segunda-feira, agosto 06, 2012

Weliton fala de suas expectativas sobre as eleições, Poder Legislativo e outros assuntos

 O jornalista Weliton Lima vivencia o dia a dia da política de Itaituba há vários anos. Sua opinião é muito respeitada e até temida por alguns políticos que saem da linha. Nesta edição do JC ele fala de suas expectativas pré e pós-eleição 2012. JC - Você acredita que a renovação na Câmara Municipal será tão grande quanto muita gente espera?


Weliton – A função básica do Poder Legislativo é fiscalizar os atos do Executivo, e isso foi exatamente o que os vereadores de Itaituba não fizeram em nenhum momento de seus mandatos. Portanto, eles falharam na principal atribuição que tinham, e visto por esse ângulo a renovação teria que ser total. Porém, particularmente não acredito que isso venha acontecer, por uma série de razões.

A principal delas é a influência que o poder econômico ainda exerce sobre o voto do eleitor. Alguns políticos mesmo nos tempos atuais e com toda a quantidade de informação que existe, ainda conseguem manter alguns feudos eleitorais à base do dinheiro publico e na Câmara temos exemplos clássicos disso que estou afirmando. Alem disso, com o aumento do número de vagas no legislativo municipal as chances de alguém com mandato se reeleger aumenta muito, principalmente para aqueles que contam com o apoio da máquina do governo. Outra questão que também precisa ser considerada quando se trata deste tema. Não é avaliar apenas quem está no cargo, mais sim, ver quem são os postulantes em substituir os que estão lá e, pelo visto, com raras exceções, as opções que se apresentam não garantem uma melhora na qualidade do nosso parlamento.

JC - Arriscaria algum palpite sobre percentual de renovação?

Weliton – Historicamente a Câmara nunca passou por renovações drásticas de seus integrantes, exceto na eleição de 1988, quando o efeito da eleição de Benignos Reges fez renovar mais da metade dos representantes do Legislativo. Eu não aposto muito em grandes mudanças, talvez no máximo teremos umas três ou quatro caras novas na Câmara no ano que vem, pois como coloquei antes o “xis” da questão não é quem vai sair, mas sim quem vai entrar. A minha opinião é que não devemos nos animar muito com a próxima composição da Câmara.

JC - Você não acha que essa expectativa de renovação tem se repetido a cada nova eleição nas últimas duas décadas?

Weliton – Sempre há essa expectativa, principalmente porque os vereadores ao assumirem o cargo esquecem de suas atribuições e passam a agir como se fossem empregados do prefeito. O curioso é que na Câmara há vereadores que vem se reelegendo seguidamente e mantendo sempre o mesmo comportamento de submissão ao prefeito. Por conta disso penso que o fundamental mesmo seria uma mudança de postura dos vereadores. Que os integrantes da próxima Câmara, independente de nomes, passem a agir como legítimos representantes do povo. Isso sim, seria realmente a verdadeira mudança que precisa ocorrer no nosso Legislativo.

JC - Sabe-se que o Pode Legislativo é um dos pilares da Democracia. Todavia, regra geral, o que tem sido visto é, em vez da interdependência dos poderes, uma total subserviência do mesmo em relação ao Executivo. Porque isso acontece há tanto tempo?

Weliton – Esse tem sido um dos graves problemas que afetam o Legislativo de Itaituba. Os vereadores servem ao Executivo, em primeiro lugar, em vez de servirem ao povo. E no meu ponto de vista esse problema ocorre muito em função da fragilidade dos partidos políticos. Se tomarmos como base a Câmara atual, os vereadores que se elegeram nos partidos de oposição ao prefeito, mal iniciaram o exercício do mandato e todos já estavam alinhados na base governista, e as direções dos partidos fazem vista grossa. Assim, os vereadores se sentem livres para colocar o seu mandato a serviço do que lhes parece mais vantajoso, no caso estar do lado do prefeito. O eleitor que se dane. Essa falta de compromisso com quem o elegeu e com o partido pelo qual foi eleito desvaloriza a atividade parlamentar e o próprio parlamento e, isso pode ser comprovado nas pesquisas de opinião onde o conceito dos vereadores está cada vez mais em baixa.

JC - Existe esperança de isso acabar, e em quanto tempo?

Weliton – Como disse antes, depende de alguns fatores, primeiro os partidos precisam exigir que os seus filiados respeitem as suas orientações, depois o vereador precisa se conscientizar de que o seu mandato tem que estar a serviço do povo que o elegeu e por fim o eleitor também precisa cobrar essa postura do seu vereador; enquanto essas relações não mudarem, penso que vamos continuar assistindo os desmandos dos prefeitos, e os vereadores com os braços cruzados. Quando isso vai acabar? Por enquanto não sou muito otimista quanto a isso, pois se trata de um processo educativo das futuras gerações, de formação de cidadãos conscientes dos direitos e dos deveres e isso leva tempo.

JC - O Poder Legislativo existe, basicamente, para aprovar novas leis e para fiscalizar o Poder Executivo. A parte de fiscalização não tem sido deixada de lado, faz muitos anos?

