Artigo de Jota Parente na edição 143 do Jornal do Comércio, que está circulando desde segunda-feira
Quem não tem um mínimo de vivência no mundo da política acha, equivocadamente, que no decorrer de uma eleição é possível mudar tudo, mudar da água para o vinho. Essa gente pensa, muitas vezes com certa ingenuidade, outras vezes por pura empolgação, que essas coisas acontecem assim, da noite para o dia, como por um passe de mágica.
Eu tenho conversado ultimamente com algumas pessoas que pensam dessa maneira e esperam que as mudanças se processem obedecendo à pressa que elas tem, sem levar em conta uma série de fatores. Algumas delas chegam a dar a cara pra bater, participando do processo eleitoral, direta ou indiretamente. Outras pessoas simplesmente torcem para que seus desejos se realizem.
Quando nós, brasileiros, saímos da ditadura militar, entrando no regime democrático, falava-se muito que a gente não sabia votar. Logo vieram aqueles que como eu, defendiam a Democracia, para afirmar que só tinha um jeito de aprendermos a votar: era votando, era havendo eleições seguidas para que pudéssemos acertar ou errar, mas, acima de tudo, tendo a liberdade de escolha. O tempo se encarregou de mostrar que quem pensava assim estava certo.
Ainda hoje, em Itaituba, com toda razão, ainda se fala muito que boa parte do eleitorado continua trocando seu voto por qualquer coisa, por qualquer favor. Sabemos que isso é verdade e, de imediato a única coisa que se pode fazer é combater essa imoralidade. Entretanto, não se resolve isso por um passe de mágica. Isso passa por um processo gradual de amadurecimento da população, processo esse que tem tudo a ver com o aumento da média de escolaridade.
Se o povo fica mais anos na escola, a tendência natural é de que consiga um crescimento na renda familiar. Se cresce a renda da família, menos gente vai procurar políticos em tempos de eleição para pedir algo em troca do voto. Porém, enquanto houver bolsões de pobreza extrema como há nos bairros mais afastados, existirá gente sem nenhuma perspectiva de crescimento, mesmo tempo em que continuará havendo políticos dispostos a comprar votos.
Se olharmos com um olhar crítico para o que aconteceu em Santarém, observaremos sem nenhuma dificuldade que por lá já aconteceu uma boa evolução. Não que tenha virado uma Suíça, país onde o eleitor é pra lá de esclarecido, mas, dá para ver que o parlamento daquele município abriga hoje em dia, diversos vereadores com nível de terceiro grau. Mas, Santarém virou um centro acadêmico já faz muitos anos. Por aqui isso ainda está acontecendo.
Nas muitas conversas que tenho tido sobre política, meus interlocutores mais empolgados com esse assunto afirmam que haverá uma grande renovação nos quadro da Câmara Municipal de Itaituba. Eu até acho que isso poderá acontecer, sim. Uma das razões é o aumento do numero de vereadores para 15. Ademais, dos atuais edis, dois que teriam grandes chances de se reelegerem, César Aguiar e Dico estarão fora do páreo.
O que resta saber e o que de fato interessa no final das contas é se haverá apenas uma troca de nomes, ou se essa possível renovação se dará no modo de agir dos vereadores que comporão a próxima composição Câmara. E é aí que eu tenho batido na tecla, nessas conversas, de que o Sistema fala mais alto, engolindo quase todos os que se elegem, envolvendo-os com seus tentáculos poderosos. Poucos são os que resistem durante muito tempo e muitos são o que o Sistema destrói quando se opõem a ele.
Para mudar minimamente o Sistema é preciso que haja uma verdadeira transição do nível da população, que como abordei anteriormente, passa pelo processo paulatino de evolução do nível de educação do povo e pelos indicadores sociais. Por exemplo: em Curitiba há vereadores que são eleitos e reeleitos sem que boa parte dos seus eleitores tenha jamais chegado perto deles. Votam porque lhes agradam as propostas de trabalho daqueles políticos, correspondendo eles na prática com a expectativa desses eleitores. Isso é mudança de fato. Todavia, nem sempre foi assim e não se conseguiu isso em pouco tempo.
O que eu espero do eleitor itaitubense, tanto na escolha do próximo gestor municipal, quanto dos futuros vereadores, é que já tenha acontecido algum avanço, alguma evolução. Isso, sim, é possível. É indiscutível que a chegada de muitas faculdades e o aumento na conscientização da maior parte da população da necessidade imperiosa dos filhos estudarem já surtiu algum efeito nesse contexto. Resta aferir, na prática, se isso já se fará notar na melhoria da qualidade do voto do eleitor itaitubense.
MUito oportuna sua ánalise.A partir do momento em que aqueles que costumam barganhar seus votos,passarem a entender que essa é a origem da corrupção poderão ter maior consciência.O vereador dever ter conhecimento e saber o quer vai fazer na Câmara caso seja eleito. Ou será que em nivel municipal também o povo vai continuar elegendo os Tiriricas da vida?.Quanto custa um voto???Pode custar muito caro,principalmente para quem votou consciente e vai pagar pelos irresponsaveis que fizeram de sua opinião uma mercadoria barata e vulgar...Professor, jornalista e escritor Nazareno Santos
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