quarta-feira, setembro 19, 2018

Por telefone, Bolsonaro cobrou Paulo Guedes sobre 'nova CPMF'


BRASÍLIA (O Globo) — Internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, se recuperando do atentado sofrido há duas semanas, Jair Bolsonaro (PSL) ligou logo na manhã desta quarta-feira para cobrar do economista de sua campanha, Paulo Guedes, explicações sobre a proposta de criação de uma "nova CPMF". 

A informação publicada pelo jornal "Folha de S.Paulo" sobre a proposta exposta por Guedes a um grupo de investidores gerou a primeira crise entre o candidato e aquele a quem nominou de "Posto Ipiranga" para assuntos econômicos.

Bolsonaro não tinha sido consultado sobre o plano e reclamou que a forma como o assunto chegou à imprensa obrigava a campanha a esclarecer de forma detalhada como seria eventual implementação, até porque o candidato já prometeu algumas vezes redução de tributos.


Guedes se comprometeu com o presidenciável a detalhar mais a proposta para passar a ideia de que eventual recriação só ocorreria com o fim de tributos já existentes. Em entrevista ao GLOBO nesta tarde, o economista tratou a tributação sobre movimentações financeiras como uma alternativa em estudo para substituir entre quatro a seis tributos, como o Imposto sobre Produtos Industrializados.

Explicou ainda que a proposta concorre com a ideia de criar um imposto sobre valor agregado (IVA), em análise por outros candidatos. Prometeu ainda que seu plano econômico terá o horizonte de baixar a carga tributária de 35% para 25% em dez anos.

A surpresa com a proposta não foi apenas do presidenciável. Na mesma terça-feira em que debateu o tributo com investidores, Guedes se reuniu com os principais integrantes da campanha e nada falou sobre o tema. O presidente do PSL de São Paulo, deputado Major Olímpio, também questionou o economista sobre o tema logo pela manhã.

Ele (Guedes) disse que estava fazendo uma fala com um grupo de pessoas e que a informação vazou por alguém que não entendeu a proposta. Ele me disse que deixou claro que há vários planos e nenhum deles foi submetido, além de ter ressaltado que a decisão será do Bolsonaro. Falou ainda que todas as propostas são para diminuir tributos. A minha preocupação foi tal qual a do Bolsonaro e tal qual a de vocês, que estão repercutindo isso 
— disse Olímpio.

Presidente licenciado do PSL, Luciano Bivar destacou ser ele próprio defensor da ideia do imposto único, mas reconheceu ter havido uma "confusão" pela forma como o tema veio a público.

A grande confusão é que saiu como se a proposta fosse criar um novo imposto. E não é recriação, a ideia é se aglutinar vários tributos em um só e reduzir esse manicômio tributário que nós temos. E tudo vai ser submetido ao Bolsonaro, que já deu a diretriz de que precisamos reduzir a tributação — afirmou Bivar.

Outro integrante do núcleo duro da campanha, o general da reserva Augusto Heleno reconheceu que a repercussão não foi boa e destacou que soluções como a da unificação de impostos não virão em um passe de mágica.

Ele (Guedes) tem muita cancha e resolveu falar isso numa palestra restrita. Mas hoje tudo vaza e a repercussão não foi boa. Não é nada que não seja explicável e nesse formato de substituição é até saudável. Mas claro que as coisas não vão acontecer em um toque de mágica. São etapas que vão ter que ser vencidas, não se faz isso com varinha de condão — afirmou Heleno.

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