O que ainda continua nebuloso é a motivação do autor da tragédia,
o aposentado divorciado Stephen Paddock, de 64 anos. A polícia levou 72 minutos
para localizar o atirador, que foi encontrado morto no quarto do hotel. E o
país e o mundo ficaram chocados com o verdadeiro arsenal de guerra em posse de
Paddock: 23 armas, dentre elas pelo menos oito fuzis, foram encontrados no
local do crime; em sua casa, em Mesquite, ao norte de Las Vegas, a polícia
achou mais 19 armas, explosivos e milhares de cartuchos munição, o que
novamente reabriu o debate sobre o controle de armas nos EUA. Em seu carro
ainda foi encontrado nitrato de amônia — fertilizante que pode ser usado para
fazer explosivos.
‘PARECIA UMA CENA DE GUERRA’
‘PARECIA UMA CENA DE GUERRA’
Segundo a
CNN, a loja Guns & Guitars, em Mesquite, vendeu algumas armas para o aposentado.
Em nota, a empresa confirmou que Paddock comprou armamento no local, mas disse
que todos os requisitos necessários para a venda foram cumpridos. “Ele nunca
deu nenhuma indicação ou motivo para acreditar que era instável ou impróprio em
qualquer momento.
Estamos
cooperando com a investigação em andamento das forças locais e federais.”
O
atirador usou um martelo para quebrar duas janelas do quarto do hotel, onde se
hospedou na quinta-feira passada. Dali, posicionou pelo menos dois rifles, de
acordo com as autoridades, disparando a uma distância de 366 metros do local
onde cerca de 22 mil pessoas assistiam ao show do cantor country Jason Aldean.
O desespero das pessoas, que não sabiam como agir ao ouvir os disparos, agravou
a situação: assustadas, muitas se jogaram no chão, fazendo com que outras
caíssem durante a fuga e acabassem pisoteadas. Robert Hayes, um bombeiro de Los
Angeles que assistia ao show perto do palco, disse que primeiro pensou que os
tiros fossem um barulho causado pelo mau funcionamento de algum equipamento,
mas rapidamente se juntou aos socorristas.
—
Provavelmente declarei mortas de 15 a 20 pessoas — contou à Fox News. — Parecia
uma cena de guerra.
Mas o
cenário de desespero no momento do massacre, classificado pelo presidente
Donald Trump como “um ato de pura maldade”, não combina com o perfil do
assassino, um aposentado de 64 anos, que tinha uma vida tranquila e era um
grande apostador: segundo registros dos cassinos, ele chegava a apostar de US$
20 mil a US$ 30 mil por noite. Após um minuto de silêncio pelas vítimas, Trump
lembrou que as respostas ainda não são claras.
— Sei que
estamos buscando algum tipo de significado no caos, algum tipo de luz na
escuridão. O FBI e o Departamento de Segurança Interna estão trabalhando com as
autoridades locais para ajudar na investigação, e vão fornecer atualizações —
afirmou, anunciando que irá amanhã a Las Vegas e elogiando os socorristas. — A
velocidade com que eles agiram foi milagrosa. Encontrar o atirador tão rápido é
algo pelo qual nós sempre seremos gratos.
O que
mais intriga até o momento é a falta de motivação aparente para o crime. O FBI
descartou que Paddock tivesse se inspirado no Estado Islâmico, que reivindicou
a autoria do ataque — como já vem fazendo em outros casos envolvendo lobos
solitários, muitas vezes sem veracidade. A Amaq, órgão de propaganda do grupo,
chegou a afirmar que Paddock era “um soldado do EI” que se “converteu ao Islã
há alguns meses”, mas o FBI rapidamente descartou o vínculo.
— Não
determinamos até agora nenhuma conexão com um grupo terrorista internacional —
disse o agente Aaron Rouse.
De fato,
Paddock não tinha antecedentes criminais nem registros de prisão — apenas uma
citação por infração de trânsito. Além de contador, tinha licença de piloto e
permissão para caça de animais de grande porte, válida para o Alasca. Por
vários anos, viveu com a namorada, Marilou Danley, numa comunidade de
aposentados em Reno, em Nevada. O casal também tinha uma casa em Mesquite, uma
pacata comunidade ao norte de Las Vegas, e dividia-se entre os dois locais.
Atualmente em Tóquio, Marilou está colaborando com a investigação e será
interrogada assim que retornar aos EUA. Mas, segundo a polícia, ela não parece
ter qualquer envolvimento.
Sua
família também se mostrou surpresa — apesar de seu pai ter figurado, nos anos
1960, como um dos mais procurados pela polícia americana por participação em
roubos. Em entrevistas a TVs locais, seu irmão afirmou estar chocado e disse
que nunca desconfiou de que Paddock pudesse fazer algo do gênero. Segundo Eric
Paddock, o atirador era um homem de posses, que enriqueceu com investimentos
imobiliários.
— Onde
diabos ele conseguiu armas automáticas? Não tinha antecedentes militares nem
nada disso — disse Eric à CBS News, negando que o irmão tivesse afiliação
política ou religiosa. — Era um cara normal, morava em Mesquite, e jogava em
Las Vegas. Fazia coisas normais, comia burritos.
Ainda de
acordo com ele, o atirador não era “ávido por pistolas”.
— Algo se
rompeu nele, algo aconteceu. É como se um asteroide tivesse atingido nossa
família — reiterou, em entrevista ao jornal “Las Vegas Review-Journal”. — Não
temos ideia do que aconteceu.
Os
vizinhos dizem que normalmente interagiam com Marilou, mas não com Paddock, que
era extremamente introvertido.
POLICIAL
ENTRE OS MORTOS
Ao longo
do dia, algumas vítimas começaram a ser identificadas, dentre elas dois
canadenses: uma delas, a bibliotecária Jessica Klymchuk, de 34 anos, que morava
com o marido e quatro filhos em Alberta. Dentre os americanos, morreram o
policial Charleston Hartfield, de 34 anos, que estava de folga; Adrian
Murfitti, de 35 anos, pescador e comerciante que vivia no Alasca e passava as
férias em Las Vegas; Quinton Robbins, estudante universitário de 20 anos; Lisa
Romero, secretaria de um colégio no Novo México; Jordan McIldoon, aprendiz de
mecânico; e Sonny Melton, enfermeiro de 29 anos, do Tennessee.
O
massacre ocorreu em uma das cidades mais turísticas do mundo, terra dos
cassinos e de shows. E não interrompeu em parte o clima festivo de Las Vegas:
menos de 12 horas após o massacre, a maioria dos cassinos, incluindo o local de
onde partiram os disparos, continuara funcionando normalmente. Segundo
levantamento do site massshootingtraker.org, apenas este ano morreram 460
pessoas em chacinas com ao menos três vítimas, contra 421 em igual período do
ano passado.
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