segunda-feira, julho 07, 2008
Jonal do Comércio já circula
Desde o final da tarde desta segunda, está circulando a edição número 66, do Jornal do Comércio. Cobertura completa sobre os mais recentes acontecimentos políticos de Itaituba estão no JC. Algumas matérias e alguns artigos estão publicado abaixo. O Jornal do Comércio pode ser comprado na Banca de Revistas Discoban, ao lado do Banpará.
Procura-se!
Jota Parente - Editor responsável
Candidato honesto, que nunca tenha se envolvido em nenhuma falcatrua, que nunca tenha respondido a nenhum processo na Justiça, que não goste de conluios, de gestão fraudulenta, de licitações viciadas, de privilegiar amigos nas compras para órgãos públicos; que tenha ojeriza a nomear assessores enrolados, que seja contra o nepotismo e que não seja personagem de novela; candidato que não precise gastar tudo que tem, com a intenção de recuperar cada centavo investido na campanha, com juros e correção monetária quando tiver a chave do cofre público; tampouco, que não faça uso do poder político ou da máquina pública para granjear votos.
Procura-se eleitor consciente, que saiba quão importante é seu voto. Eleitor que não peça nada em troca; nem um sapato novo, nem um emprego para si ou para alguém da família; eleitor que possa olhar-se no espelho, perguntar-se e responder com sinceridade: O que faria se tivesse a oportunidade de dar um bom emprego a cada um dos meus parentes e amigos mais achegados, no caso de ser eu eleito para algum cargo público? Evitaria o nepotismo? Pensaria primeiro nos outros para depois resolver os problemas desses mais próximos?
Procura-se candidato a prefeito que traga um bom programa de governo debaixo do braço, com metas possíveis de serem cumpridas, entre as quais não haja promessa de construir ponte sobre o Rio Tapajós e outros absurdos; candidato que não faça o eleitor se convencer, cada vez mais, que político honesto é uma lenda urbana, ou, que político honesto é igual a bandido bom: nasce morto.
Procura-se eleitor que na hora de votar lembre-se que trabalha 142 dias por ano somente para pagar impostos para o governo; que se lembre que boa parte de todos os tributos que paga volta para o município, para os cofres da Prefeitura; que no caso de entregar a chave desse cofre para a pessoa errada, o dinheiro do seu suor escorrerá pelo ralo da malversação, da corrupção ou da aplicação errada.
Procura-se candidato que tenha consciência de que tomará posse do cargo para o qual tiver sido eleito, em vez de apossar-se do mesmo como se fosse um bem próprio com o qual poderá fazer tudo que der na cabeça; alguém que se lembre que o Poder, por mais que dure, é efêmero e emana o povo; alguém que tenha lido, e seu não leu, que lei ao menos uma vez o Último Discurso, do filme O Último Imperador, do genial Charles Chaplin, que serve, tanto para candidato, quanto para eleitor.
"Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, o gentio... negros... brancos.
Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.
Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!"
Lembre-se: o que está começando neste momento não é uma brincadeira de gato e rato.
Entramos num período eleitoral no qual o eleitor deve se comportar como um observador privilegiado, que tem o dever de escolher aqueles a quem vai entregar os destinos do município em que vive, seja para o Poder Executivo, ou para o Poder Legislativo; alguém que se coadune de alguma forma com o discurso escrito por Charles Chaplin; gente que se de fato se preocupe com gente, com o coletivo, em vez de pensar em apenas se locupletar no Poder. Destarte, todos nós somos diretamente responsáveis pelo que vai acontecer com a administração do município de Itaituba nós próximos quatro anos, quando assumir o novo prefeito, a partir de 1º de janeiro de 2009.
Candidato honesto, que nunca tenha se envolvido em nenhuma falcatrua, que nunca tenha respondido a nenhum processo na Justiça, que não goste de conluios, de gestão fraudulenta, de licitações viciadas, de privilegiar amigos nas compras para órgãos públicos; que tenha ojeriza a nomear assessores enrolados, que seja contra o nepotismo e que não seja personagem de novela; candidato que não precise gastar tudo que tem, com a intenção de recuperar cada centavo investido na campanha, com juros e correção monetária quando tiver a chave do cofre público; tampouco, que não faça uso do poder político ou da máquina pública para granjear votos.
Procura-se eleitor consciente, que saiba quão importante é seu voto. Eleitor que não peça nada em troca; nem um sapato novo, nem um emprego para si ou para alguém da família; eleitor que possa olhar-se no espelho, perguntar-se e responder com sinceridade: O que faria se tivesse a oportunidade de dar um bom emprego a cada um dos meus parentes e amigos mais achegados, no caso de ser eu eleito para algum cargo público? Evitaria o nepotismo? Pensaria primeiro nos outros para depois resolver os problemas desses mais próximos?
Procura-se candidato a prefeito que traga um bom programa de governo debaixo do braço, com metas possíveis de serem cumpridas, entre as quais não haja promessa de construir ponte sobre o Rio Tapajós e outros absurdos; candidato que não faça o eleitor se convencer, cada vez mais, que político honesto é uma lenda urbana, ou, que político honesto é igual a bandido bom: nasce morto.
Procura-se eleitor que na hora de votar lembre-se que trabalha 142 dias por ano somente para pagar impostos para o governo; que se lembre que boa parte de todos os tributos que paga volta para o município, para os cofres da Prefeitura; que no caso de entregar a chave desse cofre para a pessoa errada, o dinheiro do seu suor escorrerá pelo ralo da malversação, da corrupção ou da aplicação errada.
Procura-se candidato que tenha consciência de que tomará posse do cargo para o qual tiver sido eleito, em vez de apossar-se do mesmo como se fosse um bem próprio com o qual poderá fazer tudo que der na cabeça; alguém que se lembre que o Poder, por mais que dure, é efêmero e emana o povo; alguém que tenha lido, e seu não leu, que lei ao menos uma vez o Último Discurso, do filme O Último Imperador, do genial Charles Chaplin, que serve, tanto para candidato, quanto para eleitor.
"Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, o gentio... negros... brancos.
Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.
Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!"
Lembre-se: o que está começando neste momento não é uma brincadeira de gato e rato.
Entramos num período eleitoral no qual o eleitor deve se comportar como um observador privilegiado, que tem o dever de escolher aqueles a quem vai entregar os destinos do município em que vive, seja para o Poder Executivo, ou para o Poder Legislativo; alguém que se coadune de alguma forma com o discurso escrito por Charles Chaplin; gente que se de fato se preocupe com gente, com o coletivo, em vez de pensar em apenas se locupletar no Poder. Destarte, todos nós somos diretamente responsáveis pelo que vai acontecer com a administração do município de Itaituba nós próximos quatro anos, quando assumir o novo prefeito, a partir de 1º de janeiro de 2009.
Informe JC
PSC + PPS I
Desde 2007 que PPS tinha decidido que não queria nem conversa com partido da base aliada do prefeito Roselito Soares, que tivesse vereador em seus quadros. E não adiantaram conversas tentando fazer a turma do partido de Roberto Freire mudar de idéia.
PSC + PPS II
O ex-vereador Hilton Aguiar, com longa vivência na política, percebeu aí uma ótima oportunidade para também se livrar de companhias nada desejáveis, pelo fato de já saírem na frente por serem detentores de mandatos. Levou seu PSC para as bandas do PPS do professor Antônio Martins e deu-se o casamento.
PSC + PPS III
Tem gente, tanto dento do grupo político de Roselito Soares, do qual esses dois partidos fazem parte, quanto de grupos adversários, achando que PSC e PPS poderão morrer abraçados, pois entendem que será difícil para essa coligação para a eleição proporcional conseguir alcançar o coeficiente eleitoral, que pode ficar entre 4.500 e 4.700 votos, segundo estimativas. Mas, Hilton sabia que se coligasse no chamado "grupão" do prefeito, suas chances de se eleger seriam muito menores. Assim sendo, tanto ele, quanto os demais candidatos de seu partido e os do PPS preferiram correr esse risco calculado.
Grupo Camicase I
Tal qual os pilotos japoneses do final da segunda Guerra Mundial, os famosos Camicases, que sabiam estar se dirigindo para o alvo inimigo com o fim de destruí-lo, mas, também para dar fim à própria vida, os candidatos a vereador do grupo do prefeito Roselito Soares, com mandato, estão indo para o sacrifício. Os que não são vereadores, também.
Grupo Camicase II
Sete vereadores fazem parte da mesma coligação. São eles: César Aguiar, Paulo Gasolina, Maria Pretinha, Dico, Antônio Cardoso, Viana e Cebola, o que significa que pelo menos três ou quatro deles não conseguirão se reeleger, pois continuam sendo apenas onze as cadeiras no Parlamento de Itaituba. Isso, sem levar em conta que dentro do próprio grupo podem aparecer dois ou três candidatos novatos que surpreendam. Aí, o estrago seria maior. Quem olha como observador considera que teria sido melhor dividir os vereadores em dois grupos, com o PPS e o PSC juntos.
