Para os paraense e para brasileiros de tudo quanto
é estado que vivem na região sudoeste do Pará, o estado de Mato Grosso tem sido
exemplo de desenvolvimento e de sucesso nos negócios.
Os números provam que o estado vizinho tem se desenvolvido a passos largos, calçado, principalmente, no agronegócio.
Mas, em se tratando de Brasil, tinha que misturar todo esse sucesso com corrupção, que envolve algumas das maiores figuras políticas do estado.
É o caso do ex-governador Silval Barbosa, que visitou Itaituba no primeiro mandato de Valmir Climaco, vindo junto com uma grande caravana, pela BR 163, para olhar a área onde estão implantadas estações de transbordo de cargas.
Silval foi preso em 17 de dezembro de 2018, acusado de liderar um grande esquema de corrupção.
Em 13 de junho de 2017 ele passou para o regime de prisão domiciliar, depois de fazer acordo para devolver R$ 46 milhões aos cofres públicos.
Mais recentemente, figuras que até então estavam acima de qualquer suspeita, foram envolvidas em denúncias de desvio de muitos milhões de reais.
Entre esses empresários/políticos, está Blairo Maggi.
Confira o que diz a matéria de hoje, de O Globo, a respeito do assunto.
Jota Parente
O Globo
CUIABÁ - Inexpressivo politicamente fora de Mato
Grosso, o ex-governador Silval Barbosa (PMDB) foi alçado ao cenário nacional na
semana passada como delator do maior esquema de corrupção revelado em seu
estado, inclusive com a divulgação de políticos locais escondendo maços de
dinheiro em bolsas, mochilas e paletós.
Acusado de liderar uma organização criminosa que
pode ter saqueado até R$ 1 bilhão dos cofres públicos, ele mesmo é acusado de
ajudar a engendrar o ambiente favorável à roubalheira no estado. Por quatro
anos, o ex-governador pôs toda a família para participar do esquema: mulher,
filho e irmão.
É esperada para daqui um mês a primeira sentença do
ex-governador na Justiça de Cuiabá. Depois de ter ficado um ano e nove meses
preso no Centro de Custódia de Cuiabá, ele conseguiu, em junho passado, ter a
prisão transferida para seu apartamento duplex na capital mato-grossense.
Enquanto estava na cadeia, viu a mulher e o filho
pararem atrás das grades.
A ex-primeira-dama Roseli de Fátima Meira Barbosa e
o filho Rodrigo da Cunha Barbosa foram alvos da investigação que está sendo
chamada de Lava-Jato pantaneira. Mãe e filho estão soltos, aguardando
julgamento. Rodrigo, assim como o pai, usa tornozeleira eletrônica. Roseli é
acusada de participar de um desvio de R$ 8 milhões da Secretaria de Trabalho e
Assistência Social, da qual era titular na gestão do marido, num escancarado
nepotismo.
Fraude em licitação, corrupção e lavagem de dinheiro estão entre os
crimes a que ela responde na Justiça estadual. Na delação, a mulher de Silval
confessou ter usado parte da propina recebida de uma empresa que prestava
serviço à pasta para pagar fatura do cartão de crédito.
Rodrigo, de 33 anos, ficou preso por um mês em
2016. Ele é acusado de cobrar propina de empresários que mantinham contratos ou
recebiam benefícios fiscais do governo do estado e usar parte do dinheiro para
adquirir apartamentos.
Antes de se envolver nos esquemas do pai, o rapaz
se formou em Medicina em Presidente Prudente (SP). Pouco antes de Silval, então
vice-governador, assumir a cadeira de Blairo Maggi, hoje ministro e um dos
delatados por ele, Rodrigo voltou para perto da família.
O irmão mais novo de Silval, Antonio da Cunha
Barbosa Filho, conhecido como Toninho, é um dos administradores da fortuna dos
Barbosa. Sócio de diversas empresas com o irmão, ele é suspeito de lavar o
dinheiro desviado do estado pela família. Por enquanto, ele é investigado, bem
diferente da situação do irmão, que tem uma ficha corrida extensa. Na delação
premiada que Silval assinou em março passado, seis páginas listam as ações e
inquéritos a que ele responde. São crimes como corrupção passiva e ativa,
lavagem de dinheiro, fraude e organização criminosa.
Mesmo diante da denúncia de que saqueou o estado em
R$ 1 bilhão, os Barbosa conseguiram um ótimo negócio com a delação premiada
feita na Procuradoria-Geral da República, em Brasília. Juntos eles devolverão
aos cofres estaduais cerca de R$ 80 milhões, boa parte disso em bens, como um
avião e terrenos.
