sexta-feira, março 20, 2015

Pressionado pelo PMDB, governo não vê como atravessar maré da crise

Cristiana Lobo (G1)

A semana começou com mais de dois milhões de brasileiros nas ruas protestando contra o governo e contra a corrupção, passou pela demissão do primeiro ministro deste segundo mandato e chega a uma crise com o PMDB. O discurso da presidente Dilma Rousseff é de que os problemas econômicos são passageiros, a crise é conjuntural e tudo vai melhorar depois de aprovado o ajuste fiscal pelo Congresso.
 
Depois de uma semana tão difícil é, sem dúvida, uma tentativa de reação da presidente, ajustando o discurso para justificar as dificuldades econômicas. Os primeiros resultados na economia, todos sabem, vão demorar mais do que é o necessário para o governo.  Por isso, Dilma precisa arrumar o lado político do governo e a coesão de sua base no Congresso.

É aí que reside o problema: o PMDB, a cada dia, sobe um pouco o tom nas críticas e demandas ao governo. As demandas agora não são por cargos, ao menos abertamente. O partido vai apresentar na próxima semana proposta de emenda constitucional que reduz de 39 para 20 o número de ministérios e reduz em 30% o número de cargos de livre nomeação, os chamados cargos de confiança.
 
- Então, me apresente os ministérios que devem ser extintos - disse Dilma ao presidente do Senado, Renan Calheiros, que defendeu a medida. Renan justifica a proposta afirmando que o governo precisa dar o exemplo e cortar na própria carne para pedir sacrifício da sociedade, como as novas regras para o acesso ao seguro desemprego. Ou seja, com isso, Renan e seu PMDB deixam claro que querem ver o governo cortar na própria carne para terem justificativa para aprovar o ajuste fiscal.
 
Esta foi uma proposta que o candidato Aécio Neves fez na campanha, sem detalhar, e que lá também Dilma Rousseff criticou. Agora, ela é cobrada pelos próprios aliados do PMDB.
 
O importante para a presidente Dilma, a esta altura, é entender aonde o PMDB quer chegar com estas propostas. O partido tem feito reuniões, demonstrado unidade entre os representantes da Câmara e do Senado, que em alguns momentos pareciam falar línguas diferentes. Mas eles cobram também a reorganização do governo. E isso, em tese, pressupõe mudanças na equipe, mais particularmente, no Palácio do Planalto.
 
Pior para Dilma: se o PMDB pede a saída de Aloízio Mercadante sem ser muito claro, setores do PT e o ex-presidente Lula são claríssimos quando pedem que Mercadante seja substituído por Jaques Wagner. Dilma está demonstrando que irá resistir. Mas, até quando?
 
Resumo da Ópera: o mês de março não acabou e os problemas para a presidente vão se avolumando. Mesmo com as tentativas de reação, ainda não se vê como atravessar esta maré.

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