Rotary
Mudou a diretoria do Rotary Clube, sábado passado, 5 de junho. Célia Serique (e demais membros da diretoria) cumpriu com êxito seu mandato, passando presidência para Manoel Salomão Silva, que já ocupou o cargo anteriormente. Parabéns para Célia pelo trabalho e boa sorte para Salomão e equipe na jornada que começam.
Celso
O advogado Celso Trierweiler é o coordenador da campanha do prefeito Roselito Soares. Ele é o homem forte da campanha. Nenhuma decisão mais aguda a respeito dos passos políticos da coligação que apóia Roselito é tomada sem que ele seja consultado, como deve ser quando há uma coordenação com voz ativa. Em conversa informal com a coluna ele disse, que se depender de sua orientação, a campanha política deste ano vai manter um nível civilizado. Celso tem conversado com os candidatos a esse respeito. Nada de mexer com a vida particular dos
adversários. Nessa particular a coluna concorda, sem restrições.
Pouca gente
A intenção do vereador Paulo Gasolina de trazer técnicos do Tribunal de Contas dos Municípios para promoverem o Ciclo de Capacitação para vereadores e outros agentes públicos, foi excelente. O que não foi legal foi o período escolhido, que coincidiu com os últimos dias de convenções partidárias, fato que tirou completamente a atenção dos vereadores. Os de Itaituba passaram longe. Esse tipo de treinamento é fundamental para que pessoas que lidam com dinheiro público saibam como fazer as coisas direito.
Cardoso preocupado
Moraes Almeida tem três ou quatro candidatos a vereador, o que vai fazer com que a votação seja muito dividida, comprometendo as chances de cada um. Isso está preocupando muito o vereador Antônio Cardoso, que foi muito bem votado naquele distrito na eleição de 2004. Para piorar, o PMDB apresentou um candidato que parece ter caído no gosto do povo de Moraes. Trata-se de um madeireiro conhecido por Irata, que é a maior ameaça ao reduto de Cardoso, que está cuidando de tentar de conseguir votos na cidade de Itaituba e em comunidades interioranas.
Maia x Maria
Em Santarém vai ter briga boa entre a atual prefeita, Maria do Carmo (PT) e o deputado federal Lira Maia (DEM), seu antecessor no cargo. No quesito alianças, Maria saiu na frente de Maia, que tentou conquistar o médico Nélio Aguiar (PPS) para seu vice, o qual preferiu aceitar o convite da prefeita para sair candidato a vereador na coligação dela. Maia é bom de voto e disso ninguém tem dúvida. Mas, Maria tem a máquina à sua disposição. Será uma verdadeira briga de titãs.
Desde 2007 que PPS tinha decidido que não queria nem conversa com partido da base aliada do prefeito Roselito Soares, que tivesse vereador em seus quadros. E não adiantaram conversas tentando fazer a turma do partido de Roberto Freire mudar de idéia.
PSC + PPS II
O ex-vereador Hilton Aguiar, com longa vivência na política, percebeu aí uma ótima oportunidade para também se livrar de companhias nada desejáveis, pelo fato de já saírem na frente por serem detentores de mandatos. Levou seu PSC para as bandas do PPS do professor Antônio Martins e deu-se o casamento.
PSC + PPS III
Tem gente, tanto dento do grupo político de Roselito Soares, do qual esses dois partidos fazem parte, quanto de grupos adversários, achando que PSC e PPS poderão morrer abraçados, pois entendem que será difícil para essa coligação para a eleição proporcional conseguir alcançar o coeficiente eleitoral, que pode ficar entre 4.500 e 4.700 votos, segundo estimativas. Mas, Hilton sabia que se coligasse no chamado "grupão" do prefeito, suas chances de se eleger seriam muito menores. Assim sendo, tanto ele, quanto os demais candidatos de seu partido e os do PPS preferiram correr esse risco calculado.
Grupo Camicase I
Tal qual os pilotos japoneses do final da segunda Guerra Mundial, os famosos Camicases, que sabiam estar se dirigindo para o alvo inimigo com o fim de destruí-lo, mas, também para dar fim à própria vida, os candidatos a vereador do grupo do prefeito Roselito Soares, com mandato, estão indo para o sacrifício. Os que não são vereadores, também.
Grupo Camicase II
Sete vereadores fazem parte da mesma coligação. São eles: César Aguiar, Paulo Gasolina, Maria Pretinha, Dico, Antônio Cardoso, Viana e Cebola, o que significa que pelo menos três ou quatro deles não conseguirão se reeleger, pois continuam sendo apenas onze as cadeiras no Parlamento de Itaituba. Isso, sem levar em conta que dentro do próprio grupo podem aparecer dois ou três candidatos novatos que surpreendam. Aí, o estrago seria maior. Quem olha como observador considera que teria sido melhor dividir os vereadores em dois grupos, com o PPS e o PSC juntos.
Rotary
Mudou a diretoria do Rotary Clube, sábado passado, 5 de junho. Célia Serique (e demais membros da diretoria) cumpriu com êxito seu mandato, passando presidência para Manoel Salomão Silva, que já ocupou o cargo anteriormente. Parabéns para Célia pelo trabalho e boa sorte para Salomão e equipe na jornada que começam.
Celso
O advogado Celso Trierweiler é o coordenador da campanha do prefeito Roselito Soares. Ele é o homem forte da campanha. Nenhuma decisão mais aguda a respeito dos passos políticos da coligação que apóia Roselito é tomada sem que ele seja consultado, como deve ser quando há uma coordenação com voz ativa. Em conversa informal com a coluna ele disse, que se depender de sua orientação, a campanha política deste ano vai manter um nível civilizado. Celso tem conversado com os candidatos a esse respeito. Nada de mexer com a vida particular dos
adversários. Nessa particular a coluna concorda, sem restrições.
Pouca gente
A intenção do vereador Paulo Gasolina de trazer técnicos do Tribunal de Contas dos Municípios para promoverem o Ciclo de Capacitação para vereadores e outros agentes públicos, foi excelente. O que não foi legal foi o período escolhido, que coincidiu com os últimos dias de convenções partidárias, fato que tirou completamente a atenção dos vereadores. Os de Itaituba passaram longe. Esse tipo de treinamento é fundamental para que pessoas que lidam com dinheiro público saibam como fazer as coisas direito.
Cardoso preocupado
Moraes Almeida tem três ou quatro candidatos a vereador, o que vai fazer com que a votação seja muito dividida, comprometendo as chances de cada um. Isso está preocupando muito o vereador Antônio Cardoso, que foi muito bem votado naquele distrito na eleição de 2004. Para piorar, o PMDB apresentou um candidato que parece ter caído no gosto do povo de Moraes. Trata-se de um madeireiro conhecido por Irata, que é a maior ameaça ao reduto de Cardoso, que está cuidando de tentar de conseguir votos na cidade de Itaituba e em comunidades interioranas.
Maia x Maria
Em Santarém vai ter briga boa entre a atual prefeita, Maria do Carmo (PT) e o deputado federal Lira Maia (DEM), seu antecessor no cargo. No quesito alianças, Maria saiu na frente de Maia, que tentou conquistar o médico Nélio Aguiar (PPS) para seu vice, o qual preferiu aceitar o convite da prefeita para sair candidato a vereador na coligação dela. Maia é bom de voto e disso ninguém tem dúvida. Mas, Maria tem a máquina à sua disposição. Será uma verdadeira briga de titãs.
Cinquenta anos do garimpo de ouro do Tapajós
Luiz Preto: Quatro décadas dedicadas ao garimpo
Quando nasceu, no Ceara, no município de Juazeiro do Norte, no dia 02 de janeiro de 1945, seus pais lhe deram o nome de Luiz Silva de Sousa, mas, ficou mesmo conhecido foi pelo apelido de Luiz Preto. Em 1957 deixou seu Ceará por causa de um forte seca, mudando-se para o Maranhão. Ele tem passado a maior parte de sua vida, mais de quatro décadas, exercendo a atividade de garimpeiro. É esse personagem bastante conhecido na região, o destaque desta edição na série de reportagens sobre o cinquentenário da garimpagem no Tapajós.
"Eu comecei a trabalhar em garimpo, no ano de 1965, já vivendo no Estado do Pará. Chamava-se garimpo do Cajueiro, na margem do Rio Araguaia, no município de São Geraldo do Araguaia. Deu pra fazer um dinheirinho lá. Depois voltei para o Maranhão, onde trabalhei num garimpo perto de Imperatriz. Eu tinha só vinte anos de idade. Passei um tempo em Marabá, onde não dei muita sorte. No verão de 1970 mexi com caça de gato do mato para vender a pele. Em 1971 fichei na ECIR, que trabalhava na construção da Transamazônica, de Marabá para Itaituba. No verão de 1974 estava desempregado. Depois de trabalhar na juquira durante o inverno, eu vim tentando conseguir alguma firma para fichar, até que cheguei a Itaituba. Tomei conhecimento das atividades de garimpo, me animei e resolvi entrar. Entrei no dia 28 de novembro de 1974 levado para o Marupá pelo seu Argemiro, irmão do seu Lulu do Juliana Park Hotel.
