quarta-feira, janeiro 29, 2020

O relato de uma brasileira de Novo Progresso confinada em Wuhan, epicentro do coronavírus: 'É como uma prisão domiciliar'

Reisi Liao
 A paraense Reisi Liao mudou-se de Novo Progresso para a cidade chinesa de Wuhan no dia 8 de novembro.
Seu marido é natural da Província de Hubei e, depois muitos anos de idas e vindas, o casal decidiu ficar definitivamente na China por causa da "incerteza" que ronda o Brasil, da "instabilidade do governo e da economia, que não vai tão bem", segundo ela.
"E a gente encontra esse cenário", diz ela, referindo-se à epidemia de coronavírus, que matou cem pessoas apenas na Província de Hubei e provocou o fechamento da cidade de Wuhan, considerada o epicentro da contaminação.
A paraense Reisi Liao mudou-se de Novo Progresso para a cidade chinesa de Wuhan no dia 8 de novembro.
Seu marido é natural da Província de Hubei e, depois muitos anos de idas e vindas, o casal decidiu ficar definitivamente na China por causa da "incerteza" que ronda o Brasil, da "instabilidade do governo e da economia, que não vai tão bem", segundo ela.
"E a gente encontra esse cenário", diz ela, referindo-se à epidemia de coronavírus, que matou cem pessoas apenas na Província de Hubei e provocou o fechamento da cidade de Wuhan, considerada o epicentro da contaminação.
Desde então, Reisi praticamente não saiu de casa. É o marido que sai para comprar mantimentos, apenas pelo tempo mínimo necessário e protegido por uma máscara.
Com um filho de dois anos, ela não desce nem para as áreas comuns do condomínio, para evitar uma exposição desnecessária do bebê ao risco.
"É como se fosse uma prisão domiciliar."Enquanto ela conversa com a reportagem, os sogros jogam dominó na sala do apartamento. Eles vieram de uma cidade próxima para as festividades do Ano Novo Lunar e, agora, por causa do bloqueio, não podem mais voltar.
Para passar o tempo, Reisi lê, assiste à televisão. "Cuidar do bebê também mantém a gente bem ocupado", ela brinca.
Como não fala mandarim, sua principal fonte de informação são os portais em português.

Wuhan
Wuhan está vazia, como uma cidade fantasma

Brasileiros pedem para ser retirados

Ela e os outros brasileiros que vivem em Wuhan mantêm contato por meio de um grupo de WeChat, serviço de mensagens instantâneas semelhante ao WhatsApp.
São cerca de 50 pessoas, segundo ela, muitos estudantes que hoje estão praticamente isolados dentro do campus da Universidade de Wuhan, que suspendeu as aulas.
Parte do grupo quer voltar ao Brasil — e já fez o pedido à diplomacia brasileira.
Em entrevista nesta terça-feira (28/1) à Rede Globo, o embaixador brasileiro em Pequim, Paulo Estivallet de Mesquita, afirmou, entretanto, que a China não autorizou voos para evacuação de cidadãos estrangeiros.
E disse ainda que as autoridades brasileiras agirão "assim que possível", quando a quarentena for suspensa pelo governo chinês.
Países como Japão e Estados Unidos já anunciaram a intenção de retirar seus cidadãos das zonas afetadas em voos fretados.
"Se você me perguntar, eu queria voltar era ontem", diz a paraense de 46 anos.
Ela teme que o confinamento possa se estender por muito mais tempo — a última grande epidemia na China, ela lembra, durou 9 longos meses.
O surto da Síndrome Respiratória Aguda Grave (conhecida pela sigla em inglês Sars), também causada por um coronavírus, começou em 2002 e matou 774 pessoas, entre 8.098 infectadas.
A quarentena decretada desta vez pelas autoridades chinesas, entretanto, não tem precedentes, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Ela atinge hoje cerca de 18 milhões de pessoas — os 11 milhões de habitantes de Wuhan e os 7,5 milhões que vivem em Huanggang, distante 70 km.

Cidade fantasma

Na última vez em que Reisi saiu de casa, alguns dias atrás, deparou-se com uma cidade vazia.
Ela foi jantar na casa da cunhada, que também vive no distrito de Hanyang — segundo a brasileira, o trânsito entre bairros também está limitado.
Encontrou ruas e estradas vazias, as poucas pessoas que circulavam pelas calçadas usavam máscara.
"Um cenário meio apocalíptico."

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