Jota Parente - Mais de 41 mil
quilômetros depois, somando as três viagens de moto, o que equivale a um
percurso superior a uma volta completa ao redor da Terra, completei a terceira
expedição, chegando a Belém. Não foi do jeito que eu pensei, não teve a
extensão que imaginei, nem tampouco atendeu ao projeto que montei, o qual
divulguei e entreguei aos parceiros comerciais e colaborares. Mas, fui até onde
deu.
Ir ao pé do Aconcágua foi um sonho
alimentado, que ficou pelo meio do caminho porque, embora tenha sido bastante
ousado em todas essas viagens, uma das virtudes de um ser humano é reconhecer
suas limitações, não devendo isso ser confundido com fraqueza. E na minha
idade, acho que testei meus limites acima do que poderia imaginar nesta viagem
que acabo de fazer, e nas outras.
Como escrevi em uma das postagens
que fiz, o mau humor e a imprevisibilidade do tempo foram dois grandes desafios
que tive pela frente. Confesso que houve momentos em que pensei em desistir,
porque senti as forças faltarem, literalmente, como quando caí com minha moto
entre Trairão e Moraes Almeida, por três vezes. Cheguei à exaustão, física e
psicológica, questionando-me se era aquilo mesmo que eu deveria estar fazendo
naquele momento.
Enfrentei lama, muita lama, chuva
que parecia não ter fim, em locais e em período que não deveria estar chovendo,
e tive que encarar uma ponta de frio fora de época na região Sul do Brasil.
Cheguei a Curitiba com uma temperatura de 18 graus, em pleno dia. À noite a
temperatura chegou aos 11 graus. Tudo isso depois de passar por um calor
infernal em Mato Grosso, onde os termômetros apontaram mais de 35 graus
centígrados.
O mau tempo na região do Aconcágua,
atípico para este período, com frio intenso e ventos muitos fortes levou-me a
abortar essa parte crucial, pois considerei que os riscos transcendiam à minha
capacidade de superá-los. Peguei todas as informações possíveis a respeito da
situação naquele local, e reconheci a tempo, que mesmo sentindo uma forte
sensação de frustração, o melhor que tinha a fazer, era não realizar aquele
trajeto.
Algumas coisas que aconteceram na
estrada, eu só estou contando agora, porque se o fizesse durante a jornada,
deixaria minha família e meus amigos demais preocupados. As três quedas de moto
na parte de terra da BR 163, depois de Trairão, eu guardei a sete chaves. Houve
situações de real perigo pelos quais passei nas rodovias brasileiras, que
também deixei para contar primeiro no Jornal do Comércio.
Foi uma prova dura para um homem de
63 anos, essa expedição. Muito mais árdua do que eu poderia imaginar, tanto do
ponto de vista físico, porque a moto em que andei é muito limitada, com pouca
potência para fazer ultrapassagens, detalhe que exige muito mais do condutor,
quanto com relação ao psicológico. Na primeira expedição, que fiz com o Jadir,
um apoiava o outro. Sozinho na estrada, a gente tem que se virar.
Concluí, depois de quinze dias na
estrada, que está ficando impossível andar pelas rodovias brasileiras, porque o
número de carros é cada vez maior. Se, pilotar uma moto é perigoso, e muito,
dirigir um carro de passeio transformou-se em um pesadelo, porque o número de
carretas só faz aumentar, transportando tudo quanto se possa imaginar. Mesmo
sendo mais rápidos, os automóveis, muitas vezes, ficam durante vários minutos
atrás das carretas, sem chance de ultrapassar, por causa do tráfego em sentido
contrário.
Apesar dos pesares, e não obstante o
temor da família com o que possa acontecer comigo quando estou na estrada, la via es um juego, como li numa das carreteras da Colômbia que percorri com
o Jadir. E de fato, a estrada é um jogo. Se você jogar direito, chega em casa
inteiro; se jogar errado, pode não chegar. Então, para mim, o maior problema é
quando entro nas cidades médias e grandes. Não se pode descuidar um instante,
sob pena de se envolver em acidentes.
Volto para casa com informações, com
deduções e com ideias amadurecidas ao longo do caminho, fruto das observações
que fiz por onde passei. Espero ter oportunidade para compartilhar tudo isso
com a comunidade que escolhi para viver, Itaituba, pois sou um jornalista que nunca
quis ser meramente um repassador de notícias, mas, concomitantemente,
contribuir como um cidadão que se preocupa com o que acontece ao seu redor.
Nas próximas páginas eu começarei a
contar os detalhes dessa jornada, muitos dos quais eu só revelo a partir agora
pelas razões explicadas antes.Foram quedas na estrada de terra, depois da
chuva, e riscos de acidentes sérios nas rodovias brasileiras.
* Na edição 169 do Jornal do
Comércio, que está circulando
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