terça-feira, março 12, 2019

Eurico de A a Z: o dicionário de polêmicas do dirigente do Vasco

Nos mais de 50 anos como dirigente do Vasco, mandatário acumulou casos de grande repercussão dentro e fora das quatro linhas
Aremithas e Eurico Miranda, em 2001 Foto: Fernando Maia / Agência O Globo
Aremithas e Eurico
Um dos personagens mais marcantes do futebol brasileiro e da história de São Januário, Eurico Miranda gerou polêmica por onde passou. Não foram poucos os assuntos controversos levantados pelo dirigente em sua carreira como político e dirigente. 

Na manhã desta terça-feira, o dirigente não resistiu a complicações decorrentes de um câncer no cérebro e faleceu aos 74 anos. 
Bebeto 
Uma das maiores contratações do futebol brasileiro foi a chegada de Bebeto para a temporada de 1989. O atacante era um dos principais nomes do Flamengo na época e Eurico Miranda, então vice-presidente de futebol do Vasco, articulou-se junto à Federação de Futebol do Estado do Rio (Ferj) para fazer a contratação enquanto o jogador estava em litígio com o clube rubro-negro. Pelo Vasco, o atacante foi campeão brasileiro de 1989.


Chocolate

No domingo de Páscoa de 2000, o Vasco goleou o Flamengo por 5 a 1 no Maracanã e foi campeão da Taça Guanabara. Antes do jogo, Eurico Miranda prometeu entregar 40 mil ovos de chocolate para a torcida. A promessa foi cumprida.

-  Eu dei os ovos de Páscoa para a torcida do Vasco e o chocolate para eles (Flamengo) - disparou Eurico.

Antônio Soares Calçada, Eurico Miranda e Nicolas Leoz (à direita), então presidente da Conmebol Foto: Guilherme Pinto / Agência O Globo
Eurico e Calçada
Calçada

Antônio Soares Calçada foi o presidente do Vasco durante todo o período em que Eurico atuou como vice-presidente de futebol. Depois de ser derrotado por Calçada na eleição para a presidência, Eurico foi convidado para assumir a principal pasta do clube e a parceria é considerada em São Januário como a mais vitoriosa da história. De temperamento mais conciliador e moderado, Calçada era visto como um freio aos rompantes de Eurico.

Dinamite

Eurico Miranda travou relação de altos e baixos com o principal ídolo do Vasco. O dirigente é considerado um dos responsáveis pelo retorno do jogador a São Januário, em 1980, impedindo o Flamengo de trazê-lo do Barcelona, da Espanha. Mais tarde, os dois romperam relações quando Dinamite entrou para a política do clube como oposição. Em 2002, o ex-atacante é expulso da tribuna de São Januário e acusa o dirigente de ser o autor da ordem. Mais tarde, em 2008, Roberto Dinamite conseguiu ser eleito presidente e sucedeu

Eurico, acusando o dirigente de ter deixado o clube em crise financeira. Quatro anos depois, foi a vez de Eurico ser eleito presidente e reclamar diversas vezes da “herança maldita” deixada pela gestão Dinamite.

Em 1997, Edmundo e Eurico Miranda se abraçam após conquista do título brasileiro Foto: Cezar Loureiro / Agência O GloboEdmundo

Outro relacionamento conturbado era com Edmundo. O atacante foi um dos favoritos de Eurico - como vice de futebol e presidente geral, contratou o jogador quatro vezes. Viu Edmundo se tornar um dos maiores ídolos da história do Vasco, muito graças ao título brasileiro de 1997. Posteriormente, Edmundo passou a militar na política do clube e se tornou membro do principal grupo de oposição a Eurico, a Sempre Vasco. Principalmente na campanha de 2017, a troca de farpas via imprensa e redes sociais se tornou frequente.
 Flamengo

Todas as conquistas orgulhavam o dirigente, mas as mais especiais eram as vitórias sobre o Flamengo. O dirigente transformou a rivalidade entre os clubes em disputa particular, principalmente fora de campo.

— Vasco x Flamengo é um campeonato à parte — resumia.

Com provocações constantes e retórica forte, Eurico Miranda é apontado como um dos responsáveis pelo crescimento da rivalidade entre Vasco e Flamengo a partir dos anos 1980. Até então, a principal disputa do futebol carioca era entre

Flamengo e Fluminense.

