domingo, maio 03, 2020

Coronavírus golpeia sonho de brasileiros em Portugal, e muitos penam para voltar

Brasileiros no aeroporto de Lisboa à espera do vôo de retorno para o Brasil. Apenas uma parte deles conseguiu embarcar Foto: Gabriel de Rezende/Zimel Press/30-4-2020 Depois de perderem o emprego, imigrantes ficam sem dinheiro e fazem fila no aeroporto, esperando vaga em voos fretados pelo Itamaraty; consulado estima que situação afeta 600 pessoas

LISBOA - Porta de entrada para o sonho de uma vida melhor na Europa, o aeroporto de Lisboa virou o centro da peregrinação de emigrantes brasileiros que desistiram de viver em Portugal. Eles perderam o emprego devido à pandemia da Covid-19 e não conseguem mais permanecer no país, mas estão sem dinheiro para a volta ao Brasil.

Em tempos de distanciamento social e frio na madrugada, cerca de 40 pessoas dormiram aglomeradas por uma semana na calçada do terminal à espera de um encaixe em um dos voos de repatriamento fretados pelo Itamaraty. Na quinta-feira, houve desistências, 23 puderam embarcar de última hora e 17 foram para um abrigo.

O cônsul-geral adjunto do Brasil em Lisboa, ministro Eduardo Hosannah, estimou que há outras 600 pessoas em situação semelhante, entre turistas e desvalidos, e adiantou que requisitou aprovação de recursos para novos voos de repatriamento, mas aconselha aos residentes a procurarem os programas de assistência de Portugal.

Ofcialmente, a comunidade brasileira residente é de 150 mil pessoas, a maior no país. O Fundo Monetário Internacional (FMI) previu que o desemprego em Portugal atingirá 14% da população, a maior taxa já registrada. Em 45 dias de estado de emergência, milhares de brasileiros perderam emprego e há relatos de que grande parte vive à beira da mendicância e dependente de doações para comer. 

Com uma manta colorida enrolada ao redor do pescoço, várias camadas de agasalhos, capuz, luvas e máscara cirúrgicas, Alex Santos dormiu durante uma semana em meio aos carrinhos de bagagens na calçada do terminal. Em um dos bolsos da calça, o ex-serralheiro de 41 anos, de Duque de Caxias, diz carregar €70, mas não pode gastar porque é o dinheiro que pretende usar para ir de São Paulo, destino único dos voos, a Conselheiro Pena, no interior de Minas Gerais, onde encontrará a mulher e as três filhas, para quem enviava dinheiro. Ele afirma que seu nome chegou a ser incluído pelo Itamaraty, mas depois o embarque foi adiado e ele segue à espera no abrigo:

— Cheguei a pensar que teria que mendigar. Trabalhava como garçom em um restaurante em Nazaré e fui despedido depois de um ano e meio em Portugal. Pensei em construir algo para a família, que ficou no Brasil, mas não deu. Não tenho visto de residência nem posso pedir seguro-desemprego, mas mesmo que pudesse, quero ir embora, porque no Brasil eu tenho casa. (O Globo)

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