quinta-feira, julho 02, 2020

'Todos temem ser o próximo Facebook', diz ativista por trás de boicote à rede social

Jessica González, da organização Free Press, é uma das ativistas por trás do boicote ao Facebook Foto: Divulgação

Para Jessica González, codiretora executiva da organização Free Press, movimento está 'causando muita dor de cabeça' para Mark Zuckerberg

RIO — Descendente de mexicanos nascida nos EUA, Jessica González sempre atuou na defesa de minorias, sobretudo os hispânicos. À frente da Free Press, ela lidera, ao lado de outras organizações como a Anti-Defamation League e a Color of Change, a campanha #StopHateforProfit, que fez o Facebook sofrer um tombo de 8% no mercado de ações na sexta-feira por ter falhado em combater o ódio na rede social.

Qual o principal propósito de pedir às empresas que parem de anunciar no Facebook?

O principal é obter reformas amplas no Facebook, a fim de parar a livre circulação do ódio na plataforma.

O alvo é só o Facebook ou outras mídias sociais também?

Nessa campanha específica, a #StopHateforProfit, decidimos focar no Facebook. Mark Zuckerberg sempre foi teimoso em relação a reformas. Mas estamos vendo um efeito cascata no mundo tech, porque todos temem ser o próximo Facebook e o próximo alvo da campanha.

Nos últimos dias, vimos o Twitch, que pertence à Amazon, tirar temporariamente do ar o presidente dos EUA por violação da política de conduta odiosa. E vimos uma mudança completa nas políticas do Reddit. Vimos o YouTube derrubar vários supremacistas brancos que há anos pedíamos que fossem tirados do ar. 

Então, ainda que nosso alvo neste momento seja o Facebook, estamos vendo os impactos disso. Vários anunciantes suspenderam os anúncios em todas as redes sociais, outros no Facebook e no Twitter, as duas principais plataformas.

O Facebook foi avisado antes da campanha?

Nossas organizações vêm se reunindo com o Facebook há anos. Muitos de nossos parceiros falaram diretamente com Zuckerberg. Tenho contato com funcionários do Facebook ao menos uma vez por semana. Acho que eles apenas adotaram uma estratégia de apaziguamento. Tomam uma atitude simbólica para que nos afastemos. Mas não aplicam nenhuma das políticas que estão nos manuais.

Com esse boicote, Zuckerberg ouvirá o apelo?

Eu acho que ele está ouvindo. Se fará alguma coisa, é outra questão. Eles estão tomando conhecimento das reportagens na mídia, eles têm uma estratégia de relações públicas com os anunciantes, que continuam a cair. Isso está causando muita dor de cabeça a Zuckerberg e suscitando questionamentos de seus colegas e do Conselho de Administração.

Ele já anunciou mudanças. A resposta foi suficiente?

Insuficiente. O Facebook já tinha algumas dessas políticas, mas não eram aplicadas corretamente. Estou contente que ele proteja imigrantes. Essa é uma tática de Trump e dos comitês que o apoiam: promover conteúdo anti-imigração, antinegros e islamofóbico no Facebook. Mas continuaremos a campanha até que o Facebook faça algo significativo.

Como vocês se articularam com as empresas?

A estratégia foi desde o contato direto com as empresas à pressão pelas redes.

Quando a Unilever aderiu, o boicote ganhou força. Foi um momento de virada?

Acho que a Unilever foi um marco, e estamos conseguindo o apoio de outras grandes, como Target, Coca-Cola e Verizon.

A senhora acha que a campanha pode causar um prejuízo sério à receita do Facebook?

Acho que mostramos que podemos mobilizar anunciantes contra o ódio. Deixamos uma marca no Facebook. Eles perderam US$ 56 bilhões no mercado de ações semana passada. Continuarão a ganhar dinheiro? Sim. Vão esquecer o dia em que seus papéis caíram 8% e Zuckerberg perdeu US$ 15 bilhões de sua fortuna pessoal? Não.

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