sábado, abril 24, 2021

Jornalistas da TV Cultura do Pará Tiveram Que Sair Escoltados, Acossados Por Bolsonaristas

O repórter Diogo Puget e o cinegrafista Carlos Jumbinho, da TV Cultura do Pará, foram agredidos física e psicologicamente ontem à tarde, ao cobrirem a chegada do presidente Jair Bolsonaro em Belém. Ambos viveram momentos de terror. Foram intimidados, xingados, empurrados e precisaram sair sob escolta policial da Base Aérea de Val de Cães. 

Estava prevista a entrega simbólica de cestas básicas pelo presidente da República no depósito de suprimentos do Exército, e muita gente foi para o portão de entrada com a esperança de receber os alimentos ali mesmo, o que não aconteceu e gerou insatisfação. A assessoria de imprensa do evento informou mudança na programação e os jornalistas credenciados tiveram que se deslocar para a base aérea, onde só bolsonaristas estavam presentes.

Diogo começou a gravar lá o stand up, que enviaria também à TV Cultura de São Paulo, e como seu texto foi construído pela ordem cronológica, mencionou primeiro o desagrado popular por conta da mudança do local da recepção a Bolsonaro. Foi o bastante para serem hostilizados com gritos de expressões de ódio pela multidão, que tentou expulsá-los aos empurrões. 

Ele ainda explicou que se trata de emissora educativa, que era só o início da matéria, e que citaria a entrega de 468 mil cestas básicas, o investimento na preservação de parques ambientais do Pará e o repasse de R$128 milhões ao Banco da Amazônia para aplicação no setor de Turismo. Mas as agressões se intensificaram, eles foram cercados ameaçadoramente e um homem com camisa da Konecta Amazônia, escrito "imprensa" atrás, foi empurrando e também deu um tapa nas costas de Diogo. 

As agressões a profissionais de comunicação não são casos isolados e a cada dia se agravam. Viver o pesadelo de ficar cercado por uma multidão hostil não é normal e nem aceitável. É uma situação horrível, apavorante, de extrema violência emocional. Nos últimos três anos os jornalistas arriscaram suas vidas (e muitos morreram), tiveram as condições de trabalho precarizadas e sofreram ataques violentos só por exercerem a profissão e cumprirem seu papel social. 

Em 2019, a Federação Nacional dos Jornalistas já alertara a sociedade brasileira para a situação de violações à liberdade de imprensa no Brasil, claramente associadas à ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência da República. Foram 208, um aumento de 54,07% em relação a 2018. No ano passado, a violência contra jornalistas e contra a imprensa de um modo geral explodiu. Houve registro de 428 episódios, 105,77% a mais do que em 2019. O presidente Jair Bolsonaro foi o principal agressor. Sozinho foi responsável por 175 casos (40,89% do total) dos 145. A postura do presidente da República, que inegavelmente não condiz com o cargo que ocupa, estimulou auxiliares e apoiadores à adoção da violência contra jornalistas como prática, nas ruas e nas redes sociais. As agressões verbais e ataques virtuais cresceram 280% em 2020, em comparação com o ano anterior, e muitos não foram computados, já que nem todas as vítimas denunciam. 

O Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa – 2020 da Fenaj revelou que proliferam ameaças, intimidações, agressões verbais e físicas, impedimentos ao exercício profissional, cerceamento à liberdade de imprensa por ações judiciais e violência contra a organização sindical da categoria, inclusive ataques cibernéticos, atentados, sequestros e cárcere privado. 

Dois jornalistas brasileiros foram mortos no ano passado: Léo Veras, na cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, divisa com Ponta Porã(MS), onde editava o site Porã News, e Edney Antunes, assassinado em Peixoto de Azevedo(MT), onde atuava como assessor.  

A Fenaj vem denunciando a organismos internacionais a evidente institucionalização do desrespeito ao princípio constitucional da liberdade de imprensa e a disseminação da violência contra veículos de comunicação e jornalistas. A sociedade brasileira precisa dizer não à violência e jamais abrir mão das liberdades individuais e coletivas, das quais o Jornalismo e os jornalistas são verdadeiros guardiões. 

Fonte: blog Uruatapera

P.S. Caso o leitor queira ver os vídeos dos atos de hostilidades contra profissionais da imprensa em Belé, durante a visita do presidente Jair Bolsonaro, acesso o blog https://uruatapera.com, pois não consiguimos transferir o link.

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