Nesse tempo tinha dono de garimpo que cobrava até 45 diárias numa passagem para garimpo. Eu tive sorte de achar aquele cidadão que me levou por apenas 16 diárias. O preço era 32 gramas de ouro pela passagem; como ele pagava dois gramas por diária, com 16 dias trabalhados a gente pagava a passagem de avião.Teve um que cobrava 45 diárias, quer me perguntou se eu não queria ir. Eu respondi que não, porque não era ladrão do meu próprio bolso.
A gente foi direto para a pista velha do Marupá; aquela mesmo, que começa ao lado do cemitério, conhecida como a pista dos Sudário. Fui trabalhar com o seu Argemiro e com o seu Goiano, mais tarde, dono da Táxi Aéreo Goiás. Eles eram sócios. Naquele tempo o Goiano era pobre, daquele tipo que levantava às quatro e meia da manhã para fazer o café dele.
Fomos em três daqui. Chegando lá nos dirigimos direto para o baixão do Bem-Ti-Vi. Não era fácil! Um tinha que ficar para fazer e levar a merenda, enquanto dois saiam com escuro, pois a gente tinha que secar o barranco na lata, pois minava muita água. Quando dava lá pelas oito horas da manhã a gente terminava de secar o barranco para poder começar a trabalhar na busco do ouro.
Eu demorei bastante tempo nesse garimpo, porque o seu Argemiro e o seu Goiano foram excelentes patrões. Eu era brabo em garimpo de ouro e aprendi a trabalhar com eles. Fiquei mais de um ano lá com eles. Foi quando apareceu a chance de ir para outro serviço melhor, juntamente com o Vovô e o Felipão, dois crioulos das guianas que me ensinaram muitas coisas. Foram tempos muito difíceis. Eu só fui conseguir dinheiro para ir até a currutela depois de seis meses. Se tivesse tirado um ouro bom antes, talvez tivesse ido embora, pois eu custei a me acostumar com aquela vida, longe de tudo. A malária me achou muito cedo, com uns vinte dias que eu estava lá ela me pegou. Todo mês eu perdia uma semana ou mais. Mas, com o tempo fui me acostumando e estou até hoje no garimpo.
A situação melhorou quando eu encontrei um cidadão, também, muito bom, que foi o Zé da Roça, que vendia uns remédios com os quais eu me dei bem. Nesse tempo, no Marupá, eu já estava mais manso e cheguei a juntar mais de um quilo de ouro, quando eu tocava um serviço próprio, com mais de vinte pessoas trabalhando. A essa altura eu já vinha a Itaituba, comprava o rancho e levava num vôo completo. Houve um tempo em que eu gastava na currutela tudo que ganhava. Mas, depois eu vi que aquilo não tinha futuro e parei com as farras.
Algum tempo depois eu mudei para o garimpo Nova Vida, que era do Elídio Leal onde eu fiquei quase um ano; com isso, eu acabei completando quase quatro anos na região do Marupá. Passei um tempo explorando perto da pista do Luiz Barbudo, do final de 1978 para o início de 1979; foi quando aconteceu um negócio que não foi muito agradável no Marupá (quando a reportagem pergunta que tipo de negócio desagradável foi esse, Luiz Preto fica silencioso e desconversa) e aí eu tive que vir para Itaituba.
Nesse tempo uma malária braba me pegou. Um dia, subindo uma ladeira eu estava tão mal que eu achei que não iria conseguir chegar em cima. Dava um passo para frente e dois para trás, com muito sacrifício consegui chegar num barraco que havia lá. Sem comida, comi um jacu insosso; a fome estava braba e quando eu dei fé tinha comido quase tudo.
A chegada no Crepurizinho
Em Itaituba, onde vim tratar da malária, encontrei o Bitonho que eu já conhecia lá do Marupá. Ele tinha ido olhar o Crepurizinho. Ele me disse que eu tinha tudo para me dar bem por lá, pois havia bastante terra para ser explorada. O Crepurizinho já era uma curritela grande. Me contaram que a exploração de garimpo começou do final de 1959 para o começo de 1960. O Aluizio Mourão conhece tudo direitinho; ele sabe quando começou.
Vai fazer 30 anos que eu cheguei. No dia 28 de outubro de 1978 eu cheguei no Crepurizinho. Na noite daquele dia eu conheci um camarada chamado Raimundo Varador, com o qual eu fui para o baixão do Papagaio. Na manhã seguinte. Ele me vendeu um servicinho, fiado, que ele tinha lá com uma tralha, por cem gramas de ouro. Até hoje eu estou naquele lugar.
No Crepurizinho eu passei por momentos muito bons, mas, também vivi situações muito difíceis. Isso aconteceu (o bom) a partir do momento em que surgiu o trabalho com balsa, mais tarde veio a chupadeira e melhorou de 80% a 90%. Foi de 1982 para 1983. Eu cheguei a ter até 18 pares de máquinas. Foi um período em que a gente produziu bastante. Tinha um rapaz que trabalhava comigo, que anotava tudo; em pouco mais de dois anos e meio de exploração, até 1987, a gente produziu mais de 170 quilos de ouro.
Quando a situação estava muito boa, veio o governo do presidente Fernando Collor de Melo. O grama do ouro estava sendo vendido entre 850 mil e 890 mil Cruzeiros. Quem vive em Itaituba e na região de garimpo desde aquele tempo sabe muito bem do que estou falando. O Collor arrebentou com a gente. Eu mesmo afundei, pois eu tinha mais de cinco quilos de ouro que era para saldar uma conta de um milhão e duzentos mil Cruzeiros.
Eu pagaria a conta com mais ou menos um quilo e meio de ouro. Não vendi antes do Collor assumir, esperando melhorar o preço. O resultado foi que tive que vender todo o ouro para poder saldar a conta. Só não comecei do zero porque tinha um bom estoque de mercadorias e um bom estoque de óleo diesel. Se a gente tivesse tomado a decisão de parar por um tempo, talvez a gente tivesse se dado melhor, porque o que aconteceu foi que voltei a tocar o serviço, queimei o diesel todo e consumi a mercadoria e aí, sim, fiquei totalmente sem capital.
Naquele momento vieram outros problemas que pioraram a situação, que já era bem complicada. Veio separação de mulher, desonestidade de gente que trabalhava comigo, que não repassava direito o que era apurado. Apesar disso, eu nunca parei com a atividade garimpeira. Eu passo quinze dias aqui e um mês lá dentro. No início em passava seis meses lá e quinze em Itaituba. Tive que mudar porque eu não ia abandonar meus filhos, que foram largados pela mãe. São três, dois rapazes, um com dezoito anos, um com dezessete e uma moça dentro dos 14 anos.
Investimentos - Eu construi esta casa, que não está concluída, que tem quatorze compartimentos, comprei uma terra que vai do km 35 ao km 37, que se encontra invandida por um pessoal que diz ser Sem Terra; eu digo que não são Sem Terra, coisa nenhuma. É gente que viveu no garimpo, ganhou algum dinheiro, mas gastou tudo e se acostumou a tomar terra dos outros, desde aquele tempo. A terra está quase toda invadida. Ainda tenho um pouco de gado nessa fazenda e um pouco mais lá dentro, no Crepurizinho, que está melhor do que a fazenda daqui. Eu investi muito, também, em documentação de terra, tanto do solo como do subsolo.
Tenho uma terra no Crepurizinho que está quase toda regularizada, numa extensão de mais ou menos vinte mil hectares. Eu aguardo algum interesse desses grupos de estrangeiros que estão investindo na região, ou quem sabe, algum financiamento para poder eu mesmo explorar o ouro, que agora está muito mais difícil, mais profundo, pois o ouro mais raso está cada vez mais escasso. A terra em que eu estou trabalhando eu sinto que é muito boa, mas me falta o capital.
Algumas vezes corri risco de ser morto, como aconteceu quando estava construindo uma pista naquela região. Fui avisado por uma pessoa chamada Massa Bruta, de que o seu Lourival, dono de uma agência lá no Crepurizinho, aquele mesmo, que era bastante conhecido aqui em Itaituba, queria mandar me matar para evitar que eu construísse a pista.
Numa viagem de avião, do garimpo para Itaituba, ele fez a proposta para o Massa Bruta me matar, mas ele não aceitou fazer o serviço. O Massa Bruta disse que não faria porque eu era um trabalhador; ele me avisou sobre o que estava acontecendo para eu me cuidar. Eu tinha tentado fazer uma sociedade na pista que eu estava construindo, mas o Lourival não quis. Eu digo que eu escapei por pouco.
A juíza tomou meu garimpo
O momento mais difícil da minha vida de garimpeiro aconteceu quando eu fui coagido por uma juiza que trabalhou em Itaituba, chamada Cléa Maia. Ela tomou o garimpo que eu tocava na época, no inverno de 1984. Ainda tem gente daquele tempo que trabalha comigo. Outros, que não trabalham mais para mim estão na área para contar a história. Por causa disso eu passei vinte e dois dias preso. O delegado era o finado Miguel Apinagés.
