segunda-feira, maio 11, 2015

Artigo de Marilene Parente, da mais recente edição do Jornal do Comércio

Reduzir a maioridade penal vai fazer com que diminua o índice de criminalidade no Brasil? Eu acredito que não. Então, o jeito é deixar como está para ver como é que fica? Claro que não! Nesse caso, o que deve ser feito? Ninguém tem uma resposta concreta para essa última pergunta, porque o problema encerra grande complexidade.
Por verem menores envolvidos em crimes de todas as montas, quase noventa por cento dos brasileiros se dizem favoráveis à mudança da maioridade penal, reduzindo-a para 16 anos. Perguntam os que defendem a mudança na Constituição: se quem tem 16 anos pode votar até para escolher o presidente da República, porque não pode ser responsabilizado criminalmente quando comem crimes que são conhecidos pelo suave termo de Atos Infracionais?
Aqui mesmo em Itaituba a gente tem se deparado com alguns acontecimentos bárbaros, como o assassinato daquela garota há alguns meses, no bairro Maria Madalena, praticado por um menor de 14 anos. Ou terá sido meramente um ato infracional, pois menor não comete crime. Mais recentemente, houve o caso do homicídio praticado por dois menores, esses já com todo o porte de homens formados, que tiraram a vida do servidor da Câmara, Asbel Anério. Não posso esquecer de mencionar a menor que matou outro menor há alguns dias, porque ela a teria dedurado para seu namorado, acusando-a de estar traindo.
Essa menina declarou para quem quis ouvir, que não estava nem um pouquinho arrependida do que tinha feito, e que se o morto ressuscitasse ela o mataria novamente. Da mesma forma, um dos rapazes do caso Asbel falou que não se arrependia de ter participado do assassinato do mototaxista nas horas vagas, indo além ao afirmar que quando saísse iria matar quem o denunciou para a polícia.
Me respondam uma coisa, senhores e senhoras que entendem que essas “crianças” não cometem crimes, mas, tão somente, atos infracionais, vocês acham mesmo que com esse componente de maldade tão grande encrustado em suas mentes, elas tem jeito? Há recuperação para elas, capaz de transformá-las por meio das tais medidas ressocializantes? Eu não acredito. E o pior é que esses vão se juntar a outros menores que de fato praticaram atos infracionais, com grande possibilidade de terem influência altamente negativa sobre aqueles que teriam alguma chance de voltar ao convívio de suas famílias e da sociedade recuperados.
O ministro Marco Aurélio Melo, do STF, declarou há duas semanas, que cadeia não recupera ninguém. É um dos mais respeitados ministro da Suprema Corte quem afirma isso. Ele entende que o objeto da cadeia é apenas tirar do meio do restante da população, aqueles que não tem condições de conviver normalmente porque praticam crimes.
No Brasil a situação é ainda pior por diversos motivos, a começar pelo falido sistema prisional, verdadeiro depósito de presos, passando pelo excesso de leis que só atrapalham o bom funcionamento do Poder Judiciário. Há décadas que se reclama do Congresso Nacional o enxugamento desse monte de leis, para tornar a justiça brasileira mais ágil e mais justo. Mas, os senhores deputados e senador tem sempre coisas “mais importantes” para fazer, e a reforça do nosso arcabouço jurídico vai ficando para depois.
A Câmara Federal agiu rápido no caso da aprovação na CCJ da redução da maioridade penal, porque a voz das ruas falou mais alto. Faz 21 anos que a PEC tramita na Casa, mas, só agora ela voltou à tona. E o que preocupa neste momento é saber até que ponto a Comissão de Constituição e Justiça discutiu o tema com a profundidade que ele merece, pois trata-se de modificar a Constituição Federal. O que não se pode é tentar matar o doente para curar a doença.
Um dos problemas do governo e, principalmente da sociedade, é que a grande maioria quer que mude a lei, pois deseja tirar de circulação quem pratica crimes, após os dezesseis anos, enquanto não se pode fazer uma discussão tão simplista como essa. Falta o governo criar programas sociais que atendam, sobretudo aos jovens oriundos de famílias mais pobres, que moram nas periferias. Só prender não resolve. Portanto, ao mesmo tempo em que entendo que a sociedade tem o direito de tentar se defender, também tem o dever de exigir que os impostos que paga sirvam, dentre outras coisas, para ofertar oportunidades para toda essa juventude, o que não acontece nos dias de hoje. Repito que só prender não resolve.


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