terça-feira, setembro 21, 2021

Omayra Sánchez: A menina símbolo de tragédia com 23 mil mortos por vulcão na Colômbia

A adolescente Omayara Sánchez Garzón morava no município de Amero, na região central da Colômbia, quando o vulcão Nevado del Ruiz entrou em erupção, no dia 13 de novembro de 1985, matando mais de 23 mil pessoas. Foi a maior tragédia natural da América do Sul. Naquela quarta-feira, em meio à tensão com a atividade do vulcão, Omayara seguira orientações da Defesa Civil pra ficar em casa, assim como a maior parte dos 28 mil habitantes de Armero. Por volta das 23h30, um enorme lahar (fluxo de lama e detritos) atingiu o muincípio, engolindo prédios, ruas e tudo mais pelo caminho. Horas depois, equipes de resgate encontraram a colombiana de 13 anos presa nos escombros do imóvel onde morava com a família. 

Tamanha desgraça podia ter sido evitada. Durante semanas, autoridades de Armero tentaram alertar o governo federal e o Congresso sobre a crescente atividade do vulcão, a 50km de distância. Mas os líderes do país estavam ocupados com grupos guerrilheiros que, dias antes, chegaram a tomar o Palácio da Justiça, sede da Suprema Corte do país. Especialistas já vinham monitorando a situação e informando sobre os riscos de uma erupção, mas não houve ordem para evacuar a cidade. Na noite da tragédia, Omayara estava em casa com os parentes, todos preocupados vendo as cinzas da erupção caírem do céu. De repente, começaram a ouvir um estrondo cada vez mais alto. Era o mar de detritos formado pelo vulcão.

Vulcão: Imagens de satélite mostram Armero antes e depois da tragédia em 1985

A erupção começara às 21h09, quando o Nevado del Ruiz ejetou milhões de toneladas de fragmentos de rocha, incluindo lava, que ascenderam a até 30km na atmosfera. Aquilo derreteu as geleiras e a neve que cobriam a montanha, levando à formação de lahares massivos. A "avalanche" desceu a encosta ganhando volume à medida que devorava a paisagem. Ao chegar nos vales em torno do vulcão, um único lahar já tinha cerca de 50 metros de altura. Foi essa onda repleta de pedregulhos e destroços de vegetação que enterrou Armero, destruindo casas e matando mais de 20 mil pessoas, o que representava mais de dois terços da população de 28 mil habitantes do município. Outras 3 mil morreram em povoados próximos.

As equipes de resgate encontraram Armero soterrada. Enquanto caminhavam sobre as ruínas da cidade, ouviam gemidos de sobreviventes. Um socorrista encontrou a mão de Omayara acenando para fora dos escombros de sua casa. Os profissionais conseguiram abrir espaço para a cabeça da adolescente. Ela estava consciente, mas a situação era dramática: A menina estava submersa em água até quase o pescoço e presa por destroços. As pernas, envoltas pelos braços da tia falecida. Constatou-se que era preciso amputar-lhe os membros inferiores, mas não havia cirurgiões presentes. Além disso, quando tentavam movê-la, ficava claro que a água cobriria o seu rosto e causaria afogamento. Não havia sequer bomba de sucção de água.

Vulcão: A adolescente Omayra Sánchez presa nos escombros de sua casa

No início, Omayara se mostrava otimista enquanto falava com socorristas. Cantou, pediu doces, tomou refrigerante e até concedeu entrevista a um escritor. Ela disse que a mãe tinha viajado para Bogotá a negócios antes da tragédia e, portanto, estava viva. "Mamãe, se você me ouve, quero que reze para que tudo termine bem", disse a jovem colombiana. Mas sua saúde foi piorando ao longo das horas, enquanto a equipe de resgate tentava, em vão, tirá-la dali. Às vezes, a adolescente chorava. Na terceira noite, teve alucinações, balbuciando algo sobre chegar atrasada à escola e uma prova de matemática. Após 60 horas de heróica resistência, Omayara morreu, às 10h05 de 16 de novembro, provavelmente de gangrena ou hipotermia.

Àquela altura, a população colombiana já responsabilizava as autoridades. Num funeral para centenas de pessoas em Ibague, capital do departamento de Tolima, uma faixa dizia: "O vulcão não matou 23 mil pessoas. O governo matou". Diferentes especialistas haviam informado sobre o aumento na ativdade do vulcão e o perigo para as cidades ao redor. Foi feito um mapa de riscos mostrando as áreas que poderiam ser afetadas, mas o material, criticado por setores da economia, foi mal distribuído, e muita gente nem sabia o que estava acontecendo. Enquanto tentava ajuda do governo federal, o prefeito de Armero, Ramón Rodriguez, disse que o vulcão era uma "bomba relógio". Mas ele próprio não promoveu uma evacuação.



Como a última erupção relevante havia ocorrido 145 anos antes, a população não acreditava em graves consequências. Somente no dia do desastre, poucas horas antes da explosão, quando o Nevado del Ruiz começou a cuspir fragmentos de rocha, fazendo chover cinzas sobre Armero, a defesa civil decidiu emitir a ordem de evacuação. Mas uma forte tempestade causou uma pane nas comunicações, e pouca gente ficou sabendo que deveria deixar o município. O temporal também impediu grande parte do povoado de ouvir ou ver a atividade do vulcão ao longo daquela quarta-feira. Foram surpreendido pelos lahar gigante, quase um ano depois de uma equipe de geólogos informar que a atividade sísmica da montanha aumentara.

A foto do francês Frank Fournier que está no início deste post circulou o mundo. A imprensa global registrou a comoção das pessoas ao acompanhar pelas notícias as últimas horas da vida de Omayra. A escritora peruana Isabel Allende escreveu um conto baseado no drama da menina. O autor Eduardo Santa dedicou a ela também o livro "Adiós, Omayra: La catastrofe de Armero", lançado em 1988. Mais de 30 anos depois, sua história continua sendo resgatada como símbolo de uma tragédia que poderia ser evitada não fosse a negligência de autoridades públicas.

Fon te: O Globo

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