domingo, novembro 24, 2013

*Mais de 41 km depois...

Jota Parente - Mais de 41 mil quilômetros depois, somando as três viagens de moto, o que equivale a um percurso superior a uma volta completa ao redor da Terra, completei a terceira expedição, chegando a Belém. Não foi do jeito que eu pensei, não teve a extensão que imaginei, nem tampouco atendeu ao projeto que montei, o qual divulguei e entreguei aos parceiros comerciais e colaborares. Mas, fui até onde deu.
            Ir ao pé do Aconcágua foi um sonho alimentado, que ficou pelo meio do caminho porque, embora tenha sido bastante ousado em todas essas viagens, uma das virtudes de um ser humano é reconhecer suas limitações, não devendo isso ser confundido com fraqueza. E na minha idade, acho que testei meus limites acima do que poderia imaginar nesta viagem que acabo de fazer, e nas outras.
            Como escrevi em uma das postagens que fiz, o mau humor e a imprevisibilidade do tempo foram dois grandes desafios que tive pela frente. Confesso que houve momentos em que pensei em desistir, porque senti as forças faltarem, literalmente, como quando caí com minha moto entre Trairão e Moraes Almeida, por três vezes. Cheguei à exaustão, física e psicológica, questionando-me se era aquilo mesmo que eu deveria estar fazendo naquele momento.
            Enfrentei lama, muita lama, chuva que parecia não ter fim, em locais e em período que não deveria estar chovendo, e tive que encarar uma ponta de frio fora de época na região Sul do Brasil. Cheguei a Curitiba com uma temperatura de 18 graus, em pleno dia. À noite a temperatura chegou aos 11 graus. Tudo isso depois de passar por um calor infernal em Mato Grosso, onde os termômetros apontaram mais de 35 graus centígrados.
            O mau tempo na região do Aconcágua, atípico para este período, com frio intenso e ventos muitos fortes levou-me a abortar essa parte crucial, pois considerei que os riscos transcendiam à minha capacidade de superá-los. Peguei todas as informações possíveis a respeito da situação naquele local, e reconheci a tempo, que mesmo sentindo uma forte sensação de frustração, o melhor que tinha a fazer, era não realizar aquele trajeto.

            Algumas coisas que aconteceram na estrada, eu só estou contando agora, porque se o fizesse durante a jornada, deixaria minha família e meus amigos demais preocupados. As três quedas de moto na parte de terra da BR 163, depois de Trairão, eu guardei a sete chaves. Houve situações de real perigo pelos quais passei nas rodovias brasileiras, que também deixei para contar primeiro no Jornal do Comércio.
            Foi uma prova dura para um homem de 63 anos, essa expedição. Muito mais árdua do que eu poderia imaginar, tanto do ponto de vista físico, porque a moto em que andei é muito limitada, com pouca potência para fazer ultrapassagens, detalhe que exige muito mais do condutor, quanto com relação ao psicológico. Na primeira expedição, que fiz com o Jadir, um apoiava o outro. Sozinho na estrada, a gente tem que se virar.
            Concluí, depois de quinze dias na estrada, que está ficando impossível andar pelas rodovias brasileiras, porque o número de carros é cada vez maior. Se, pilotar uma moto é perigoso, e muito, dirigir um carro de passeio transformou-se em um pesadelo, porque o número de carretas só faz aumentar, transportando tudo quanto se possa imaginar. Mesmo sendo mais rápidos, os automóveis, muitas vezes, ficam durante vários minutos atrás das carretas, sem chance de ultrapassar, por causa do tráfego em sentido contrário.
            Apesar dos pesares, e não obstante o temor da família com o que possa acontecer comigo quando estou na estrada, la via es um juego, como li numa das carreteras da Colômbia que percorri com o Jadir. E de fato, a estrada é um jogo. Se você jogar direito, chega em casa inteiro; se jogar errado, pode não chegar. Então, para mim, o maior problema é quando entro nas cidades médias e grandes. Não se pode descuidar um instante, sob pena de se envolver em acidentes.
Volto para casa com informações, com deduções e com ideias amadurecidas ao longo do caminho, fruto das observações que fiz por onde passei. Espero ter oportunidade para compartilhar tudo isso com a comunidade que escolhi para viver, Itaituba, pois sou um jornalista que nunca quis ser meramente um repassador de notícias, mas, concomitantemente, contribuir como um cidadão que se preocupa com o que acontece ao seu redor.

            Nas próximas páginas eu começarei a contar os detalhes dessa jornada, muitos dos quais eu só revelo a partir agora pelas razões explicadas antes.Foram quedas na estrada de terra, depois da chuva, e riscos de acidentes sérios nas rodovias brasileiras.

* Na edição 169 do Jornal do Comércio, que está circulando

Nenhum comentário:

Postar um comentário