurídicos e políticos que se criaram, simplesmente por questões de motivos ideológicos, sem embasamento mais sólido para se sustentar.
JC – O setor mineral vem esperando, pacientemente, ano após ano, uma mudança para melhor nesse cenário. Infelizmente, as notícias ruins se sucedem. Este ano de 2014, como ocorreu nos últimos anos, pode ser considerado um ano perdido para a mineração:
Sérgio – Eu acho que sim, porque o retorno dos investimentos ao País vai demorar. Toda essa crise que se gerou e todos esses problemas de dificuldades jurídicas vão ter uma repercussão além deste ano, que é um ano de eleição, de definição do que vai acontecer no Brasil nos próximos anos, dos rumos que o setor legal vai tomar. Tudo isso faz com que os investidores, as pessoas que olham para o País pensando em investir pensem, bem eu vou esperar para decidir se vou investir ou não.
JC – Qual a parcela do Governo Federal e do Congresso Nacional nisso?
Sérgio - É muito grande a parcela de responsabilidade, tanto o Governo Federal quanto o Congresso Nacional nesse processo. O Governo decidiu intervir de maneira um tanto estabanada no setor mineral, no setor legal, sem, no entanto investir naquilo que é a raiz do problema, que é institucional.
O que eu sempre coloquei, quando tive oportunidade de me expressar é que a mudança na lei não resolver o problema. O que vai fazer com que mude é o emprego correto da legislação. O governo federal tem os mecanismos para intervir para fazer com que o setor produza dentro dos ditames legais, de tal forma que a sociedade seja beneficiada por isso. O que acontece é que as nossas instituições estão em uma situação muito ruim. Sempre estiveram, mas, hoje estão piores.
Veja esses protestos contra o descaso com a Saúde, com a Educação. Quando o governo age é de forma policialesca, politizando tudo. Olhemos o caso do setor mineral. O DNPM é um órgão desaparelhado de técnicos; os que lá trabalham são assoberbados de trabalho; não há infraestrutura para fazer todas as fiscalizações que deveriam ser feitas; existe um acúmulo de processos que deveriam tramitar e não tramitam por carências internas do órgão. Então, o que a gente percebe é um problema institucional, a instituição é que não está funcionando. Por isso, não é a mudança da lei que vai fazer com que o técnico consiga analisar mil processos por mês. Isso passa pelo aparelhamento do órgão. Também há a questão do envelhecimento dos atuais técnicos do DNPM, que não tem para quem repassar todo o conhecimento adquirido ao longo de anos e anos de trabalho.
JC – A Dourave, empresa que o senhor estava tocando com outros parceiros, em função de toda essa conjuntura deixou de atuar aqui. Hoje, qual é a atividade comercial do geólogo e empresário Sérgio Aquino?
Sérgio – Nós prosseguimos nossa atividade de consultoria e buscamos investimentos para esta região. Inclusive, mantemos contatos com investidores internacionais que estejam dispostos a investir na região do Tapajós, que é de uma importância imensa para a nossa economia, porque eu continuo acreditando na nossa economia regional e creio que tudo isso que a gente está passando não vai ser por muito tempo, pois o investimento vai retornar uma hora dessas. Continuamos desenvolvendo novos projetos e buscando investimentos.

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