Eu perdi tudo. Fui morar em casa alugada. As festas juninas de 84 eu passei preso na delegacia que funcionava onde é agora o Detran. Fui preso sem dever nada para a Justiça. Meu pecado era ser dono de uma terra que um caboco chamado Augusto Franco queria de qualquer jeito. Perdi a terra e quase perdi a vida; fui desmoralizado.
Eu estava na agência do Pai Velho para viajar, quando o delegado Miguel chegou e meu ordem de prisão. Ele ligou para a juiza e ela mandou me recolher. Naquela situação eu fui ajudado pelo Pai Velho, pelo seu Argemiro, pelo Goiano, pelo Irajá, pelo Zé da Roça e pelo Dr. Semir. Eu devo uma grande fineza do Dr. Semir, que me defendeu mesmo sabendo que eu não tinha dinheiro para nada naquela ocasião.
Todo o ouro que havia no garimpo o Augusto Franco tirou nos cinco ou seis anos que ele ficou lá. Ele construiu casa de trinta ou mais quilos de ouro aqui, construiu casa em Santarém, teve fazenda. Ele só saiu de lá quando esgotou o garimpo.
Por estar preso, eu perdi uma roça de 55 hectares de arroz, que estava no ponto de ser colhido. Preso, não tive como colher.
A minha situação ficou tão complicada, mas, tão complicada, mesmo depois que eu ganhei a liberdade, que tinha horas que eu não sabia o que fazer. Eu fui para o garimpo, pois tinha outra terra. Mas, para trabalhar eu tinha que ir por um caminho, por uma vereda, e voltava por outro. Tinha polícia pra todo lado, tudo contra mim. Por último, eu criei coragem de enfrentar tudo aquilo, sabendo que podia morrer a qualquer momento; mas, eu precisava trabalhar.
O Reinaldo tentou me matar
Final dos anos 80, começo dos anos 90 eu fui morar com uma mulher, mãe destes meninos (dois rapazes e uma moça citados antes). Ela estava envolvida nuns negócios que eu não sabia, mas que podia ter custado minha vida.
Tinha uma quadrilha formada pelo Barradas, o Reinaldo e outros que queria me pegar. Eles arrumaram tudo para a mulher vir morar comigo, que era para ver o que eu tinha, para que eles me sequestrassem e me matassem. Mas, antes de me matarem eles me forçariam a assinar uns papéis, passando para eles tudo o que eu tinha.
O que me fez entrar para a política foi que eu estava num conflito tão grande, tão aflito com aquele situação, com aqueles caras cercando minha casa, dizendo que eram meus amigos, que queriam me proteger, quando na verdade queriam me matar. O Reinaldo vivia dentro da minha casa, atendendo telefonema e colocando os capangas dele para me vigiar. Eu estava sem controle da minha vida. Eu tinha gasto mais ou menos uns cinco quilos de ouro tentando esclarecer a morte do meu irmão Raimundo.
Na Semana Santa de 1991 eles esperavam fazer o serviço. Uma noite o Reinaldo chegou na mina casa com uns homens, com uma conversa furada, dizendo que era para me proteger, porque podia acontecer alguma coisa comigo. Eu olhei para o Céu e disse que achava que ele tinha vindo de lá.
Um dia um amigo me convidou para ir fazer uma visita para o seu Wirland Freire, que conhecia o Reinaldo. Seu Wirland mandou chamar ele. Quando o Reinaldo chegou o seu Wirland disse que eu era amigo dele, além de ser um bom cliente dele e que não queria que acontecesse absolutamente nada comigo. Foi só assim que eles me deixaram em paz. A partir daí minha vida começou a melhorar de novo. Por isso entrei na política.
Pouco tempo depois a mulher foi embora deixando os três filhos, quase assumindo a culpa, enquanto o Reinaldo foi morto não muito tempo depois de tudo isso. Hoje, ela toca a vida dela e eu toco a minha, cuidando dos meus filhos, sem nunca abandonar o garimpo. Mas, por eles, pelos filhos, eu mudei até o tempo de permanência lá pra dentro. Assim tem sido minha vida, vida de garimpeiro.
Quando nasceu, no Ceara, no município de Juazeiro do Norte, no dia 02 de janeiro de 1945, seus pais lhe deram o nome de Luiz Silva de Sousa, mas, ficou mesmo conhecido foi pelo apelido de Luiz Preto. Em 1957 deixou seu Ceará por causa de um forte seca, mudando-se para o Maranhão. Ele tem passado a maior parte de sua vida, mais de quatro décadas, exercendo a atividade de garimpeiro. É esse personagem bastante conhecido na região, o destaque desta edição na série de reportagens sobre o cinquentenário da garimpagem no Tapajós.
"Eu comecei a trabalhar em garimpo, no ano de 1965, já vivendo no Estado do Pará. Chamava-se garimpo do Cajueiro, na margem do Rio Araguaia, no município de São Geraldo do Araguaia. Deu pra fazer um dinheirinho lá. Depois voltei para o Maranhão, onde trabalhei num garimpo perto de Imperatriz. Eu tinha só vinte anos de idade. Passei um tempo em Marabá, onde não dei muita sorte. No verão de 1970 mexi com caça de gato do mato para vender a pele. Em 1971 fichei na ECIR, que trabalhava na construção da Transamazônica, de Marabá para Itaituba. No verão de 1974 estava desempregado. Depois de trabalhar na juquira durante o inverno, eu vim tentando conseguir alguma firma para fichar, até que cheguei a Itaituba. Tomei conhecimento das atividades de garimpo, me animei e resolvi entrar. Entrei no dia 28 de novembro de 1974 levado para o Marupá pelo seu Argemiro, irmão do seu Lulu do Juliana Park Hotel.
Nesse tempo tinha dono de garimpo que cobrava até 45 diárias numa passagem para garimpo. Eu tive sorte de achar aquele cidadão que me levou por apenas 16 diárias. O preço era 32 gramas de ouro pela passagem; como ele pagava dois gramas por diária, com 16 dias trabalhados a gente pagava a passagem de avião.Teve um que cobrava 45 diárias, quer me perguntou se eu não queria ir. Eu respondi que não, porque não era ladrão do meu próprio bolso.
A gente foi direto para a pista velha do Marupá; aquela mesmo, que começa ao lado do cemitério, conhecida como a pista dos Sudário. Fui trabalhar com o seu Argemiro e com o seu Goiano, mais tarde, dono da Táxi Aéreo Goiás. Eles eram sócios. Naquele tempo o Goiano era pobre, daquele tipo que levantava às quatro e meia da manhã para fazer o café dele.
Fomos em três daqui. Chegando lá nos dirigimos direto para o baixão do Bem-Ti-Vi. Não era fácil! Um tinha que ficar para fazer e levar a merenda, enquanto dois saiam com escuro, pois a gente tinha que secar o barranco na lata, pois minava muita água. Quando dava lá pelas oito horas da manhã a gente terminava de secar o barranco para poder começar a trabalhar na busco do ouro.
Eu demorei bastante tempo nesse garimpo, porque o seu Argemiro e o seu Goiano foram excelentes patrões. Eu era brabo em garimpo de ouro e aprendi a trabalhar com eles. Fiquei mais de um ano lá com eles. Foi quando apareceu a chance de ir para outro serviço melhor, juntamente com o Vovô e o Felipão, dois crioulos das guianas que me ensinaram muitas coisas. Foram tempos muito difíceis. Eu só fui conseguir dinheiro para ir até a currutela depois de seis meses. Se tivesse tirado um ouro bom antes, talvez tivesse ido embora, pois eu custei a me acostumar com aquela vida, longe de tudo. A malária me achou muito cedo, com uns vinte dias que eu estava lá ela me pegou. Todo mês eu perdia uma semana ou mais. Mas, com o tempo fui me acostumando e estou até hoje no garimpo.
A situação melhorou quando eu encontrei um cidadão, também, muito bom, que foi o Zé da Roça, que vendia uns remédios com os quais eu me dei bem. Nesse tempo, no Marupá, eu já estava mais manso e cheguei a juntar mais de um quilo de ouro, quando eu tocava um serviço próprio, com mais de vinte pessoas trabalhando. A essa altura eu já vinha a Itaituba, comprava o rancho e levava num vôo completo. Houve um tempo em que eu gastava na currutela tudo que ganhava. Mas, depois eu vi que aquilo não tinha futuro e parei com as farras.
Algum tempo depois eu mudei para o garimpo Nova Vida, que era do Elídio Leal onde eu fiquei quase um ano; com isso, eu acabei completando quase quatro anos na região do Marupá. Passei um tempo explorando perto da pista do Luiz Barbudo, do final de 1978 para o início de 1979; foi quando aconteceu um negócio que não foi muito agradável no Marupá (quando a reportagem pergunta que tipo de negócio desagradável foi esse, Luiz Preto fica silencioso e desconversa) e aí eu tive que vir para Itaituba.
Nesse tempo uma malária braba me pegou. Um dia, subindo uma ladeira eu estava tão mal que eu achei que não iria conseguir chegar em cima. Dava um passo para frente e dois para trás, com muito sacrifício consegui chegar num barraco que havia lá. Sem comida, comi um jacu insosso; a fome estava braba e quando eu dei fé tinha comido quase tudo.
