Nos mais de 50 anos como dirigente do Vasco, mandatário acumulou casos de grande repercussão dentro e fora das quatro linhas
Aremithas e Eurico |
Na manhã desta terça-feira, o dirigente não resistiu a complicações decorrentes de um câncer no cérebro e faleceu aos 74 anos.
Bebeto
Uma das maiores contratações do futebol brasileiro foi a chegada de Bebeto para a temporada de 1989. O atacante era um dos principais nomes do Flamengo na época e Eurico Miranda, então vice-presidente de futebol do Vasco, articulou-se junto à Federação de Futebol do Estado do Rio (Ferj) para fazer a contratação enquanto o jogador estava em litígio com o clube rubro-negro. Pelo Vasco, o atacante foi campeão brasileiro de 1989.
Chocolate
No domingo de Páscoa de 2000, o Vasco goleou o
Flamengo por 5 a 1 no Maracanã e foi campeão da Taça Guanabara. Antes do jogo,
Eurico Miranda prometeu entregar 40 mil ovos de chocolate para a torcida. A
promessa foi cumprida.
-
Eu dei os ovos de Páscoa para a torcida do Vasco e o chocolate para eles
(Flamengo) - disparou Eurico.
Eurico e Calçada |
Calçada
Antônio
Soares Calçada foi o presidente do Vasco durante todo o período em que Eurico
atuou como vice-presidente de futebol. Depois de ser derrotado por Calçada na
eleição para a presidência, Eurico foi convidado para assumir a principal pasta
do clube e a parceria é considerada em São Januário como a mais vitoriosa da
história. De temperamento mais conciliador e moderado, Calçada era visto como
um freio aos rompantes de Eurico.
Dinamite
Eurico
Miranda travou relação de altos e baixos com o principal ídolo do Vasco. O
dirigente é considerado um dos responsáveis pelo retorno do jogador a São
Januário, em 1980, impedindo o Flamengo de trazê-lo do Barcelona, da Espanha.
Mais tarde, os dois romperam relações quando Dinamite entrou para a política do
clube como oposição. Em 2002, o ex-atacante é expulso da tribuna de São
Januário e acusa o dirigente de ser o autor da ordem. Mais tarde, em 2008,
Roberto Dinamite conseguiu ser eleito presidente e sucedeu
Eurico,
acusando o dirigente de ter deixado o clube em crise financeira. Quatro anos
depois, foi a vez de Eurico ser eleito presidente e reclamar diversas vezes da
“herança maldita” deixada pela gestão Dinamite.
Outro
relacionamento conturbado era com Edmundo. O atacante foi um dos favoritos de
Eurico - como vice de futebol e presidente geral, contratou o jogador quatro
vezes. Viu Edmundo se tornar um dos maiores ídolos da história do Vasco, muito
graças ao título brasileiro de 1997. Posteriormente, Edmundo passou a militar
na política do clube e se tornou membro do principal grupo de oposição a
Eurico, a Sempre Vasco. Principalmente na campanha de 2017, a troca de farpas
via imprensa e redes sociais se tornou frequente.
Flamengo
Todas
as conquistas orgulhavam o dirigente, mas as mais especiais eram as
vitórias sobre o Flamengo. O dirigente transformou a rivalidade entre os clubes
em disputa particular, principalmente fora de campo.
— Vasco x
Flamengo é um campeonato à parte — resumia.
Com
provocações constantes e retórica forte, Eurico Miranda é apontado como um dos
responsáveis pelo crescimento da rivalidade entre Vasco e Flamengo a partir dos
anos 1980. Até então, a principal disputa do futebol carioca era entre
Flamengo
e Fluminense.
—
O resultado no clássico foi normal. Anormal é o Flamengo vencer — disse certa
vez, após uma vitória.
No dia em que caiu a grade de São Januário |
Grade
Eurico
Miranda vivia o ápice do poder como dirigente em 2000, último ano dele como
vice-presidente de futebol de Calçada. Com o Vasco forte no futebol e nos
esportes olímpicos, bateu o pé para que a final da Copa João Havelange, contra
o São Caetano, fosse em São Januário.
