quinta-feira, abril 30, 2009

Seminário foi bastante concorrido

375 pessoas assinaram uma lista de presença que foi passada. Mas, houve um bom número que não assinou. Por isso, estima-se que mais de 400 pessoas estiveram pela parte da manhã de hoje na sede do Parque de Exposições Hélio Mota Gueiro, em Itaituba, para participar do II Seminario que para discutir a construção de usinas hidrelétricas no Rio Tapajós.

Desta vez os organizadores fizeram um boa mobilização e conseguiram juntar muito mais gente do que no primeiro semínaro, em janeiro passado.

Pela parte da manhã a participação foi bem maior. Diversos vereadores (João Crente, Hilton Aguiar, Peninha, Marcos da Ideal, Eva Gomes e César Aguiar) estiveram presente de manhã.

Pela Prefeitura de Itaituba só foi notada a presença do secretário de Mineração e Meio Ambiente, Semi e do secretário de Infra-Estrutura, Afábio Borges .

Foi sentida a ausência da Associação Empresarial de Itaituba, CDL e outras entidades.

A palestra que mais chamou atenção foi do Padre Edilberto Sena (foto), que falou das consequências que as obras poderão ter na vida das pessoas que vivem nas áreas que serão diretamente afetadas, bem como daqueles às quais a cidade de itaituba está sujeita, para onde deverão vir as pessoas que ficarão desalojadas.

Jader não sabia?

Em Brasília, opresidente do PMDB noPará, deputado federal Jader Barbalho, tomou conhecimento dos principais pontos do contundente discurso do líder do partido na AL, Parsifal Pontes, com queixas ao tratamento dado pelo secretariado da governadora Ana Júlia aos deputados da bancada da legenda.

Sem conhecer o teor inteiro do pronunciamento, Barbalho preferiu não comentar publicamente o discurso, mas anunciou que vai convocar os deputados estaduais peemedebistas para uma reunião, provavelmente no final de semana, quando avaliará a situação.

Devastador, o discurso do líder peemedebista nominou secretários que desatendem os compromissos do governo com o PMDB, sequer dignando-se a atender telefonemas. Revelador, o discurso derrubou um mito: o de que a secretária Laura Rossetti, titular da Secretaria de Saúde, seja indicação peemedebista. Parsifal Pontes quebrou o sigilo telefônico da governadora, que, numa ligação a Barbalho, se limitou a comunicar que nomearia Rossetti e a perguntar se o deputado se opunha. "Não", respondeu Jader.

Tão logo soube do corrosivo discurso proferido pelo líder do principal aliado na AL, a governadora Ana Júlia decidiu chamar para si a responsabilidade de puxar a orelha do secretariado. Sem minimizar a queixa, que reconheceu não ser exclusiva do PMDB, ela classificou a reclamação de "pontual", por expressar descontentamento solucionável e incapaz de abalar sua confiança na importância do pacto eleitoral do PT com o PMDB, segundo teor de conversa reproduzido pelo líder do governo na AL, Airton Faleiro (PT). (Fonte: Repórter Diário, Diario do Pará)
---------------------------

Comentário do blog: Então, tá! Faz de conta que a gente vai acreditar que o deputado Jader Barbalho não sabia que o líder de seu partido faria esse discurso.

O que acontece é que a relação entre o PMDB e o governo do Estado está corroído há muito tempo, porque o PT quer o apoio do partido na Assembléia Legislativa, mas, não quer dar a contrapartida pedida por Jáder e seus aliados.

Os dois lados afastam-se cada vez mais e os rumores de que o PMDB poderá ser adversário do PT na próxima eleição são cada vez mais forte.

Recentemente a governadora Ana Júlia foi se queixar ao presidente Lula, que Jader estaria tomando algumas decisões que atrapalham o governo dela. Lula a aconselhou a resolver os problemas paroquiais por aqui mesmo, pois não iria meter-se nos mesmos. E enfatizou que precisa do apoio do Jader, um dos caciques do PMDB nacional.

Só que quem acredita em mula sem cabeça pode achar que Jader não sabia do discurso de Parsifal.

