quinta-feira, novembro 15, 2012

O cooperativismo pode ser uma boa saída



             Jota Parente - Não temos uma cultura de trabalhar no sistema cooperativista no Brasil. Em Itaituba, então, este é um assunto muito pouco conhecido.  Mas, acredito que alguns setores produtivos do município poderiam obter um bom desenvolvimento se trabalhassem de forma cooperada. Um desses setores que enxergo como uma boa possibilidade de se dar bem é o da agricultura familiar.
            Primeiro, é preciso entender o que é cooperativismo. Trata-se de Sociedade de pessoas com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeita a falência, constituída para prestar serviços a seus associados (número mínimo de 20 pessoas físicas). É uma empresa com dupla natureza, que contempla o lado econômico e o social de seus associados. O cooperado é ao mesmo tempo dono e usuário da cooperativa: enquanto dono ele vai administrar a empresa e enquanto usuário ele vai utilizar os serviços.
            A cooperativa pode adotar qualquer gênero de serviço, operação ou atividade. Trata-se sempre de eliminar os intermediários, barateando custos e diminuindo preços pela racionalização e operação em grande escala. Ela terá o perfil de acordo com o de seus associados, pois estes se reúnem em torno de um ou mais objetivos específicos. No caso, abordo aspectos de uma cooperativa agrícola, que reúna produtores rurais de pequeno porte; seus serviços podem ser a compra em comum de insumos, a venda em comum da produção dos cooperados, a prestação de assistência técnica, armazenagem, industrialização, entre outros.
            O prefeito eleito de Santarém, Alexandre Von, esteve há poucos dias visitando uma feira de negócios na Inglaterra, aproveitando para ir também à Espanha, onde visitou a Universidade de Alicante, importante centro de estudos de cooperativismo na Europa e que mantém intercâmbio com a UFPA (Universidade Federal do Pará). Na Assembleia Legislativa do Pará ele tem se destacado como a voz do cooperativismo no estado. Engajado neste movimento, ele pretende, a partir de 2013, firmar parcerias com cooperativas santarenas, mantendo uma estreita relação, procurando aumentar ao máximo a eficiência de todos os trabalhos realizados a partir de negócios cooperativos.
            O poder público municipal não pode fazer o papel que cabe aos pequenos agricultores, para citar o exemplo de um setor que comecei a tratar no começo deste artigo. A eles compete se mobilizarem para criar uma cooperativa. Entretanto, a Prefeitura pode ajudá-los a consolidar uma iniciativa dessa natureza, com apoio logístico, pois se algum dia eles resolverem criar uma cooperativa, terão que começar da estaca zero.         
            Enfrentamos um problema muito sério para chegar a esse dia, que é a quase absoluta falta de cultura cooperativista na região. Temos alguns poucos exemplos bem sucedidos, embora de natureza bem diferente, como é o caso da Cooperativa Buburé, na área da prestação de serviços. Mas, certamente esse grupo de pessoas já provou que seu esforço deu certo e por isso tem muito a nos ensinar sobre como agir para que o bom senso em nome do bem comum supere o egoísmo do individualismo.
            Como é que os cooperados se dão bem numa cooperativa? No caso sugerido no exemplo, os pequenos produtores, em vez de entregarem seus produtos por um preço muito abaixo do valor de mercado a atravessadores, vão até a cooperativa onde tudo é juntado para que se processe a venda em quantidades muito maiores, diretamente para empresas como supermercados, por exemplo, ou diretamente aos consumidores. O atravessador avilta o preço do produtor e encarece os produtos para o consumidor final.
            Como tudo começou? Com a fundação da “Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale”, em 21 de dezembro de 1844 no bairro de Rochdale, em Manchester (Inglaterra), 27 tecelões e uma tecelã procuravam, na época, uma alternativa econômica para atuarem no mercado, frente ao capitalismo ganancioso que os submetiam a preços abusivos, exploração da jornada de trabalho de mulheres e crianças (que trabalhavam até 16h) e do desemprego provocado revolução industrial.
            Naquele momento, aquelas pessoas mudavam os padrões econômicos da época e davam origem ao movimento cooperativista. No início, foram alvo de muitas críticas e ironias por parte dos comerciantes locais. No entanto, logo no primeiro ano de funcionamento da sociedade, o seu capital aumentou para 180 libras; cerca de dez anos mais tarde, o “Armazém de Rochdale” já contava com 1.400 cooperantes. Com isso, o sucesso do empreendimento passou a ser um exemplo para outros grupos.
            Se a prefeita eleita Eliene Nunes cumprir o compromisso assumido em campanha, de manter as vicinais trafegáveis para os produtores poderem escorar sua produção, assim como de contratar técnicos para a Secretaria Municipal de Agricultura dando-lhes condições para atuarem no campo, em vez de ficarem confinados em escritórios, já estará investindo para aumentar o nível de conhecimento dos produtores da agricultura familiar. Daí em diante, para eles um dia resolverem se juntar e formar uma cooperativa que valorize seu trabalho será um pulo. Eu creio que isso poderá acontecer, e mais que isso, acredito que possa dar certo.

Na edição 149 do Jornal do Comérciuo, que está circulando

Um comentário:

  1. Anônimo2:49 PM

    Caro Jota Parente, muita oportuna sua postagem. Cooperativismo não pode vir a ser, mas certamente será a boa saída........pena que como vc. citou que a nossa região não possui cultura de cooperação. Parabéns!

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