segunda-feira, agosto 06, 2012

Fleury Colares, 19 anos de Focalizando

 Florenício Colares Vaz, ou simplesmente Fleury Colares é um nome que remete para o mais longevo dos telejornais de Itaituba, o Focalizando. Fleury começou sua carreira de âncora de noticiário de TV, no momento em que o Focalizando foi ao ar pela primeira vez, em julho de 1993. Assim sendo, ele está há dezenove anos no ar, recorde absoluto em Itaituba em qualquer veículo de comunicação. Fleury é a cara do Focalizando. O Focalizando é a cara do Fleury.


Quando topou conduzir o mais famoso telejornal de Itaituba em todos os tempos, Fleury também concordou com uma exigência da direção da TV Tapajoara, na época: não conceder entrevistas para outras emissoras, nem gravar comerciais, fossem somente de áudio, ou áudio e vídeo. Ele tem sido rigorosamente fiel a isso. até agora. Porém, ao chegar aos dezenove anos no ar, no mesmo noticioso, ele aceitou o convite de seu amigo, o jornalista Jota Parente, tendo concedido uma longa e inédita entrevista ao Jornal do Comércio, na qual ele falou de sua vida, de um modo geral.

JC – Data e local de nascimento?

Fleury – Nasci no dia 10 de novembro de 1958, aqui mesmo no município de Itaituba. Na época meu pai era regatão (descia e subia o rio Tapajós, de barco, vendendo e comprando produtos). Como ele estava demorando muito, minha mãe, que estava no nono mês de gravidez resolveu vir atrás dele. Eu nasci numa pequena comunidade em frente de Barreiras, chamada Caranazal, na margem direita do rio, onde o barco estava atracado. Assim que eu nasci, fui trazido para Itaituba, conforme conta minha mãe, tendo ficado hospitalizado por alguns dias. Com vinte dias de vida eu fui levado para Santarém. Só retornei a Itaituba com vinte e cinco anos de idade.

JC – Nomes de pai e mãe...

Fleury – Meu chamava-se Florêncio Almeida Vaz, falecido há mais ou menos vinte e cinco anos e minha mãe chama-se Eunice Colares Vaz, a qual continua morando em Santarém.

JC – Infância e estudos, como foram?

Fleury – Meu pai, que era da região de Fordlândia, montou um comércio na comunidade de Pinhel, município de Aveiro, onde até hoje nós temos umas terras. Como minha mãe, que nasceu em Pinhel, era professora, eu comecei meus estudos lá mesmo, onde a gente morou até eu completar meus oito anos. De lá a gente se mudou para Santarém onde comecei a freqüentar a escola regular, começando na escola N. Srª Aparecida, passando depois por Almirante Soares Dutra, Pedro Álvares Cabral, Álvaro Adolfo da Silveira e D. amando, onde concluí o Segundo Grau, hoje, Ensino Médio.

JC – Você chegou a começar o Terceiro Grau...

Fleury – Sim! Fui para Belém em 1982, tendo prestado vestibular para o curso de Letras, não tendo conseguido passar na primeira chamada. Na segunda chamada fui chamado para o curso de Farmácia. Cheguei a começar o curso, mas, vi que não era aquilo que eu queria. Após concluir o primeiro semestre voltei para Santarém e não retornei para dar continuidade ao curso.

JC – Também morou no Rio de Janeiro por dois anos. O que lhe motivou a viver na cidade maravilhosa?

Fleury – Foi uma experiência muito enriquecedora na minha vida, nos anos de 1985 e 1986, tempo o qual eu aproveitei para estudar no IBRAD (Instituto Brasileiro de Radiodifusão), que funcionava nos altos da Rádio Roquete Pinto, perto do Maracanã. Eu teria que estudar por dois anos seguidos para concluir o curso técnico nessa área de radiodifusão. Chegamos a fazer um estágio na Rádio Sul-fluminense, de Duque de Caxias. Eu e outro rapaz tivemos um rendimento muito bom. Entretanto, meu pai teve um problema muito sério de saúde, uma trombose cerebral, o que me obrigou a largar tudo e voltar para Santarém.

JC – A essa altura você já tinha decidido o que gostaria de fazer pelo resto de sua vida, que era comunicação?

Fleury – Com certeza. Até porque eu já tinha um bom começo, uma vez que bem antes de ir para o Rio, em 1980, eu tive uma passagem pela Rádio Clube de Santarém, na época conhecida como a escolinha do rádio daquela cidade, somado ao período de mais de um ano do curso de radiodifusão que frequentara. Dos quase dois anos da Rádio Clube lembro bem de Arnoldo Campos, que era estrela da emissora, assim como de Frank Costa, que depois se mudou para Parintins.