A Expedição, tintim por tintim, cap. 6




Fomos bem recebidos em praticamente todos os lugares pelos quais passamos. Mas, na Colômbia, eu e meu amigo Jadir recebemos um tratamento diferenciado pelo fato de sermos brasileiros. Aonde a gente chegava naquele país de povo educado e acolhedor, na hora que dizíamos que éramos brasileiros, o tratamento que já era bom, ficava ainda melhor. Isso nos impressionou muito.

Ainda no dia 20/10, a caminho de Socorro, onde terminou o relato do capítulo anterior, passamos por inúmeras fazendas de todos os tamanhos. O que vimos encheu os olhos, pois são propriedades bem cuidadas, onde se trabalha com gado de leite e de corte, além de trabalharem com agricultura. Em nenhum momento vimos pobreza extrema naquela região.

Encontramos tantas, mas tantas barreiras na estrada, que tinha hora que a gente mal saía de uma e se deparava com outra. As do exército só nos mandaram parar uma vez. Já a Policia de Carretera, equivalente à nossa Polícia Rodoviária, essa mandou a gente parar duas vezes. Numa dessas barreiras, dois jovens soldados do exército colombiano, com caras de poucos amigos, pediram os nossos documentos. Depois que os mostramos eles quiseram saber o que levávamos em nossas mochilas. São roupas e materiais de higiene, dissemos. Então abram as duas. No momento em que começávamos a desamarrar a bagagem, o sargento que estava sentado um pouco distante, levantou e foi lá saber o que estava acontecendo. Eu respondi que os soldados tinham pedido os nossos documentos e que agora queriam que a gente abrisse as bagagens, o que estávamos começando a fazer.

Enquanto eu falava, ele foi dar uma olhada nas placas das nossas motos e viu que na minha havia uma bandeirinha do Brasil. Vocês são do Brasil?, perguntou ele. Sim, senhor, somos, respondemos. Então não precisa abrir bagagem nenhum. Podem seguir viagem. Ficamos contentes, porque a gente iria perder muito tempo desarrumando e arrumando de novo nossas mochilas e felizes pela deferência por sermos brasileiros.

No dia 21 de outubro, em Socorro, levantamos muito cedo, apesar do frio que fazia. Às 6:30 pegamos a estrada rumo a Medellin, capital do departamento de Antioquia. Como no dia anterior havíamos começado a subir a Cordilheira dos Andes, continuamos subindo. Quanto mais alto a gente chegava, mais o frio aumentava. Passamos dos 2.500 metros de altitude e a partir desse ponto as motos começaram a reclamar bastante, por causa da rarefação do oxigênio, fato que prejudicava a combustão. A minha Yamaha XTZ 125 falhou menos que a Honda Bros 150 do Jadir. Em elevadas altitudes a diferença de rendimento das duas máquinas foi bastante acentuado, a ponto de eu adiantar-me tanto, que precisava esperar meu companheiro de viagem, diversas vezes. Além disso, passamos a conviver com uma infinidade de curvas de todos os níveis e todos os ângulos. Eu gostei e me dei bem nesse tipo de estrada. Adorava fazer aquele monte de curvas, uma seguida da outra, durante horas. Meu amigo Jadir detestava.

Em Santa Rosa, uma cidade que fica na rota para Medellin, paramos numa concessionária Yamaha para ver o que podia ser feito para que as motos não falhassem. Falamos com o mecânico responsável, o qual nos disse que com o passar do tempo as motos se adaptariam e o problema seria naturalmente resolvido. Mas, na medida em que a gente avançava, a situação da moto do Jadir só piorava. E aquele mecânico não sabia do que falava, porque tivemos problemas sérios por conta disso, como veremos mais tarde. Lá em Santa Rosa, para conseguir chegar à bendita concessionária enfrentamos uma rua cujo declive era tão grande que faria a descida travessa 15 de Agosto de Itaituba parecer um terreno plano.

Faltavam vinte minutos para o meio-dia quando entramos na bela cidade de Medellin, que para nós brasileiros, e porque não dizer do mundo inteiro, ficou conhecida por causa do Cartel de Medellin, que dominava o comercial mundial de cocaína nos tempos de Pablo Escobar, que tinha o seu quartel general lá. Mas, Medellin é muito mais que isso. É uma cidade belíssima, situada num vale, nos Andes, cercada de montanhas, com uma temperatura média de 21 graus, a qual tem mais de dois milhões de habitantes, tendo sido fundada em 1675 pelos espanhóis. Juntando com a população de municípios vizinhos, que já fazem parte da grande Medellin, são mais de três milhões e meio de habitantes. É um dos mais importantes centros industriais da Colômbia e tem uma diversidade cultural que precisa ser conhecida.

