sábado, janeiro 22, 2022

Moradores de Alter do Chão temem que o turismo seja afetado pela mudança da água

Andria Almeida (O Liberal) - Águas turvas que tomaram conta de parte da ilha do Amor, na vila balneária, já aponta um início de prejuízo na economia local

Avila balneária de Alter Chão, localizada a 37 km de Santarém, no oeste do Pará, um dos principais-cartões postais do Pará, contribui para a injeção do valor de R$ 140 milhões por ano na cidade, só com movimentações turísticas. As expectativas de manter ou aumentar esse valor para este ano podem estar correndo sérios riscos. Isso porque nesta semana o visual deslumbrante das águas do Rio Tapajós, que banha a vila, ficou diferente - a coloração está turva, com aspecto barrento. Isso pode apontar o começo de uma crise turística, talvez a primeira registrada nas últimas décadas. Alguns visitantes já deixaram de realizar passeios por receio de banhar na água. A causa ainda não foi descoberta, mas pode estar relacionada com atividades do garimpeiro ilegal.

No ano passado, "Alter" ganhou o prêmio de melhor destino turístico do país na 31ª edição do prêmio UPIS de turismo. Já em 2009, o jornal inglês "The Guardian" colocou a vila como uma das mais belas praias do Brasil. A visibilidade nacional e internacional elevou o padrão turístico para região, levando o triplo de visitantes às terras tapajônicas. Todos com um único objetivo: conhecer e se banhar no maior rio envolto das belezas naturais que imperam o referido “paraíso”.

O guia turístico Gerônimo Mascarenhas acompanha essa evolução no número de pessoas em busca de realizar atividade turística no local. Agora, com essa situação da água, ele afirma que o trabalho de muitos profissionais está sendo atingido.

"Dois casais desistiram do passeio, esse negócio está deixando o pessoal que vem fazer turismo aqui com medo. Então, eu não sei o que vai acontecer com a gente aqui, de repente pode até sumir o turismo daqui", preocupou-se.

A economia local ainda esperava faturar mais com o turismo até início de fevereiro, no entanto, o mistério da cor turva no Rio e as fortes chuvas que se intensificaram antes do período tradicionalmente vivido pelos moradores, prejudicou a classe trabalhadora de Alter do Chão. Marcelo Caldeira Rêgo, que atua com turismo fluvial, diz que para quem conhece o rio, a alteração é mais evidente, tornando-se cada vez mais perceptível e preocupante.

"A gente navega todos os dias no rio, a gente faz aí 60 a 70 Km por dia e realmente na época da cheia as águas do Rio Tapajós ficam avermelhadas, porque a água começa a subir, mas hoje ela não está avermelhada, ela está barrenta. Tínhamos um circuito de passeio que mostrava um ‘braço’ do encontro dos Rios Tapajós e Amazonas, hoje em dia não é possível mais ver por que ela está totalmente barrenta”, relatou.

Hélder Sousa, trabalha como catraeiro há 15 anos e tenta achar uma explicação para a mudança da coloração do Rio, com características únicas na cor verde límpida. 

O que está acontecendo com o nosso rio é a primeira vez que a gente está vendo. Está aumentando essa coloração, tipo um barro na água. E o pessoal fala que é negócio de garimpo, que acontece aí para cima e está afetando nossa região. Eu particularmente nunca tinha visto isso, me falam que é garimpo, outros falam que é devido à chuva, aí a gente não pode dizer nada, mas ficamos com medo”, lamentou.

Dados da Secretaria de turismo revelam que Santarém recebe 200 mil turistas durante um ano e isso representa para a economia local um valor de 140 milhões de reais injetados diretamente na vila turística. Esse valor corresponde a 18% do orçamento anual da prefeitura de Santarém.

André Ferreira, que trabalha com turismo fluvial, relatou que a preocupação é de todos. “Acredito que donos de pousadas, restaurantes, doceiras e catraieiros, o povo da vila de Alter do chão que trabalha com o turismo local, todos estão preocupados com essa situação”, disse.

Ele enfatiza que Alter do Chão é o ponto de saída para todas as praias da região e que os clientes que já visitaram Alter estão com receio de voltar. “Estão preocupados. Somos testemunhas que o nosso Rio Tapajós está muito barrento e isso afeta diretamente o nosso turismo”, explicou.




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