A chegada no Crepurizinho
Em Itaituba, onde vim tratar da malária, encontrei o Bitonho que eu já conhecia lá do Marupá. Ele tinha ido olhar o Crepurizinho. Ele me disse que eu tinha tudo para me dar bem por lá, pois havia bastante terra para ser explorada. O Crepurizinho já era uma curritela grande. Me contaram que a exploração de garimpo começou do final de 1959 para o começo de 1960. O Aluizio Mourão conhece tudo direitinho; ele sabe quando começou.
Vai fazer 30 anos que eu cheguei. No dia 28 de outubro de 1978 eu cheguei no Crepurizinho. Na noite daquele dia eu conheci um camarada chamado Raimundo Varador, com o qual eu fui para o baixão do Papagaio. Na manhã seguinte. Ele me vendeu um servicinho, fiado, que ele tinha lá com uma tralha, por cem gramas de ouro. Até hoje eu estou naquele lugar.
No Crepurizinho eu passei por momentos muito bons, mas, também vivi situações muito difíceis. Isso aconteceu (o bom) a partir do momento em que surgiu o trabalho com balsa, mais tarde veio a chupadeira e melhorou de 80% a 90%. Foi de 1982 para 1983. Eu cheguei a ter até 18 pares de máquinas. Foi um período em que a gente produziu bastante. Tinha um rapaz que trabalhava comigo, que anotava tudo; em pouco mais de dois anos e meio de exploração, até 1987, a gente produziu mais de 170 quilos de ouro.
Quando a situação estava muito boa, veio o governo do presidente Fernando Collor de Melo. O grama do ouro estava sendo vendido entre 850 mil e 890 mil Cruzeiros. Quem vive em Itaituba e na região de garimpo desde aquele tempo sabe muito bem do que estou falando. O Collor arrebentou com a gente. Eu mesmo afundei, pois eu tinha mais de cinco quilos de ouro que era para saldar uma conta de um milhão e duzentos mil Cruzeiros.
Eu pagaria a conta com mais ou menos um quilo e meio de ouro. Não vendi antes do Collor assumir, esperando melhorar o preço. O resultado foi que tive que vender todo o ouro para poder saldar a conta. Só não comecei do zero porque tinha um bom estoque de mercadorias e um bom estoque de óleo diesel. Se a gente tivesse tomado a decisão de parar por um tempo, talvez a gente tivesse se dado melhor, porque o que aconteceu foi que voltei a tocar o serviço, queimei o diesel todo e consumi a mercadoria e aí, sim, fiquei totalmente sem capital.
Naquele momento vieram outros problemas que pioraram a situação, que já era bem complicada. Veio separação de mulher, desonestidade de gente que trabalhava comigo, que não repassava direito o que era apurado. Apesar disso, eu nunca parei com a atividade garimpeira. Eu passo quinze dias aqui e um mês lá dentro. No início em passava seis meses lá e quinze em Itaituba. Tive que mudar porque eu não ia abandonar meus filhos, que foram largados pela mãe. São três, dois rapazes, um com dezoito anos, um com dezessete e uma moça dentro dos 14 anos.
Investimentos - Eu construi esta casa, que não está concluída, que tem quatorze compartimentos, comprei uma terra que vai do km 35 ao km 37, que se encontra invandida por um pessoal que diz ser Sem Terra; eu digo que não são Sem Terra, coisa nenhuma. É gente que viveu no garimpo, ganhou algum dinheiro, mas gastou tudo e se acostumou a tomar terra dos outros, desde aquele tempo. A terra está quase toda invadida. Ainda tenho um pouco de gado nessa fazenda e um pouco mais lá dentro, no Crepurizinho, que está melhor do que a fazenda daqui. Eu investi muito, também, em documentação de terra, tanto do solo como do subsolo.
Tenho uma terra no Crepurizinho que está quase toda regularizada, numa extensão de mais ou menos vinte mil hectares. Eu aguardo algum interesse desses grupos de estrangeiros que estão investindo na região, ou quem sabe, algum financiamento para poder eu mesmo explorar o ouro, que agora está muito mais difícil, mais profundo, pois o ouro mais raso está cada vez mais escasso. A terra em que eu estou trabalhando eu sinto que é muito boa, mas me falta o capital.
Algumas vezes corri risco de ser morto, como aconteceu quando estava construindo uma pista naquela região. Fui avisado por uma pessoa chamada Massa Bruta, de que o seu Lourival, dono de uma agência lá no Crepurizinho, aquele mesmo, que era bastante conhecido aqui em Itaituba, queria mandar me matar para evitar que eu construísse a pista.
Numa viagem de avião, do garimpo para Itaituba, ele fez a proposta para o Massa Bruta me matar, mas ele não aceitou fazer o serviço. O Massa Bruta disse que não faria porque eu era um trabalhador; ele me avisou sobre o que estava acontecendo para eu me cuidar. Eu tinha tentado fazer uma sociedade na pista que eu estava construindo, mas o Lourival não quis. Eu digo que eu escapei por pouco.
A juíza tomou meu garimpo
O momento mais difícil da minha vida de garimpeiro aconteceu quando eu fui coagido por uma juiza que trabalhou em Itaituba, chamada Cléa Maia. Ela tomou o garimpo que eu tocava na época, no inverno de 1984. Ainda tem gente daquele tempo que trabalha comigo. Outros, que não trabalham mais para mim estão na área para contar a história. Por causa disso eu passei vinte e dois dias preso. O delegado era o finado Miguel Apinagés.
Eu perdi tudo. Fui morar em casa alugada. As festas juninas de 84 eu passei preso na delegacia que funcionava onde é agora o Detran. Fui preso sem dever nada para a Justiça. Meu pecado era ser dono de uma terra que um caboco chamado Augusto Franco queria de qualquer jeito. Perdi a terra e quase perdi a vida; fui desmoralizado.
Eu estava na agência do Pai Velho para viajar, quando o delegado Miguel chegou e meu ordem de prisão. Ele ligou para a juiza e ela mandou me recolher. Naquela situação eu fui ajudado pelo Pai Velho, pelo seu Argemiro, pelo Goiano, pelo Irajá, pelo Zé da Roça e pelo Dr. Semir. Eu devo uma grande fineza do Dr. Semir, que me defendeu mesmo sabendo que eu não tinha dinheiro para nada naquela ocasião.
Todo o ouro que havia no garimpo o Augusto Franco tirou nos cinco ou seis anos que ele ficou lá. Ele construiu casa de trinta ou mais quilos de ouro aqui, construiu casa em Santarém, teve fazenda. Ele só saiu de lá quando esgotou o garimpo.
Por estar preso, eu perdi uma roça de 55 hectares de arroz, que estava no ponto de ser colhido. Preso, não tive como colher.
A minha situação ficou tão complicada, mas, tão complicada, mesmo depois que eu ganhei a liberdade, que tinha horas que eu não sabia o que fazer. Eu fui para o garimpo, pois tinha outra terra. Mas, para trabalhar eu tinha que ir por um caminho, por uma vereda, e voltava por outro. Tinha polícia pra todo lado, tudo contra mim. Por último, eu criei coragem de enfrentar tudo aquilo, sabendo que podia morrer a qualquer momento; mas, eu precisava trabalhar.
O Reinaldo tentou me matar
Final dos anos 80, começo dos anos 90 eu fui morar com uma mulher, mãe destes meninos (dois rapazes e uma moça citados antes). Ela estava envolvida nuns negócios que eu não sabia, mas que podia ter custado minha vida.
Tinha uma quadrilha formada pelo Barradas, o Reinaldo e outros que queria me pegar. Eles arrumaram tudo para a mulher vir morar comigo, que era para ver o que eu tinha, para que eles me sequestrassem e me matassem. Mas, antes de me matarem eles me forçariam a assinar uns papéis, passando para eles tudo o que eu tinha.
O que me fez entrar para a política foi que eu estava num conflito tão grande, tão aflito com aquele situação, com aqueles caras cercando minha casa, dizendo que eram meus amigos, que queriam me proteger, quando na verdade queriam me matar. O Reinaldo vivia dentro da minha casa, atendendo telefonema e colocando os capangas dele para me vigiar. Eu estava sem controle da minha vida. Eu tinha gasto mais ou menos uns cinco quilos de ouro tentando esclarecer a morte do meu irmão Raimundo.
Na Semana Santa de 1991 eles esperavam fazer o serviço. Uma noite o Reinaldo chegou na mina casa com uns homens, com uma conversa furada, dizendo que era para me proteger, porque podia acontecer alguma coisa comigo. Eu olhei para o Céu e disse que achava que ele tinha vindo de lá.
Um dia um amigo me convidou para ir fazer uma visita para o seu Wirland Freire, que conhecia o Reinaldo. Seu Wirland mandou chamar ele. Quando o Reinaldo chegou o seu Wirland disse que eu era amigo dele, além de ser um bom cliente dele e que não queria que acontecesse absolutamente nada comigo. Foi só assim que eles me deixaram em paz. A partir daí minha vida começou a melhorar de novo. Por isso entrei na política.