— O resultado no clássico foi normal. Anormal é o Flamengo vencer — disse certa vez, após uma vitória.

Eurico Miranda anda pelo gramado para ver a situação dos torcedores feridos após a queda do alambrado Foto: Gustavo Azeredo / Agência O Globo
No dia em que caiu a grade de São Januário
Grade

Eurico Miranda vivia o ápice do poder como dirigente em 2000, último ano dele como vice-presidente de futebol de Calçada. Com o Vasco forte no futebol e nos esportes olímpicos, bateu o pé para que a final da Copa João Havelange, contra o São Caetano, fosse em São Januário.

Com o estádio lotado, só não esperava que o alambrado fosse ceder e que centenas de pessoas invadissem o campo, dezenas delas feridas. A partida foi interrompida e Eurico Miranda fez de tudo para que o jogo recomeçasse, até discutiu via imprensa com o governador do estado na época, Antony Garotinho. No fim das contas, foi Garotinho quem deu a ordem para que a partida fosse suspensa.

Havana

O incomparável parceiro: o charuto. Eurico Miranda chegou a acender dez por dia - com um isqueiro simples - mas descartava a maioria. Seu preferido era o cubano Cohiba Siglo II. Tinha suas idiossincrasias, como não deixar ninguém fumar em seu gabinete além dele e jogar fora as guimbas, deixando seu cinzeiro sempre abarrotado de cinzas.

Eurico não vivia apenas nas tribunas. Invasões de campo eram recorrentes em jogos decisivos Foto: Simone Marinho / Agência O Globo
Uma das muitas invasões de campo
Invasões de campo

Não foram poucas as vezes que Eurico invadiu o campo, seja para levantar o caneco ou para reclamar da arbitragem, principalmente em São Januário. Em 1999, em meio ao confronto contra o Paraná, aos 42 minutos do segundo tempo, o dirigente entrou no gramado para reclamar da arbitragem após o juiz expulsar o zagueiro Mauro Galvão, o terceiro vermelho do Vasco na partida. O jogo foi declarado encerrado pelo juiz Paulo César Oliveira, quando o placar estava 1 x 1.

Júlio Brant

Algoz de Eurico na última eleição do clube, em meio a sucessivas acusações de fraude no pleito. Em novo round, desta vez no Conselho, Eurico e Roberto Monteiro se aliaram a Alexandre Campello, atual presidente do clube, para derrotar Julio Brant. O velho dirigente mostrou poder, como líder dos beneméritos, contrariando a votação e a vontade da maioria dos sócios do Vasco pela primeira vez na centenária história vascaína.


Libertadores

Com Eurico como vice de futebol, o Vasco conquistou uma das suas conquistas mais importantes: a Libertadores de 1998. O cruz-maltino venceu o Barcelona de Guayaquil, do Equador, nos dois confrontos. O título foi erguido pelo então zagueiro Mauro Galvão, em Guayaquil.  A campanha foi o ponto mais alto da era de ouro do Vasco.

Entre 1997 e 2000, o time foi bicampeão brasileiro, campeão da Libertadores, campeão da Copa Mercosul (precursora da Sul-Americana), campeão do Torneio Rio-São Paulo e campeão estadual, além de torneios internacionais.

Maracanã

Em poucas horas no comando do Vasco, em dezembro de 2014, Eurico comprou briga com o Fluminense e com o Consórcio Maracanã, avisando que não haveria hipótese do time atuar no estádio sem que a torcida vascaína retorne para o lugar anterior à reforma do Maracanã: o lado direito das antigas tribunas de honra (hoje, setor Sul). A polêmica foi novamente acesa na final da Taça Guanabara deste ano.

Nations Bank

Em 2001, Eurico foi investigado pela CPI do futebol sob suspeita de desvio de mais de R$ 12 milhões para uma conta particular em paraíso fiscal. O dinheiro era fruto da parceria do Vasco com o Nations Bank,  adquirido posteriormente pelo Bank of América. O contrato entre as partes encerrou-se em 2001.

'O respeito voltou!'

Eurico nunca deixou de provocar o Flamengo, seu principal adversário. Após a classificação do Vasco à final do Campeonato Carioca, em 2015, ele bradou que o respeito havia voltado ao clube da Colina. O gesto foi repetido inúmera vezes após o clássico.

