Nossa hora está chegando, a hora de
Itaituba mostrar para o Brasil e para o mundo que é capaz de lutar pelos seus
direitos está batendo à porta. E que ninguém se iluda achando que o governo
federal, ou o consórcio de empresas que ganhar o leilão chegarão a este
município de uma hora para outra com um projeto embaixo do braço e um monte de
dinheiro para fazer tudo que precisará ser feito dentro das contrapartidas que
esperamos que sejam atendidas.
Realizado entre 20 e 25 de fevereiro
de 1989, em Altamira (PA), o I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, reuniu
três mil pessoas - 650 eram índios - que bradaram ao Brasil e ao mundo seu
descontentamento com a política de construção de barragens no Rio Xingu. A
primeira, de um complexo de cinco hidrelétricas planejadas pela Eletronorte,
seria Kararaô, mais tarde rebatizada Belo Monte. De acordo com o cacique
Paulinho Paiakan, líder kaiapó e organizador do evento ao lado de outras
lideranças como Raoni, Ailton Krenak e Marcos Terena, a manifestação pretendia
colocar um ponto final às decisões tomadas na Amazônia sem a participação dos
índios. Tratava-se de um protesto claro contra a construção de hidrelétricas na
região.
Em
2008, 19 anos depois, realizou-se em Altamira o II Encontro dos Povos Indígenas
do Xingu e daí nasceu o Movimento Xingu Vivo para Sempre. Em fevereiro de 2014,
completaram-se 25 anos da luta do povo do Xingu. E mesmo com todas as
discussões que aconteceram ao longo desse tempo, com direito a facão no pescoço
de presidente da Eletrobrás e outras coisas mais, mesmo com toda a campanha
nacional e internacional para que a hidrelétrica de Belo Monte não fosse
construída, o governo brasileiro passou seu rolo compressor por cima de todos e
começou a obra em 23 de junho de 2011, com o compromisso de atender a uma série
de condicionantes em favor do município de Altamira, algumas das quais estão em
execução.
Na
edição 148, do Jornal do Comércio, que circulou no dia 24 de outubro de 2012, o
presidente da CDL, Davi Menezes, chamou atenção para a necessidade de todos os
setores da sociedade itaitubense se unirem em torno da questão das
reivindicações das contrapartidas para o município, tanto dos portos de
Miritituba, quanto das hidrelétricas dos rios Tapajós e Jamanxim. De lá para cá
houve algumas conversas, mas, na prática, avançou-se muito pouco.
Altamira
era uma cidade bem mais arrumada, com uma infraestrutura urbana melhor do que
de Itaituba, quando chegou a hora de começar a obra de Belo Monte. Apesar
disso, o impacto da desenfreada migração provocada pelo início dos trabalhos de
construção daquela hidrelétrica foi inevitável e muito além das expectativas.
De uma hora para outra Altamira descobriu, da pior maneira, que não estava nem
de longe preparada para aquele momento.
Se
Altamira, que por um quarto de século discutiu e tentou preparar-se para
enfrentar o desafio de Belo Monte, não foi capaz de lidar com toda aquela
situação, equivalente a uma autêntica invasão, o que será de Itaituba, uma
cidade que se ressente de uma melhor infraestrutura urbana, seja pela
precariedade do seu sistema viário, seja pelas deficiências na área da saúde,
bem como da educação? Quantos trabalhadores de Itaituba conseguirão emprego
nessa obra? Não temos mão de obra qualificada, nem expectativa de que venhamos
a ter instituições profissionalizantes, tipo SENAI, em curto prazo. Mas,
ninguém duvida que virá muita gente de fora, acreditando que haverá emprego
fácil. Precisamos mirar no que já está acontecendo com o distrito de Miritituba
e seus tão decantados portos. As contrapartidas estão sendo proteladas.
Diferentemente
do que aconteceu no Xingu, onde a confusão começou ainda durante os primeiros
estudos para a construção da hidrelétrica, no Tapajós, o governo vem mostrando
que aprendeu a lição, pois escondeu muito bem o jogo durante esses anos em que
tem sido feitos os levantamentos técnicos. Quanto menos barulho, melhor para o
governo. O resultado dessa política governamental é o nosso atraso em dar a
largada na luta pelas condicionantes. A bem da verdade, hoje, não sabemos nem
por onde começar. Estamos feitos baratas tontas.
Embora
este seja um ano político, e por isso mesmo, difícil de se conseguir que os
candidatos não tentem fazer discursos bonitos em qualquer reunião que tiver a
partir de meia dúzia de pessoas, é preciso chamar toda a sociedade para a
discussão. Isso tem que passar pela Prefeitura, pela Câmara Municipal, pelas
entidades de classe, pelo Fórum de Entidades, Pelo Consórcio Tapajós, enfim,
por todos os que se preocupam com este município. Mas, para que tenhamos êxito,
essa luta não pode ter dono. Tem que ser uma contenda de todos.
A
hora de Itaituba está chegando. Precisamos estar unidos para não ficar apenas
com a parte ruim. Vamos pugnar pelas contrapartidas, ou ficaremos somente com
as mazelas, principalmente as sociais, porque na questão ambiental já existem
muitas ONGs para cuidar. Mas, nenhuma delas quer saber o que vai acontecer com
o povo, o que já vive aqui, e o que vai chegar. Repito que basta ver o que está
acontecendo do outro lado do rio, em Miritituba, onde as empresas donas dos
portos mostram pouco, ou nenhum interesse em atender condicionantes.
Artigo de Jota Parente,
publicado na edição 178 do Jornal do Comércio, circulando
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