terça-feira, outubro 30, 2018

A Expedição América do Sul de Moto, Tintim por Tintim, Parete 9

Catedral de Manizales
Depois que fomos liberados da aduana equatoriana, ainda no dia 28 de outubro, seguimos Equador adiante. Na primeira barreira policial os guardas mandaram que encostássemos as motos e nos identificássemos. Obedecemos e informamos que éramos brasileiros. Foi o bastante para puxarem conversa e nos liberaram em poucos minutos.


Continuávamos nas alturas, em plena Cordilheira dos Andes, pois saímos de 2.780 metros de Ipiales, na Colômbia, para 2.970 de San Gabriel, depois de termos passado pela primeira cidade do Equador, Tulcán, capital da província de Carchi. Já era noite quando chegamos a San Gabriel. O termômetro marcava onze graus centígrados. Isso somado ao vento provocado pela velocidade da moto, piorava muito as coisas. À noite a temperatura chegou aos oito graus.


Jantamos no restaurante de uma chinesa simpática que não falava uma palavra de espanhol. Uma equatoriana é que fazia a comunicação com os clientes. Comemos bem, uma das melhores refeições de toda a viagem, por um preço pra lá de acessível.


Na embaixada do Brasil em Quito, Equador
Dia 29 de outubro levantamos bem cedo, batendo os queixos de frio. Fomos convidados para tomar café com o pessoal do hotel. Uma xícara de café e um pãozinho seria todo o nosso alimento até às nove da noite porque tivemos um novo imprevisto: perdemo-nos, novamente, um do outro, na entrada de Quito, capital do Equador.


A Natureza naquela região dos Andes é maravilhosa, o que fez com que a gente parasse três vezes para fazer fotos. Numa dessas paradas deu-se o problema. Eu achei que o Jadir já tinha se mandado, por estávamos um pouco distantes um do outro na sessão de fotos. 

Então, subi na minha moto e segui em direção da capital do Equador. Na entrada da cidade, sem ver o Jadir no percurso, parei no acostamento da Panamericana, ficando ali por quase meia hora esperando que meu amigo aparecesse. Nada!


Resolvi seguir direto para a embaixada no Brasil, pois estava tudo certo entre nós para a gente ir até lá para tentar ajuda para trocar reais por dólares. Às 11:40, ao chegar à esquina da Avenida Amazonas - a mais comprida da cidade, que tem outras denominações em outros trechos - com a Rua Colón, onde fica o prédio da embaixada, estacionei a moto na calçada, porque naquela parte da cidade não se pode estacionar na rua. 

Durante uma hora e meia fiquei em pé na esquina observando cada moto que aparecia, torcendo para que fosse o Jadir. Às 14:00 subi até o nono andar, dirigindo-me ao consulado, já bastante preocupado. Fui atendido pela funcionária de carreira Maria Inez, muito experiente, já tendo morado até no Cairo por muitos anos. Peguei algumas informações a respeito de como trocar dinheiro brasileiro por dólar, embora elas tenham sido nada alentadoras.


De novo os documentos estavam todos com o Jadir. Caso ele não aparecesse, o máximo que a embaixada poderia fazer seria dar-me uma autorização para que eu pudesse retornar, de lá de Quito para o Brasil. Quanto a moto, nada podia ser feito. A essa altura eu estava mesmo preocupado era se tinha acontecido alguma coisa ao meu amigo. Cheguei a pedir para a Maria Inez entrar em contato com a polícia, com hospitais, para saber se havia alguma notícia, Ela pediu para esperar mais um pouco. Estava preocupado quanto à possibilidade de ter havido algum acidente com o Jadir.


Desci para continuar esperando. Poucos minutos depois, às 14:45, para nossa grande alegria mútua, o Jadir surgiu do nada. Sem perda de tempo subimos para o consulado brasileiro para conversar com a Maria Inez, sobre câmbio. Ela ainda tentou ver se algum funcionário da embaixada não estava precisando trocar lar americano, que é a moeda do Equador, mas não havia ninguém interessado. Indicou-nos uma casa de câmbio que faria a troca. Fomos lá e tivemos nova decepção, pois só pagavam 34 centavos de lar por um Real, enquanto o câmbio no Brasil era de quase 50 centavos. Claro que não trocamos.


A última tentativa foi feita no aeroporto de Mariscal, para onde fomos. Também não tivemos êxito. Isso já era mais de quatro da tarde. Pegamos informações sobre a Ciudad de la Mitad del Mundo, o Marco Zero da linha do Equador, que ficava poucos quilômetros distante dali. No caminho fomos parados por uma grande blitz de trânsito, mas demoramos pouco, porque nossa documentação estava toda em ordem.


