Jornal do Comércio - Edição 166 - Circulando
Artigo do jornalista Jota Parente
Desculpe o transtorno. Estamos
mudando o País.
Essa frase apareceu no meio das manifestações que tomaram conta do país e certamente mexeu com
todos. Como jornalista, mas, antes disso, como cidadão brasileiro, além de me
solidarizar com as mais diversas e justas reivindicações dos jovens nas ruas,
me rendo a essa frase de efeito, de oportunidade, com as devidas ressalvas de
uma pessoa de índole pacífica, que não concorda, nem aceita o vandalismo que se
misturou ao movimento.
Estamos em processo de mudança. Por
isso, você está se deparando com tantos problemas nas ruas de muitas cidades do
Brasil. Em breve, não teremos mais políticos corruptos; não vai demorar para
que tenhamos o Poder Legislativo fiscalizando de fato o Poder Executivo, como
sempre deveria ter feito; políticos e empresários que se locupletam com o
dinheiro público passarão a ser julgados com rigor pela Justiça brasileira,
sendo condenados e presos.
Por outro lado, para completar essa
mudança, nós, cidadãos, nunca mais vamos tentar tirar vantagem em cima de
ninguém; muito menos em detrimento de nossa amada pátria. Nunca mais tentaremos
subornar o agente de trânsito quando formos flagrados em alguma irregularidade;
não iremos mais sonegar impostos, porque com as mudanças que serão processadas,
nossos governantes retornaram em serviços, cada centavo que recolhermos de
tributos.
Calma, gente. Estou apenas sonhando
acordado, pois é o que todos nós gostaríamos que já tivesse acontecido, sem
necessidade de uma interminável onda de protestos, que em muitas ocasiões se
confundes apenas com atos de vandalismo. Os protestos pacíficos são legítimos e
fazem parte da democracia. O vandalismo é coisa de gente ruim, travestida de
manifestante, cuja bandeira defendida é o do quanto pior, melhor.
Quem pensou que o povo brasileiro só
queria saber de samba e carnaval, tem memória curta. Basta retroceder vinte e
um anos para chegarmos ao grande movimento da juventude, que teve papel
preponderante na pressão popular para que o Congresso Nacional decidisse caçar
o mandato do ex-presidente Fernando Collor de Melo. Antes, em 1983 e 1984,
vivemos o histórico movimento das Diretas Já, o qual levou milhões de
brasileiros para as ruas, clamando por eleição direta para presidente da
República.
Em 1983, a divulgação da chamada
“Emenda Dante de Oliveira” repercutiu entre vários grupos mais politizados das
capitais e grandes cidades do país. Em um curto espaço de tempo, membros do
PMDB, PT e PDT passaram a organizar grandes comícios onde a população se
colocava em favor da escolha direta para o cargo de presidente. Com a
repercussão tomada nos meios de comunicação, essas manifestações se
transformaram no movimento das “Diretas Já!”.
Reconhecida como uma das maiores manifestações populares já ocorridas no país, as “Diretas Já!” foram marcadas por enormes comícios onde figuras perseguidas pela ditadura militar, membros da classe artística, intelectuais e representantes de outros movimentos militavam pela aprovação do projeto de lei. Em janeiro de 1984, cerca de 300.000 pessoas se reuniram na Praça da Sé, em São Paulo. Três meses depois, um milhão de cidadãos tomou o Rio de Janeiro. Algumas semanas depois, cerca de 1,7 milhões de pessoas se mobilizaram em São Paulo.
Mas, apesar dos anseios por mudanças, e embora seja grande a pressão do povo, e mesmo que haja esse histórico de movimentos citados anteriormente, os políticos quase sempre falam uma língua diferente da nossa, lembrando do que aconteceu com as Diretas Já, pois mesmo sofrendo uma enorme pressão para que as eleições diretas fossem oficializadas, os deputados federais da época não se sensibilizaram mediante os enormes apelos. Com isso, por uma diferença de apenas 22 votos e um vertiginoso número de abstenções, o Brasil manteve o sistema indireto para as eleições de 1985. Para dar a tal disputa política uma aparência democrática, o governo permitiu que civis concorressem ao pleito. E o que mudou, de fato, no comportamento da classe política brasileira, após a saída de Fernando Collor de Mello?
Reconhecida como uma das maiores manifestações populares já ocorridas no país, as “Diretas Já!” foram marcadas por enormes comícios onde figuras perseguidas pela ditadura militar, membros da classe artística, intelectuais e representantes de outros movimentos militavam pela aprovação do projeto de lei. Em janeiro de 1984, cerca de 300.000 pessoas se reuniram na Praça da Sé, em São Paulo. Três meses depois, um milhão de cidadãos tomou o Rio de Janeiro. Algumas semanas depois, cerca de 1,7 milhões de pessoas se mobilizaram em São Paulo.
Mas, apesar dos anseios por mudanças, e embora seja grande a pressão do povo, e mesmo que haja esse histórico de movimentos citados anteriormente, os políticos quase sempre falam uma língua diferente da nossa, lembrando do que aconteceu com as Diretas Já, pois mesmo sofrendo uma enorme pressão para que as eleições diretas fossem oficializadas, os deputados federais da época não se sensibilizaram mediante os enormes apelos. Com isso, por uma diferença de apenas 22 votos e um vertiginoso número de abstenções, o Brasil manteve o sistema indireto para as eleições de 1985. Para dar a tal disputa política uma aparência democrática, o governo permitiu que civis concorressem ao pleito. E o que mudou, de fato, no comportamento da classe política brasileira, após a saída de Fernando Collor de Mello?
Sou um brasileiro, profissão
esperança, que apesar de achar importantes essas manifestações, prefiro esperar
para ver no que isso vai dar. Não comungo da opinião dos que acreditam que tudo
vai ser diferente a partir de agora. Nosso sistema político vai continuar sendo
o mesmo, e os políticos continuarão se submetendo a ele, pois os que ousam
enfrentar esse monstro (sistema) costumam dar-se mal. E quanto mais os
protestos forem sendo palcos de vandalismos, menor será a chance de mudar
alguma coisa.
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