Pouco tempo depois a mulher foi embora deixando os três filhos, quase assumindo a culpa, enquanto o Reinaldo foi morto não muito tempo depois de tudo isso. Hoje, ela toca a vida dela e eu toco a minha, cuidando dos meus filhos, sem nunca abandonar o garimpo. Mas, por eles, pelos filhos, eu mudei até o tempo de permanência lá pra dentro. Assim tem sido minha vida, vida de garimpeiro.
Vergonha na cara
Marilene Silva*
Itaituba é uma cidade relativamente jovem. Mal passou dos 150 anos, enquanto que cidades próximas como Santarém, está perto de completar três séculos e meio de existência e Aveiro, cuja criação da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Aveiro data de 1781, está chegando este ano aos 227 anos de criação.
Somos uma terra de poucas tradições enraizadas e as poucas que temos não são muito antigas. Daí, louvar-se sempre esforços feitos por pessoas como Ivan Araújo e sua equipe da TV Tapajoara, pela materialização do CD Ita em Canções, obra que faz a gente lembrar, toda vez que se ouve as belas canções, da nossa ligação com esta terra tão acolhedora e generosa. Da mesma forma, é necessário enaltecer todo dia o trabalho da professora Regina Lucirene, batalhadora pelo resgate da memória de Itaituba, tanto através da coletânea de textos, quanto pela criação do Museu Aracy Paraguaçu e pelo vigor com o qual luta para aumentar o acervo do mesmo, forma indelével de preservar nossa história.
Fiz todo esse preâmbulo para chegar ao cerne da questão que me motivou escrever este artigo, que foi o caso da depredação do busco do fundador da cidade, coronel Joaquim Caetano Correa, promovida há mais de um mês por jovens de classe média, uns com elevado poder aquisitivo, crime contra o patrimônio público que continua impune.
Esse ato criminoso não pode ser inserido nas estatísticas de brincadeiras de jovens ou adolescentes que não sabiam o que estavam fazendo. Tanto sabiam, que depois do vandalismo praticado passaram a ameaçar os vigias das proximidades, dizendo que sobraria para eles, se contassem alguma coisa. Isso é comportamento de delinqüente.
A professora Regina Lucirene foi a única pessoa pública, a verbalizar sua indignação e a pedir providências enérgicas das autoridades. A Associação dos Filhos e Amigos de Itaituba também se manifestou. Mas, até agora ninguém foi punido.
O delegado responsável pelo caso anunciou que já tinha os nomes e que os mesmos seriam ouvidos; contudo, se alguma coisa foi feita, ficou intra-muros. Tudo isso porque os pais de alguns desses jovens são pessoas conhecidas da sociedade.
Como mãe que sou, sei que qualquer um de nós, pais, estamos sujeitos a passar por esse tipo de dissabor. Não acredito que ninguém crie um filho com o intuito de transformá-lo numa pessoa desajustada socialmente, pois quem pratica um ato como esse não pode ser considerado um exemplo para a sociedade. Porém, se não houver conivência, mesmo que seja silenciosa dos pais, dificilmente um filho incidirá na prática desses atos de vandalismo, ou quem sabe, outros piores.
Não precisa execrar esses jovens, publicamente, embora, se fossem filhos de pobres e por cima disso, da periferia, certamente já estariam presos há muitos dias, teriam sido mostrados pela Imprensa e não haveria data para serem soltos. Todavia, não se enquadram nesse perfil. Por isso, a Polícia Civil precisa ser mais ágil em casos como esse, pois não pode haver duas justiças, uma rápida, que encarcera aqueles que praticam atos similares, mas que não podem se defender, e outra lenta, para os que podem pagar bons advogados.
O que esses jovens fizeram foi profanar e destruir um monumento histórico, dos raros que o município tem, monumento esse de uma figura pela qual quase toda a comunidade itaitubense tem o maior respeito; digo quase toda, porque esses jovens, e provavelmente seus pais também, não fazem nenhuma reverência à memória do homem que fundou a cidade de Itaituba.
Já perguntei em coluna anterior, mas, cabe repetir, nesta ocasião: você sabe onde seu filho, e mais do que isso, em companhia de quem ele anda? Se não sabe, passou da hora de se preocupar com isso, para evitar que mais tarde, na calada da noite você seja surpreendido com notícias nada agradáveis a respeito de quem você tanto ama, pois se ele é desses que tanto apronta, um dia a casa pode cair. Quanto à destruição do busto do fundador da cidade, foi um ato abominável, que se tivesse sido praticado por um filho meu, eu estaria com vergonha de sair na rua. Mas, isso é para quem tem vergonha na cara, o que, infelismente, nem todos têm.
Bacharel em Direito
Itaituba é uma cidade relativamente jovem. Mal passou dos 150 anos, enquanto que cidades próximas como Santarém, está perto de completar três séculos e meio de existência e Aveiro, cuja criação da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Aveiro data de 1781, está chegando este ano aos 227 anos de criação.
Somos uma terra de poucas tradições enraizadas e as poucas que temos não são muito antigas. Daí, louvar-se sempre esforços feitos por pessoas como Ivan Araújo e sua equipe da TV Tapajoara, pela materialização do CD Ita em Canções, obra que faz a gente lembrar, toda vez que se ouve as belas canções, da nossa ligação com esta terra tão acolhedora e generosa. Da mesma forma, é necessário enaltecer todo dia o trabalho da professora Regina Lucirene, batalhadora pelo resgate da memória de Itaituba, tanto através da coletânea de textos, quanto pela criação do Museu Aracy Paraguaçu e pelo vigor com o qual luta para aumentar o acervo do mesmo, forma indelével de preservar nossa história.
Fiz todo esse preâmbulo para chegar ao cerne da questão que me motivou escrever este artigo, que foi o caso da depredação do busco do fundador da cidade, coronel Joaquim Caetano Correa, promovida há mais de um mês por jovens de classe média, uns com elevado poder aquisitivo, crime contra o patrimônio público que continua impune.
Esse ato criminoso não pode ser inserido nas estatísticas de brincadeiras de jovens ou adolescentes que não sabiam o que estavam fazendo. Tanto sabiam, que depois do vandalismo praticado passaram a ameaçar os vigias das proximidades, dizendo que sobraria para eles, se contassem alguma coisa. Isso é comportamento de delinqüente.
A professora Regina Lucirene foi a única pessoa pública, a verbalizar sua indignação e a pedir providências enérgicas das autoridades. A Associação dos Filhos e Amigos de Itaituba também se manifestou. Mas, até agora ninguém foi punido.
O delegado responsável pelo caso anunciou que já tinha os nomes e que os mesmos seriam ouvidos; contudo, se alguma coisa foi feita, ficou intra-muros. Tudo isso porque os pais de alguns desses jovens são pessoas conhecidas da sociedade.
Como mãe que sou, sei que qualquer um de nós, pais, estamos sujeitos a passar por esse tipo de dissabor. Não acredito que ninguém crie um filho com o intuito de transformá-lo numa pessoa desajustada socialmente, pois quem pratica um ato como esse não pode ser considerado um exemplo para a sociedade. Porém, se não houver conivência, mesmo que seja silenciosa dos pais, dificilmente um filho incidirá na prática desses atos de vandalismo, ou quem sabe, outros piores.
Não precisa execrar esses jovens, publicamente, embora, se fossem filhos de pobres e por cima disso, da periferia, certamente já estariam presos há muitos dias, teriam sido mostrados pela Imprensa e não haveria data para serem soltos. Todavia, não se enquadram nesse perfil. Por isso, a Polícia Civil precisa ser mais ágil em casos como esse, pois não pode haver duas justiças, uma rápida, que encarcera aqueles que praticam atos similares, mas que não podem se defender, e outra lenta, para os que podem pagar bons advogados.
O que esses jovens fizeram foi profanar e destruir um monumento histórico, dos raros que o município tem, monumento esse de uma figura pela qual quase toda a comunidade itaitubense tem o maior respeito; digo quase toda, porque esses jovens, e provavelmente seus pais também, não fazem nenhuma reverência à memória do homem que fundou a cidade de Itaituba.
Já perguntei em coluna anterior, mas, cabe repetir, nesta ocasião: você sabe onde seu filho, e mais do que isso, em companhia de quem ele anda? Se não sabe, passou da hora de se preocupar com isso, para evitar que mais tarde, na calada da noite você seja surpreendido com notícias nada agradáveis a respeito de quem você tanto ama, pois se ele é desses que tanto apronta, um dia a casa pode cair. Quanto à destruição do busto do fundador da cidade, foi um ato abominável, que se tivesse sido praticado por um filho meu, eu estaria com vergonha de sair na rua. Mas, isso é para quem tem vergonha na cara, o que, infelismente, nem todos têm.
Bacharel em Direito
Chega de lendas!
Demétrio Magnoli*
‘A Amazônia não é apena uma coleção de árvores; existe ali um grupo de pessoas.’ A palavra de Roberto Mangabeira Unger não vale nada, como se sabe, mas a sua constatação, expressa no lançamento do Plano Amazônia Sustentável, contém a chave para a superação de um impasse político de relevância histórica. O ministro está dizendo que é hora de fechar um ciclo e fazer a crítica da crítica da geopolítica amazônica conduzida pela ditadura militar.