Na Rádio Clube eu comecei apresentando noticiário de hora em hora. Mas, eu tinha vontade de fazer programa de estúdio. Quando chegou o período de São João me deram oportunidade. As estrelas não gostavam de fazer aquele tipo de programa e eu estava louco por uma chance. Aí, deu certo. Depois dessa passagem pela Rádio Clube em vim para Itaituba para trabalhar no Bradesco, tendo sido esse meu primeiro trabalho fora do rádio. Aqui fiquei até o final de 1984, quando me demiti para ir para o Rio de Janeiro.

JC – O pessoal do Bradesco não queria que você saísse, mas, o Rock In Rio falou mais alto...

Fleury – Eu tinha progredido no banco, chegando a ser chefe de seção. Propuseram-me até uma transferência para Redenção. Porém, joguei tudo para o alto e fui embora para o Rio, primeiramente para ver o Rock In Rio, que começou em janeiro de 1985. Tive oportunidade de ver as maiores bandas de rock do mundo. Depois que voltei para Santarém eu vim para Itaituba trabalhar na antiga Caima por mais ou menos um ano e meio. Eu era amigo do então gerente, que me convidou para vir eu aceitei. Após esse período eu retornei para Santarém, direto para trabalhar na Rádio Rural, tendo passado pela Rádio Tropical, voltando depois para a Rural.

JC – Você e o jornalista e radialista Jota Parente trabalharam juntos em mais de um veículo de comunicação...

Fleury – Trabalhamos juntos na Rádio Tropical, numa equipe muito boa que a gente conseguiu montar entre os anos de 1985 e 1988, depois nos reencontramos aqui, na TV Eldorado. Naquele período, por volta de 1990, eu estava em Santarém. De vez em quando encontrava o empresário Wilmar Freire, com o qual tinha feito amizade por ser repórter setorista do São Raimundo, ao qual perguntava como andavam os trabalhos das emissoras de Itaituba. Ele tinha comprado a TV Eldorado há pouco tempo, ocasião em que me informou que meu amigo Jota Parente estava montando a primeira equipe daquela emissora. Eu estava querendo voltar para Itaituba. Foi assim que a gente fez o contato para vir para cá.

Ficamos cerca de dois anos na TV Eldorado. Foi o tempo em que uma parte da equipe local da Band, liderada pelo diretor Jota Parente mudou-se para a TV Tapajoara. Eu fui convidado pelo Parente e topei o desafio. Lembro que minha vinda da Eldorado para a Tapajoara foi exatamente para encarar a novidade de apresentar o Focalizando. Tive oportunidade de participar ainda da discussão do nome do programa. Lembro que o saudoso colega Lord Edgar ainda estava entre nós.

Aquele desafio para mim foi uma grande novidade, porque eu não dominava muito aquela área, pois até aquele momento minha atuação tinha sido quase que totalmente dedicada ao esporte. Tocamos o projeto, e de lá para cá já se passaram dezenove anos.

JC – Algum dia você imaginou que seria âncora de um telejornal por tanto tempo?

Fleury – Perdi a conta das vezes que eu tenho ficado pensando: puxa vida, estou a caminho de completar vinte anos no comando do Focalizando. É muito tempo. Hoje eu tenho uma identificação com esse telejornal, e ele comigo. Quando comecei eu pensava: vou fazer; se não der certo eu volta para apresentar o esporte, de novo. Naquele tempo o esporte era bastante forte por aqui. O tempo foi passando e a gente continua por aqui, e eu acho que vamos continuar, porque a gente se esforça para fazer um trabalho bem feito.

A identificação é tão forte, que um tempo desses eu passava pelo caixa do supermercado Pague Menos, quando a caixa observou: Fleury, mas, você tem muito tempo apresentando esse Focalizando. Eu era criança pequena e você já era o apresentador. Minha mãe me chamava para almoçar, na hora que o jornal ia começar e eu pedia a ela para ver as notícias. Já é outra geração de telespectadores que chegam à idade adulta. Embora seja um programa de notícia, eu fico muito gratificado pela admiração que a gente causa na criançada. Quando eu chego por aí pelos bairros para fazer reportagens, muitas crianças cercam chamando pelo meu nome. Isso é muito gratificante.

JC – Em que apresentador ou apresentadores você se inspirou? Hoje, Fleury Colares tem seu próprio estilo?

Fleury – Não foi nenhum apresentador, mas, uma apresentadora que admiro muito, na qual me espelhei no começo. Ela é Marília Gabriela. Seu estilo de conversar com seus entrevistados, com domínio absoluto da situação, como se estivesse batendo um papo em sua casa foi que me chamou atenção. Ela é muito espontânea. Tento me espelhar no jeito dela de apresentar. Ela é minha referência. Eu me esforço para ser o mais natural possível. Mas, hoje em dia já tenho meu próprio estilo de apresentar o Focalizando.

JC – Lembra de alguns episódios pitorescos ocorridos ao longo desses dezenove anos de Focalizando?