Logo que entramos em Medellin a gente parou perto de uns guardas de trânsito. Eu desci da moto e me aproximei de um deles para fazer algumas perguntas a respeito da melhor rota a seguir, pois não tínhamos a intenção de demorar na cidade. Disse a ele que éramos brasileiros e que estávamos fazendo a volta pela América do Sul, que estávamos registrando tudo e que tínhamos a intenção de escrever um livro sobre nossa aventura. Mostrem seus documentos, disse ele. Por aqui passam muitos dizendo que são brasileiros, tentando nos enganar, porque sabem que a gente gosta do povo daquele país vizinho. Mas, seu guarda, disse eu, realmente somos brasileiros. Naquele momento eu comecei a falar português. Não porque a gente tivesse qualquer problema com a documentação, que estava rigorosamente em dia, mas, para quebrar aquele clima meio tenso.

Quando ele, Oscar León, se convenceu que realmente éramos brasileiros, seu comportamento mudou radicalmente. Chamou três colegas seus que estavam um pouco afastados para que viessem fazer uma foto para entrar em nosso livro. Depois disso, foi só festa. Fizemos algumas fotos e seguimos adiante. Não sem antes eu e o Jadir perdermos o contato por alguns momentos. O trânsito na cidade é muito intenso e não foi difícil da gente de perder um do outro.
Perto da saída de Medellin passamos sob o “metro cable”, que é um tipo de metrô aéreo que deu muito certo e ajudou até na diminuição da violência na cidade. Na verdade, trata-se de um grande teleférico, com 90 cabines para oito lugares cada, as quais são sustentadas por cabos muito grossos. A linha começa a uma altura de pouco mais de dez metros e sobe até mais de 1.700 metros, onde existem bairros da cidade no alto dos morros. Paramos para pedir algumas informações e resolvemos ir até o “metro cable” para conhecer. Compramos os bilhetes e fomos até o ponto mais alto, de onde pudemos ver toda Medellin, cuja parte mais alta lembra algumas cidades brasileiras, pois é cercada de morros e tem o rio que emprestou seu nome à cidade, totalmente poluído.

No momento que estávamos saindo da cidade erramos o trajeto, descendo por uma rua com uma ladeira tão íngreme, mas tão íngreme, em primeira marcha e pisando no freio. Foi preciso ajuda para virar as motos ao contrário, pois seria muito perigoso tentar fazer a curva sem que alguém nos ajudasse. Engatei uma primeira e a moto subiu reclamando. Como o Jadir não aparecia, resolvi voltar para ver o que estava acontecendo. Encontrei-o ofegante, empurrando sua moto, com o motor ligado, primeira marcha engatada e com a ajuda de um colombiano. Foi uma sensação muito desagradável aquela. Às três da tarde paramos na pequena cidade de Guarine, porque a Honda Bros estava falhando muito. Um mecânico mexeu durante mais de uma hora, mas não conseguiu melhorar nada. O jeito foi seguir em frente até Rio Negro, já que o mecânico nos informou que lá havia uma concessionária Honda. E de fato havia. Mas, essa parte da história fica para o próximo capítulo.

