segunda-feira, fevereiro 11, 2019

Plantio de folha de coca prospera com mão de obra de venezuelanos

Venezuela
 Ao arrancar os primeiros arbustos as mãos já se enchem de bolhas e latejam pelo inchaço, mas o pior é quando as bolhas estouram e a mão se enche de sangue. E os venezuelanos amaldiçoam o governo, pois nenhum nunca imaginou que fugiria da crise para colher folha de coca na Colômbia.

“O problema começa com as mãos”, diz Eduar. Há dois anos, esse jovem de 23 anos, pai de dois bebês, migrou da cidade venezuelana de Guárico, onde trabalhava com mototáxi. 

Do centro da Venezuela viajou por terra até a região limítrofe de Catatumbo, onde inicialmente ganhou a vida como pedreiro. Um trabalho que considerou menos desgastante e doloroso que as dez horas que passa todos os dias nas plantações de coca, sempre sob o sol ou chuva. 

“O problema são as mãos”, repete Eduar, tirando as faixas de pano vermelho, para exibir as mãos e os dedos cheios de calos. Eduar, que não quis revelar seu verdadeiro nome para evitar problemas quando voltar para a Venezuela, tira os sapatos e continua trabalhando com meias rasgadas. Transpira muito e usa um chapéu de palha de lhe dá uma aparência de espantalho. 

Com a colheita, ganha por semana até US$ 144, três vezes mais do que recebia na construção. Como a maioria dos imigrantes, fica com apenas uma parte e envia o resto para a família na Venezuela. 

Por décadas, apenas os colombianos migravam para Catatumbo, mas desde 2016 estão chegando venezuelanos da diáspora. Apesar de ser uma zona desmilitarizada, grupos armados exercem influência e disputam o controle dos cultivos de folhas de coca. Até 2017 Catatumbo concentrava 16,5% do total dos cultivos ilegais na Colômbia, o maior fornecedor mundial de cocaína.

Apesar de alguns dos venezuelanos em Catatumbo dizerem que haviam apoiado o chavismo, agora todos querem que Nicolás Maduro deixe o poder. “Não precisávamos sair de nosso país, do lado de nossa família, se não fosse por causa deles, que nos levaram à bancarrota. Estamos desesperados para ouvir algo, que o país já está se recuperando ou que houve um golpe de Estado”, diz Endy Fernández, de 36 anos. / AFP

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