segunda-feira, abril 28, 2014

A hora de Itaituba está chegando

           O governo tem pressa de começar a construção da hidrelétrica de São Luiz. O Brasil está no limite da oferta de energia elétrica, o que justifica a urgência para que novas usinas hidrelétricas sejam construídas, como já está acontecendo com Belo Monte e em breve, com a de São Luiz do Tapajós. Por isso, o leilão dessa obra deverá ocorrer durante este ano. Semana passada surgiu uma informação de que isso poderá acontecer até o dia 20 de maio, prazo por demais exíguo, que provavelmente não será cumprido. Mas, deverá ser ainda em 2014.
            Nossa hora está chegando, a hora de Itaituba mostrar para o Brasil e para o mundo que é capaz de lutar pelos seus direitos está batendo à porta. E que ninguém se iluda achando que o governo federal, ou o consórcio de empresas que ganhar o leilão chegarão a este município de uma hora para outra com um projeto embaixo do braço e um monte de dinheiro para fazer tudo que precisará ser feito dentro das contrapartidas que esperamos que sejam atendidas.
            Realizado entre 20 e 25 de fevereiro de 1989, em Altamira (PA), o I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, reuniu três mil pessoas - 650 eram índios - que bradaram ao Brasil e ao mundo seu descontentamento com a política de construção de barragens no Rio Xingu. A primeira, de um complexo de cinco hidrelétricas planejadas pela Eletronorte, seria Kararaô, mais tarde rebatizada Belo Monte. De acordo com o cacique Paulinho Paiakan, líder kaiapó e organizador do evento ao lado de outras lideranças como Raoni, Ailton Krenak e Marcos Terena, a manifestação pretendia colocar um ponto final às decisões tomadas na Amazônia sem a participação dos índios. Tratava-se de um protesto claro contra a construção de hidrelétricas na região.
Em 2008, 19 anos depois, realizou-se em Altamira o II Encontro dos Povos Indígenas do Xingu e daí nasceu o Movimento Xingu Vivo para Sempre. Em fevereiro de 2014, completaram-se 25 anos da luta do povo do Xingu. E mesmo com todas as discussões que aconteceram ao longo desse tempo, com direito a facão no pescoço de presidente da Eletrobrás e outras coisas mais, mesmo com toda a campanha nacional e internacional para que a hidrelétrica de Belo Monte não fosse construída, o governo brasileiro passou seu rolo compressor por cima de todos e começou a obra em 23 de junho de 2011, com o compromisso de atender a uma série de condicionantes em favor do município de Altamira, algumas das quais estão em execução.
Na edição 148, do Jornal do Comércio, que circulou no dia 24 de outubro de 2012, o presidente da CDL, Davi Menezes, chamou atenção para a necessidade de todos os setores da sociedade itaitubense se unirem em torno da questão das reivindicações das contrapartidas para o município, tanto dos portos de Miritituba, quanto das hidrelétricas dos rios Tapajós e Jamanxim. De lá para cá houve algumas conversas, mas, na prática, avançou-se muito pouco.
Altamira era uma cidade bem mais arrumada, com uma infraestrutura urbana melhor do que de Itaituba, quando chegou a hora de começar a obra de Belo Monte. Apesar disso, o impacto da desenfreada migração provocada pelo início dos trabalhos de construção daquela hidrelétrica foi inevitável e muito além das expectativas. De uma hora para outra Altamira descobriu, da pior maneira, que não estava nem de longe preparada para aquele momento.
Se Altamira, que por um quarto de século discutiu e tentou preparar-se para enfrentar o desafio de Belo Monte, não foi capaz de lidar com toda aquela situação, equivalente a uma autêntica invasão, o que será de Itaituba, uma cidade que se ressente de uma melhor infraestrutura urbana, seja pela precariedade do seu sistema viário, seja pelas deficiências na área da saúde, bem como da educação? Quantos trabalhadores de Itaituba conseguirão emprego nessa obra? Não temos mão de obra qualificada, nem expectativa de que venhamos a ter instituições profissionalizantes, tipo SENAI, em curto prazo. Mas, ninguém duvida que virá muita gente de fora, acreditando que haverá emprego fácil. Precisamos mirar no que já está acontecendo com o distrito de Miritituba e seus tão decantados portos. As contrapartidas estão sendo proteladas.
Diferentemente do que aconteceu no Xingu, onde a confusão começou ainda durante os primeiros estudos para a construção da hidrelétrica, no Tapajós, o governo vem mostrando que aprendeu a lição, pois escondeu muito bem o jogo durante esses anos em que tem sido feitos os levantamentos técnicos. Quanto menos barulho, melhor para o governo. O resultado dessa política governamental é o nosso atraso em dar a largada na luta pelas condicionantes. A bem da verdade, hoje, não sabemos nem por onde começar. Estamos feitos baratas tontas.
Embora este seja um ano político, e por isso mesmo, difícil de se conseguir que os candidatos não tentem fazer discursos bonitos em qualquer reunião que tiver a partir de meia dúzia de pessoas, é preciso chamar toda a sociedade para a discussão. Isso tem que passar pela Prefeitura, pela Câmara Municipal, pelas entidades de classe, pelo Fórum de Entidades, Pelo Consórcio Tapajós, enfim, por todos os que se preocupam com este município. Mas, para que tenhamos êxito, essa luta não pode ter dono. Tem que ser uma contenda de todos.
A hora de Itaituba está chegando. Precisamos estar unidos para não ficar apenas com a parte ruim. Vamos pugnar pelas contrapartidas, ou ficaremos somente com as mazelas, principalmente as sociais, porque na questão ambiental já existem muitas ONGs para cuidar. Mas, nenhuma delas quer saber o que vai acontecer com o povo, o que já vive aqui, e o que vai chegar. Repito que basta ver o que está acontecendo do outro lado do rio, em Miritituba, onde as empresas donas dos portos mostram pouco, ou nenhum interesse em atender condicionantes.


Artigo de Jota Parente, publicado na edição 178 do Jornal do Comércio, circulando

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