Com
o estádio lotado, só não esperava que o alambrado fosse ceder e que centenas de
pessoas invadissem o campo, dezenas delas feridas. A partida foi interrompida e
Eurico Miranda fez de tudo para que o jogo recomeçasse, até discutiu via
imprensa com o governador do estado na época, Antony Garotinho. No fim das
contas, foi Garotinho quem deu a ordem para que a partida fosse suspensa.
Havana
O
incomparável parceiro: o charuto. Eurico Miranda chegou a acender dez por dia -
com um isqueiro simples - mas descartava a maioria. Seu preferido era o cubano
Cohiba Siglo II. Tinha suas idiossincrasias, como não deixar ninguém fumar em
seu gabinete além dele e jogar fora as guimbas, deixando seu cinzeiro sempre
abarrotado de cinzas.
Uma das muitas invasões de campo |
Invasões de campo
Não foram
poucas as vezes que Eurico invadiu o campo, seja para levantar o caneco ou para
reclamar da arbitragem, principalmente em São Januário. Em 1999, em meio ao
confronto contra o Paraná, aos 42 minutos do segundo tempo, o dirigente entrou
no gramado para reclamar da arbitragem após o juiz expulsar o zagueiro Mauro
Galvão, o terceiro vermelho do Vasco na partida. O jogo foi declarado encerrado
pelo juiz Paulo César Oliveira, quando o placar estava 1 x 1.
Júlio Brant
Algoz
de Eurico na última eleição do clube, em meio a sucessivas acusações de fraude
no pleito. Em novo round, desta vez no Conselho, Eurico e Roberto Monteiro se
aliaram a Alexandre Campello, atual presidente do clube, para derrotar Julio
Brant. O velho dirigente mostrou poder, como líder dos beneméritos,
contrariando a votação e a vontade da maioria dos sócios do Vasco pela primeira
vez na centenária história vascaína.
Libertadores
Com
Eurico como vice de futebol, o Vasco conquistou uma das suas conquistas mais
importantes: a Libertadores de 1998. O cruz-maltino venceu o Barcelona de
Guayaquil, do Equador, nos dois confrontos. O título foi erguido pelo então
zagueiro Mauro Galvão, em Guayaquil. A campanha foi o ponto mais alto da
era de ouro do Vasco.
Entre
1997 e 2000, o time foi bicampeão brasileiro, campeão da Libertadores, campeão
da Copa Mercosul (precursora da Sul-Americana), campeão do Torneio Rio-São
Paulo e campeão estadual, além de torneios internacionais.
Maracanã
Em
poucas horas no comando do Vasco, em dezembro de 2014, Eurico comprou briga com
o Fluminense e com o Consórcio Maracanã, avisando que não haveria hipótese do
time atuar no estádio sem que a torcida vascaína retorne para o lugar anterior
à reforma do Maracanã: o lado direito das antigas tribunas de honra (hoje,
setor Sul). A polêmica foi novamente acesa na final da Taça Guanabara deste
ano.
Nations Bank
Em
2001, Eurico foi investigado pela CPI do futebol sob suspeita de desvio de mais
de R$ 12 milhões para uma conta particular em paraíso fiscal. O dinheiro era
fruto da parceria do Vasco com o Nations Bank, adquirido posteriormente
pelo Bank of América. O contrato entre as partes encerrou-se em 2001.
'O respeito voltou!'
Eurico nunca
deixou de provocar o Flamengo, seu principal adversário. Após a classificação
do Vasco à final do Campeonato Carioca, em 2015, ele bradou que o respeito
havia voltado ao clube da Colina. O gesto foi repetido inúmera vezes após o
clássico.
Philippe Coutinho
Em
2008, a venda do meia jovem Philippe Coutinho, a Inter de Milão (ITA) gerou
polêmica entre Eurico e Dinamite. O ex-atleta do Vasco culpou diretamente o
ex-mandatário cruzmaltino, Eurico Miranda pela precoce negociação do atleta,
ainda com 16 anos, por cerca de R$ 10 milhões. Valro considerado baixo à
época.