Fleury – Foram muitos. Lembro de uma vez em que eu e o José Mário Dutra fomos escalados para cobrir a festa do padroeiro de Pimental, com direito a torneio de futebol e tudo. Eu nunca tinha ido para aquela vila, e o caminho escolhido foi pelo Buburé. Lá a gente desceu do carro e entrou numa voadeira. Foi a partir daquele momento que a situação ficou preta. A voadeira passava quase tocando naquelas pedras enormes. Foi imenso o medo que eu senti passando por aquelas corredeiras. Sinceramente, eu achei que não sairia vivo daquela experiência. Não tenho dúvida de que, se batêssemos em alguma pedra daquela não escaparia ninguém para contar a história. Esse dias eu estava lembrando desse episódio.

Outro fato do qual me lembro não aconteceu comigo, mas, envolvendo nossa equipe, quando fazia cobertura da queda de um avião da comitiva de Jader Barbalho, em 1994. O avião caiu depois da cabeceira da pista do aeroporto de Itaituba, sentido quando decola para Santarém. Nosso cinegrafista José Pinheiro, o Zequinha, foi fazer umas imagens do local, no segundo dia após o acidente. Levou uma câmera Panasonic, modelo PV, recém comprada. Dentro da canoa na qual estava, Zequinha balançou pra lá, balançou pra cá, até que mergulhou com câmera e tudo. Dos dois, somente o cinegrafista teve recuperação, pois a filmadora não serviu para mais nada. A matéria seria para o Focalizando. Nunca é demais lembrar que naquele tempo a gente trabalhava com pouco equipamento. Assim, sentimos muito a baixa daquela câmera.

JC – Houve tempos em que o Focalizando teve dois apresentadores...

Fleury – Assim que o Focalizando começou foi apresentado por mim e pela Maria do Carmo; depois também apresentei junto com a Ana Bandeira. Era bom, foi um tempo que marcou, mas, passado aquele período eu passei a achar melhor apresentar sozinho. Acho que meu rendimento é melhor do que quando tenho alguém comigo na bancada.

JC – Sua vida está diretamente ligada a Itaituba?

Fleury – Mesmo antes de voltar para cá, eu tinha muita vontade de viver em Itaituba. Hoje, casado (com Rute da Costa Vaz), pai de duas filhas, tenho casa própria, nem penso em deixar esta cidade, onde faço o que eu gosto, sendo bem remunerado pelo serviço que realizo na TV Tapajoara. A gente fica pensando, às vezes, no caminho que os filhos vão seguir. Minha filha mais velha (Evelyn Beatriz da Costa Vaz, 17 anos) estuda na UFOPA, pretendendo fazer medicina, enquanto a mais nova (Luiza Elen da Costa vaz, 15 anos) ainda está aqui. Todo o restante de minha família vive em Santarém. Mesmo assim não penso eu deixar Itaituba.

JC – Você acredita muito no futuro de Itaituba?

Fleury – Sim, acredito mesmo. Estão chegando os investimentos na construção dos portos em Miritituba, temos os projetos das hidrelétricas que estão para ser implantados, dos quais eu sou totalmente a favor. O que eu defendo é a necessidade de se discutir de que forma o município poderá ser de fato beneficiado com essas obras, para evitar que aconteça como em outros lugares, onde ficaram muitas mazelas sociais. É necessário se saber para onde será deslocado o povo que vive há muitas décadas em locais que serão atingidos pelas obras das hidrelétricas e em que condições essas pessoas passarão a vive, totalmente fora de seu habitat. Disso a gente não pode descuidar.

JC – A que fatores você atribui o sucesso do Focalizando por tanto tempo?

Fleury – Creio que tanto no caso do Focalizando, quanto da TV Tapajoara de um modo geral, um dos segredos é a gente não ficar fazendo rodízio constante em nossa equipe de trabalho. Assim como eu, tem gente, como o Ivan, que está há dezenove anos na emissora, Weliton e Marlúcio, que chegaram pouco tempo depois. Houve a volta do Mauro Torres, grande repórter que tanto enriquece nossa equipe, além dos demais, cuja maioria já está trabalhando junto faz um bom tempo.

JC – Você é um âncora que não costuma fazer comentários criticando quem quer que seja...

Fleury – É verdade. Isso causa cobrança de alguns, e manifestação de apoio de muitos. Já fui abordado por muitos telespectadores que acham legal o fato da gente colocar no ar a opinião de pessoas que estão satisfeitas, ou descontentes com qualquer coisa, ou qualquer autoridade, sempre procurando ouvir os dois lados. Eu entendo que assim fica melhor, em vez de apenas eu, o âncora, emitir minha opinião crítica.
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Matéria veiculada na edição 144 deo Jornal do Comércio, que circulou semana passada.



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