Weliton – Como os integrantes do Poder Legislativo, com raríssimas exceções, são movidos pelos interesses do Executivo, a parte da fiscalização não existe. Os vereadores são completamente omissos a esse respeito para não se indispor com o “chefe”. Na historia recente da política do município apenas, o ex-prefeito Edilson Botelho teve problemas com a Câmara de Vereadores, talvez isso ajude a explicar outro fato histórico: após o período da redemocratização do Brasil todos os ex-prefeitos do município de Itaituba tiveram condenação da Justiça por má gestão dos recursos públicos.

JC - Apesar dos avanços na legislação e da atuação do Ministério Público, você não acha que ainda falta melhorar muito o controle sobre os gastos públicos de um modo geral?

Weliton – O problema não está na legislação, mas sim na falta do cumprimento dela. Os prefeitos descumprem as leis porque confiam que não vão ser incomodados com investigação dos vereadores e também porque o Ministério Público pouco tem agido para impedir as aberrações administrativas nas prefeituras.

Outra instância que precisa ter maior eficiência na fiscalização da aplicação dos recursos públicos são os instrumentos de controle sociais. Os conselhos foram criados com essa finalidade, mas, o Executivo também sempre dá um jeitinho de colocar nesses órgãos gente que esteja disposta a concordar com as irregularidades.

JC - Dia 7 de outubro teremos eleição para prefeito de Itaituba. O que se esperar do próximo gestor, ou gestora, para acompanhar esse novo tempo que o município deverá viver, com a chegada de muitos investimentos, públicos e privados?

Weliton – Sempre que há uma eleição a esperança é que as coisas possam melhorar, mas na maioria das vezes isso não ocorre. E nessa eleição municipal o que a população deseja e eu me incluo nesse meio, é que o nosso próximo governante tenha a noção de que Itaituba não pode mais ser administrada na base do “ver o que acontece para poder agir”. O futuro gestor precisa de planejamento, precisa saber exatamente o que vai fazer no governo, estabelecer prioridades e claro, ter responsabilidade com a coisa pública.

JC - Porque você acha que a disputa eleitoral em Itaituba está tão fria até este momento?

Weliton – A campanha eleitoral começou de forma extemporânea, assim que o Roselito Soares foi cassado, a então pré-candidata Eliene Nunes já estava com o seu nome nas ruas, lançado principalmente pelas correntes insatisfeitas com a cassação do Roselito. É natural que agora como as candidaturas já consolidadas que haja essa espécie de pausa que servirá para a reestruturação da campanha de cada um dos candidatos. No caso da candidata Eliene Nunes, a questão financeira também pode ter influenciado um pouco para essa parada estratégica na campanha.

JC - Você considera que houve alguma evolução no nível do eleitorado itaitubense? Em que sentido?

Weliton – Sim, claro, mas nada ainda que possa ser visto como um fator que venha ser determinante para o resultado dessas eleições. A grande massa do eleitorado ainda vota influenciada por promessas irreais. Mas, como disse antes, esse amadurecimento da consciência política é um processo gradativamente lento, mas já se vê sim avanços e, a mídia tem dado uma contribuição importante para que isso aconteça.

JC - Como você analisa o atual momento político de Itaituba, levando-se em conta que o município conta, hoje, com um deputado estadual e um deputado federal?

Weliton – Esse é sem duvida um momento impar para a política de Itaituba é da região do Tapajós. O problema que vejo é que as picuinhas, as vaidades políticas e até pessoais estão se sobrepondo aos interesses do município. Os nossos parlamentares precisam saber diferenciar as questões meramente políticas dos assuntos de relevância para a população. Vamos aguardar o próximo governo e o novo quadro político que irá se formar e aí o eleitor vai ver e avaliar melhor o trabalho e o comportamento dos nossos deputados.

JC - A classe política está sabendo usar isso para ajudar o município, ou continua como sempre foi, cada um cuidando apenas dos seus próprios interesses em primeiro lugar?

Weliton – Eu já emiti essa opinião outras vezes e alguns políticos não gostaram do que disse, mas a verdade é que hoje você nunca sabe identificar até onde vai a causa pública e onde começa o interesse privado. Basta observar os fatos que estão acontecendo para identificar claramente esse comportamento promíscuo dos novos políticos.

JC - O que a comunidade de Itaituba deve fazer para evitar que o município passe ao largo desse surto de progresso que está batendo à porta, fazendo com que o mesmo se transforme em desenvolvimento?

Weliton – Antes da resposta eu gostaria de agradecer o espaço concedido pelo JC para essa entrevista e dizer que mais uma vez estamos diante do momento ideal para o eleitor valer o seu direito, votando no candidato que ele entende ser o melhor para governar o município. E quanto à pergunta, o eleitor deve cobrar dos candidatos o compromisso deles com o município. O momento, concordo, é favorável para a região e não podemos mais entregar as nossas riquezas e em troca receber o caos social, o dano ambiental e outras mazelas como já aconteceu no passado. O povo precisa refletir sobre isso e o momento é agora.
------------------------------
Matéria veiculada na edição 144 do Jornal do Comércio, que circulou semana passada  


Posted by Picasa

Nenhum comentário:

Postar um comentário