
É difícil a separação dos pais
com os filhos, pois os pais carregam consigo o temor da perda dos filhos, por
isso, vem a dificuldade de ensiná-los a voar e sobreviver através de suas
próprias atitudes! Temos medo que lhes aconteçam coisas ruins quando estão
longe de nós, do mesmo modo que nossos pais tinham medo quando a gente estava
começando a alçar nossos primeiros voos solos.
Veja como um passarinho faz. Quantas
vezes ele tenta, quantas vezes ele ensaia o seu voo, e muitas vezes cai e retorna
ao ninho, até conseguir dar seu vôo definitivo para o auto-sustento. Os pais,
porém, estão atentos, vigiando os predadores de seus filhotes, até que eles
saibam voar e sobreviver sozinhos, mas isso não passa de dois ou três dias. Já
os humanos levam anos protegendo seus filhos, impedindo-os de experimentar o
vôo da autossuficiência vigiada, para que aprendam, desde cedo, as glórias e as
dificuldades da vida.
Na realidade, muitos pais querem
que seus filhos tenham somente glórias, sem ensinar que, para isso, é preciso
aprender a levantar dos tombos e curar as próprias feridas. Têm a impressão que,
segurando seus filhos dentro de casa, sob suas asas, sustentando-os com mesadas
e dinheiro para suas festas, estão protegendo-os, iludindo-se com um domínio
inexistente sobre os filhos. Quando os filhos moram com os pais, estes sabem
menos de seus filhos do que quando moram sozinhos, pois se escondem mais quando
em casa do que quando estão fora.
À medida que os filhos ficam,
por muito tempo, sob a proteção dos pais, os riscos da nulidade são iminentes, presos
e moldados como frangos de aviário. Como diz um trecho da canção de Erasmo
Carlos: Ei, mãe, não sou mais menino/ Não
é justo que também queira parir meu destino/ Você já fez a sua parte me pondo
no mundo/ que agora é meu dono, mãe/ e nos seus planos não estão você/ Proteção
desprotege
e carinho demais faz arrepender/ Ei, mãe/ Já sei de antemão que você fez tudo por mim/ e jamais quer que eu sofra/ Pois sou seu único filho/ mas contudo não posso fazer nada/ a barra tá pesada, mãe/ e quem tá na chuva tem que se molhar/ no início vai ser difícil/ mas depois você vai se acostumar.
e carinho demais faz arrepender/ Ei, mãe/ Já sei de antemão que você fez tudo por mim/ e jamais quer que eu sofra/ Pois sou seu único filho/ mas contudo não posso fazer nada/ a barra tá pesada, mãe/ e quem tá na chuva tem que se molhar/ no início vai ser difícil/ mas depois você vai se acostumar.
Chamo atenção para essas
estrofes, mas, particularmente para a parte que diz que proteção demais
desprotege, porque chega um momento em que nós pais podemos estragar nossos
filhos com excesso de proteção. Não estou dizendo que não devemos proteger,
porque temos que fazer isso. Mas, tudo em excesso prejudica. Inclusive,
proteção excessiva, que tolhe a iniciativa do adolescente, ou do jovem que
precisar aprender a voar, pois do contrário, teremos que carrega-los pelo resto
de nossas vidas e, quando faltarmos em suas vidas, eles baterão com a cara no
mundo, e terão que aprender a voar da pior maneira, que será sem a supervisão
dos pais.
Não sou contra respeitar as
leis de quando um filho deve começar a trabalhar, porém, as primeiras lições de
independência no trabalho devem iniciar dentro de casa, o mais cedo possível,
com alguns momentos por dia ajudando seus pais nas lidas da casa; estas serão
as primeiras lições do saber ganhar o pão com seu próprio sacrifício, para
entender, na prática, o que vai enfrentar no futuro, pois, ao contrário do que
as leis pregam, uma criança deve brincar bastante, mas também tem que aprender
cedo as lições do trabalho. Assim, muitos pais evitariam ter filhos mal
resolvidos pelo excesso de protecionismo.
Quantas famílias existem por
aí, nas quais os pais não incentivam os filhos a assumirem pequenas tarefas.
Eles crescem sem fazer nada, e por causa da permissividade dos pais, ainda se
acham no direito de reclamar de tudo e de todos. São filhos mal criados, em
todos os sentidos. Não aprendem a voar porque seus pais lhes poupam do menor
esforço. A tendência desses filhos, na idade adulta, quando tiverem suas
próprias famílias, será de serem tão os mais permissivos do que seus pais
foram. E aí, cria-se um círculo vicioso que em nada contribui para que se
melhore a qualidade da sociedade em que vivemos, seja onde for. Portanto,
estabeleça limites, mas, não atrapalhe o voo dos seus filhos quando chegar a
hora deles baterem as asas.
Reflitamos sobre isso.Marilene Parente, artigo publicado na edição 178 do JC, que está circulando
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