Na verdade, o ponto zero do Equador fica a 750 metros do lugar onde está o monumento da Metade do Mundo, museu e planetário. O motivo de ter sido construído lá foi pelo fato do terreno ser mais adequado. Isso, de forma alguma, altera o humor dos milhares de turistas que passam por lá.

Caía a noite quando deixamos a Ciudad de la Mitad del Mundo. Cortamos boa parte da cidade de Quito rumando para o Sul para dormir fora da capital para evitar que a gente perdesse muito tempo no trânsito de manhã cedo, quando seguíssemos viagem.


Até o hotel onde paramos, na margem da rodovia Panamericana, constatamos que muitos motoristas equatorianos têm o péssimo hábito de fazer curvas na contramão, na estrada, além de não acenderem os faróis quando já está escuro. É preciso redobrar os cuidados.


Um pouco de Quito - San Francisco de Quito é uma cidade muito comprida, com mais de 30 quilômetros de extensão, porém, bastante estreita. A parte mais larga não passa de cinco quilômetros porque não há como crescer mais para os lados, uma vez que a cidade está localizada num vale, cercada de montanhas pela direita e pela esquerda, sendo o vulcão ativo Pichincha uma referência para a cidade. Tem perto de dois milhões de habitantes. Foi fundada em 1534 pelo espanhol Sebastián de Benalcázar. Tem um tráfego bem organizado, melhor do que muitas capitais brasileiras e outros países da América do Sul.


29 de outubro de 2008 - Depois de uma noite muito fria, que chegou aos sete graus, levantamos cedo, nos protegemos ao máximo para enfrentar o frio e caímos na estrada, pensando em sair do Equador naquele mesmo dia, passando para o território do Peru.


Pouco tempo depois que a gente partiu, eu freei muito em cima, num sinal de trânsito. A moto derrapou um pouco, projetando-me para cima de um carro de passeio tipo EcoSport. 

Eu estava em velocidade maior que a do carro; na passagem o espelho esquerdo de minha moto tocou no retrovisor do lado do passageiro, com certa violência. Levei um grande susto e ainda ficou a preocupação de ter que dar explicações em alguma barreira policial. Segui em frente, olhando direto no retrovisor se estava sendo seguido até que o carro desapareceu de minha vista.


Na cidade de Ambato, mais ou menos na metade do país, pegamos a rodovia errada. É uma estrada com inclinações muito íngremes, as maiores que enfrentamos, além de ser muito ruim, com muitos trecho de estrada de chão, a qual tinha uma piçarra muito fina. 

Qualquer descuido, qualquer curva feita um pouco mais veloz, estaríamos no chão.
Aquele foi o dia em que rendemos menos na estrada, até então. Após voltarmos à Panamericana, de meio-dia até as cinco da tarde enfrentamos uma forte neblina. Mas, não se tratava de uma neblina qualquer. A gente andava com tudo quanto era luz acesa, incluindo o pisca e ainda assim um não enxergava o outro a uma distância de mais de vinte metros.


Some-se a isso, o péssimo hábito (do qual já falei) de muitos motoristas equatorianos trafegarem na estrada com luz apaga, mesmo debaixo de uma neblina como aquela. Para aumentar a adrenalina, aquele foi o pior trecho da rodovia Panamericana pelo qual a gente viajou, sendo muito, mas muito mal conservado. Havia lugares tão ruins, sem asfalto e com muitos buracos, piores do que a maioria das vicinais de Itaituba. Isso tudo fez com que a percorrêssemos muito menos quilômetros do que imaginávamos. Quando viajávamos por aquela parte da rodovia intercontinental sentimos muitas saudades dos ótimos trechos da Colômbia.

Durante horas enfrentamos uma chuva gelada até que chegamos à pequena cidade de Girón, que apesar dos seus apenas 12.500 habitantes é capital da província de Azuay. O relógio marcava 19:15. Tínhamos deixado para trás, ao Norte, uma das maiores cidades do Equador, Cuenca.


Ficamos no hotel Rincón del Rio, muito bom e barato. Apartamentos confortáveis, restaurante bom e bonito, salão de convenções e mais um monte de coisas. A gerente, Narcisa Muños nos disse que quando chegamos com aquela aparência esquisita ficou desconfiada, pois além de monte de roupa para combater o frio estávamos com capa de chuva por cima. Mas, depois que mantivemos contato falou que viu logo que se tratava de gente boa.


O Rincón del Rio nos proporcionou uma boa noite de recuperação em Girón. Bem dispostos, cedo, quinta-feira, 30 de outubro, aproveitamos o bom tempo para ganhar terreno. Enfrentamos uma hora de neblina, mas, nada comparado com o que acontecera no dia anterior. Perto de 11:00 demos saída na aduana do Equador e fomos para a aduana do Peru. No próximo capítulo começarei a relatar nossa passagem pelo Peru.

Jota Parente

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