Jota Parente - Não temos uma cultura de trabalhar no sistema
cooperativista no Brasil. Em Itaituba, então, este é um assunto muito pouco
conhecido. Mas, acredito que alguns
setores produtivos do município poderiam obter um bom desenvolvimento se
trabalhassem de forma cooperada. Um desses setores que enxergo como uma boa
possibilidade de se dar bem é o da agricultura familiar.
Primeiro,
é preciso entender o que é cooperativismo. Trata-se de Sociedade de pessoas com
forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeita a falência,
constituída para prestar serviços a seus associados (número mínimo de 20
pessoas físicas). É uma empresa com dupla natureza, que contempla o lado
econômico e o social de seus associados. O cooperado é ao mesmo tempo dono e
usuário da cooperativa: enquanto dono ele vai administrar a empresa e enquanto
usuário ele vai utilizar os serviços.
A
cooperativa pode adotar qualquer gênero de serviço, operação ou atividade.
Trata-se sempre de eliminar os intermediários, barateando custos e diminuindo
preços pela racionalização e operação em grande escala. Ela terá o perfil de
acordo com o de seus associados, pois estes se reúnem em torno de um ou mais
objetivos específicos. No caso, abordo aspectos de uma cooperativa agrícola,
que reúna produtores rurais de pequeno porte; seus serviços podem ser a compra
em comum de insumos, a venda em comum da produção dos cooperados, a prestação
de assistência técnica, armazenagem, industrialização, entre outros.
O
prefeito eleito de Santarém, Alexandre Von, esteve há poucos dias visitando uma
feira de negócios na Inglaterra, aproveitando para ir também à Espanha, onde
visitou a Universidade de Alicante, importante centro de estudos de
cooperativismo na Europa e que mantém intercâmbio com a UFPA (Universidade
Federal do Pará). Na Assembleia Legislativa do Pará ele tem se destacado como a
voz do cooperativismo no estado. Engajado neste movimento, ele pretende, a
partir de 2013, firmar parcerias com cooperativas santarenas, mantendo uma
estreita relação, procurando aumentar ao máximo a eficiência de todos
os trabalhos realizados a partir de negócios cooperativos.
O poder
público municipal não pode fazer o papel que cabe aos pequenos agricultores,
para citar o exemplo de um setor que comecei a tratar no começo deste artigo. A
eles compete se mobilizarem para criar uma cooperativa. Entretanto, a
Prefeitura pode ajudá-los a consolidar uma iniciativa dessa natureza, com apoio
logístico, pois se algum dia eles resolverem criar uma cooperativa, terão que
começar da estaca zero.
Enfrentamos
um problema muito sério para chegar a esse dia, que é a quase absoluta falta de
cultura cooperativista na região. Temos alguns poucos exemplos bem sucedidos,
embora de natureza bem diferente, como é o caso da Cooperativa Buburé, na área
da prestação de serviços. Mas, certamente esse grupo de pessoas já provou que
seu esforço deu certo e por isso tem muito a nos ensinar sobre como agir para
que o bom senso em nome do bem comum supere o egoísmo do individualismo.
Como é
que os cooperados se dão bem numa cooperativa? No caso sugerido no exemplo, os
pequenos produtores, em vez de entregarem seus produtos por um preço muito
abaixo do valor de mercado a atravessadores, vão até a cooperativa onde tudo é
juntado para que se processe a venda em quantidades muito maiores, diretamente
para empresas como supermercados, por exemplo, ou diretamente aos consumidores.
O atravessador avilta o preço do produtor e encarece os produtos para o
consumidor final.
Como
tudo começou? Com a fundação da “Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale”,
em 21 de dezembro de 1844 no bairro de Rochdale, em Manchester (Inglaterra), 27
tecelões e uma tecelã procuravam, na época, uma alternativa econômica para
atuarem no mercado, frente ao capitalismo ganancioso que os submetiam a preços
abusivos, exploração da jornada de trabalho de mulheres e crianças (que
trabalhavam até 16h) e do desemprego provocado revolução industrial.
Naquele momento, aquelas pessoas mudavam os padrões
econômicos da época e davam origem ao movimento cooperativista. No início,
foram alvo de muitas críticas e ironias por parte dos comerciantes locais. No
entanto, logo no primeiro ano de funcionamento da sociedade, o seu capital
aumentou para 180 libras; cerca de dez anos mais tarde, o “Armazém de Rochdale”
já contava com 1.400 cooperantes. Com isso, o sucesso do empreendimento passou
a ser um exemplo para outros grupos.
Se a prefeita eleita Eliene Nunes
cumprir o compromisso assumido em campanha, de manter as vicinais trafegáveis
para os produtores poderem escorar sua produção, assim como de contratar
técnicos para a Secretaria Municipal de Agricultura dando-lhes condições para
atuarem no campo, em vez de ficarem confinados em escritórios, já estará
investindo para aumentar o nível de conhecimento dos produtores da agricultura
familiar. Daí em diante, para eles um dia resolverem se juntar e formar uma
cooperativa que valorize seu trabalho será um pulo. Eu creio que isso poderá
acontecer, e mais que isso, acredito que possa dar certo.
Na edição 149 do Jornal do Comérciuo, que está circulando
Caro Jota Parente, muita oportuna sua postagem. Cooperativismo não pode vir a ser, mas certamente será a boa saída........pena que como vc. citou que a nossa região não possui cultura de cooperação. Parabéns!
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