‘Quem falou?'
Um
dos termos que Eurico adorava falar para questionar adversários políticos,
dirigentes, jornalistas e as notícias que o contrariavam. “Crise, que crise?”
também eram frequentes nas coletivas do dirigente
Grande amizade com Romário |
Romário
A relação
entre o ex-atacante Romário e Eurico sempre foi de muita proximidade. No total,
o tetracampeão mundial conquistou 17 títulos pelo Vasco (na base e no
profissional), tendo Eurico como homem-forte do futebol ou mesmo presidente do
clube. Eurico estava a frente do clube quando o Baixinho marcou o milésimo gol,
contra o Sport, em São Januário, em 2007.
Após o
falecimento, Romário lamentou a morte do dirigente. "Eurico foi um dos
pouquíssimos amigos que fiz no futebol. Com certeza, sentirei falta de fumarmos
um charuto juntos e dos bons papos que batíamos."
Pra Sibéria |
Sibéria
Em
2015, em meio a luta do Vasco contra o rebaixamento ao Brasileiro, o
cartola disse que seguia confiante e disparou: 'Se o Vasco for rebaixado, eu me
mudo para a Sibéria". O clube foi rebaixado, mas o dirigente não chegou a
ir para o país frio. Na oportunidade, o dirigente virou alvo de diversos memes
e brincadeiras na internet.
Sul-Americano de 1948
A
influência de Eurico na Conmebol era tanta que, em 1996, ele fez com que a
confederação reconhecesse o cruzmaltino como campeão do Sul-Americano de 1948,
equiparando o torneio à atual Libertadores.
O
reconhecimento era necessário para que o clube pudesse disputar a Supercopa dos
Campeões da Libertadores, o que veio a ocorrer em 1997. Segundo o regulamento,
só poderiam participar os clubes detentores da Libertadores.
Tetra Brasileiro
Como
vice-presidente de futebol, Eurico esteve a frente do clube nos títulos
brasileiros de 1989, 1997 e 2000. O título, conquistado após vitória contra o
São Caetano, por 3 a 1, é o último brasileirão conquistado pelo cruzmaltino. No
comando do futebol, ergueu 37 taças, incluindo turnos de Campeonato
Carioca, o Rio-São Paulo-1999 e troféus de torneios internacionais.
Urna 7
A
urna 7 foi uma das últimas polêmicas no currículo do dirigente. Durante a
eleição para a presidência em São Januário, a urna de número 7 continha 90% dos
votos para chapa encampada por Miranda. O caso foi parar na justiça, com
suspeitas de fraude, levando à anulação dos votos. Sem a anulação, Eurico
venceria a eleição.
Vices Mundiais
Como
vice-presidente de Futebol, o Vasco amargou por duas vezes o vice do Mundial da
Fifa. Em 1998, em Tóquio, o Real Madrid venceu o cruz-maltino por 2 a 1.
Em 2000, em jogo histórico contra o Corinthians, novamente amargou o
vice-campeonato, após perder nos pênaltis (4 x 3) em meio ao empate de 0 x 0
Virada de mesa
Em
1997, Eurico Miranda foi o principal articulador da "virada de mesa"
que manteve o Fluminense na Série A do Campeonato Brasileiro. No ano anterior,
o time havia sido rebaixado. Na época, apesar da negativa de Ricardo Teixeira,
Miranda afirmava a todos que o Fluminense não jogaria a Série B. Isso só veio a
acontecer em 98, quando o time foi novamente rebaixado.
Zé do Táxi
José
Luiz Moreira foi um dos maiores aliados de Eurico Miranda no período dele como
presidente do Vasco. O empresário dono de uma das maiores frotas de táxis do
Rio foi vice-presidente de futebol com Eurico e um dos maiores credores do
clube, dívida milionária que ainda existe. Participou do primeiro ano da última
gestão, mas depois se afastou por desavenças, tanto que fez oposição a Eurico
na eleição de 2017.
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