Seminário vai discutir hidrelétrica no Tapajós

Dia 30 de abril e dia 1ª de maio será realizado em Itaituba, no Parque de Exposição Hélio Mota Gueiros e em São Luis do Tapajós, o II Seminário com o objetivo de discutir a construção de usinas hidrelétricas no Rio Tapajós, para o qual está prevista a implantação de cinco unidades, a maior delas, com quase onze mil quilowatts, que ficará às proximidades de uma das comunidades mais tradicionais deste município, que é São Luis.
O evento está sendo organizado pelo Fórum da BR 163 e conta com o apoio de diversas entidades. Trata-se de uma questão de muita relevância, que ainda não despertou a atenção da comunidade itaitubense. Tem gente que está pensando apenas nos lucros que essas obras poderão trazer, esquecendo-se que existem impactos profundos, tanto para o meio ambiente, quanto para os seres humanos diretamente afetados, pois algumas comunidades deverão simplesmente desaparecer.
A reportagem do Jornal do Comércio conversou com duas pessoas que estão à frente dos trabalhos de organização do seminário. Jeselita Gouveia e João Gerdau Paiva Diniz Jr.
Jeselita Gouveia, que esteve envolvida diretamente na coordenação do I Seminário, faz parte do Fórum da BR 163. O primeiro foi organizado num espaço de tempo bem curto, o que fez com que não fosse possível abranger um número maior de pessoas e entidades. Mesmo assim, ela diz que o resultado foi bom.
“Para este segundo seminário a gente está trabalhando até com mais segurança porque a gente já tem a experiência do primeiro. Estamos esperando a presença de representantes da Eletrobrás, do Ministério de Minas e Energia. O ministro Edson Lobão não poderá vir porque tem compromisso anteriormente marcado, mas ficou de mandar alguém para representá-lo, o deputado federal Antônio Feijão pediu que a gente mandasse o convite para ele, que deseja participar das discussões” disse Jeselita.
Perguntada sobre o que ela acha que vai sair de prático dessa discussão, Jeselita disse que espera que o governo diga com clareza o que vai ser feito e como vai ser feito, de que forma as comunidades a serem afetadas serão remanejadas, se vai haver alguma indenização para elas, porque até este momento nada foi dito nesse sentido.
“O governo não conversa com a gente. Ele esconde as informações, para quando chegar na hora, quando a obra já estiver pronta, não dar mais para a gente fazer nada. Por esse ângulo, o que tiver de acontecer vai acontecer, caso a gente fique inerte. O governo evita a discussão. Nós somos uma região de extrativismo, vegetal e mineral, onde não se pode extrair quase nada. E ainda vem o governo com uma obra como essa, a qual não quer discutir com as partes envolvidas. Várias comunidades vão desaparecer do mapa e o governo se omite de discutir uma coisa tão grave como essa.
O que nós queremos é que a comunidade compreenda que não temos a intenção de prejudicar ninguém, porque tem gente pensando que todo mundo vai ficar rico por aqui. Mas, as informações que temos não batem com essa expectativa. O que vai acontecer é que vai vir muita gente de fora atrás dos empregos que a obra poderá gerar. Isso vai fazer com haja um inchamento da população, aumentando os problemas sociais. Nós deveríamos seguir o exemplo de Altamira, que não deixou o governo fazer a hidrelétrica de Belo Monte do jeito que queria, Mas, lá eles são organizados. Nós ainda estamos muito longe disso”, afirmou Jeselita.
