Marilene Parente – Artigo da edição 234ª do Jornal do Comércio, circulando
Do jeito que a
corrupção se enraizou no meio da sociedade brasileira, se não fosse tomada
nenhuma providência, não se sabe a gente iria para, pois fomos nos acostumando
com a ideia de que é normal roubar o erário público. O rouba, mas, faz, que
teve origem nos longínquos anos 1950, com Ademar de Barros Filho, em São Paulo,
aprimorado por Paulo Maluf, a partir dos anos 1980, quase virou uma instituição
nacional.
O conceituado
filósofo brasileiro Mário Sérgio Cortella, ao responder a um questionamento de
Fátima Bernardes, no programa Encontros, sobre se é a ocasião que faz o ladrão,
afirmou que a ocasião revela o ladrão. Ou
seja, a pessoa que tem índole corrupta, só precisa que apareça a oportunidade
para se revelar publicamente.
Corrupto é quase um
eufemismo para se denominar ladrões de colarinho branco. Ladrão é o pobre que
rouba pouco, que faz gato de energia elétrica, gente que nunca teve chance de
meter a mão numa bolada grande, porque nunca ocupou um cargo importante. Já o
corrupto é aquele ladrão que ganha fama nacional roubando dinheiro da educação,
da saúde e de programas de assistência social, sem nenhum peso na consciência.
O corrupto, ou
ladrão de colarinho branco é, muitas vezes, mais pernicioso do que perigos
bandidos que promovem assaltos, pois, o corrupto pode matar muito mais gente
quando tira dinheiro da merenda escolar, quando desvia recursos para custear
tratamentos médicos de quem não tem como pagar um plano de saúde, ou para
comprar medicamentos.
Quando falta
dinheiro para compra de produtos para creches e escolas públicas porque a verba
foi desviada por corruptos, provocando a falta de dinheiro para botar comida na
mesa das crianças, que muitas vezes só tem aquela refeição, esses ladrões
ajudam a promover a evasão escolar e o retardamento do desenvolvimento de
milhares de crianças.
Antes dessas
operações todas, do Ministério Público Federal, da Polícia Federal e do Poder
Judiciário em nível federal, ser corrupto no Brasil era praticamente um status.
E o mais impressionante é que esses gatunos públicos e privados, eleitos, ou
não, adoram roubar à vontade, mas, querem ser reconhecidos como benfeitores da
humanidade, quando aprovam uma emendinha para esse ou aquele município. Ficam
muito deprimidos quando são pegos com a mão na grana alheia.
O título deste
artigo, Corrupção Aprende-se em Casa,
tem o objetivo de chamar atenção dos pais, que ligam a TV para assistir a um
telejornal sempre recheado de notícias sobre corrupção. Tem sido assim no
Brasil, já faz uns cinco anos, pelo menos. E a gente assiste a tudo, na maioria
das vezes, sem a preocupação de chamar os filhos para verem as notícias, pelo
menos de vez em quando, comentando com eles o que se passa, a gravidade da
situação e quão pernicioso é a malversação de recursos públicos.
Os filhos aprendem
corrupção em casa, no meio da família, quando veem os pais tentarem corromper
guardas de trânsito ao serem pegos com documentação vencida do veículo, ou CNH
vencida. Da mesma forma, quando veem o gateiro subir no poste para fazer um
gato de energia elétrica, e de quebra, ainda ouvem o pai ou mãe dizer que está
fazendo aquilo por que a conta de luz está muito cara. E por aí vão os exemplos
de como formar um futuro corrupto a partir da nossa casa.
Li um texto na
internet sobre comportamento de usuário de transporte público na Suécia. Um
brasileiro que estava passeando por Estocolmo entrou em um metrô, onde viu uma
catraca pela qual não passava ninguém, e não havia nenhum funcionário
controlando. Quis saber com uma funcionária, se estava quebrada. Não estava,
informou a moça consultada. É para pessoas que por algum motivo não podem
pagar. Mas, as pessoas que podem, não a usam para passar de graça, perguntou ele.
Porque fariam, perguntou ela de volta. E o brasileiro se deu conta de que
estava num país onde honestidade é uma virtude comum, não, uma exceção. Que
bom, se aqui fosse assim!
Marilene Parente – Bacharel em Direito pela
Universidade do Grande ABC
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