Philippe Coutinho

Em 2008, a venda do meia jovem Philippe Coutinho, a Inter de Milão (ITA) gerou polêmica entre Eurico e Dinamite. O ex-atleta do Vasco culpou diretamente o ex-mandatário cruzmaltino, Eurico Miranda pela precoce negociação do atleta, ainda com 16 anos, por cerca de R$ 10 milhões. Valro considerado baixo à época. 

‘Quem falou?'

Um dos termos que Eurico adorava falar para questionar adversários políticos, dirigentes, jornalistas e as notícias que o contrariavam. “Crise, que crise?” também eram frequentes nas coletivas do dirigente

Romário juntamente com Eurico Miranda, inauguram um boneco com o uniforme do Vasco no Café do Gol, na Barra da Tijuca, em 1999 Foto: Fernando Quevedo / Agência O Globo
Grande amizade com Romário
Romário

A relação entre o ex-atacante Romário e Eurico sempre foi de muita proximidade. No total, o tetracampeão mundial conquistou 17 títulos pelo Vasco (na base e no profissional), tendo Eurico como homem-forte do futebol ou mesmo presidente do clube. Eurico estava a frente do clube quando o Baixinho marcou o milésimo gol, contra o Sport, em São Januário, em 2007.

Após o falecimento, Romário lamentou a morte do dirigente. "Eurico foi um dos pouquíssimos amigos que fiz no futebol. Com certeza, sentirei falta de fumarmos um charuto juntos e dos bons papos que batíamos."

Na internet, vários memes fizeram sucesso com a declaração do dirigente Foto: Reprodução / Internet
Pra Sibéria
Sibéria

Em 2015, em meio a luta do Vasco contra o rebaixamento ao Brasileiro,  o cartola disse que seguia confiante e disparou: 'Se o Vasco for rebaixado, eu me mudo para a Sibéria". O clube foi rebaixado, mas o dirigente não chegou a ir para o país frio. Na oportunidade, o dirigente virou alvo de diversos memes e brincadeiras na internet.

Sul-Americano de 1948

A influência de Eurico na Conmebol era tanta que, em 1996, ele fez com que a confederação reconhecesse o cruzmaltino como campeão do Sul-Americano de 1948, equiparando o torneio à atual Libertadores.

O reconhecimento era necessário para que o clube pudesse disputar a Supercopa dos Campeões da Libertadores, o que veio a ocorrer em 1997. Segundo o regulamento, só poderiam participar os clubes detentores da Libertadores.

Tetra Brasileiro

Como vice-presidente de futebol, Eurico esteve a frente do clube nos títulos brasileiros de 1989, 1997 e 2000. O título, conquistado após vitória contra o São Caetano, por 3 a 1, é o último brasileirão conquistado pelo cruzmaltino. No comando do futebol, ergueu 37 taças, incluindo turnos de Campeonato Carioca, o Rio-São Paulo-1999 e troféus de torneios internacionais.

Urna 7

A urna 7 foi uma das últimas polêmicas no currículo do dirigente. Durante a eleição para a presidência em São Januário, a urna de número 7 continha 90% dos votos para chapa encampada por Miranda. O caso foi parar na justiça, com suspeitas de fraude, levando à anulação dos votos. Sem a anulação, Eurico venceria a eleição.

Vices Mundiais

Como vice-presidente de Futebol, o Vasco amargou por duas vezes o vice do Mundial da Fifa. Em 1998, em Tóquio, o Real Madrid venceu o cruz-maltino por 2 a 1.  Em 2000, em jogo histórico contra o Corinthians, novamente amargou o vice-campeonato, após perder nos pênaltis (4 x 3) em meio ao empate de 0 x 0

Virada de mesa

Em 1997, Eurico Miranda foi o principal articulador da "virada de mesa" que manteve o Fluminense na Série A do Campeonato Brasileiro. No ano anterior, o time havia sido rebaixado. Na época, apesar da negativa de Ricardo Teixeira, Miranda afirmava a todos que o Fluminense não jogaria a Série B. Isso só veio a acontecer em 98, quando o time foi novamente rebaixado.

Zé do Táxi

José Luiz Moreira foi um dos maiores aliados de Eurico Miranda no período dele como presidente do Vasco. O empresário dono de uma das maiores frotas de táxis do Rio foi vice-presidente de futebol com Eurico e um dos maiores credores do clube, dívida milionária que ainda existe. Participou do primeiro ano da última gestão, mas depois se afastou por desavenças, tanto que fez oposição a Eurico na eleição de 2017.

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