Jornal do
Comércio - Edição 166 - Circulando
Artigo de Marilene Parente
Eu nunca imaginei que algum dia
abordaria um assunto com esse título desanimador, por jamais imaginar que isso
pudesse ocorrer no Brasil. Em resumo, o MEC quer acabar com a APAE. O mesmo MEC
que há anos vem enfileirando uma sucessão de trapalhadas em relação ao ensino,
que só vem piorando em todos os níveis, que mexer agora com a APAE, o que
significa que está em curso outra colossal
trapalhada do governo, com apoio de muitos político do Congresso Nacional.
Há pouco mais de um mês aconteceu em
todo o Brasil a Mobilização em Defesa das Políticas Públicas para as APAEs. Na
ocasião, todas as Federações Estaduais das APAEs e as entidades que prestam
serviços para as pessoas com deficiência no Brasil promoveram uma manifestação
em frente às Assembleias Legislativas de cada Estado.
De acordo com a assessoria das APAEs, o
Ministério da Educação (MEC) quer acabar com as exemplares escolas especiais,
inclusive as que são mantidas pelas APAEs e prestam um serviço exclusivo e de
excelência para as pessoas com deficiência intelectual e múltipla. A intenção
do MEC é matricular todas as pessoas com necessidades especiais nas escolas
públicas da rede regular de ensino até 2016.
O governo diz que o objetivo dessa
mudança é incentivar a inclusão nas escolas regulares, mas para os
profissionais da área, os exemplos de inclusão se mostraram ineficazes. Para
consumar essa meta, o governo mandou um projeto para o Congresso, que se
encontra no Senado, cujo relator, senador José Pimentel, do PT, do Ceará,
incluiu um artigo que obriga o governo a deixar de repassar qualquer ajuda para
a entidade, a partir do ano de 2016.
Alunos especiais precisam de atendimento
especial e nas APAEs eles têm isso de graça. Aula individual com
fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, atividades esportivas, etc. No local,
alguns até conseguem ajuda para entrar no mercado de trabalho. Serão que
eles terão isso na rede pública de ensino?
Os membros da APAE querem que a
população seja ouvida sobre essa possibilidade de enfraquecimento das escolas
especiais e possa ter o direito de optar entre a educação a ser ofertada pela
rede pública e o atendimento especializado já institucionalizado, antes da
aprovação do PNE. Para eles, a escola especial pode oferecer tanto a educação
escolar, quanto o atendimento educacional especializado complementar. A redação
do substitutivo aprovado na CAE ao projeto do PNE restringe a atuação das
escolas especiais a apenas esta última modalidade.
“Inclusão não se faz por decreto, se
faz por ação, postura, profissionalismo, interesse, conhecimento e
planejamento. Estamos defendendo a democracia, o direito da existência
pacífica, harmônica e profissional da educação regular e especial”, disse
Fabiana Oliveira, coordenadora pedagógica da Federação das APAEs.
De acordo com o deputado federal
Romário, que tem uma filha portadora da Síndrome de Down, as escolas públicas
não tem condições de trabalhar essa inclusão, cuja ideia pode até ser boa, mas,
na prática não há como esperar resultados positivos, uma vez que, a começar
pelo mais importante, que são os professores, eles não são preparados para
lidar com esse tipo de aluno, até porque, eles teriam que ministrar duas aulas
na mesma sala e no mesmo horário para duas classes de alunos com necessidades
diferentes.
Os políticos que apoiam a ideia da
inclusão total e absoluta, ou não conhecem porque são ignorantes e não se
interessam por saber, ou estão pouco se lixando para qual será o futuro dessas
crianças com necessidades especiais. Como disse o deputado Romário, tratam-se
de crianças com capacidades cognitivas que exigem a atenção de profissionais
tecnicamente preparados para trabalhar com elas, atendendo à máxima que diz,
que os diferentes devem ser tratados de maneiras diferentes. Isso nada tem a
ver com discriminação, ou com segregação, mas, de se reconhecer que estará
sendo criado um problema muito sério para esses brasileiros, em nome de uma
inclusão a qualquer preço, do tipo doa a quem doer.
Lamentavelmente, em vez dos
políticos tratarem a APAE com o respeito que essa entidade merece, o que se vê
são tentativas de esvaziá-la, negando, ou retirando algum apoio que o poder
público concede como se fosse uma esmola. Os dirigentes da entidade, em muitas
cidades, como tem sido com frequência o caso de Itaituba, tocam esse trabalho
com dificuldades enormes, pedindo ajuda da prefeitura ou do governo do estado.
Felizmente, algumas vozes se
levantaram no Senado, como a do senador Waldemir Moka (PMDB-MS), que defendeu a
atuação das APAEs, consideradas por ele imprescindíveis no atendimento às
pessoas com deficiência, por toda a sua experiência adquirida ao longo dos
anos. Ele disse não conseguir assimilar a ideia de crianças especiais serem colocadas
em salas de aulas normais. Disse que entendo a posição do MEC para a inclusão,
mas acha que tem um pouco de utopia nisso tudo. Eu ainda acrescento, afirmando
que se trata de uma utopia, misturada com um total falta de sensibilidade.
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