Um anúncio do governo federal, assinado pela Sudam e divulgado em 1970, destacava sobre o mapa do Brasil a área da Amazônia Legal, toda preenchida por figuras de implantações industriais, agropecuárias e energéticas. A peça publicitária conclamava, sem rodeios: ‘Chega de lendas. Vamos faturar!’ A Amazônia, tal como vista pela ditadura, era uma fronteira estratégica a ser conquistada e uma fronteira de recursos a ser dilapidada.
No ciclo seguinte, aberto com a redemocratização, o Estado terceirizou o planejamento amazônico para as ONGs e uma narrativa preservacionista tomou o lugar da especulação incentivada. A dupla fronteira da geopolítica militar foi substituída pela visão romântica de um santuário sitiado. Uma fábrica de lendas entrou em funcionamento, gerando mitos que sabotam a coerência das políticas públicas para a região. O mito nuclear diz que a Amazônia é uma paisagem natural: coleções de árvores e coleções de povos originais organizados em torno de modos de vida tradicionais. A narrativa desempenha funções vitais para a economia das próprias ONGs, mas tem repercussões devastadoras para a população amazônica.
Há um mês, curiosamente em meio à polêmica sobre a reserva Raposa Serra do Sol, a Funai deu ampla publicidade à foto aérea de um grupo de índios isolados que vivem no Acre, na faixa de fronteira com o Peru. A imagem de índios seminus apontando arcos e flechas para a aeronave que os fotografava coagula o imaginário sobre a Amazônia fabricado pelo preservacionismo. O seu simbolismo esmaece a visão da Amazônia realmente existente, habitada por 20 milhões de brasileiros.
Chega de lendas. A Amazônia é moderna: nela estão Belém e Manaus, duas das três únicas metrópoles dinâmicas situadas na faixa equatorial do planeta. A Amazônia não é um paraíso isolado: o mercado mundial a incorporou ao sistema de intercâmbios globais desde o início de seu povoamento efetivo, com o ciclo da borracha, no anoitecer do século 19. A Amazônia não é tradicional: ela foi ocupada pelo deslocamento de povoadores do Nordeste e do Centro-Sul em duas ondas recentes, entre 1880 e 1920 e de 1950 em diante.
A Amazônia não é, a não ser marginalmente, a morada dos ‘povos da floresta’: suas populações refletem o desenraizamento cultural dos pioneiros e as extensas mestiçagens entre esses pioneiros e deles com os povos autóctones. A Amazônia não é rural, mas urbana: nos seus cenários de igarapés engolfados pelas cidades, onde águas de esgoto correm por dentro das casas, entrelaçam-se os temas do meio ambiente e da saúde pública.
A mitologia preservacionista, pintada para a guerra atrás da divisa do ‘desenvolvimento sustentável’, sabota tanto o desenvolvimento quanto a preservação. A rejeição popular a um paradigma de negação do desenvolvimento empurrou os eleitores para os braços de caciques deploráveis como Jader Barbalho, do Pará, o gerente oculto da Sudam, e Gilberto Mestrinho, do Amazonas, o paladino da motosserra.
Abandonados por um Estado que decidiu não enxergá-los, os pobres da Amazônia se entregam, para sobreviver, à dilapidação dos recursos naturais. Um levantamento realizado pelo Imazon a partir de imagens orbitais estimou que existem mais de 95 mil quilômetros de estradas clandestinas apenas entre o sul do Acre e o sul do Pará, em áreas geralmente exteriores ao ‘arco da devastação’. Ocultas sob as copas das árvores, essas extensões das estradas oficiais são utilizadas para a extração ilegal de madeira. A grilagem de terras e a garimpagem se difundem pelas mesmas trilhas.
Coleções de árvores, coleções de ‘povos tradicionais’. Numa lógica paralela à do preservacionismo, as ONGs multiculturalistas investem na celebração de etnicidades essenciais e convertem a política indígena num jogo de poder. Nesse diapasão, índios aculturados são convertidos em nações originais, com ‘representantes’ junto às instituições internacionais, e no Amazonas agentes públicos forçam caboclos a rasgar suas carteiras de identidade e se redefinir oficialmente como índios, sob pena de perderem suas terras de trabalho.
Agora, sob a inspiração do Mapa da Distribuição da População Negra, um artefato de falsificação estatística produzido pela secretaria da segregação racial (Seppir) por meio da junção burocrática de ‘pretos’ e ‘pardos’, declarou-se a negritude da Amazônia. A iniciativa é um primeiro passo para cancelar a história da região e dividir os caboclos, cafuzos e mulatos em ‘negros’ e ‘brancos’. Em nome da doutrina da raça ou do imperativo da criação de currais eleitorais, soterra-se o conceito de que a Amazônia é habitada por cidadãos brasileiros iguais em direitos.
A geógrafa Bertha Becker, uma das formuladoras do Plano Amazônia Sustentável, propõe uma revolução científica e tecnológica para a Amazônia, a fim de inverter a equação que iguala desenvolvimento a dilapidação de recursos naturais. Desafiando os dogmas sagrados do preservacionismo, cita como paralelos a moderna indústria alcooleira e a revolução agrícola no cerrado. Mas, sobretudo, ela sugere que um novo ciclo de desenvolvimento regional depende da recuperação da capacidade do Estado de agir como poder público, isto é, de estabelecer as regras do jogo de modo claro e universal. Isto, por sua vez, exige fidelidade ao princípio da nação única, vilipendiado todos os dias pelo governo. Eis o dilema que ameaça o Plano Amazônia Sustentável.
* Sociólogo e doutor em Geografia Humana pela USP.( Artigo publicado no jornal "O Estado de S. Paulo")
‘A Amazônia não é apena uma coleção de árvores; existe ali um grupo de pessoas.’ A palavra de Roberto Mangabeira Unger não vale nada, como se sabe, mas a sua constatação, expressa no lançamento do Plano Amazônia Sustentável, contém a chave para a superação de um impasse político de relevância histórica. O ministro está dizendo que é hora de fechar um ciclo e fazer a crítica da crítica da geopolítica amazônica conduzida pela ditadura militar.
Um anúncio do governo federal, assinado pela Sudam e divulgado em 1970, destacava sobre o mapa do Brasil a área da Amazônia Legal, toda preenchida por figuras de implantações industriais, agropecuárias e energéticas. A peça publicitária conclamava, sem rodeios: ‘Chega de lendas. Vamos faturar!’ A Amazônia, tal como vista pela ditadura, era uma fronteira estratégica a ser conquistada e uma fronteira de recursos a ser dilapidada.
No ciclo seguinte, aberto com a redemocratização, o Estado terceirizou o planejamento amazônico para as ONGs e uma narrativa preservacionista tomou o lugar da especulação incentivada. A dupla fronteira da geopolítica militar foi substituída pela visão romântica de um santuário sitiado. Uma fábrica de lendas entrou em funcionamento, gerando mitos que sabotam a coerência das políticas públicas para a região. O mito nuclear diz que a Amazônia é uma paisagem natural: coleções de árvores e coleções de povos originais organizados em torno de modos de vida tradicionais. A narrativa desempenha funções vitais para a economia das próprias ONGs, mas tem repercussões devastadoras para a população amazônica.
Há um mês, curiosamente em meio à polêmica sobre a reserva Raposa Serra do Sol, a Funai deu ampla publicidade à foto aérea de um grupo de índios isolados que vivem no Acre, na faixa de fronteira com o Peru. A imagem de índios seminus apontando arcos e flechas para a aeronave que os fotografava coagula o imaginário sobre a Amazônia fabricado pelo preservacionismo. O seu simbolismo esmaece a visão da Amazônia realmente existente, habitada por 20 milhões de brasileiros.
Chega de lendas. A Amazônia é moderna: nela estão Belém e Manaus, duas das três únicas metrópoles dinâmicas situadas na faixa equatorial do planeta. A Amazônia não é um paraíso isolado: o mercado mundial a incorporou ao sistema de intercâmbios globais desde o início de seu povoamento efetivo, com o ciclo da borracha, no anoitecer do século 19. A Amazônia não é tradicional: ela foi ocupada pelo deslocamento de povoadores do Nordeste e do Centro-Sul em duas ondas recentes, entre 1880 e 1920 e de 1950 em diante.
A Amazônia não é, a não ser marginalmente, a morada dos ‘povos da floresta’: suas populações refletem o desenraizamento cultural dos pioneiros e as extensas mestiçagens entre esses pioneiros e deles com os povos autóctones. A Amazônia não é rural, mas urbana: nos seus cenários de igarapés engolfados pelas cidades, onde águas de esgoto correm por dentro das casas, entrelaçam-se os temas do meio ambiente e da saúde pública.
