quarta-feira, outubro 31, 2018

*Mauro Torres: Repórter por acaso


Mauro Torres - Desde a primeira metade da década de 1980, televisão tem sido minha área de trabalho. Já vi e vivi diversas situações, das mais inusitadas às mais cômicas, estranhas, emocionantes, enfim. Em 1984, conheci a primeira turma de colegas com quem dividi momentos de alegria, de tristeza, de embaraços e gafes que só agora percebo quão engraçadas foram.

Em 1989, entrei, por acaso, na carreira de jornalista. Não sou formado, mas aprendi muita coisa ao longo desses quase trinta anos de jornalismo. Saí do Exército e fui para a TV Tapajoara, à época dirigida por Marilu Machado Freire Macedo, esposa do amigo Sílvio de Paiva Macedo. Foi bem por acaso mesmo que eu passei a ser repórter.

Todos os dias eu vinha à emissora, já que estava desempregado. Em um desses dias, Marilu Macedo perguntou à gerente de jornalismo à época, Marilene Silva: “quem é aquele ‘rapazinho’ que, todos os dias que eu chego, ele está aqui?”. Marilene respondeu que eu estava atrás de emprego. Então fui chamado à sala da diretora. Quando entrei, Marilu Macedo olhou-me e perguntou: “mano, tu quer fazer o quê aqui, tu quer ser repórter, é?”, ao que eu respondi prontamente que estava desempregado e faria o que me fosse proposto fazer. Pronto, nascia o repórter Mauro Torres.

No mesmo dia, Marilene Silva me chamou à redação para dizer o que eu teria que fazer e me passou a primeira pauta da minha carreira. Exatamente naquele dia, que não me lembro a data, acontecia a criação e a formação da primeira diretoria do então Sindicato Rural Patronal de Itaituba, o “Sirpi” (hoje Sipri). Meu primeiro entrevistado foi o primeiro presidente da entidade, Joaquim Carlos Lima. Naquele mesmo evento, também consegui arrancar de Amadeu Coutinho Neto a sua primeira e, que eu saiba, a única entrevista.

Depois disso, me vieram muitas e muitas situações, como eu já disse, engraçadas ou constrangedoras, mas que, de uma forma ou de outra, contribuíram para enriquecer meus conhecimentos e fazer de mim o profissional que sou hoje. Já tomei empurrão de embriagado, levei pedrada de menino portador de distúrbio mental e até um soco no nariz de uma senhora que passava por uma crise neurológica.

Algumas situações são bem interessantes, como em certa ocasião, quando, estando em Jacareacanga cobrindo a primeira edição de uma feira da produção familiar, me veio a ideia de entrevistar um indígena que comercializava frutas e farinha de mandioca. Cheguei educadamente para o indígena e perguntei: “você fala minha língua?”. Ele olhou pra mim e respondeu: “não”, só isso.

Quando estive repórter na TV Tapajós, Canal 4, em Santarém, (afiliada da Rede Globo), também escrevi para o jornal O Impacto e tive que enfrentar algumas situações bem inesperadas. Em uma delas, fui abordado por um oficial de Justiça que me pediu que assinasse uma intimação.

O documento me cientificava de um processo que estava sendo movido contra mim por um médico que havia sido candidato a prefeito de Santarém e estava prestando serviço em Aveiro. Fui ao fórum no horário marcado, entrei na sala de audiência. O juiz olhou para mim, pediu desculpas e disse que não seria possível ‘cobrir a audiência’ porque as partes poderiam não gostar. Eu disse a ele que não estava como repórter, mas sim como réu. O próprio juiz sorriu da situação e o denunciante foi chamado à sala. “O quê que você faz aqui, Mauro?” – perguntou. Eu respondi que estava ali para responder a um processo, ele disse que eu estava enganado; eu havia sido ‘processado por engano’.

Aconteceram muitos outros episódios pitorescos e ainda acontecem em minha carreira de jornalista. Por enquanto, são esses os que eu lembro. Em uma próxima oportunidade, pesquisaremos nas nossas memórias alguns outros episódios que, com certeza, vão arrancar boas risadas.



*Publicado na edição 243 do Jornal do Comércio, que está circulando a partir de hoje.

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