Gerdau – “A gente não consegue entender o que está acontecendo, porque quando a gente pesquisa a respeito do assunto hidrelétricas do Rio Tapajós, as informações que se capta são de que os impactos ambientais e sociais serão mínimos. Em momento algum essas informações citam que existem comunidades dentro da área onde vai ficar, por exemplo, a hidrelétrica nominada como de São Luis. Eles tiram do mapa comunidades históricas como Pimental, que tem mais de cem anos, São Luis, que é ainda bem mais antiga, Vila Rayol, do outro lado do rio. Então, todas essas comunidades não estão sendo levadas em conta. Acima de Pimental, informou Gerdau, há uma aldeia indígena Mundurucu nova em formação. Essa aldeia Certamente será afetada.
O governo está omitindo essas informações e além de omitir, não senta com essas comunidades para discutir o problema que elas enfrentarão. Isso tudo preocupa e por isso realizamos o primeiro seminário, em janeiro e agora estamos para realizar o segundo. No primeiro seminário, a bem da verdade, houve uma fraca participação da sociedade itaitubense. Agora no segundo, que a gente teve mais tempo para organizar e o qual está tendo uma melhor divulgação, esperamos muito mais pessoas”.
“Vamos deixar claro que não somos contra a construção dessa hidrelétrica. O que defendemos é que o governo construa essa proposta a partir da base, discutindo o assunto com a sociedade. O que não podemos aceitar é a imposição de cima para baixo, passando o rolo compressor por cima da gente” falou Gerdau.
Na visão desse integrante do Fórum da BR 163, o maior exemplo no qual Itaituba deve espelhar-se é Belo Monte, cuja construção vem sendo discutida há mais ou menos vinte anos. Há vinte anos, lembrou Gerdau, a índia Tuíra passou o facão na cara de um engenheiro que defendia a obra. Mais recentemente, durante as discussões, um engenheiro foi cortado no braço pelos índios, gerando um incidente que teve grande repercussão, assim como o primeiro, que também foi noticiado até fora do Brasil.
“Parece que para o governo, quanto menos conversas com as comunidades, o efeito rolo compressor pode ser maior. Então, já que no caso de Belo Monte a sociedade civil está organizada, lutando pela não construção da hidrelétrica naquela região, o governo volta o foco para o Tapajós, onde as comunidades estão desinformadas e, principalmente, desorganizadas. Já está se falando em licitação da obra até o final do presente ano, ou começo do próximo, os estudos de impacto ambiental foram todos feitos. Por quê? Porque nós estamos totalmente desarticulados” afirmou Gerdau. A responsabilidade de discutir essa obra não deve ser transferida somente para as comunidades mais próximas de onde a hidrelétrica de São Luis vai acontecer, para falar apenas dessa, que é a bola da vez. Toda a sociedade itaitubense, que depende do Rio Tapajós, Aveiro e Santarém, todos têm o dever de levantar questionamentos. Vários setores serão afetados por isso. Segundo as informações de Gerdau, o Rio Tapajós, no verão, poderá não ser navegável abaixo da barragem. São dúvidas que precisam ser tiradas e isso cabe ao governo, que é o responsável pela obra. Há muitas informações desencontradas. Daí a urgência de se discutir tudo que diz respeito a essa obra muito grande.
“O Brasil precisa de mais energia e não vai poder abrir mão dessa energia que será gerada a partir das hidrelétricas do Rio Tapajós. Mas, o que não está certo é se construir as mesmas para abastecer a Alcoa, pois essa empresa vai precisar de muita energia e Juruti fica distante há apenas 178 quilômetros, pelo ramal de São Jorge, e para abastecer as indústrias do sul e do sudeste. O município de Itaituba terá um ganho com o aumento do seu repasse de ICMS. Mas, qual será o custo social e ambiental disso”, finalizou Gerdau.