Mesmo diante da série de denúncias contra a família
do ex-governador, tímidos foram os protestos na região. Nas redes sociais,
especialmente nas páginas de deputados flagrados pegando propina, internautas
fizeram desabafos nos últimos dias, mas não passou disso. Nenhuma mobilização
de rua aconteceu, mesmo estando entre os flagrados o prefeito de Cuiabá,
Emanuel Pinheiro (PMDB), cujos maços de dinheiro caíam do bolso.
A Assembleia Legislativa de Mato Grosso ficou
esvaziada nos dias seguintes à divulgação dos vídeos. Deputados não apareceram
em número suficiente para dar início às sessões. Na quinta-feira, alguns dos
delatados por Silval usaram a tribuna para se defender. Nenhum deu explicação
para os maços de notas que receberam e criticaram a mídia pela divulgação das
imagens.
Investigadores em Mato Grosso acreditam que a
família tenha acumulado com as falcatruas muito mais do que o dinheiro que
deverá devolver. O patrimônio dos Barbosa é estimado em bilhões de reais, parte
dele em nome de laranjas, como o próprio ex-governador assumiu na delação. Um
desses bens é uma mansão avaliada em R$ 3 milhões na badalada praia de Jurerê
Internacional, em Santa Catarina, além de fazendas e empresas de rádio e TV no
Mato Grosso.
Se condenado, Silval não cumprirá um dia da pena na
prisão. O acordo determina que o ex-governador permaneça em prisão domiciliar e
depois tenha a progressão da pena. Para os demais Barbosa, o cumprimento de
pena começará no semiaberto.
— Há 33 anos eu saía do Paraná, e o que levava na
bagagem era a vontade de vencer e de contribuir para Mato Grosso — disse
Silval, em dezembro de 2010, num discurso após ter vencido a eleição para
governador.
Acompanhado dos pais, dos irmãos e da mulher,
Silval migrou para o Centro-Oeste estimulado pelo governo militar e com planos
de fazer riqueza nos garimpos de ouro.
EXTRAÇÃO DE OURO
A família se instalou na região do pequeno
município de Matupá, na fronteira de Mato Grosso e Pará, onde Silval fez
dinheiro e carreira política. Dona de barrancos, chegou no auge da extração de
ouro na região. O negócio no garimpo prosperou e, no final dos anos 1980,
Silval já fazia negócios com garimpeiros até no Pará. Um dos fundadores do
garimpo Castelo de Sonhos, em Altamira (PA), Leo Heck é uma das testemunhas das
andanças de Silval por lá.
— Ele nunca foi garimpeiro aqui. Nunca o vi com
ferramenta alguma na mão. Mas ele entrava e saía do garimpo, negociando sei lá
o que com os homens de lá — diz Leo, de 82 anos.
Com o dinheiro do garimpo, a família começou a
abrir comércio em Matupá e, em 1993, Silval se tornou prefeito. Garimpeiros
disseram ao GLOBO que, até hoje, eles têm garimpo na região, além de posto de
gasolina, empresa de equipamentos para o garimpo e emissora de TV.
— Eu posso dizer a você que, se ele se candidatar a
prefeito, é capaz que ele ganhe aqui em Matupá — afirmou um morador da cidade.
Em Cuiabá, Silval cresceu politicamente pelas mãos
do político maior ficha-suja do país, o ex-deputado José Riva, que,
especula-se, estaria negociando uma delação.
Silval se tornou presidente da Assembleia
Legislativa pelas mãos de Riva e vice na chapa de Blairo Maggi, em 2006, pelo
mesmo caminho.
Na delação, o ex-governador disse que pagou
“mensalinho” a deputados da Assembleia com dinheiro do governo durante sua
gestão. Os vídeos da distribuição da propina, divulgado na semana passada,
expuseram deputados e prefeitos colocando dinheiro roubado em sacolas, bolsos e
caixas. Apesar do patrimônio milionário, os Barbosa mantinham uma vida discreta
em Cuiabá.
Uma das exceções, entretanto, foi o casamento do
filho Rodrigo, em 2012. A festa, para cerca de mil convidados, reuniu políticos
de Brasília, a nata da sociedade mato-grossense e muitos dos delatados hoje por
Silval. Gravata italiana e caixa de prata cravejada de cristal foram os mimos
dados aos padrinhos. O noivo usou terno Ricardo Almeida, e a noiva, vestido
bordado com cristais Swarovski.
Ao recordar sua chegada a Mato Grosso e comemorar a
vitória na eleição para governador, naquele discurso em 2010, Silval encerrou
suas palavras com uma promessa que, hoje, após tudo o que veio à tona, soa
piada:
— Agradeço cada um que confiou nesse projeto. Vou
retribuir a confiança e a expectativa de cada um de vocês.
Procurado, o advogado da família Barbosa, Délio
Lins e Silva não quis dar entrevista. O prefeito Emanuel Pinheiro também tem
mantido silêncio.
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