quinta-feira, abril 30, 2009

Seminário vai discutir hidrelétrica no Tapajós

Dia 30 de abril e dia 1ª de maio será realizado em Itaituba, no Parque de Exposição Hélio Mota Gueiros e em São Luis do Tapajós, o II Seminário com o objetivo de discutir a construção de usinas hidrelétricas no Rio Tapajós, para o qual está prevista a implantação de cinco unidades, a maior delas, com quase onze mil quilowatts, que ficará às proximidades de uma das comunidades mais tradicionais deste município, que é São Luis.
O evento está sendo organizado pelo Fórum da BR 163 e conta com o apoio de diversas entidades. Trata-se de uma questão de muita relevância, que ainda não despertou a atenção da comunidade itaitubense. Tem gente que está pensando apenas nos lucros que essas obras poderão trazer, esquecendo-se que existem impactos profundos, tanto para o meio ambiente, quanto para os seres humanos diretamente afetados, pois algumas comunidades deverão simplesmente desaparecer.
A reportagem do Jornal do Comércio conversou com duas pessoas que estão à frente dos trabalhos de organização do seminário. Jeselita Gouveia e João Gerdau Paiva Diniz Jr.
Jeselita Gouveia, que esteve envolvida diretamente na coordenação do I Seminário, faz parte do Fórum da BR 163. O primeiro foi organizado num espaço de tempo bem curto, o que fez com que não fosse possível abranger um número maior de pessoas e entidades. Mesmo assim, ela diz que o resultado foi bom.
“Para este segundo seminário a gente está trabalhando até com mais segurança porque a gente já tem a experiência do primeiro. Estamos esperando a presença de representantes da Eletrobrás, do Ministério de Minas e Energia. O ministro Edson Lobão não poderá vir porque tem compromisso anteriormente marcado, mas ficou de mandar alguém para representá-lo, o deputado federal Antônio Feijão pediu que a gente mandasse o convite para ele, que deseja participar das discussões” disse Jeselita.
Perguntada sobre o que ela acha que vai sair de prático dessa discussão, Jeselita disse que espera que o governo diga com clareza o que vai ser feito e como vai ser feito, de que forma as comunidades a serem afetadas serão remanejadas, se vai haver alguma indenização para elas, porque até este momento nada foi dito nesse sentido.
“O governo não conversa com a gente. Ele esconde as informações, para quando chegar na hora, quando a obra já estiver pronta, não dar mais para a gente fazer nada. Por esse ângulo, o que tiver de acontecer vai acontecer, caso a gente fique inerte. O governo evita a discussão. Nós somos uma região de extrativismo, vegetal e mineral, onde não se pode extrair quase nada. E ainda vem o governo com uma obra como essa, a qual não quer discutir com as partes envolvidas. Várias comunidades vão desaparecer do mapa e o governo se omite de discutir uma coisa tão grave como essa.
O que nós queremos é que a comunidade compreenda que não temos a intenção de prejudicar ninguém, porque tem gente pensando que todo mundo vai ficar rico por aqui. Mas, as informações que temos não batem com essa expectativa. O que vai acontecer é que vai vir muita gente de fora atrás dos empregos que a obra poderá gerar. Isso vai fazer com haja um inchamento da população, aumentando os problemas sociais. Nós deveríamos seguir o exemplo de Altamira, que não deixou o governo fazer a hidrelétrica de Belo Monte do jeito que queria, Mas, lá eles são organizados. Nós ainda estamos muito longe disso”, afirmou Jeselita.
Gerdau – “A gente não consegue entender o que está acontecendo, porque quando a gente pesquisa a respeito do assunto hidrelétricas do Rio Tapajós, as informações que se capta são de que os impactos ambientais e sociais serão mínimos. Em momento algum essas informações citam que existem comunidades dentro da área onde vai ficar, por exemplo, a hidrelétrica nominada como de São Luis. Eles tiram do mapa comunidades históricas como Pimental, que tem mais de cem anos, São Luis, que é ainda bem mais antiga, Vila Rayol, do outro lado do rio. Então, todas essas comunidades não estão sendo levadas em conta. Acima de Pimental, informou Gerdau, há uma aldeia indígena Mundurucu nova em formação. Essa aldeia Certamente será afetada.
O governo está omitindo essas informações e além de omitir, não senta com essas comunidades para discutir o problema que elas enfrentarão. Isso tudo preocupa e por isso realizamos o primeiro seminário, em janeiro e agora estamos para realizar o segundo. No primeiro seminário, a bem da verdade, houve uma fraca participação da sociedade itaitubense. Agora no segundo, que a gente teve mais tempo para organizar e o qual está tendo uma melhor divulgação, esperamos muito mais pessoas”.
“Vamos deixar claro que não somos contra a construção dessa hidrelétrica. O que defendemos é que o governo construa essa proposta a partir da base, discutindo o assunto com a sociedade. O que não podemos aceitar é a imposição de cima para baixo, passando o rolo compressor por cima da gente” falou Gerdau.
Na visão desse integrante do Fórum da BR 163, o maior exemplo no qual Itaituba deve espelhar-se é Belo Monte, cuja construção vem sendo discutida há mais ou menos vinte anos. Há vinte anos, lembrou Gerdau, a índia Tuíra passou o facão na cara de um engenheiro que defendia a obra. Mais recentemente, durante as discussões, um engenheiro foi cortado no braço pelos índios, gerando um incidente que teve grande repercussão, assim como o primeiro, que também foi noticiado até fora do Brasil.
“Parece que para o governo, quanto menos conversas com as comunidades, o efeito rolo compressor pode ser maior. Então, já que no caso de Belo Monte a sociedade civil está organizada, lutando pela não construção da hidrelétrica naquela região, o governo volta o foco para o Tapajós, onde as comunidades estão desinformadas e, principalmente, desorganizadas. Já está se falando em licitação da obra até o final do presente ano, ou começo do próximo, os estudos de impacto ambiental foram todos feitos. Por quê? Porque nós estamos totalmente desarticulados” afirmou Gerdau. A responsabilidade de discutir essa obra não deve ser transferida somente para as comunidades mais próximas de onde a hidrelétrica de São Luis vai acontecer, para falar apenas dessa, que é a bola da vez. Toda a sociedade itaitubense, que depende do Rio Tapajós, Aveiro e Santarém, todos têm o dever de levantar questionamentos. Vários setores serão afetados por isso. Segundo as informações de Gerdau, o Rio Tapajós, no verão, poderá não ser navegável abaixo da barragem. São dúvidas que precisam ser tiradas e isso cabe ao governo, que é o responsável pela obra. Há muitas informações desencontradas. Daí a urgência de se discutir tudo que diz respeito a essa obra muito grande.
“O Brasil precisa de mais energia e não vai poder abrir mão dessa energia que será gerada a partir das hidrelétricas do Rio Tapajós. Mas, o que não está certo é se construir as mesmas para abastecer a Alcoa, pois essa empresa vai precisar de muita energia e Juruti fica distante há apenas 178 quilômetros, pelo ramal de São Jorge, e para abastecer as indústrias do sul e do sudeste. O município de Itaituba terá um ganho com o aumento do seu repasse de ICMS. Mas, qual será o custo social e ambiental disso”, finalizou Gerdau.

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