Discutir as hidrelétricas do Tapajós é o mínimo que se pode querer

A construção de hidrelétricas no Rio Tapajós é um fato. Os estudos para a realização das obras estão muito adiantados. Não adianta pensar que alguém vai conseguir travar o andamento desse processo, pois não vai. E não imagino uma campanha para evitar que esse complexo saia do papel.
O Brasil continua correndo o risco de sofrer um apagão energético, se não de imediato, ao mesmo dentro de poucos anos. E as opções de matrizes de energia elétrica realmente viáveis não são tantas assim. Uma das mais limpas continua sendo a gerada por usinas hidrelétricas. Então, neste momento, os olhos se voltam para esta região, na qual somente uma usina poderá gerar quase onze mil megawatts. E ela será implantada no Rio Tapajós.
O governo do PT popularizou a discussão exaustiva de obras, sobre tudo aquelas que possam provocar fortes impactos ambientais. Porém, esse mesmo governo tem agido de forma dúbia nesse particular. Discute durante anos algumas obras que parece não ter o interesse de realizar, como é o caso do asfaltamento da BR 163, enquanto se faz de morto, quando se trata de um empreendimento de grande porte, como é o caso das hidrelétricas do Rio Tapajós.
Até agora, nenhum seminário, nenhum encontro, enfim, nada que servisse para discutir a questão das hidrelétricas do Rio Tapajós foi promovido pelo governo federal, que bancará a obra. Será isso resultado de Belo Monte, que para sair do papel houve muita discussão por parte da comunidade do município de Altamira, através dos seus movimentos sociais, assim como pela forte participação das comunidades indígenas?
Belo Monte não vai sair do jeito que o governo queria. O projeto teve que ser refeito mais de uma vez, porque a pressão foi muito grande. Houve índia passando facão na cara de gente graúda e o povo de lá não ficou calado, como estamos nós aqui, absolutamente acomodado.
Tenho ouvido alguns comentários de pessoas dos mais diversos segmentos de Itaituba, incluindo alguns empresários, de que a construção da hidrelétrica de São Luis, que será a maior das que estão previstas para o Tapajós, será uma maravilha para este município, uma vez que serão criados muitos empregos, além de compras que poderão ser feitas, aumentando a circulação de dinheiro na praça.
Quem pensa apenas assim não gosta de Itaituba, porque existirão as conseqüências positivas, sem dúvida, mas, não se pode olvidar as negativas, que serão muitas. Essas, começarão pelo inchaço populacional provocado pela imigração de centenas de famílias que virão de todas as partes atrás de emprego. Muitas pessoas talvez conseguirão uma ocupação temporária. Mas, quando a obra acabar, o que elas vão fazer da vida? Há, ainda, a questão do deslocamento das comunidades que terão que desocupar a área a ser inundada. Para onde irá esse povo, a não ser para a periferia de Itaituba?
Este é um assunto muito sério, o qual nos diz respeito de forma direta. Diante dele, não devemos fazer como o avestruz, que enterra a cabeça quando o perigo se aproxima. Temos o dever de provocar a discussão dessa obra, que vai servir, primordialmente, para levar energia para a Alcoa, em Juruti, e para o sul e para sudeste do Brasil. Para Itaituba, daqui há alguns anos deverá haver uma melhora no repasse do ICMS. Mas, a que preço para o município e para a Natureza? Portanto, não digo que saiamos por aí fazendo passeatas, gritando palavras de ordem contra a construção das hidrelétricas, que repito, são necessárias para o País, mas, que também não fiquemos acovardados diante de mega obras como dessas que vêm por aí, que vão mexer com a vida da gente, para o bem e para o mal. Nós é que deveremos dar essa guinada, fazendo nossa voz ser ouvida. É preciso seguirmos o exempl