A mitologia preservacionista, pintada para a guerra atrás da divisa do ‘desenvolvimento sustentável’, sabota tanto o desenvolvimento quanto a preservação. A rejeição popular a um paradigma de negação do desenvolvimento empurrou os eleitores para os braços de caciques deploráveis como Jader Barbalho, do Pará, o gerente oculto da Sudam, e Gilberto Mestrinho, do Amazonas, o paladino da motosserra.
Abandonados por um Estado que decidiu não enxergá-los, os pobres da Amazônia se entregam, para sobreviver, à dilapidação dos recursos naturais. Um levantamento realizado pelo Imazon a partir de imagens orbitais estimou que existem mais de 95 mil quilômetros de estradas clandestinas apenas entre o sul do Acre e o sul do Pará, em áreas geralmente exteriores ao ‘arco da devastação’. Ocultas sob as copas das árvores, essas extensões das estradas oficiais são utilizadas para a extração ilegal de madeira. A grilagem de terras e a garimpagem se difundem pelas mesmas trilhas.
Coleções de árvores, coleções de ‘povos tradicionais’. Numa lógica paralela à do preservacionismo, as ONGs multiculturalistas investem na celebração de etnicidades essenciais e convertem a política indígena num jogo de poder. Nesse diapasão, índios aculturados são convertidos em nações originais, com ‘representantes’ junto às instituições internacionais, e no Amazonas agentes públicos forçam caboclos a rasgar suas carteiras de identidade e se redefinir oficialmente como índios, sob pena de perderem suas terras de trabalho.
Agora, sob a inspiração do Mapa da Distribuição da População Negra, um artefato de falsificação estatística produzido pela secretaria da segregação racial (Seppir) por meio da junção burocrática de ‘pretos’ e ‘pardos’, declarou-se a negritude da Amazônia. A iniciativa é um primeiro passo para cancelar a história da região e dividir os caboclos, cafuzos e mulatos em ‘negros’ e ‘brancos’. Em nome da doutrina da raça ou do imperativo da criação de currais eleitorais, soterra-se o conceito de que a Amazônia é habitada por cidadãos brasileiros iguais em direitos.
A geógrafa Bertha Becker, uma das formuladoras do Plano Amazônia Sustentável, propõe uma revolução científica e tecnológica para a Amazônia, a fim de inverter a equação que iguala desenvolvimento a dilapidação de recursos naturais. Desafiando os dogmas sagrados do preservacionismo, cita como paralelos a moderna indústria alcooleira e a revolução agrícola no cerrado. Mas, sobretudo, ela sugere que um novo ciclo de desenvolvimento regional depende da recuperação da capacidade do Estado de agir como poder público, isto é, de estabelecer as regras do jogo de modo claro e universal. Isto, por sua vez, exige fidelidade ao princípio da nação única, vilipendiado todos os dias pelo governo. Eis o dilema que ameaça o Plano Amazônia Sustentável.
* Sociólogo e doutor em Geografia Humana pela USP.( Artigo publicado no jornal "O Estado de S. Paulo")
Confusões de um fuso horário imposto
Para uns, a imposição do novo horário para a região Oeste do Pará foi bem vinda e trouxe até algumas vantagens. Entretanto, para outros o novo fuso só é motivo de transtornos e a adequação ao mesmo está sendo difícil. Por isso, a reportagens do Jornal do Comércio ouviu algumas pessoas para saber o que elas pensam sobre o assunto.
Gilberto Leal (Grupo Leal) Inicialmente, causou trans-tornos, por-que a gente tem que abrir uma hora mais cedo, em relação ao horário antigo, e vamos ter que fechar às seis horas, com sol alto. Tivemos que adequar, sobretudo por causa do horário bancário. A gente abre, ainda está meio escuro e não tem ninguém comprando; quando fecha, o dia está claro e tem gente comprando. Mas, temos que nos acostumar.
Sandra Perin (Foto RI) Eu sou acostu-mada a levantar cedo. Quando o Sol nasce eu tomo café e venho para a loja, sem nem mesmo olhar o relógio. Abro a loja quando os funcionários começam a chegar por volta das 6:30 e 7:00, no horário antigo. Fecho entre 5:30 e 6:00. Na minha cabeça ainda está o horário antigo.
Weliton Lima (TV Tapajoara) Foi uma grande falta de respeito com a população que vive no Oeste do Pará. O governo faz consulta para tudo, muitas das quais nem são levadas em consideração. Agora, quando resolveu mexer no fuso, uma coisa que mexe diretamente com a vida das pessoas, o governo simplesmente ignorou o que pensa quem vive aqui.
Esse novo horário mexeu com a cabeça das pessoas e vamos demorar um pouco a nos acostumar. O que ficou claro é que o governo cedeu a pressões de grandes empresas de comunicação do Sul, ignorando a Natureza e sem levar em conta a gente.
Gorete Belo (Loja do Cons-trutor) Especi-ficamente para nós, da Loja do Cons-trutor, não dá para funcionar nesse horário novo. Se a gente abre a loja às 7:30, é como se a gente estivesse abrindo às 6h30 de antes; fica-se uma hora esperando clientes, porque não tem ninguém na rua comprando. Então, para nós não é bom negócio abrir às 7:30. Por isso, estamos abrindo após às 8:00. Abrimos dois dias no horário novo e não vendemos nada.
Joelson Santos (Itafrigo) Na nossa atividade de supermercado, a alteração que fizemos foi no horário de abertura e no fechamento. Nós abríamos às 6:30 no antigo que acabou e fechávamos às 20 horas. Agora, pelo menos no perído de férias, abrimos às 7:00 no horário atual e fechamos às 20:30. No restante não houve altereção nem reclamação por parte dos clientes. Este é um mês diferenciado, no qual as donas de casa que têm filhos na escola podem dormir até um pouco mais tarde, o que faz com elas ela vão mais tarde ao supermercado.
Particularmente, eu gostei do novo horário, porque faz com que a gente acabe acordando mais cedo para trabalhar e para outras atividades. Com o passar do tempo as pessoas acabam se adequando, de acordo com as suas necessidades.
Quanto ao horário bancário, que é um dos questionamentos, se todos os bancos pudessem fechar às 15 horas, como a Caixa Econômica ficaria melhor para nos comerciantes. Se as outras agências puderem adotar o mesmo horário da Caixa, será bem mais proveitoso para o Comércio.
Gilberto Leal (Grupo Leal) Inicialmente, causou trans-tornos, por-que a gente tem que abrir uma hora mais cedo, em relação ao horário antigo, e vamos ter que fechar às seis horas, com sol alto. Tivemos que adequar, sobretudo por causa do horário bancário. A gente abre, ainda está meio escuro e não tem ninguém comprando; quando fecha, o dia está claro e tem gente comprando. Mas, temos que nos acostumar.
Sandra Perin (Foto RI) Eu sou acostu-mada a levantar cedo. Quando o Sol nasce eu tomo café e venho para a loja, sem nem mesmo olhar o relógio. Abro a loja quando os funcionários começam a chegar por volta das 6:30 e 7:00, no horário antigo. Fecho entre 5:30 e 6:00. Na minha cabeça ainda está o horário antigo.
Weliton Lima (TV Tapajoara) Foi uma grande falta de respeito com a população que vive no Oeste do Pará. O governo faz consulta para tudo, muitas das quais nem são levadas em consideração. Agora, quando resolveu mexer no fuso, uma coisa que mexe diretamente com a vida das pessoas, o governo simplesmente ignorou o que pensa quem vive aqui.
Esse novo horário mexeu com a cabeça das pessoas e vamos demorar um pouco a nos acostumar. O que ficou claro é que o governo cedeu a pressões de grandes empresas de comunicação do Sul, ignorando a Natureza e sem levar em conta a gente.
Gorete Belo (Loja do Cons-trutor) Especi-ficamente para nós, da Loja do Cons-trutor, não dá para funcionar nesse horário novo. Se a gente abre a loja às 7:30, é como se a gente estivesse abrindo às 6h30 de antes; fica-se uma hora esperando clientes, porque não tem ninguém na rua comprando. Então, para nós não é bom negócio abrir às 7:30. Por isso, estamos abrindo após às 8:00. Abrimos dois dias no horário novo e não vendemos nada.
Joelson Santos (Itafrigo) Na nossa atividade de supermercado, a alteração que fizemos foi no horário de abertura e no fechamento. Nós abríamos às 6:30 no antigo que acabou e fechávamos às 20 horas. Agora, pelo menos no perído de férias, abrimos às 7:00 no horário atual e fechamos às 20:30. No restante não houve altereção nem reclamação por parte dos clientes. Este é um mês diferenciado, no qual as donas de casa que têm filhos na escola podem dormir até um pouco mais tarde, o que faz com elas ela vão mais tarde ao supermercado.
Particularmente, eu gostei do novo horário, porque faz com que a gente acabe acordando mais cedo para trabalhar e para outras atividades. Com o passar do tempo as pessoas acabam se adequando, de acordo com as suas necessidades.
Quanto ao horário bancário, que é um dos questionamentos, se todos os bancos pudessem fechar às 15 horas, como a Caixa Econômica ficaria melhor para nos comerciantes. Se as outras agências puderem adotar o mesmo horário da Caixa, será bem mais proveitoso para o Comércio.
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