Cel. Godinho: Itaituba vira casa de mãe Joana nos finais de semana

Quem vive em Itaituba já ouviu falar no CPR 10, que é a sigla para Comando de Policiamento Regional 10. Porém pouca gente sabe do que se trata, ou quais são as suas atribuições. Há pouco mais de vinte dias chegou a Itaituba o tenente-coronel Waldimilson Godinho de Morais Filho para assumir o comando desse braço da Polícia Militar do Estado. No último dia 24 o coronel Godinho recebeu a reportagem do Jornal do Comércio para uma conversa de quase uma hora, durante a qual ele falou dos trabalhos que pretende realizar aqui, da repressão às bagunças nos finais de semana e de muitas outras coisas.
JC – Porque a população de Itaituba e da região sabe pouco a respeito do CPR 10?
Cel. Godinho – O que tem acontecido é que tem faltado informação nossa, da Polícia Militar para a sociedade de Itaituba. Mas, eu estou consertando este erro. Semana passada, dia 21 de Abril, fizemos uma solenidade na orla, próximo da Igreja de Sant’Ana, para mostrar que nós existimos, para mostrar o nosso poder de foto aqui em Itaituba contra a bandidagem.
O Comando Regional 10 faz parte de um conjunto de comandos regionais aqui no Pará. Todos os grandes municípios têm um comando regional que administra vários batalhões.
Como medida para aproximar mais este comando da comunidade, nós vamos sair do endereço onde estamos, que fica muito escondido, para nos estabelecermos num local onde haja maior visibilidade. Deveremos ir para a orla, que é um dos locais mais problemáticos, o qual será fiscalizado 24 horas. Quem tiver uma casa para alugar, a qual sirva para a gente se instalar, deve nos procurar. Inclusive, vamos contar com a ajuda daquele posto avançado de policiamento que vai ser reinaugurado no Porto da Balsa.
JC – O CPR 10 tem ascendência sobre o 15º BPM?
Cel. Godinho – Sim. Nós temos ascendência funcional. Inclusive, o oposto de comando aqui no CPR 10 deve ser ocupado por um coronel, enquanto de batalhão para baixo deve ser tenente-coronel. Eu sou tenente-coronel, porém, sou o mais antigo na patente dentro da Polícia Militar. Estou próximo a almejar o posto de coronel. Eu vim aqui preparar o terreno para ser promovido e deixar um outro tenente-coronel apto para assumir as funções no CPR 10.
JC – Quais são suas metas de trabalho à frente do CPR 10?
Cel. Godinho – Policiamento tem que ser diuturno. Tem que estar 24 horas por dia no ar. Sabemos que a 19ª Seccional de Polícia Civil tem carências. Dispõe de quatro delegados, mas um está de férias; mas, está sem um só investigador, o que é um absurdo. Nem escrivão tem lá. E com a implementação da Zona de Policiamento (ZPOL), lá, a gente vai trabalhar em parceria.
Nossa meta é colocar policiamento 24 horas. Já colocamos dez homens, de manhã e de tarde na área comercial, na Hugo de Mendonça e na Cidade Alta; vamos reativar o posto avançado próximo da escola Djalma Serique, no bairro da Floresta, já reunimos com a comunidade do bairro Jardim Aeroporto, dia 1º de Maio vamos reunir no Jardim das Araras, dia 2 na comunidade Santa Luzia, dia 3 no bairro da Liberdade e
bairro Vitória Régia. A gente está fazendo uma revolução nessa questão do policiamento comunitário.
JC –Qual é quadro atual da violência em Itaituba?
Cel. Godinho – Eu estou aqui há uns vinte dias, mais ou menos, e tenho procurado fazer um trabalho incansável, trabalhando até de madrugada, muitas vezes, porque Itaituba, nos finais de semana, a partir das duas horas da manhã vira Casa da Mãe Joana. Isso sexta, sábado e domingo. Vira um hospício.
Eu tenho comandado uns patrulhões, fiscalizando bares, boates, etc... A gente nota que há irregularidades de um modo geral. Não se obedece à legislação, inclusive quanto ao horário de fechamento dos estabelecimentos. Tem peixaria que o alvará permite trabalhar até uma hora da manhã, mas ela funciona até as seis horas da manhã. É gente com som altíssimo. Se o cara quer ouvir som alto, que compre um walkman e coloque no seu ouvido a todo volume. Não é todo mundo que gosta de música alta. Tenho fechado bares e boates por causa de irregularidades.
Um absurdo que a gente tem visto são menores bêbados, dirigindo carros ou motos. Se são menores, não podem ser habilitados; e os pais nem sabem onde andam seus filhos. Sexta, sábado e domingo muitos pais não sabem onde andam seus filhos. Eu acho que esses pais saem da cidade no final de semana, esquecendo-se que tem uma semente aqui. Eles têm que pegar os filhos e levar os mesmos junto.
Nós temos feito um trabalho de repressão com referência a isso. É uma repressão sem agressão. Eu converso, oriento para ver se dá um jeito. Ou os donos dos estabelecimentos cumprem o horário estabelecido nos alvarás, ou a gente vai ter que continuar fechando os mesmos. Eu conversei com representantes do Ministério Público de Itaituba e eles avalizaram o nosso trabalho.
Eu estive fazendo uma batida policial na Boate Play Boy e constatei que lá eles servem bebida alcoólica para menores utilizando inclusive garrafas de vidro. E alguns menores são tão audaciosos que ainda vem fazer pouco da nossa cara. Além dos menores que freqüentam lá, freqüenta também um bando de senhores que tem filhos adolescentes. Em vez de estarem fiscalizando seus filhos, estão dando mau exemplo. Eu tive problema com um senhor de uns 60 anos de idade, que foi me peitar porque eu estava fechando a boate. Eu perguntei se ele era cego ou se era doido, porque a quantidade de menores que havia ali, numa situação de risco, era enorme. Temos encontrado menor de 12 anos de idade, dentro da boate, acompanhado da mãe, o que é ainda mais grave. Aquela boate, você entra ali e se depara com tanta fumaça, que é difícil ficar com os olhos abertos.
Nós vamos ter novos patrulhões, a partir deste final de semana. Se detectarmos as mesmas irregularidades, os estabelecimentos serão fechados, de novo; tem uma peixaria na frente do terminal hidroviário que vende bebida alcoólica para menores e é bebida forte, cachaça. Eu fechei o local porque, além do mais, não tinha alvará. Orientei o dono a não voltar a fazer isso, pois da próxima vez que eu flagrar ele está informado de que eu vou prendê-lo.
Nas novas operações que a gente vai fazer, estaremos acompanhados de delegados da Polícia Civil, do Conselho Tutelar, convidamos o Ministério Público e o Dr. Isaac disse que quer participar dessas operações. Então, quem não tem costume de obedecer a Lei, ou se ajeita, ou vai morar noutra cidade, ou noutro país. Itaituba, por sua evolução, por seu crescimento, merece respeito.
JC – O senhor já serviu em Itaituba?
Cel. Godinho – Sim, servi. Em 1993 eu vim aqui para instalar o 15º Batalhão de Polícia Militar. O então governador Jader Barbalho veio aqui entregar o prédio, onde funcionava a Johil, o qual não estava preparado para abrigar um batalhão. Na época, muitos empresários ajudaram para que a gente fizesse as adaptações necessárias. Lembro que o Afábio Borges, o Juarez e o Paulo da Jandaia, dentre tantos outros, ajudaram.
Na verdade, Deus reserva algumas missões para a gente. Agora eu era o chefe de gabinete do comandante geral da Polícia Militar, o coronel Dário, e ele me convocou para esta missão de montar o policiamento comunitário aqui, o que a gente está fazendo. Se o governo do Estado quiser me deslocar para outro município, depois que concluir este trabalho aqui, terei que ir para onde for preciso. Mas, este trabalho deve levar em torno de um ano para ser concluído.
JC – Há algum lugar de Itaituba onde a violência preocupe mais que em outros?
Cel. Godinho – A gente está tendo problemas no km 30 (Distrito de Campo Verde). Eu conversei com o delegado Tiago Rabelo, que agora está de férias, e com a delegada Flávia, a respeito do assunto. Vamos ter que colocar um comandante enérgico, que resolva o problema.
O principal problema lá é o número de armas que existe. Para dar um basta, vamos fazer uma operação com o intuito de desarmar a população de lá. Inclusive, vamos pedir autorização da Justiça para fazer averiguações dentro das residências. Tem muita gente armada lá e não se trata de arma de fogo para caçar. É arma para matar, mesmo. Temos que nos mobilizar para diminuir o nível da criminalidade naquela comunidade.
JC –De um modo geral, como o senhor classifica o índice atual de violência em Itaituba?
Cel. Godinho – Considero bastante baixo para uma cidade do padrão de Itaituba. Hoje, o problema se restringe mais à baderna, do que outros tipos de violência. São muitos desocupados que passam o dia dormindo, para aprontar de noite. Quando esse pessoal, que é igual morcego, que dormi de dia para sair à noite, parar com isso, vai melhorar.
Aos pais eu lembro que se seus filhos, principalmente os menores, estão aprontando por aí, que a responsabilidade é deles, pais, que tem que saber onde andam seus filhos. Quando a gente começar a reprimir os pais, aí eles vão começar a puxar a orelha dos filhos. Nós já detivemos vários menores, que foram encaminhados para o Conselho Tutelar. Houve o caso de uma senhora que não acreditava que o filho dela estava sendo apreendido e ela sendo presa.
JC – O CPR 10 faz um trabalho de parceria com a comunidade?
Cel. Godinho – Isso mesmo. Nós fazemos um trabalho em parceria com a comunidade. Estamos sempre abertos ao diálogo, aceitando sugestões para aprimorar o nosso trabalho. Já está decidido que em breve vamos mudar o nosso fardamento, que terá uma cor mais amena. Vai ser um verde mais claro, uma cor menos agressiva, porque eu acho que depois do episódio de Eldorado do Carajás esta cor atual ficou muito agressiva. Tudo isso com o objetivo da gente estar mais próximo da comunidade, evitando qualquer coisa que possa nos afastar.

Onde anda o CREA?

O CREA tem representação em Itaituba e fica bem em frente ao apartamento onde este blogueiro mora. Entretanto, não é das mais atuantes no Estado, com certeza. Basta dar uma volta pela cidade para ver se a gente encontra alguma placa indicando a fiscalização do conselho. A foto ilustra isso. Uma construção em pleno centro cidade, sem nenhuma indicação do projeto, se é que ele existe.
Posted by Picasa